domingo, 28 de fevereiro de 2010

Notas de caderno no final do mês


Último dia de fevereiro, o mês mais curto. Passa tão rápido que não se compara aos outros meses do ano. Quando a gente nota, passou. Quando a gente se dá conta, foi-se. Os anos são como fevereiro. Passei anos de minha vida reverberando discursos que não eram meus, seguindo cartilhas de bom mocismo, pensando a existência sob forte influência maniqueísta, considerando as coisas como “certas” ou “erradas”, “boas” ou “más” por uma questão de interferências morais e religiosas, diminuindo possibilidades por um simplismo arrogante, pois, apesar de tudo, era convicto de estar correto naquilo que defendia. Mas a vida é um espetáculo de verbos, um constante gerúndio, um ‘estar-sendo’ que nos estimula porque não se revela antes do tempo necessário. Eu cresci juntamente com o tempo verbal. Mudei alguns conceitos conforme a experiência de vivê-los. Como disse, questão do tempo - o meu tempo - necessário. Significa que já aprendi? Não, de forma alguma. O amanhã pertence a cada um de nós que o viveremos!


Mas é-foi-tem-sido preciso cair e levantar seguidas vezes. Existir é percorrer uma longa estrada. É não parar, mas prosseguir adiante. É-foi-tem-sido produtivo crescer por dentro e pra fora nas experiências. Elas não são “boas” ou “más”. São apenas experiências. Assim é tudo no trajeto desta estrada-existencial. Nada é em si mesmo “bom” ou “ruim”, depende de quem vê. E o que vemos nem sempre é o que vemos. Eis-nos uma questão eminentemente interpretativa. Nossa mente absorve o padrão de formação como uma espécie de “chão”. A gente se defende por medo de perdê-lo (falo do “chão”). Assim é que muita gente não ousa questionar por medo. Medo de perder sua própria identidade. O medo faz parar. Interrompe o fluxo de crescimento por dentro. Limita. Impede. Bloqueia.

“Não tenho medo de voar”, aponta a firmeza avassaladora de Clarice em suas obras. “Mas é preciso ter força, é preciso ter raça, é preciso ter gana sempre”, completa os versos fortes de Maria, Maria. É preciso ousar desacreditar. Às vezes, é preciso desconstruir pra construir um “novo”. Refazer como um recomeço. Andar confiantemente, transformando o mundo com a renovação constante da mente com vistas a uma experiência do “novo”, do “diferente”, do “desconhecido” e – por que não? – do divino no outro, seja quem for, tenha o que tiver...

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Um parêntese para utilidade pública


Campanha de arrecadação de latas de leite em pó para as crianças com HIV+. Porque fiquei tocado com a campanha. Porque me sinto à vontade em divulgar algo vindo de uma instituição que conheço e respeito. Porque sei que não custa semear AFETO em forma de latas de leite em pó. Porque a vida é uma semeadura, a gente planta e colhe lá na frente, às vezes, sem lembrar quando ocorreu o plantio...

A campanha é coordenada pela Comunidade Betel do Rio de Janeiro, uma instituição cristã de cunho ecumênico, que receberá as latas de leite em pó a fim de serem levadas, mensalmente, até o final do ano, à Casa Maria de Magdala, uma instituição espírita com atendimentos a soropositivos (adultos e crianças). Mais informações pelo meu e-mail ou diretamente no e-mail: boasnovas@betelrj.com


segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

[Im]possibilidades reais de uma noite de domingo


Chego em casa, ontem à noite, vindo de uma reunião que celebrou, entre outros fatos tão abençoadores pra mim, os 12 anos de união conjugal de duas amigas que-ri-das. Como disse o Lord, outro amigo muito estimado [e engraçado] que falou coisas lindas na reunião, “eu vejo que é possível!”. Imediatamente me veio à mente o slogan: "Yes, we can!" – cantarolado ao êxtase pelos correligionários de Barack Obama nas últimas eleições norte-americanas. E quem duvida que seja possível? Falando de possibilidades, afirmo que eu creio na maior delas: o amor!

Pois, bem. Ao chegar em casa, um telefonema. Aliás, dois. Perdão, três. O segundo deles foi uma espécie de “S.O.S.” alertado por outro casal de amigos. Me informaram que estavam se dirigindo na companhia de outra amiga à Baixada Fluminense, lá pelas tantas da noite, pois a mãe de uma amiga em comum [e que eu conheço desde a adolescência], tinha acabado de expulsar a filha de casa pelo fato de ser lésbica. Segundo as informações, ela [a filha] foi agredida de todas as formas. Tinha lesões sobre a pele e outras na alma que só o tempo ajudará a cicatrizar.

- O que vocês vão fazer na Baixada Fluminense a esta hora? – perguntei.

- “Vamos levar a L_______ na casa da namorada dela, em São João de Meriti. Mas não se preocupe, a gente tá cuidando dela, tá aqui ao nosso lado.” - respondeu um dos meus amigos no celular, tentando me tranquilizar.

Sentei na minha cama e me perguntei: alegrias e dores na mesma noite. Como tudo isso [ainda] é possível!?

[...]

