quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Reflexão a partir da crise ética no Senado




Há alguns dias passados assistimos a uma cena [das muitas] no Senado Federal que chamou particularmente a atenção. O cartão vermelho que o senador Suplicy (PT/SP) deu ao senador Sarney (PMBD/AP), corroborando a veemente campanha da oposição – e por que não dizer da mídia também – pra que deixasse a cadeira de presidente do Senado. Na atual presidência foram muitos atos ditos secretos, quase sempre envolvendo contratações nepotistas, além de arquivamentos inusitados no Conselho de Ética, entre outras coisas próprias desta “res” [coisa, em latim] pública.

Não que seja contra as intenções do senador Suplicy. Creio que não existe mais espaço político para o atual presidente da Casa [Senado] manter-se por lá. O apego ao poder, no entanto, mexe com a fogueira das vaidades. É assim do lado de dentro e do lado de fora do Parlamento. Quem poderá dizer o contrário? Disto já se comenta há milhares de anos atrás. Em 64 d.C., nos primórdios da era cristã, Paulo escrevendo a Timóteo, mandou ver numa constatação primaz: “Porque o amor ao dinheiro é raiz de todos os males; e alguns, nessa cobiça, se desviaram”. E não são poucos os que continuam se desviando de seus propósitos originais, inclusive os políticos!

Pensando na questão do cartão vermelho, transfiro a luz dos holofotes para nós, eleitores. Sim! É preciso olhar pra dentro. Olhar pra perto. Olhar para o voto que damos. Quem foi que elegemos para o Congresso? À despeito da própria ambiência histórica e de seus avanços pós-modernistas, nunca se viu conservadorismo tão latente quanto na atual legislatura. O que isto nos diz respeito? Fomos nós quem fabricamos [nas urnas] esse conservadorismo, que, a contrário do que poderiam pensar seus apaixonados idealistas pelo passado, não beneficiou senão “os de sempre”. Torna-se cansativo repetir o óbvio, mas quem ainda espera que mudanças aconteçam a partir de conservadores, irremediavelmente terá que aguardar sentado. De pé há de cansar!

Quantos projetos imperiosos ainda estão sob os interesses dos joguinhos políticos, engavetados nas mesas diretoras das duas casas (Câmara e Senado)?

Quantos ainda não sobrevivem à margem da lei? Quanta gente boa ainda não carrega a invisibilidade ante uma sociedade que padroniza as formas em fôrmas conforme sua conveniência? Sim, nestas horas lembro-me dos negros e da grande massa de miseráveis cujo acesso a direitos mais básicos – saúde e educação, por exemplo – está cada vez mais difícil. Leitos nos hospitais não há. Vagas são poucas nas escolas de ensino fundamental. São quase nada nas universidades públicas (falo para essa parcela da população). Não posso esquecer da parcela LGBT tão massacrada com a insistência em não lhes serem reconhecidos vários direitos. E os portadores de deficiência? E os que se lançam em defesa das matas, das reservas, dos rios, lagos e lagoas? São tantos que não podem ser esquecidos! Mudanças pra todos estes ainda continuará na expectativa de uma esperança que, certamente, não virá nesta legislatura. Como disse o presidente nacional da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), melhor seria se todos eles – senadores – fossem cassados por quebra de decoro parlamentar e se elegessem outros em seu lugar! Parece uma loucura, mas acerca de tal loucura o Arnaldo Jabor ironizou, rechaçando: “ele está certo!”.

Cartão vermelho, portanto, para os viciados em poder, para os desalmados que só se refestelam vendo o próprio umbigo inchar, para o conservadorismo não enquanto ideologia pelas tradições mas enquanto justificativa perversa e egoísta para impedir que “os outros” – quaisquer outros – também vejam o nascer do sol neste país; assim como cartão vermelho para nós, eleitores, que nem sempre fazemos do exercício do voto um ato consciente que visa sempre o melhor (não o nosso melhor, mas o melhor para o maior número possível de cidadãos, caso não se consiga o melhor para todos).

Assim caminha a humanidade


Uns nascem. Outros renascem. Uns sobrevivem crendo que conjugam o viver. Outros vivem e impactam. Nunca morrem, mesmo após ser dito que morreram. Estes são profetas, alguns mártires. A Humanidade, porém, é maior que todos eles. Ela, no entanto, ainda está a caminho do amor. Não que não tenha alcançado, mas que é preciso discernir individualmente sua existência nas pequenas coisas. Este processo ainda não se concluiu. Obviamente, à vista de tanto retrocesso (paradoxalmente amalgamado ao que se supõe ser progresso), há muito o que ser conquistado. Que o digam os explorados desta terra...

Por falar em humanidade, um videozinho pedagogicamente interessante pra resumir ao estilo “trash” o modus operandi da realidade:


quinta-feira, 20 de agosto de 2009

A quem pertence a Terra


Conversando com um amigo, ontem à noite, pertinho do Arpoador, ganhei de presente uma revista publicada em dois idiomas (português e inglês) intitulada Onda Carioca. Muito bem apresentada, fotografias extraordinárias das belezas desta cidade e um texto preciso e com um bom argumento, costurando fatos da cidade e do país. Lendo-a no caminho de volta, em meio ao gostinho de sal que sobe quando as ondas rasgam as pedras, deu pra perceber que há coisas interessantes. De relance, meus olhos bateram num artigo de duas páginas escrito por uma pessoa a quem admiro: Leonardo Boff. São muitos os motivos para admirá-lo. Falo sob o prisma do ser humano engajado que é tanto na gestação de ideias a partir do pensamento filosófico quanto na desconstrução de um "status quo" (o empedramento da religião). A teologia, no caso dele (como no do filósofo e teólogo Rubem Alves), lhe tem sido alicerce para uma sensibilidade ímpar para com os problemas de nosso lar, o planeta Terra.

