Numa semana em que me entristeço com tantos fatos que se entrelaçam com o cotidiano da cidade e do país, tento destemperar a existência com os episódios mais recentes dos noticiários. E antes que alguém suponha que destemperar é abstrair, afirmo que não. É retirar o excesso, o que desequilibra. Casos de bullying em várias cidades. Assassinatos do lado de fora das janelas de nossas casas. Atos covardes em toda a parte. Crescimento do fundamentalismo religioso nos cenários do Poder Político. Intolerância gerando desamor sob vários graus. Oquidão dos seres que se coisificaram tanto que, de tão fúteis, nada restou.
Enfim, o cenário não é de chuva, mas também não é de céu de brigadeiro. É de realidade mesmo. Com toda a expressão de seus matizes.
Pensando nas coisas boas que me transportavam para os melhores anos, revisitei a memória à procura de coisas ou pessoas pra recordar. Lembrei dos cadernos de poesia que escrevia aos montes na adolescência. Lembrei das pilhas de livros que faziam parte de meu cardápio diário (literatura nacional e estrangeira). Engraçado, não sei por que mas adorava livros de auto-ajuda). Lembrei dos ratinhos brancos que criei. Lembrei da febre pelos álbuns de figurinhas, fosse qual fosse. Lembrei dos programas de rádio nas ondas curtas e das correspondências que recebia de amigos de várias partes do mundo. Como estarão hoje em dia? É apenas uma perguntinha retórica sem muitas pretensões...
Pois, então. Neste embalo saudosista, esta semana me lembrei com
Laurinho foi uma das primeiras personalidades brasileiras a morrer de complicações decorrentes do vírus da AIDS. O personagem na novela Vida Nova teve um final apressado com uma viagem para Israel, por causa da doença do ator. A última cena mostrava um carro preto partindo numa noite chuvosa, ao som de um poema de Fernando Pessoa, declamado em off pelo próprio ator.
Os boatos de que estaria com AIDS surgiram em janeiro de 1989, quando pediu afastamento de Vida Nova, na qual era protagonista, alegando estafa. Voltou dois meses depois, muitos quilos mais magro e com uma visível queda de cabelo. Logo em seguida mudou-se para a casa dos pais, isolando-se até mesmo dos amigos. Quando o estado de saúde piorou, foi internado, mas os pais proibiram o hospital de dar qualquer informação à imprensa sobre o estado de saúde do filho.
Depois de nove dias internado, partiu... e se eternizou em nossa memória. Um ano após a partida de Laurinho, foi o poeta Cazuza quem partiu em condições semelhantes... Poderia parar por aqui, mas aqueles idos me deixou órfão de heróis vestidos de humanos talentosos. Um ano após Cazuza, foi a vez de Freddie Mercury, astro iluminado do Queen nos deixar...
As constelações foram aumentando sobre nossas cabeças e, paradoxalmente, se silenciando nos céus de nossos tempos, nos idos de minha adolescência e início de juventude...
Hoje, são todas elas (as constelações) mar de doces lembranças. Isso pra mim é reequilibrar o caldo da existência com bons temperos. Por mais que meus heróis tenham morrido de “overdose” de talento e por mais que meus atuais inimigos estejam no Poder, meu mais insistente desejo é sempre trazer à memória o que pode me dar esperança!
Notinha de rodapé:
Por falar em esperança, começaremos aqui no Rio de Janeiro, no projeto Betel, uma série de encontros com candidatos a cargos eletivos que defendem programas em prol da diversidade. O primeiro deles será o Jean Wyllys. Portanto, quem estiver pelo Rio, não custa aparecer na Praia de Botafogo, 430, 2º andar, domingo, 25/07, às 17h30. Apareça(m)! Quero dar um abraço nos meus leitores por lá!