Lembrei-me que em agosto do ano passado um casal de amigos [A_____, 19; R_____, 21] teve que fugir de suas respectivas casas, pois os pais – ambos líderes evangélicos – descobriram o romance dos filhos. Na minha modesta opinião, os pais fizeram tudo o que pais não poderiam ter feito. Resultado: saíram da cidade, fugiram para o Rio de Janeiro. Encontrei-me com eles assim que desembarcaram na Rodoviária. Eu e um grupo de amigos os ajudamos, de início. Hoje estão bem, já conseguiram restabelecer a amizade dos pais e [...] bastante felizes [...] certos que “o amor é mais forte que a morte”, parafraseando um texto bíblico.

[...]

Preciso ligar para L______, saber como está, se precisa de [...], essas coisas que amigos demonstram quando se faz necessário...


Nota de rodapé: os versos de Virginia Woolf inseridos na imagem foram propositais para este post.

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Apontamentos de uma subcultura


Seria eu um subversor da subcultura? Trato a questão como subculturalmente, pois desde os ensinos de antropologia na faculdade, aprendi que a subcultura está intimamente ligada a grupos de pessoas com características distintas de comportamentos e credos que os diferenciam de uma cultura mais ampla da qual elas fazem parte.

Não creio que seja assim. Só por que prefiro falar de política, Kant, Foucault ou Sartre a ter que ouvir colegas admirados por Beyoncé, Rihanna, Lady Gaga e Madonna?

Não creio que seja assim. Só por que gosto de futebol, assisto a programas esportivos no Sportv, no Premiere Combat, fico antenado com o que rola nos Jogos de Inverno em Vancouver e dispenso qualquer conhecimento sobre os melhores electronic-trancy-house-psy-techno-remix, onde a DJ Ana Paula se apresenta, onde o DJ-fulano-de-tal tocou na última pool?

Não creio que seja assim. Só por que detesto looks com roupas apertadas, tintura no cabelo (Argh!!!), depilação (Argh!!! Argh!!!), sobrancelha feita (Argh!!! Argh!!! Argh!!!) e ainda por cima torço o nariz se tiver que usar alguma coisa de cuja etiqueta – grife! – todos se lembrem mais que propriamente quem a vestiu?

Não creio que seja assim. Só por que entendo que promiscuidade é uma química explosiva que auto-destrói o ser, diluindo-o aos poucos, e que amor é um excelente investimento (pra vida, pra si, pra todos) e que requer seriedade, conquista e a-FIM-nidade, não havendo espaço para a auto-afirmação do desejo com o descompromisso e as apelações fast-foodianas?

Seria um subversor da subcultura ou a favor da contracultura?

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Quando a liberdade é só pretexto para...


Toda vez que encontro ou sinto a presença de um ser-sem-noção por perto, reajo instintivamente a não conceder liberdades demais. Há indivíduos que não sabem lidar com o “espaço do outro”. Os INTRO-metidos são assim, por isso vivem literalmente dentro, INTRO-duzidos no espaço alheio. Refletindo um pouco sobre os limites do “outro”, sobre as apropriações indevidas do direito à liberdade, viajei pra dentro de algumas cenas já vividas e outras testemunhadas por aqueles e aquelas que não sabem ficar de fora; ao contrário, sentem um frisson pelo IN-ocular de seus venenos aparentemente gentis e IN-ofensivos...


I

- É isto o que você chama de “liberdade”?
- Não entendi. O que disse?
- Liberdade pra você é fazer o que der na telha?
- O que me for necessário, e só eu sei o que é necessário em mim!
- Que liberdade fácil! Isso pra mim é libertinagem, sinto pela franqueza...
- “Isso”? Isso é apenas pra você saber que não sou você, assim como você não sou eu. Liberdade é o “como” vivo a minha própria experiência e história, responsavelmente conscientemente.
- Conheci muita gente que viveu assim e se deu mal...
- Aham, entendo. Eu também conheço muita gente “assim”, que trabalha contra a apropriação da liberdade dos outros...
- Alguma indireta?
- E desde quando você se importa com o direito dos outros?
- Direito de “dar indiretas”?
- Não. Direito de defender-me das apropriações...


II


- Posso te perguntar algo?
- Sim, claro. Pergunte.
- Eu tenho toda a liberdade pra te dizer o que quiser sem que você corra o risco de sair ferida?
- Depende...
- ?...
- É conveniente pra mim tanto quanto é pra você? Vou sair melhor depois que te ouvir?
- Bem, só você poderá dizer isso ao final...
- Você não é capaz de discernir o mínimo do que perguntei?
- Bom, é que eu gostaria que você soubesse que...
- Não, você não gostaria. Você quer. É Diferente.
- Diferente, por quê?
- Porque sua liberdade é legítima desde que não me importune no que é meu. Neste caso, a decisão de te ouvir ou não é minha. Já que você não é capaz de me responder ao que perguntei, então, não.
- Não?
- Não! Não pode me perguntar algo.
- Tudo bem. Você é livre...
- Exatamente! Uma grande conquista! Com licença...