Como ontem falava sobre a saída da extraordinária senadora Marina Silva (e a possível filiação ao PV), pessoa encantadora pela “sabedoria simples dos caboclos do acre”, como ela mesma disse na ocasião em que a conheci no ano passado num seminário da OAB/RJ, achei oportuno o link com o tema do papo e o artigo do mestre Boff. Pois, ele nos diz:

“A quem pertence a Terra? Ela, na verdade, pertence aos que detêm o poder, aos que controlam os mercados, aos que vendem e compram seu chão, seus bens e serviços, água, genes, sementes, órgãos humanos, pessoas feitas também mercadorias. Estes pretendem ser os donos da Terra e dispõem dela como bem entendem. Mas são donos ridículos, pois esquecem que não são donos deles mesmos, nem de sua origem nem de sua morte.

A quem pertence a Terra? Fico com a resposta mais sensata e satisfatória das religiões, bem representadas pela judaico-cristã. Nesta, Deus diz: “Minha é a Terra e tudo o que ela contém e vocês são meus hóspedes e inquilinos”. (Lv 25,23). Só Deus é senhor da Terra e não passou a escritura de posse a ninguém. Nós somos hóspedes temporários e simples cuidadores com a missão de torna-la o que um dia foi: o Jardim do Éden.” (Leonardo Boff, extraído de “A quem pertence a Terra”, edição 25, agosto de 2009, da revista “Onda Carioca, pág. 13)


Nota: a imagem acima faz parte da campanha mundial da ONG WWF pela preservação das florestas.


And the honor goes to...


Dois importantes cidadãos americanos foram homenageados na semana passada pelo presidente Barack Obama em cerimônia na Casa Branca. O político Harvey Milk e o tenista Billie Jean King receberam a Medalha Presidencial da Liberdade, maior condecoração oferecida a civis norte-americanos. Entre os homenageados um fato em comum: ativistas gays. No entanto, isto é apenas um detalhe. O fato é que não se pode negar que cada um deles foi um luzeiro naquilo a que se propôs!

O arcebispo Desmond Tutu, cidadão sul-africano, reconhecido não apenas pelo Nobel da Paz mas também pela defesa dos direitos das minorias (étnicas, religiosas e sexuais) também recebeu a homenagem.


segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Nas reticências...


A primeira delas__________

Sou um isso. Constante. Um amante. Tanto da justiça quanto das letras, da política em prol das minorias e dos convites à singularidade da vida. Não sou qualquer vida. Sou a minha própria. Íntegro. Inteiro. Sem coisificações. Exceções. Senões. Bemóis. Emotivo à raiz de mim. Atraído pelos seres altos na simplicidade, na pacificação e na generosidade. Errante-e-aprendiz. Um binômio. No meu bolso, apenas algumas moedas. E sonhos de sobra!





A que vem depois__________

Já escrevi muito, em muitos textos em vários perfis.
Já cansei de responder aos outros-fora-de-mim.
“Quem sou eu” agora é pergunta retórica:
Sou uma antítese. Um anti-herói.
Diferente entre os diferentes.
Reexistindo tardiamente.
Fora dos padrões.
Blasé. Mas,
De pé.
Por

Neste [singular] Dia dos Pais...




Hoje, domingo com céu pra lá de azul. Cores fortes contrastando com algumas pinceladas de muitas lembranças. Todas boas, deixo bem claro. Talvez por isso mesmo, vale salientar que as lembranças que mais permearam o firmamento no azul do [meu] pensamento foram as que meu pai deixou nos anos que desfrutei de sua presença-companhia. Hoje foi mais um daqueles exercícios para revisitar meu baú de [boas] lembranças dele. Senti falta dos sabores dos seus sorrisos e das palavras de gratidão quando lhe dava aquele abraço bastante filial, uma espécie de código sob cuja identificação nos reafirmávamos pelo carinho. O carinho a nosso modo. A aparente austeridade de meu pai revelava na intimidade dos mais chegados uma comicidade ímpar. De tudo fazia piada. Éramos bons amigos. Leais e ainda assim imperfeitos dentro de nossa construção de homens. Confesso, doeu um pouco lembrar tanta coisa. Saudade tem um que dessas coisas. Às vezes, dói, né?! Há quatro meses digo que sim. E muito.

Lembrei-me de meu pai até quando decidi comprar um bouquê de flores azuis um pouquinho antes da hora do almoço. Devocionalmente, ofereci à sua memória. Eu e meus pensamentos celebramos um ritual profundamente particular, tanto que só meu “eu” participou... O primeiro Dia dos Pais sem a presença física do pai a gente nunca esquece. Porém, mesmo sem esquecer, a gente caminha sob inspiração de quem soube ter sido por ele muito amado. Foi a partir daí que lembrei-me do poder da gratidão. É tal como água banhando o sorriso das flores do jardim. Sei o quanto sorriem. Torna-se evidente quando as cores se levantam para o brilho passar. Há um viço nisso tudo. Flores. Cores. Jardins vivos de lembranças. O saldo foi positivo. Toda boa lembrança é sempre positiva.

