terça-feira, 28 de outubro de 2008

Por onde quer que seja



O Rio amanheceu com prefeito novo, mas ainda não empossado. Amanheceu com a estranha sensação de que estamos divididos. De um lado, os moradores da zona sul (e os de nível superior) que preferiram o candidato Gabeira; de outro, os moradores da zona oeste (a mais populosa da cidade), que foram decisivos na eleição do prefeito eleito, Eduardo Paes. O “day after” às eleições privilegiou uma parcela da população: nós, os que trabalhamos para o Tribunal Regional Eleitoral. Folga concedida por lei, minha disposição convergia para a fuga de congestionamentos duvidosos. Todos meus, particularmente meus. Nada de ser ou não ser, mas de ser apesar de. E é apesar de que me sinto teimoso além do que deveria ser. Não me chamaria metido porque o rótulo não me caberia. Distraído sim, às vezes.

"Se me perguntassem agora o que desejaria sentir, evitaria o óbvio, o usual e o comum. Um balão de gás (...). Ares novos dentro de mim"

Ultimamente tenho sido convidado a libertar desejos, medos e uma série de abraços-sem-fim. Tudo de uma vez só. Não que esteja encurralado por situações atípicas em mim, mas porque na amadurescência ainda se é aprendiz, e eu sinceramente sinto que algumas coisas são nossas até que queiramos que sejam. A liberdade é como um balão de gás que sobe sem dizer adeus. E como é bom olhar do alto o que se sabe daqui de baixo! Depois, falo de liberdade apenas porque quis um paralelo entre o que ainda sinto e o que desejo sentir daqui pra frente. Se me perguntassem agora o que desejaria sentir, evitaria o óbvio, o usual e o comum. Um balão de gás, é o que diria. Ares novos dentro de mim, a mim, parece-me o melhor sentir.

Estou farto de querelas vãs, as que não são naturalmente minhas e as que insistem numa tutela que não me cabe, bem como estou farto de gente interesseira que (me) absorve até os calos (para quem os têm) ou aos cisos (para quem também os têm).


"nada melhor que o vômito de um verbo: viver. Que ele me encha os pulmões de esperança. Que ele me impulsione para o que não vivi com coragem desbravadora"

Como numa antítese imposta, seja na vida, seja no paradigma do texto, estou faminto de sentires benéficos, como a procura por horinhas de felicidade e sorrisos trocados ao vivo, no puff ou esparramado no sofá, à mesa da cozinha, encostado no azulejo do banheiro, embalado na rede da varanda, refestelado na cama e ao telefone. A qualquer hora! Se é que me cabe regurgitar uma palavra temperada em linhas tão macias, nada melhor que o vômito de um verbo: viver. Que ele me encha os pulmões de esperança. Que ele me impulsione para o que não vivi com coragem desbravadora. Que ele me desafie ao futuro aprazível. E que uma corrente de ar me conduza por cima das cristas das ondas à janela azul do firmamento pelo oceano afora. Afinal, como balão de gás, não me importa a chegada se tudo segue em liberdade desde a saída. Seja bem aqui, seja na longínqua São Francisco ou nas duvidosas cidades pelas quais Judas perdeu as botas. O apesar de continua valendo. E é apesar de tudo o que já vivi (e o que ainda não vivi) que vale a pena seguir as mudanças com esperança até perder-se no infinito do Atlântico. Tudo bem, do Pacífico ou do Índico também. Que seja!

12 comentários:

Serginho Tavares disse...

e você gostou do resultado das eleições? acho eduardo paes tão pegável...so não gostei porque ele nao cumpriu a promessa e não nadou de sunga com o pessoal do CQC...


te adoro

Hugo de Oliveira disse...

Amigo quero escrever igual a você quando crescer...viu.

Abração...te gosto muito amigo.

[Farelos e Sílabas] disse...

...

Sinceramente, não. Não gostei. Mas respeito o vencedor, apesar de toda a máquina administrativa do Governo ter estado à disposição eleitoreira do Eduardo Paes.

Fiquei nos 49% da população carioca que não abriu mão de um plano de governo honesto e coerente com a realidade financeira do Município, o que vale dizer, sem ufanias, prosápias e bazófias!

...

Hã?! "Pegável"?! Argh!

(risos)

...

Idem, amigo. Gosto muito de ti!

...

[Farelos e Sílabas] disse...

...

hslo:

Escreverás melhor, do jeito diferente, o teu. Aí está a riqueza da forma que você mesmo descubrirá como um chef preparando cautelosamente um prato novo, só dele, mas que breve, mui breve, será para todos degustarem...

Te aguardo na esquina da leitura!

Abraço esperançoso, amigão!

...

Antonio de Castro disse...

aiai
essa eleição me deixou mal

minha primeira eleição e meu candidato acabou naum ganhando

qt a liberdade e os balões...
adorei a comparação
poética...

ps:me fez lembrar a abertura da novela "história de amor"... os balões em forma d coração e o fundo do calçadão...

lindo

xx

Anônimo disse...

Se expressa muito bem!

Texto interessante e de fácil leitura!

Beijos :*

Pequeno Luiz disse...

até a politica acaba mexendo com algum lado nosso... sentimento/pensamentos sao incriveis!

http://infocasa.blogspot.com

[Farelos e Sílabas] disse...

...


O pequeno diabo:

Eleição: é um processo democrático, um exercício de cidadania. Bom de tudo é que você fez parte, a sua parte. Você é que sai ganhando quando pensa assim. Agora, começa a outra parte no exercício-cidadão: a fiscalização e a cobrança de tudo o que foi prometido. Afinal, você também é um munícipe!

Balões: não me lembro da abertura da novela. Vou tentar conferir. Obrigado pela comparação. Sou apenas um rabiscador de idéias...

Abraço adjetivado!

...

[Farelos e Sílabas] disse...

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Gabriele:

Assim como as tuas poesias! Vou te adicionar pra não perder os capítulos...

Beijos!

...

[Farelos e Sílabas] disse...

...


Wagner:

A política mexe mesmo, já dizia Brecht. E como mexe!

Abração, rapaz!

...

Gui Sillva disse...

pensei que o Rio fosse querer mudança. está precisando!

[Farelos e Sílabas] disse...

...

Gui:

E quis! Tanto é que, entre as 40 cidades que realizaram 2º turno neste país, NENHUMA teve uma disputa mais acirrada que aqui.

O vencedor perdeu na maioria das áreas da cidade (da zona norte à zona sul, incluindo a zona portuária), exceto na mais populosa (zona oeste)!

...

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