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Apontamentos sobre o pós-carnaval e o baile de máscaras


- I –

Minha amiga Iraydes costuma dizer que “o ano de fato começa quando o carnaval acaba”. Ela tem razão. Dia desses tentei resolver uma pequena questão no âmbito da Prefeitura, mas praticamente todos os funcionários estavam em férias. O que restou para me atender, apesar da boa vontade do menino, não sabia como fazer o serviço. Cheguei a ajudá-lo na redação do documento, enquanto ele digitava o que pedia. No final das contas, pediu-me para voltar num outro momento. Ele definitivamente não sabia fazer, foi o que intuí. Ok. Esperei o carnaval terminar. Pode ser que os funcionários mais experientes estejam de volta de suas férias. No Tribunal Federal não foi diferente. Diferente mesmo foram apenas o enredo e o nome dos personagens. Fico pasmo como tudo pára nessa época.


- II –

Só não fico pasmo pelo que já vejo ao longo de muito tempo. A presença dos seres que insistem em andar “fantasiados” – leia-se mascarados – pelo restante do ano a fora. Tô pensando nisso há algum tempo, procurando entender os porquês. Partindo do princípio que a alma humana é um complexo universo de histórias, tensões e sentimentos os mais variados, sei que a formação e os ambientes sociais e familiares afetam – e muito! – o comportamento latente de todos. Não há exceções. Somos um amalgamento constante. Um gerúndio.

Sören Kierkegaard certa vez disse que a vida é um baile de máscaras. Caio Fábio, a quem admiro pela trajetória e sobretudo por amar os conteúdos do Evangelho sem aderir a partido religioso algum, disse uma vez que o papel de cada um é descobrir-se nesta existência, retirando, uma a uma, as máscaras que ao longo da vida vamos colocando (ou permitindo serem colocadas). O problema, segundo ele, é que para muitos, esconder-se atrás das máscaras é apenas um questão de proteção ou de diversão inexaurível e viciante. Sim, acaba virando um vício do ser, a tal ponto que sem as máscaras muitos não suportam e morrem. Assim, para a maioria, sem o personagem, acaba a pessoa.

A moral é a grande máscara. E os moralistas são o que detém o maior número de disfarces. Muitos – se maioria ou não, não sei – existem assim. Daí, para muitos, catástrofes que lhes roubem as “máscaras” os deixam em estado de desespero, visto que sem a máscara eles não possuem um rosto próprio, algo que a própria pessoa reconheça para si e como sua, e não apenas como um reflexo da imagem que os outros devolvem para você mesmo, supostamente acerca de quem você – ou qualquer um – aparenta ser para eles.

Desse modo, vende-se a imagem, e alimenta-se dela. Mas no dia em que as máscaras são tiradas, muitos não conseguem mais viver, pois neles não há uma vida própria, mas apenas uma existência fabricada para consumo no Baile de Fantasias, que é a existência da maioria.

Tudo isso é muito triste, mas quem vive nesse Baile de Fantasias não tem idéia do que faz de mal à sua própria alma.

Pobre do auto-enganado que pensa que as máscaras o salvarão!

Viver na simplicidade – que é a verdade de cada um –, respirando sem disfarces sobre o rosto, deveria ser o desejo de todos os homens. Quem não deseja viver assim, insistindo no carnaval fora de época, corre um grande perigo. O de viver sem sentido sobre um chão arenoso e infrutífero para o ser. Como ensina Caio, orador e psicanalista, é preciso tirar da cara a máscara. Do contrário, pode-se vir a perder a coisa mais sagrada e preciosa de um homem - o poder unificador da personalidade, e a capacidade abençoada de se tornar alguém que seja realmente quem se é de verdade.

Esta é apenas uma reflexãozinha para iniciarmos o ano com desejos elevados dentro da gente. Iniciarmos o ano? Sim! Afinal, tal como aprendi com minha amiga acerca de quem falei no início do artigo, também sou destes que crêem que é depois do carnaval que as coisas engrenam. Com ou sem máscaras? Ah, isso é com cada um. Sei apenas de mim e de como é bom sentir a brisa tocando nosso próprio rosto!...

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Apontamentos em pleno carnaval II


Terça-feira de carnaval selou o início do fim dos festejos (não da alegria!) dos foliões. Num dia pra lá de quente, com temperatura em 41,8ºC, mais de cem blocos de rua saculejaram todos os cantos desta cidade. Entre sorrisos estampados e marchinhas na ponta da língua, multidões deram às caras, superando as estatísticas de público nos anos anteriores. Na Avenida Atlântica, altura de Ipanema, não se via o asfalto tamanha a concentração de gente. Aqui, diferentemente das outras cidades, a maior parte dos foliões fica trajado em sungas e biquínis. Afinal, não nos esqueçamos: somos uma cidade praiana e saariana! Combinação perfeita para a menor quantidade de roupa possível...