No decorrer do dia, uma palestra com o advogado Marcelo Turra para a qual tinha me agendado a assistir. Era o final da tarde. À noite, um aniversário. Não era de pessoa, mas de pessoas. Um grupo que milita em prol de um mundo mais justo. Estive em ambos os compromissos. Foi lindo encontrar e reencontrar tanta gente amada. Eram as minhas flores com sorriso de vida. Mais uma vez, percebi viço em tudo aquilo. Flores. Cores. Vidas. Pessoas. Histórias. Aqueles jardins!

Na volta, caminhando para pegar o metrô, meu amigo Pierre aponta o deslumbre com a vista. Olho correspondendo em reverente atenção. No alto do Corcovado, um Cristo cujo coração iluminado destoava na paisagem eternizada como cartão postal desta cidade. A iluminação em homenagem ao Dia dos Pais foi a atração para milhões de pessoas que avistaram o Cristo Redentor na noite deste domingo, 9 de agosto.

Com um azul no manto e um tom diferenciado no rosto, o monumento ganhou também um “coração” de luz. “A ideia era humanizar a estátua”, explicou o idealizador do projeto, Peter Gasper. O barato de tudo era que a luz vermelha simulava artisticamente os batimentos cardíacos. Eis nos detalhes as cores e o viço que compuseram o cenário do meu Dia dos Pais. Um jardim vivo de boas lembranças e com muitos aromas de saudades...





P.S.: O texto, ainda que escrito no domingo, acabou sendo publicado no primeiro minuto desta segunda-feira por alguns problemas técnicos com a internet. Eis a razão pela qual o tempo verbal no decorrer do texto faz menção ao [presente] domingo, o Dia dos Pais.

sábado, 8 de agosto de 2009

No encontro, eis-nos achados




Há um preço que poucos pagam, nem tanto pelo valor em si mas muitas vezes porque o que é caro requer um esforço muito grande pra se conquistar. Penso exatamente na liberdade. Não a vejo como mera palavra, mas um estado de ser o qual é visto pelas lentes da autoconsciência. Quem se sabe livre deseja ardentemente liberdade pra si e para os outros. Não existe espaço algum para manifestações egoísticas do ser. Quem se sabe livre, enche-se de indignação quando assiste alguém escravo. É tal aquele que se sabe perdoado. Invariavelmente, derramará perdão (pois a autoconsciência do prazer que causa é algo pra ser compartilhado). Tudo o mais é assim quando o ser não é egoísta...

Pensando um pouco no que o ser da gente é capaz de promover quando sabe compartilhar a alegria de um encontro, lembro-me da história muito antiga de uma dona de casa extremamente pobre que, certo dia, resolveu fazer uma faxina daquelas com o propósito de encontrar o que lhe era caro. No caso dela, uma moeda perdida e o significado emprestado a ela (a moeda). Tratava-se de seu tesouro pessoal. Era-lhe como tábua de salvação para, quem sabe, muitos apuros de ordem material. Não era qualquer coisa. Não era sequer “coisa”, uma “res” (do latim). Nada disso. Era um pedaço significativo da costura de muitos sonhos. Os sonhos daquela pobre mulher. O barato da história é que termina com o encontro da dona de casa com seu tesouro. Mais que isso, a alegria dela ao celebrar o tal encontro. Dizem que chamou a vizinhança da comunidade onde morava e os seus amigos discerniram que os sonhos daquela mulher não seriam sonhos em vão. Ali todos se viam nivelados pela necessidade e também pela alegria. Tanto foi que a alegria de uma foi a alegria da galera toda. O prazer de uma acabou contagiando a muitos.

Fico pensando na liberdade quando veste o ser humano de esperança e fé. Aqui, por favor, não me leiam com significados vinculados a qualquer religiosidade. É a fé que impulsiona a crer na possibilidade, no potencial que existe em nós. Pois, então, quando o ser humano se liberta impossível que mudanças não sejam acarretadas pelo processo. Quando são visivelmente boas, muitos compartilham da realidade de tais mudanças (até quem nunca gostou da gente). Afinal, não se esconde a candeia debaixo do alqueire. O que é luz sempre iluminará pelo simples e ao mesmo tempo majestoso exercício de viver.

Penso que o maior legado que a gente pode oferecer pra nós mesmos é a própria liberdade. Liberdade pra ser. Liberdade pra promover a construção de uma casa alicerçada na verdade. A maior de todas, creio, a verdade do ser.

Estas linhas são rascunhadas e ao mesmo tempo pinceladas do encontro tido com os amigos da Comunidade Betel nesta última quinta-feira. Assentados numa reunião que realizamos cada qual foi pondo suas próprias considerações acerca de si e das mudanças advindas no entendimento de sua liberdade. Mas, diga-se, a liberdade a partir da verdade. Lágrimas. Alegrias. Retrospectivas. Confissões. Uma satisfação contagiante pela serenidade e pela desinstitucionalidade do momento. Ninguém ali quis mostrar-se perfeito. Antes, pelo contrário, era o privilégio de se saber humano e acolhido no encontro dos semelhantes imperfeitos que fazia a diferença.

