segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

uma crônica após tanto tempo de ausências neste blogue


Vivem-se dias de pressa. Alguns entendem como algo bom. É bom ter pressa, asseguram. Otimiza-se o tempo. É o que muitos consideram. Sou das antigas, por mais que o tom de cor seja embotado no meio dessas palavras. Eu sei que sou um cara das antigas. Neste fim de semana fiz algo que já não fazia há alguns meses (poucos meses, confesso). Fui até a agência de correios do bairro onde moro. Postei uma correspondência. Estranho dizer isso, mas pra muita gente é coisa das antigas. Não tiro a razão, principalmente porque um e-mail sai e já chega com a resposta em questão de minutos, dependendo do destinatário. Dia desses também saltei do metrô, ali no Largo do Machado, e me encontrei (pra não dizer que me perdi!) num daqueles quiosques de flores e nem me dei conta que demorei horas entre pétalas, cores e aromas. Eu quis dar pra mim mesmo um bouquê. Nada demais, é só porque gosto de receber flores e a última vez que recebi de alguém deve ter mais de meia dúzia de anos, certamente. Enviar flores, escrever cartas e postá-las por método convencional, escrever bilhetes, ouvir “The Carpenters” e “Chicago” (pra evitar de dizer que amo ouvir Callas e Piaf), sair à frente e segurar a mão da dama quando descemos de algum lugar, visitar idosos numa instituição asilar e ganhar uma tarde inteira quando estou com eles, entre outras coisas acabam por me estereotipar como um cara com hábitos, diria, antiquados para a pressa da contemporaneidade e os costumes que nascem a partir daí.


Ninguém tem tempo pra muita coisa, tudo é resumido aos estalos e aos cliques do momento. Se escrevemos um e-mail, por exemplo, e não o respondemos em questão de minutos, horas ou, nos casos mais raros, em até um dia, entende-se que não se deu a importância devida. Esquecem, no entanto, que pessoas são pequenos mundos particulares. Eu, por exemplo, costumo demorar dias pela resposta do e-mail, salvo raras exceções. É o velho hábito das cartas convencionais arraigado aqui dentro. De telefone celular nem falo mais. Nunca conseguimos ir além de um namoro. Acabo tendo por uma espécie de necessidade, mas daquelas necessidades que não são vitais. Que fique claro.


Quando o assunto é lincado aos terrenos do coração (não falo apenas de paixão, mas de qualquer envolvimento afetivo, inclusive o fraternal), não fujo à regra dos meus sentires mais inatos. Talvez porque meu olhar lançado aos pés da vida seja absorvido pelas verdades que me vestem. É uma possibilidade, quem sabe. E como me vestem as minhas verdades? De roupas simples, tecidos modestos, nada extravagantes, mas convictos e seguros de como posso usá-los (e até onde me deixarão confortáveis). Sou daqueles que acreditam (sim, eu acredito!) nas possibilidades de amar quanto mais me ofereça, sem, contudo, me perder no processo. Não é porque se ama que se deixa de ser quem se é desde sempre! Afinal, duas estacas sustentam minhas convicções: a certeza-de-mim que é produzida pela fé e a esperança de continuar sendo-sem-fim como um produto inacabado mas que persegue um alvo, o ser cada vez mais humano. Eis por que talvez não tenha desistido até hoje de suportar os sonhos grávidos que ainda não pariram. Sou pai de muitos deles, mas ainda não posso segurar as crias. Nem todas nasceram. Algumas nem nascerão. São as paixões que me levaram ao delírio mas que, por alguma razão, se foram sem que eu notasse que não eram pra mim...


Gostaria de descortinar um parêntese e lhes revelar algumas confissões. Um cara das antigas como eu se assusta com o assédio. Sábado passado, depois de sair da festinha de aniversário divertidíssima de minha irmã, corri para me fazer presente na comemoração do aniversário de outros dois amigos. E não é que foram três os pedidos pra ficarem comigo? O último pedido foi tão insistente que me constrangeu. O pior é que o não querer, às vezes, é lido como bancar o difícil. Como assim, ficar por ficar? Como diria a retórica da blogueira Cleycianne: cadê o romance? Cadê o governo? (risos). Eu remendaria: Cadê o interesse pelo que se é? Uma outra confissão que faço tem a ver com o que espero. E o que espero? Da vida, os frutos de minha semeadura feliz. Dos projetos de vida, os sinais confirmadores de que ainda há sempre o que melhorar, sem jamais desistir. Dos terrenos do coração, uma semente que germine e se enraíze com fortável na terra que lhe acomoda, terra simples, mas umedecida de afeto que acolhe e segura na mão até perder o vigor pela idade.


Fechando os parênteses, a pergunta que me soa uma sinfonia de expectativa é o que me embala tanta certeza. Nem sempre estou certo. A prova é que já caí inúmeras vezes! E que bom que esses processos me habitam; deve ser um prisão – um adoecimento constante – crer que não se erra! Mas quero um dia poder acertar de uma maneira diferente, sabe. Olhar, sorrir, falar sem dizer palavra e finalmente encontrar uma outra resposta pra fora de mim, que venha ao encontro da minha própria e decida – ambos decidamos! – a ser resposta mútua e satisfatória. Quando virá? Não sei. Como virá? Certamente por meio de nossas verdades, nunca pelo trágico manuseio das aparências. Assim, que todos saibam pra fora das letras que não sou bonito, não tenho o melhor sorriso, não sou rico nem carrego estirpe. A vida me presenteou com a gana de persistir até tornar tudo um Dia Perfeito. Batalho sob o sol escaldante, pego ônibus e metrô, me doo, ponho cara à tapa, fui liberto pela Força esmagadora do Amor do auto-engano e do medo de ser flagrado pelos seres humanos, tenho verdadeiro horror à coisificação do ser humano e creio com todas as minhas forças que é possível abraçar todos os dias a mesma pessoa por muitos e duradouros anos, sentindo a pele ficar flácida e enrugada com o passar dos anos. O que sou? Um cara das antigas num mundo cibernético? Um ser humano, aprendiz-errante. Eis o que sou-sendo. Sim, pois os processos dentro de mim não se cumpriram. Sequer ainda encontrei os braços certos pra abraçar por toda a vida. Sem pressa, obviamente.



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