Lamentavelmente, em que pese a necessária alegria que constrói sorrisos durante o carnaval [fazendo dele o que é!], sempre surgem uns e outros tentando ganhar vantagem – infelizmente, pela violência brutal – sobre a boa vontade dos foliões. Alertado por um amigo, testemunhei o episódio de um rapaz que tinha acabado de ser atacado por ladrões durante o trajeto da Banda de Ipanema, levando-lhe o celular. Nada de anormal num relato tipicamente urbano se não fosse o fato de ter sido atingido na jugular, importante veia que faz drenagem ao cérebro. Como em todas as vezes que testemunho situações de risco contra a vida – já foram umas quatro ocasiões – instintivamente corri na direção do ferido para socorrê-lo. Não adiantaram os gritos preocupados de alguns amigos, que pediam em vão para não me aproximar daquele cenário. Tentei acalmar as pessoas que, nervosas, gritavam pedindo socorro a esmo. Enquanto isso, o rapaz esvaía em sangue diante de mim dizendo a quem o ouvia: “- Me ajudem!”. Em questão de segundos, a viatura da polícia militar se aproximou e levou o ferido banhado em sangue para o pronto-socorro. Preocupado, fiquei o final de semana sem saber notícias daquele jovem. Hoje, meu amigo Carlos Savil é que me indicou a reportagem do G1. Graças a Deus, li que o rapaz saiu do estado grave e permanece internado em franca recuperação.

A união realmente fez a força naquele episódio. Salvou não apenas um sorriso, mas a riqueza de uma vida!

Como a alegria não pode parar, lembrei agora que entramos na quarta-feira de cinzas! “O que fazer?” é apenas uma retoricazinha pra relaxar e organizar algumas tarefas domésticas.

O que sei é que logo mais o Rio de Janeiro – e o Brasil – só falará no resultado da apuração do desfile das escolas de samba do grupo especial. Enquanto isso, vou separando os e-mails para responder. Tenho, ainda, algumas obras que enfileirei para iniciar a leitura. Preciso retomar os rabiscos das minhas crônicas [segredo!]. Xi, a lista de atividades apenas começa a tomar forma antes que o cotidiano volte amanhã reivindicando seus direitos maritais...

Que ele – o cotidiano – fique na sua, quero dizer, na dele. Ainda se pode descansar mais um pouquinho por hoje. Com sorrisos nos últimos dias do horário de verão...


segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Sons de carnaval e...


Carnaval está passando? Sim, ainda. Tem muita água pra rolar (sem trocadilhos com a transpiração desse calor saariano). Essa época é multicolorida por várias razões. Gosto da tonalidade do verão, mas sobretudo a do carnaval. Há sinais de vida nas cores. A bem da verdade, os mais próximos de mim sabem que me refiro às cores que brotam de dentro pra fora.

Além das cores do verão agora temos os sons da musicalidade da alma humana. O sorrir é uma nota. O abraçar é outra. Mas nem só de verbos a oração é feita, por isso o tapinha camarada nas costas também é capaz de belos ritmos no sentir de dentro. O que dizer do beijo? Ah, o beijo faz si bemol nas notas mais pessoais. Olhar, dependendo de quem o dá (ou o recebe), também faz si bemol. Os arrepios na pele. Os suspiros do coração. A vontade de quero mais. Tudo é uma espécie de preanúncio da sinfonia existente na gente. A musicalidade nasce na espontaneidade dos sentimentos, na expressão do viver... Há sons e há cores. Quais são as nossas?

Que cada um discirna a si mesmo!...

Eu demorei muito a perceber os meus. Havia outros barulhos em mim. O pior de tudo é que não me dava conta. Tudo é um aprendizado, sempre repito (porque, de fato, creio que é assim).

Hoje, no entanto, quero aprender a me ouvir mais. Nada de barulhos. Convido os sons de minha alma a desvendar cada passo dado. Não apenas convido, mas também me inclino a me ouvir com cautela e verdade. Nada é desperdiçável, mas, convenhamos, há sons que nos elevam.

Os sons mais verdadeiros em mim são os que eu degusto na minha história. Gosto deles por formarem em mim notas simples e conectadas com meu compromisso pelo Bem (tanto o meu quanto o de quem estiver próximo). Tudo bem, isso é meu ponto de vista - o meu olhar - sobre as coisas.

Sei que há muita gente fabricando sons egoístas – selfish sounds, não se importando com mais nada, menos ainda com o Bem do próximo. Mas não posso me perder em meio a sons que não são meus – nem pra mim! -, pois a vida é uma sinfonia imperdível (e “irrepetível”). Se alguns chamarão isso de filosofia de vida ou simplesmente interpretação, não me importo. Há tempos deixei de silenciar meus sons para oferecer meus ouvidos apenas ao que irão pensar acerca disso ou daquilo. Essa ditadura de generosidade (?) não mais se imporá em mim com sonoridades de cartilha bem feita. A liberdade é um dom precioso à disposição de quem quer elevar sua própria musicalidade...