A verdade quando inserida num ambiente de acolhimento pelo outro se torna uma ferramenta de Graça que promove a comum-UNIÃO. E a coisa não ficou só entre nós, houve um ajuntamento de lembranças acerca de muitos outros seres humanos, os quais foram lembrados. Falou-se das necessidades do país, a sede de justiça e de conscientização política. Falou-se dos que não caminham na verdade e se dissolvem sendo muitos ‘eus’. Solidarizamo-nos com os agentes do Bem neste mundo, independente do que sejam, do que tenham ou no que creiam. Lembramo-nos do Gabriel Buchmann, brasileiro que buscou conhecer o mundo a partir da miséria para melhor servir como gestor, porém foi encontrado morto nesta semana, no Malawi. Foram momentos muito enriquecedores pra mim. Como disse na ocasião, aprendemos uns com os outros no encontro, mesmo no silêncio que tal encontro algumas vezes provoca. Silêncio, todavia, não silencia os ecos da alegria.

E foi justamente neste cenário de alegrias e recordações que nosso grupo – falamos emprestando o sentido de ‘família’ àquele ajuntamento – completou três anos de existência. Senti-me como a tal dona de casa que vibrou com seus vizinhos pela moeda que tinha encontrado.

Olhando fixamente nos olhos dos que ali estavam presentes, percebi que todos éramos os donos e as donas de casa daquela velha história contada por Jesus nos Evangelhos. Ali, cada qual havia se achado em algum momento na trajetória da vida. Cada qual havia discernido mudanças significativas em si e a partir de si no encontro. Penso que sejam valores imensuráveis frutos dessa tal liberdade igualmente imensurável! Que tesouro!

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

O mundo ainda caminha no aprendizado


Depois das indignações a que me permito nesta liberdade que me dou [falo dos posts a seguir], a certeza que ainda aprendemos a lição mais básica ensinada pelo Cristo: o amor, que, a contrário do que muitos pensam, não é plena aceitação do outro; antes, é respeito pelo direito que o outro tem de coexistir, acolhendo-o dentro do que se espera do respeito. E isto, diga-se, ainda que se tenham pontos de vista diferentes. Verdades próprias e acerca das quais não se abra mão. Até aí, a paz prevalece. Entretanto, é quando nossa verdade precisa ser a verdade do outro a qualquer custo que o respeito é ferido. Por mera conseqüência, o conflito elimina a paz, que, por sua vez, estanca o processo de semeadura do amor. Sem sementes de amor o mundo se torna um vasto campo de individualismos se auto-destruindo. Os “ismos” só não podem é contra o amor. A lição ainda faz parte da aula. E assim vamos caminhando...


Nota: imagem colhida dos Out Games, na Dinamarca, 2009.

Primeira Indignação


Eu me pergunto o que os homens estão fazendo do planeta! Até quando a Mãe Natureza suportará as dores com tanta agressão que lhe causamos? Dentro de nossa realidade, trazendo a responsabilidade pra bem perto, dados oficiais do próprio Governo informam que o desmatamento em junho na Floresta Amazônica alcançou uma área correspondente a metade do município do Rio de Janeiro – leia-se a segunda maior cidade do país –, onde vivo. Putz! Quanta loucura!

Pior se torna quando nos assentamos à mesa de qualquer Café e, indiferentes, nos consolamos esperando saber qual será o tamanho do desmatamento no mês de julho... Até quando?

SOS!


Nota: a imagem acima foi captada durante o mês de junho de 2009. Revela o desmatamento causado pelas madeireiras ilegais. Acima, imagem do desmatamento na Ilha de Marajó (PA).

Segunda Indignação


Viver não deixa de ser uma loucura diária, bem sei. Mas, convenhamos, há muita gente doente (na psique) lançando o ódio que sente contra si mesmo na direção dos outros. Gente que não se ama, por isso adoece nutrindo o ódio. Mais uma vez o mundo (leia-se planeta) paga a conta!



Neste final de semana (01/08) um desses doentes lançou seu ódio num bar (Café Noir), na cidade de Tel Aviv, na esquina das ruas Ahad Haam e Nachmani, e disparou contra os homossexuais. Em seguida, fugiu.


Os disparos mataram Nir Katz, 26, e Liz Tarbishi, 17, além de deixar 15 feridos a tiros e também pelo tumulto. Deste total, três estão internados em estado grave. O atentado é considerado o mais grave da história de Israel contra gays.



Que a comoção contra o terrível episódio (incitado pela semente do preconceito, quase sempre concatenado a discursos advindos da religião quando esta confunde fé com moral, o que é muito comum nas principais religiões monoteístas) venha nos chamar à reflexão de que não apenas naquele país (Israel) mas também neste (Brasil) o ódio prevalece em muitos outros episódios parecidos. Os atentados feitos – consciente e inconscientemente – contra a dignidade de um semelhante ser humano falam por si. Versos me incomodam com o significado dado a eles na voz de Renato Russo ao dizerem, profeticamente: "É preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã". Pra pensar.





domingo, 2 de agosto de 2009

Vitórias da democracia – Parte 2




Quem diz que a democracia não se manifesta nas mínimas coisas do dia a dia (falo em conquistas de uma forma geral) é porque não aprendeu a discernir que uma nação se torna mais forte quando reconhece seus feitos. Como brasileiro, orgulha-me ver a brilhante (e histórica) participação do Brasil no Mundial de Natação em Roma.


Parabéns, César Cielo! Olhem para a imagem e, sinceramente, se questionem se é preciso dizer qualquer coisa a mais?!


Vitórias da democracia – Parte 1




Dia 31 de julho de 2009 entrou para a história do Conselho Federal de Psicologia. O até então inédito caso da psicóloga evangélica Rozangela Justino tornou-se o primeiro a ser publicamente condenado pelo colegiado de seus pares no Plenário Ético do CFP. Ela incutia nos seus pacientes seus argumentos de natureza moral, ideológica e sobretudo religiosa para fazê-los crer que, sendo o que eram, não poderiam viver felizes e, segundo ela, serem "aprovados" por Deus. Detalhe: a psicóloga recebia e ainda recebe o apoio do segmento religioso evangélico, que, inclusive, se mobiliza nos seus representantes junto ao Congresso para derrubar por meio de legislação (decreto legislativo) a excelente norma infraconstitucional que lhe serviu de esteio para a sua justa e histórica condenação - a Resolução 01/99 do Conselho Federal de Psicologia.

Res, non verba, ou seja, realidade, e não apenas palavras, fato é que há luz no fim do túnel! Reafirmo que existe um estado democrático de Direito neste país constitucionalmente laico e livre dos cabrestos ideológicos de qualquer natureza. E tal realidade expôs os sofismas e as falácias da profissional, reverberando o grande mal que acabava cometendo indo ao desencontro da verdade do ser de seus pacientes. Graças a Deus, enquanto houver luz de democracia dentro e fora do túnel, aqui não se instalará um novo Irã!

Como disse no final de um artigo escrito ontem (não publicado no blog), percebemos que as importantes decisões tomadas no histórico 31 de julho de 2009, tanto no Judiciário quanto no âmbito administrativo (no CFP), marcaram simbolicamente o momento para aprendermos com a História a revisitarmos o nosso ideal de Paz, não a Romana, mas a tupiniquim, propagada na literatura modernista de Oswald de Andrade nos idos de 1922, que leva na cor bronzeada por este sol a beleza que toda boa mudança evoca. Mudar pra valores cada vez melhores e que contemplem, portanto, a união entre os semelhantes. Mudar como “conversão” de dentro pra fora. Mudar como exercício do repensamento do que até aqui se feriu (em palavras e falsas promessas baseadas numa visão diminutiva da religião que não religa, mas divide os homens). Mudar a ponto de não mais se reconhecer nos discursos ditos no seio da ignorância, outro fruto produzido pelo desamor.

domingo, 26 de julho de 2009

Palavras pra fazer sentido





Ontem, assistindo a uma entrevista com a extraordinária Marina Colasanti, inebriei-me com seus versos compartilhados numa composição com Ivan Lins. Viajei pra dentro do significado que as palavras emprestam aos versos, encontrei-me nelas. O eco do sentido que me causou não parou mais. Perfeitas. Perfeitas. Perfeitas...

“Em todo lugar sou estrangeira, menos na minha casa. E mesmo na minha casa nenhum habitante sabe que o gosto justo da água é aquele daquela água que na minha terra se bebe”.

Pra mim, toda palavra se alimenta do que se sente. Não se preocupa em ser entendida. Se faz degustar experimentando. Cada um sabe o saber que terá. Por isso mesmo a palavra assume significados diferentes para cada indivíduo que dela prova. Quanto maior o apetite, melhor a fome do sentido. O problema, às vezes, é que nem todos tratam a palavra com o devido respeito. Num mundo tão competitivo e hedonista, mais vale o prazer que do tato se tem do que propriamente o que se pode saber da palavra dita. Os enganos crescem à medida da indiferença. Sim, pois nada sentir – ser indiferente ao que se sente – não é tratar com a real importância o que nos invade o momento, a palavra, o significado ou qualquer coisa que não seja mera aparência, mas fato. Ato. Raiz. Verbo. Conjugação de sabores. A água da gente.



Nota: abrindo a cortina da janela do meu quarto e assistindo o sereno da fria madrugada cair, ponho pra dentro dos goles o gosto justo da água desta minha terra. Palavras pra guardar nesta madrugada de sábado para domingo. Bom domingo a todos!

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Des-serviço – Foda é quando nem se sabe ser


Uma das coisas que mais me fascinam no ser humano é quando ele sabe ser. Não importa o quê tem sido. Pra se saber é preciso conhecer-se. E tudo, sabemos, é um processo que se faz na conjugação mais gerundiana possível. Ninguém é totalmente nada, diz um princípio da psicanálise. Estamos-sendo, já se diz acerca de outro princípio. E os que estão-sendo (conscientemente) me fascinam.

Quando vejo movimentos como os da Conscientização Negra, os Feministas, os Indigenistas, grupos de articulação das Pastorais católicas e, recentemente, a galera da CUFA, ainda que germinando pelas vertentes mais ligadas ao esporte, acesso digital e cidadania, me pergunto por que a categoria dos LGBTs me parece – ainda – distanciada do exercício cidadão dos seus direitos, desconhecedora de sua própria identidade, quando não muito aterrorizada pelos sufrágios da moral inquisidora baseada nos arbítrios da religião. Falo assim pensando nos porquês que suplantam o paradoxo existente nas multidões que auferem às paradas de um suposto orgulho, mas que, invariavelmente, não sabe que corre no Congresso um PLC (o 122/2006) que assinala objetivamente algumas regulamentações constitucionais que dizem respeito ao princípio da igualdade e também confere tipificação para alguns delitos oriundos do ódio contra uma categoria de cidadãos por aquilo que são (e não porque escolheram ser). Falo assim, ainda, em razão de fatos que tomei conhecimento recentemente e que me trazem a sensação de “des-serviço” vinda justamente de quem poderia ter falado bem do que diz representar. Refiro-me a um evento supostamente acadêmico ocorrido na Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro) neste mês, mas que, pelo total despreparo de quem foi convidado, enfrentou a sabatina raivosa de outro grupo, o dos homofóbicos cristãos, e permaneceu visivelmente acuado, utilizando-se de argumentos divorciados do contexto científico e da própria razão do evento, para dar trela ao que se tornou um descarrilamento lamentável da situação.