Notas de rodapé: Por hoje é o bastante. Nos sons pra fora da gente a cidade aqui inicia a noite com o segundo dia de folia tanto no palco das marchinhas e blocos de rua [sim, o Rio de Janeiro ainda tem seu público fiel e cativo, que se reúne na Avenida Rio Branco e na Cinelândia, no Centro] quanto na hollywoodiana Marquês de Sapucaí, explodindo em artes, carros abre-alas gigantescos, efervescência de luzes, pessoas anônimas e muitas, muitas famosas, das constelações do entertainment à política, de Elza Soares a Madonna, de Paris Hilton a presidenciável Dilma Roussef.

domingo, 14 de fevereiro de 2010

Apontamentos em pleno carnaval



Pleno domingo de carnaval. Cidade do Rio de Janeiro, berço do samba. Marchinhas nas avenidas. Blocos arrastando multidões. Ontem, eu mesmo acompanhei a histórica Banda de Ipanema no seu 46º aniversário. Foliões não faltaram. Vestidos de todos os trajes possíveis. As drag queens fizeram enorme sucesso. Os heróis das histórias em quadrinho também. A Farme de Amoedo, badalada rua de Ipanema, virou uma private rave party depois que a famosa Banda passou. Eram milhares de pessoas aglomeradas – pra não dizer comprimidas! – por toda a rua. Muita gente bonita e perfeitinha por metro quadrado. Como tudo por ali parecia uma vitrine de personas estereotipadas demais pra mim, saí daquela aparente perfeição estética para ver rostos comuns e sobretudo abraçar a brisa salgada do mar. Caminhei até a praia e me encantei ao encontrá-la superlotada quase perto das 23h. Descalço na areia, assisti a uma partida de beach volleyball. Depois, como me disse um amigo auto-intitulado filho de Iemanjá, fui lavar os pés nas águas da rainha do mar. Reis e rainhas à parte, pra mim, o carnaval converge para o maior espetáculo que é assistir a alegria no sorriso dos foliões. A alegria é contagiante e nos reimprime boas lembranças. Gosto disso tanto quanto gosto de me banhar nas ondas da esperança. Voltei pra casa num metrô que quase saiu do trilho tamanha a fanfarra dos passageiros cantando (e tocando) todas as marchinhas conhecidas. Na estação da Praça Onze, ao lado da Marquês de Sapucaí, o indivíduo que não estivesse fantasiado era a exceção. Eu, que já sinto-me exceção por natureza, mais excetuado me tornei. Ao menos, naquele contexto. Não havia fantasias em mim. Nunca houve senão as do coração. “Um dia, se Deus quiser, eu vou... eu terei... eu...”, essas coisas dos baús da psiquê humana. Sob a cortina de céu estrelado adormeci horas depois que cheguei em casa. Ao acordar, a luz coriscante deste verão saariano me pôs de pé num segundo. Ao longo de toda a semana, não se vê uma nuvem esquecida no firmamento. Céu de brigadeiro, dizem os mais antigos. Não é diferente nesta manhã de domingo. São as cores do cenário deste carnaval. Céu azul. Rostos bronzeados de alegria. Clima de paz. Tudo parece democraticamente colorido, sem puxar a tonalidade para nenhuma tribo. Como tem que ser quando se abrem as alas para todos passarem! Bom carnaval a todos!



Notas de rodapé: Créditos para as imagens captadas na máquina do Rodrigo Soldon. [*][*][*]Assim que der, durante o carnaval responderei aos e-mails dos queridos.


quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

O Saara, a praia e um casamento feliz


Prometo que não mais falarei do excesso de calor. Sobre o verão ainda direi coisas oportunas. É uma bela estação, nada contra (lembrando que não falarei mais sobre o “excesso de calor”). Os cariocas amam. Ontem, à noite, o Arpoador estava abarrotado de gente. Onze horas da noite. Centenas e centenas de pessoas mergulhando nas águas, fazendo amor com o mar. Nas areias, rodas de samba e até bossa nova ao som de sax. Du Moscovis, o morenão global, tava por lá curtindo o banho de mar. Cissa Guimarães, a garota que quebra o côco mas não arrebenta a sapucaia, também. Quase meia-noite. Banhista algum parecia querer abandonar a praia. A iluminação especial que a Prefeitura colocou só veio a colaborar com o espírito carioca de ser...

Foi lendo uma reportagem no G1 que me estimulei a reafirmar o que vinha dizendo por aqui. Não, volto a dizer, não é do excesso de calor que falarei, mas tão somente sobre o verão carioca. O calor do Rio ultrapassou o do deserto do Saara neste verão! Como dizia a reportagem, “nem os camelos estão sofrendo tanto quanto os cariocas”. A segunda maior sensação térmica do planeta foi registrada nesta quarta-feira, no bairro de Jacarepaguá (pertinho do hollywoodiano Projac). 43,9ºC era o que registravam os termômetros. Disso, ninguém duvida. Ontem fui, na companhia de duas amigas, visitar uma idosa a quem “adotamos” num lar geriátrico. Cheguei transpirando em bicas. No termômetro em frente, do outro lado da calçada, víamos 40ºC. A sensação térmica, no entanto, era superior aos 45ºC!

- “Tome pelo menos quatro garrafinhas de água, dessas de 500ml, por dia!” – foi a recomendação de um amigo médico. Estou seguindo à risca. Não tem como não beber água em meio a tanta transpiração – leia-se perda de líquido!