Talvez muitas pessoas não estejam entendendo nada, mas acabo por decidir que o texto sofrerá – como quase sempre sofre – as manifestações de minha liberdade pra apenas desabafar um pouco acerca daquilo que me cansa, a saber, a falta de conhecimento e o dês-serviço que alguns causam por não saberem sequer o que são nem o porquê de aqui estarem. E tudo isso porque sou um cidadão atento à liberdade que deveria ser conscientemente exercitada por todos, o que vale dizer, com respeito a si e ao espaço do outro, seja o outro quem for. Quando isto não ocorre – e aqui não faço apologias a establishments, partido ou categoria alguma -, observo com inusitado cansaço. Sussurro a expressão mais exclamativa para o momento: é foda!

Por essas e outras tenho me sentido, cada vez mais, um E.T no meio dos humanos (rs). Assim como intimidade é uma merda, diz o título de uma comunidade orkutiana, o pensamento consciente acaba sendo outra merda! A gente vai dissecando a realidade com olhar crítico e vendo, estupefato, que não é só a escassez da água que está correndo risco neste planeta. Os cérebros também!


Nota: aproveito o texto pra pincelar o convite recebido e propagado (porque tem gente com respaldo envolvida). Quem estiver pelo Rio nesse final de semana, tá convidado. Comunidade Betel. Praia de Botafogo, 430, 2º andar, Botafogo.


terça-feira, 21 de julho de 2009

Rabisco de terça no pé da agenda



Hoje amanheci mais cansado que ontem. Não se trata de um cansaço puramente físico, deve ter lá seus contornos emocionais. Deve, não. Estou convicto que sim. As obviedades estão me cansando os olhos. Pelas ruas vejo pessoas, anônimas porém repetitivas. A estranha impressão é que o filme já foi visto muitas vezes. Naquele programinha dito de relacionamento, então, - Orkut - a coisa parece assumir dimensões tsunâmicas. É sempre a mesma coisa, mudam-se apenas os dias. Em geral, via de regra, é sempre os mesmos olás, bons dias, boas tardes, passando aqui pra te desejar bom "findi", saudades, e etc. Em se tratando de um filme já visto, confesso que não sei onde pus o controle remoto, mas vontades me persuadem a procurar a tecla "stop" e pôr um basta a tanta repetição. Gozado. Reli o que acabei de escrever e já me pus a sorrir com o dito. A gente acaba projetando o que sente do lado de dentro, daí porque o ditado milenar extraído dos Evangelhos nos lembrar que “a boca fala do que está cheio o coração”. Na linguagem dos autores bíblicos o entendimento acerca da figura do coração era o que prevaleceu até meados do século XIX, ou seja, o centro das nossas emoções. Sei que há coisas novas se refazendo todos os dias. O recomeço, sempre e sempre, como já dizia a mestra Cora Coralina, é tal qual uma arte. A arte do bem-viver. Por essas e outras que ainda não sucumbi. Sou teimoso por natureza. Quando o cansaço parece inflamar a vontade, qualquer que seja, salto me lembrando dos versos que me inspiram e dos quais eu mesmo sou pai: retirem-me qualquer coisa exceto a capacidade de sonhar e de sorrir com as coisas simples na vida. Bom, já chega. Vou guardar a agenda pra amanhã soltar mais sorrisos do que hoje escrevi. Foi apenas um rabisco. Querem saber? Como parte do processo, nem vontade tenho pra apagá-lo. Bom que seja assim...

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Aos amigos com carinho


Comemora-se hoje o dia do amigo. A data nunca foi celebrada antes por mim, talvez porque não sinta (sentia) necessidade. Amigos os temos diariamente por perto, ainda que não os vejamos todos os dias. Sabermos que os temos e que estão próximos (apesar das geografias) encurta qualquer distância dentro das lembranças. Amigos de verdade tornam o significado mais robusto de algumas certezas bem pessoais. De tão chegados, vão ficando parecidos com as figuras mais próximas da gente, aquelas parentais.

Por conjugarem o amor de uma maneira fraterna, amigos acabam entendendo as nossas intempéries. Ao jeito deles, mas entendem. A importância que assumimos uns para com os outros torna o essencial absolutamente compreensível, mesmo que os contornos adjacentes de nossas escolhas nem sempre se encaixem no que se espera. Quem se importa, em se tratando de amigos? É no silêncio eloqüente da presença que a gente mais faz bem uns aos outros. Amigos sabem muito bem que isto não depende de concordar ou não concordar. Essas outras “questões” nem nos importam. O saber que se está presente, que podemos contar, isso sim é o que dá sentido ao que a gente sente quando sabe que se tem amigos nos capítulos de nossa história... isso faz toda a diferença!

E antes que termine o baile com as palavras do texto, válido reafirmar que um dos benefícios da contemporaneidade é saber-se que há, além dos amigos reais, os reconhecidamente virtuais. Embora não seja a regra, sou testemunha ocular da premissa que grandes amizades iniciaram a partir dos teclados. Portanto, a estes e àqueles, a todos, enfim: abraços rendidos em afeto neste dia do amigo!