Talvez por isso os cariocas estamos preferindo as praias sob o luar. Você encontra de tudo que encontraria durante o dia, do calor a gente esculpida pela natureza, dos surfistas aos camelôs. Só não encontra o sol. Faz diferença? Nem toda, a considerar a insalubridade de um sol pra lá de Saariano. O entardecer e o luar na praia realizaram um excelente casamento. Testemunhas não faltam pra confirmar o que to dizendo. Parece que a idéia se espalhou pela cidade. Casamento feliz, já reza a lenda, não consegue ser segredo pra ninguém...


Nota de rodapé: créditos para as lindas imagens de Dyego Rodrigues.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

O tempo debaixo do céu



Há tempo pra todas as coisas, pra todos os propósitos e pra todas as intenções. Há tempo para erguer e derribar verbos (e todas as demais construções humanas). Há tempo para a aproximação e o distanciamento. Há tempo para comemorações e lamentações. Há tempo para sentidos e não-sentidos nas coisas e nas pessoas também. Há tempo para maior ou menor compreensão dos fatos (às vezes, total ausência de compreensão). Há tempo para ganhar e perder (depende de quem vê). Há tempo para as estações e o intervalo entre elas. Há tempo para dizer com palavras e delas não fazer significado algum. Silêncio. Há barulhos por dentro quando se cala o de fora. Tudo é possível, mas há que se ter tempo. Sem tempo, as coisas. Com tempo, os fatos. No tempo, as horas. Dentro delas cabem todos os sonhos e os segredos também (só não cabem as saudades; elas são como gotas do amor que não se podem conter...).


Ainda sobre o tempo...


“Quanto mais o tempo vai passando e a vida vai ensinando a gente, enquanto nos depura no crisol do existir em meio à contradição; e, também, quanto mais se vai sabendo e sentindo, aprendendo e amealhando informações e experiências — tanto mais quase tudo vai ficando pequeno e até ridículo.

Ora, com o tempo tudo vai se desgastando, e, com o desgaste, tudo vai diminuindo, até que fica apenas o caroço ou a semente do ser.

Sim! E cada vez se fica mais sem fantasias!

A contradição é que quanto mais você fica naturalmente atento a tudo, peneirando o que fica e o que sai de sua vida, mais você se abre para as crianças e as crianças para você; do mesmo modo que as pessoas simples de coração passam a ter grande prazer em sua vida.” (Caio Fábio, in “A Palavra, o Espírito e o Tempo!”)

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Dos excessos [...]



Excessivamente contundente. Excessivamente desproposital. Excessivamente analítico. Excessivamente frenético. Excessivamente mordaz. Excessivamente odioso. Excessivamente conturbado. Excessivamente letárgico. Excessivamente anacrônico. Excessivamente contido. Excessivamente desregrado. Excessivamente calorento... Quantos excessos (e todos eles, de fato, excedem)! Se excede, penso, é porque vai além de. Ultrapassa. O que mesmo? O bom senso, respondo. O lugar comum das coisas. Sai do rumo. Foge ao controle. Se perde. Não fica. Eis a questão!

Ontem, num barzinho lá na Lapa, falava sobre o intenso calor ao lado de dois amigos. Diga-se de passagem, sei que andei falando no blog sobre esses dias do calor em excesso. Notem: não foi propriamente do calor que andei falando. O tema foi o tal excesso. Aliás, no dia anterior, enquanto um amigo me falava do frio siberiano existente no seu lugar de trabalho, comentei exatamente sobre o excesso (do frio e do calor) enquanto tomávamos café com bolo no Estação de Botafogo. Disse-lhe que considero o verão uma boa estação, até deixa as pessoas com carinhas mais felizes. Isso é bom de se ver. Quem não gosta de carinhas felizes florindo as ruas e as esquinas de todos os lugares? Eu gosto e não nego. Mas o problema pra mim não é o calor. Ele tem seu momento. O verão existe pra isso. Sintonizei o excesso, pois, penso, qualquer coisa que ultrapasse o lugar comum foge ao controle, se perde e portanto não fica mais. O conforto, por exemplo, não fica.

Convenhamos que um verão de 32º a 36ºC estaria de bom tamanho: quente, calorento, praiano e bronzeante. Ótimo. Agora, um verão de 42º, 43º, 44º... 49ºC (como ocorreu em Bangu, bairro do subúrbio desta cidade) já é mais do que demais! Não é mais calorento, é infernal! Não é mais bronzeante, é tórrido (ou “tostante”)! Talvez isso explique o fato presenciado nas últimas semanas aqui no Rio: as praias estão super lotadas até perto de meia-noite! Não se trata de um grupo de amigos ou turistas curtindo a praia à noite, mas as areias lotadas tais como se fossem plena manhã dão os indícios sobre as mudanças de hábito frente àquilo que é excessivo entre nós! Ninguém quer outro refúgio senão as águas do mar... Nem as carinhas floridas de alegria seguram a onda neste "excesso excessivo" de calor – leia-se tórrido verão do Rio de Janeiro!


Evidentemente se alguém me disser que o frio seria bem-vindo nestas horas, ousaria dizer (mesmo amando o frio!) que o frio sendo excessivo também sairia do rumo. Fugiria igualmente ao controle. Se perderia. Não ficaria. A questão permaneceria a mesma (da que se tem no calor). Calor e frio são salutares. A Natureza não seria perversa! Sei que acabarei me sucumbindo às redundâncias das palavras, mas o que me causa nó entre as raízes de meus neurônios são os porquês dos excessos...

Assim, valho-me das palavras de minha amiga i-LUZ-minada, Léa, que neste domingo me brindou com sua filosofia cidadã: “Juízo, caldo de galinha e camisinha não fazem mal a ninguém! Sejamos, portanto, moderados nas comemorações do carnaval!”. Sexo é bom. Choppinho é bom. Pular carnaval é bom demais. Só não desejo pra mim ser excessivamente nada... “Não te tornes excessivamente nada”, disse-me um psicanalista famoso. Obviamente, não quero me perder pra fora dos rumos, sair do eixo e não ficar...

A semana inicia! O carnaval está às portas! Ainda há excessos pelo ar...

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Frases soltas...



Não se trata de um diário. Quem sabe um registro do que me ocorreu ao longo da semana. Sejam por palavras minhas, sejam por outras que apenas ouvi. Quem sabe? Fui pinçando a memória e catando momentos. Acabei me deparando com frases e orações inteiras. Ei-las:

“Eis aqui o meu altar predileto: o do bem-viver! Sinto-me um profeta inadequadamente profeta no meu tempo com este cálice de chopp na mão!” (Ao lado de duas amigas, no Barbieri’s, noite quente na Lapa carioca). [+] “Quem foi que disse que devemos celebrar a dor como virtude? Nascemos pra felicidade. Claro, cada qual descubra pra si mesmo o que significa ser feliz...” (No escritório de um amigo, numa reunião que acabou virando divã). [+] “Detesto fazer uso dos clichês, mas língua é língua, a gente se deixa trair pela semântica. Fato é que não sou melhor do que ninguém. Por outro lado, justo é o que é justo, ou seja, não faz mal e faz parte de uma espécie de aprovação geral. Só não posso concordar com teu comportamento porque não considero justo em relação a terceiros.” (Respondendo à pergunta de um amigo sobre lances ligados à traição contumaz). [+] “Sejamos seletivos, mas, convenhamos: você é “over”!” (Um amigo ressaltando seu ponto de vista sobre certa característica que supostamente carrego). [+] “Acho gozada a tua capacidade de dizer que ama sem se envolver. Eu diria que acho apenas interessante. Se você me perguntasse se é legal, responderia que não. Não entendo amor que não alcança as vísceras!” (Numa outro momento na mesma conversa anterior com um amigo). [+] “Se o teu olhar a vida não lançar luz sobre ela, então, não é a vida que deixou de ser iluminada. Foi você que não soube interpretá-la com bondade. Nada é ruim em si mesmo. Nós projetamos pelo olhar...” (Contextualizando as palavras de Jesus para um teólogo que acabou de separar-se de seu cônjuge e que me procurou profissionalmente dia desses). [+] “Sem amor não há família, mesmo que haja um papel dizendo que há casamento ou qualquer coisa parecida” (Discorrendo sobre um texto intitulado “A zumbificação da família” ao lado de uma amiga, mãe e avó). [+] “O que importa é que nós chegamos bem!” (Tranqüilizando minha prima sobre um pequeno incidente contornável). [+] “Será que um dia também vou ter a possibilidade de...? Melhor não pensar. Todas as vezes que pensei demais, apenas pensei. Não fiz. Não tive. Não houve possibilidade!” (Silêncio eloquente do coração). [+] “Feliz aniversário! Que bom que você tá alcançando minha idade... breve teremos a mesma idade!” (Festejando no dia do niver de minha irmã. Não vale a pena dizer a resposta dela pra mim...). [+]


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Picos deste verão


42ºC. Picos de 44ºC. Picos de ensolação. Picos de sudorese. Picos de calor saariano. Firmamento que não se firma, ao contrário, esquenta sobre nós. Olhar turvo. Pele oleosa. Calor úmido. Sal e suor na boca. Obsessão por instantes de nudez. Gravata que esmaga o pescoço. Sombra que te quero sombra. Sorvete que se colhe na lanchonete. Mais sede assim que a sede passa. Água de côco no camelô da esquina. Papéis encharcados e, portanto, ilegíveis no bolso do blusão. Lenço que segura a transpiração. Ao menos, tenta. Relógios digitais em complô pelas esquinas da cidade: 44ºC durante o dia, 34ºC durante a madrugada. O pico não passou? Tudo é tão excessivo, já não entendo por qual razão. Salve, Rio de Janeiro! Salve, corpo bronzeado! Muitos picos virão! Ainda estamos na primeira semana de fevereiro... Transpiremos com um “barulho” desses!...



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terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Improviso, o cenário de um programa


Em matéria de humor, na minha modesta opinião, salvam-se poucos programas em nossa TV aberta. Gosto do "CQC". Gosto também do "A Grande Família". Fiquei sabendo de um outro que se desenvolve o tempo todo sobre a arte do improviso. No caso do improviso, o chão é justamente o que pode ser feito do nada. Parece absurdo para muitos, mas pra quem entende um pouco de teatro reconhecerá que é uma das mais ricas técnicas para a formação do ator. Nada melhor que o improviso pra “testar” a capacidade de representação dos iniciantes. Achei legal a idéia, ao menos quando levada para a TV. Conferi o programa.

Tudo parece-me tão previsível nos programas de humor. Era o que pensava. Enganei-me. Talvez a maioria seja assim. Não todos. “É tudo improviso”, que estreou na Band, não me parece ter grandes pretensões, mas faz o seu papel corretamente. Evidentemente que basta uma novidade fugir do que se esperaria do “commom sense” pra ganhar ares mais confiantes, digamos. Não sei se seria o caso. Gostei do que vi pela simplicidade da ideia e do próprio formato, aliado ao bom desenvolvimento dos atores (nenhum deles conhecido, o que também é algo positivo e... arriscado!).

Assisti ao episódio com a impagável Nany People, excelente atriz. Admiro-a há uns anos desde quando a vi ousando questionar as motivações da Parada da Diversidade em São Paulo, reconhecidamente a maior do mundo. Achei oportuno alguém com a visibilidade dela fazendo várias ponderações quanto aos porquês de tudo aquilo, detonando o que pretensamente identificam como “orgulho” quando, segundo ela, lembro-me bem, ainda nem sabem reivindicar nada, vivendo à margem da própria identidade. Acho que aquela entrevista foi uma das mais contundentes que ela fez. Bom, mas o fato é que a admirei pela capacidade reflexiva e ousadia na defesa de seus pontos de vista. Não entrarei nos méritos. Vejo-a agora brilhando na capacidade do improviso. O programa “É tudo improviso” conjuga bem a função a que se propõe. Entretem. Já é um bom começo ante a qualidade dos existentes por aí... Confiram o vídeo com a participação da estonteante Nany People!


Nota de rodapé: Caso não consigam visualizar pelo vídeo acima, basta clicar aqui!

Papos, palavras e conexões de volta




- Quer dizer que voltou à internet?
- Nunca saí dela; ela sim é que, sabe-se lá por que, sumiu do mapa... Fiquei na mão.
- Na mão, é? Por falta de companhia?...
- Bobo! Consertaram minha linha e restabeleceram o sinal da internet...
- Diga-me o seguinte: então resolveu sair mesmo do Orkut?
- Já era em bom tempo! Não me arrependi. Do que me arrependeria? Amigos? Sempre os terei por perto. Digo e repito: amigos, e não “contatos”...
- Entendo... Aquilo lá tá ficando um saco mesmo... O teu telefone é o mesmo, né?
- Não mudou nada. Quando bater saudade...
- Ok. Sei como te encontrar... eu sigo meu coração! Ah, sim, antes de desligar: tá sabendo do show no Circo Voador hoje?
- Fique sabendo sim. Organizado pelo Viva Rio em prol das crianças do Haiti.
- Isso mesmo. Você vai?
- Plena terça-feira é complicado... Cara, não irei, não. Mas já que falamos da ONG Viva Rio me lembrei que fiz uma inscrição com a galera do Viva Favela, uma outra ONG interessante que produz coisas muito legais. Queria ter participado do laboratório do Loucos da Torre, que reúne escritores que cresceram em comunidades carentes. Não deu tempo. Estão finalizando o romance escrito em várias mãos. Lançarão a obra em abril.
- Cara, interessante! Depois me passe mais informações...
- Tudo bem. Também tô saindo nessa...
- Eu também. Abração, cara!
- Abraços, meu rapazinho!

Até quando elas suportarão?...


Conversando com uma amiga no táxi, enquanto retornávamos de um encontro, ouvia-lhe dizer que sua indignação aumenta quando os personagens envolvidos são crianças ou idosos. Ela é da alta cúpula da saúde na cidade do Rio de Janeiro, ligada aos diretores dos principais hospitais do município. Tocamos na questão do aumento da gravidez nas pré-adolescentes (10, 11 anos...). Estabelecemos algumas conexões tentando entender alguns porquês. Nosso consenso é que há cada vez mais progenitores e cada vez menos pais e mães de verdade... As famílias – não importam os conceitos que tenhamos – estão desaparecendo pela falta de amor. Isso foi nossa constatação.

Lembrei-me dela ainda há pouco quando li dois artigos. Emocionantes porque escritos com visceralidade pelos autores, pessoas queridas por mim. Tristes porque tocam naquilo que minha amiga certamente se indignaria: as crianças. Aliás, não apenas ela. Qualquer um com o mínimo de sensibilidade pelo valor do ser humano. De um lado, o brilhante artigo do Marcinho Retamero ao denunciar abertamente sobre quem são de fato os pedófilos. [leia + aqui] De outro lado, o Marcelo Quintela, relatando a emocionante viagem feita à Nigéria com o intuito de, ao lado de amigos igualmente indignados, pôr um fim no horror social estabelecido com a cultura da “bruxificação das crianças” naquele país. Imposta, diga-se, pela doença existente em alguns subgrupos da religião cristã. Sua viagem acabou se tornando um relato diário daquele horror, uma espécie de Dossiê Nigéria [leia + aqui].

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