Falando acerca dos hobbies

Quase todas as pessoas costumam ter algum hobby. Tem gente que pinta nas horas vagas. Tem gente que se doa no voluntariado. Outros preferem o cultivo das coleções. Não importa a caminhada, fato é que o caminho nos direciona ao que nos traz satisfação. Sempre tive os meus hobbies. A literatura me acompanha desde que entendo que existo. Colecionar bilhetes e cartões também é outro que, diria, “foi ficando”. Não consigo parar, ao menos ainda quis. Ainda. Aprender idiomas, pra mim, saiu do legado de hobby para necessidade. E isto há uns aninhos atrás. Mas, para minha total surpresa, acabei enveredando pelos caminhos do design gráfico. Resultado: quando posso, crio imagens para campanhas específicas em causas que acredito.

Esta aqui embaixo forma a mostra que é fruto de uma campanha a ser lançada na Feira da Diversidade em outubro próximo:





quarta-feira, 15 de julho de 2009

Sendo-me – Parte I

Há quanto tempo não correspondia ao desejo de tanta gente ao vir aqui! Passados dois meses ausente [absurdamente ausente diria uns três ou quatro amigos mais chegados], retornei. Não sei dizer se mais blasé do que antes, talvez, quem sabe. Maiorzinho que antes, estou certo. Nem tanto para fora das janelas. O crescimento a que me refiro se alarga das janelas pra dentro desta casa-ser. Não sei medir, foge-me ao pensamento. Apenas olho pra trás e vejo o quão distante fiquei do ponto de partida, o “status quo” de todos os revezes.

Roberto Carlos empolgou o público carioca neste final de semana pondo o Maracanã numa espera de meio-século pelo auge de sua carreira. Queria ter ido, acabei me deleitando com o teatro. Tudo é arte, mas cada qual com suas cores próprias. Por falar em Roberto, lembrei de alguns versos muito próximos deste sentir que me enche os olhos ao olhar pra trás. “Se chorei ou se sorri o importante é que emoções eu vivi!”. Um hino que só se pode entoar quando a gente esbarra no limite. O nosso próprio. seja com a dor mais profunda, seja com a alegria mais festiva e que não se iguala a nada mais.

Obviamente meus olhos se voltam para o presente e não deixam órfãos estes nossos dias do presente. Não há horizontes próximos, ou seja, a caminhada nem chegou ao clímax. A vida [ainda] mostrará grandes surpresas. Este é o fiozinho de esperança que move o coração dos seres-vivos-mesmo. O fator surpresa que apimente o “logo depois” que somente a Deus pertence (pois somente Ele-é desde sempre). Quanto a mim, sigo cantando e seguindo a canção. Chato seria saber do fim sem qualquer trabalho no existir...


Notinhas de rodapé:

[1] Prometo ler e responder cada recadinho deixado nestes dois meses ausente. Aguarde(m)-me.

[2] Dois meses fora acabaram me deixando por dentro de uma série de peças maravilhosas a que assisti no teatro. Desde o empolgante “O homem do princípio ao fim”, de Millôr, até o encantador Machado de Assis em “O homem célebre”. E poderia citar “Isaurinha Garcia”, “Zoológico de Vidro”, entre outras. Assim que desarrumar as malas e retornar à labuta, pouco a pouco, me insurgirei com mais detalhes.

[3] Muita coisa acontecendo no circuito cultural do Rio. O centenário do Theatro Municipal foi simplesmente mágico! Coro, orquestra e Corpo de Baile numa apresentação digna da mais preciosa pérola da coroa desta cidade, como disse Olavo Bilac no discurso de inauguração em 1909. Ainda: “Anima Mundi”, “Os Russos”, e uma dezena de exposições em tudo quanto é canto da cidade. Eba eba! Farei comentários em breve.

[4] Ô saudades disso daqui!...

Sendo-me – Parte II



Sabe, to ficando cansado de alguns programinhas da virtualidade. MSN, então, nem digo mais nada. Definitivamente não faz parte de mim. Orkut, o mais famoso programa de relacionamento deste país, já me cansou tantas vezes quantas necessárias foram até que saísse e retornasse. A mesmice me cansa. A falta de [qualquer] coisa nova, o fator surpresa ao qual me referi no texto acima, tudo isso corrobora o cansaço de meu ‘sentir pra fora’. É como assistir ao mesmo filme umas quinhentas vezes e crer que poderá ser diferente. Não, não é. Diferentes são as interpretações conforme as prioridades destes meus sentires. De resto, não. Pouca coisa muda de fato. E não me refiro a fotinhas ou novos amigos.

Bem, não desejo compartilhar o cansaço de minhas percepções de vida e de seus enraizamentos, sobretudo considerando o modo orkutiano de viver entre “amigos”. Fato é que, pra quem quiser saber quem sou [e lá essas coisas acabam prevalecendo como “cartão de visitas”, quando poderiam ser norteadores de uma fabulosa rede de a-FIM-nidades, sejam elas quais forem], agora terá que me ler num todo. Um único texto será pouco, figurará apenas como pista. Será preciso tecer toda uma colcha de retalhos pra poder me visualizar mais perto. Por ora, reproduzo aqui o que por muito tempo constou no perfil de apresentação do tal programinha. Eis o que sou-sendo e o que não me disponho a ser [neste meu hoje-agora]:

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• Quem sou_____ • um homem completamente do bem, do café tirado do bule, da fé descomplicada, da liberdade no ser, dos pés descalços, dos círculos de afeto em família, das semeaduras pra eternidade, dos programas diurnos, que faz amor com as palavras, que se doa a quem precisa. Sou-sendo-humano, o que vale dizer: errante-aprendiz.
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• Quem não sou_____ • um não-eu, um rótulo, uma grife, um showbusiness, um número para a coleção de amigos de qualquer perfil, um bilhão de neurônios alienados, uma projeção, um religioso ou fundamentalista.
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• Meu mundo_____ • o das letras, o das leis, o dos solos de verdade, o dos almoços em família e o que corresponder em alicerce, o da gratidão pelo Bem que me ocorre até enquanto durmo, o da amizade enraizada, o do amor que esbarra nos limites do outro e ainda assim decide amar, o do voluntariado, o da Graça em todas as coisas e em todas as geografias, o da sede de justiça e o da paz em todos os níveis (sendo eu um colaborador e não apenas amante platônico e idealista).
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• Não-meu-mundo_____ • o da intolerância, o do individualismo, o da alienação, o da futilidade, o da preocupação com o “ter” e o “aparentar”, o dos barulhos de dentro e os de fora, o dos vícios e o das night-rave-baladas-pool-parties.
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• Considerações gerais_____ • a partir desse “norte” quem for sábio entenderá o que não corresponde a mim. O que não for sábio insistirá na projeção de valores e, mais adiante, quebrará a cara e não mais aparecerá. Naturalmente... Aos sábios, errantes-e-aprendizes, no entanto, ofereço as raízes longas de minha amizade!
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quarta-feira, 13 de maio de 2009

Maio e seus significados


Maio é cheio de significados nas datas de minha família. Cada um deles, pra mim, corresponde a uma folha ou, quem sabe, a uma pétala. O mês inteiro é tal qual uma grande árvore vestida de flores. São datas de vários aniversários, a começar pelo de minha mãe, passando pelo irmão, pelo sobrinho, tias, mas são como folhas que também marcam aniversários de casamento, entre tantas realidades que agora fazem parte de minha história. Em maio tive o primeiro mês de ausência de meu pai, que, indubitavelmente, está presente diariamente nas muitas e gostosas lembranças que nutrimos. Se me permitem o parêntese plantado em meio ao texto, meu coração alcança a lembrança que ficou. Meu pai era extremamente cômico, fazia piada de tudo na vida, até da morte. Nunca o vi ter medo de nada na vida, exceto na véspera de seu falecimento quando me segredou em sussurro: “tenho medo”. Enquanto segurava seus braços, disse-lhe: “o senhor não precisa ter medo, eu tô aqui”. Muito mais do que este relato de últimos dias, o que mais me marcou nele foram os muitos exemplos de coragem e sobretudo as vezes em que me rasguei de rir com as piadas que soltava de tudo. Era um pândego atestado por toda a família! Pois, é. Maio é mês de me lembrar como um mês passado é uma eternidade em “slow motion”...

Maio é também reconhecido como mês de algumas conquistas históricas. A principal delas tem a ver com nossa História, pois exatamente no dia de hoje comemora-se a promulgação da Lei áurea, abolindo a escravatura oficial neste país. As demais escravidões, infelizmente, permanecem manchando o ideal de liberdade que carregamos como filhos deste solo. É vergonhoso afirmar o que afirmo, mas não há nada contra a verdade senão pela verdade. A Procuradoria do Trabalho em parceria com setores do Ministério do Trabalho e Emprego e do próprio INSS [ainda] articulam ações contra a exploração do trabalho escravo (adulto e infantil) em muitas regiões desta Mãe Gentil. Em muitas localidade paupérrimas deste solo (como alguns bolsões de miséria no Nordeste, nas cidades satélites do Distrito Federal, no vale do Jequitinhonha e no interior do estado do Amazonas, de Rondônia e do Pará) ainda se vêem mães vendendo algumas horas com seus filhos (meninos e meninas) pré-adolescentes na prática da exploração sexual. Espalhados por várias cidades também estão os crimes praticados contra a vida de centenas e centenas de homossexuais, vitimados pelo azorrague da homofobia. A miséria por si só já é uma escravidão que atenta contra os direitos “básicos” que a Carta Magna assegura que todo cidadão pode e deve ter no seu artigo 5º. A escravidão também se estabelece no emperramento da aceitação do outro, seja ele quem for. Tal perversidade é comparada a uma senzala dentro da qual ficam os maus tratos contra o direito de existir do outro (sendo este outro um outro semelhante, ainda que seja diferente), o bom senso, a pluralidade em todos os seus campos, enfim, contra a própria democracia e o estado de Direito. As escravidões em suas diversas formas de apresentação se espalham numa velocidade impressionante.

Minha reflexão segue tecendo fios e cordas de todos os lugares, modos e pensares, no sentido de buscarmos voz e vez para que a Mãe Gentil, através dos filhos deste solo, empenhem-se para que a Pátria continue sendo amada, e não apenas por mim, mas por cada um. Independentemente de como seja, esteja ou pense o cada um que também existe e colhe o mesmo ar que colhemos.



P.S.: Agradeço o carinho daqueles que me incentivam a vir aqui e soltar farelinhos com novos textos [estava em falta, confesso].


Divulgações a pedido

Falava de alguns eventos comemorativos neste mês de maio. Lembrei-me dos pedidos de amigos para incentivar a divulgação de algumas datas importantes no contexto de pluralidade, diversidade cultural e cidadania participativa. Por achar que o “post” ficaria longo se colocasse todos os anúncios e cartazes, preferi salientar apenas alguns.




Quintas no BNDES (temporada 2009)



Nota: Marcinho, amigo de caminhada, fica aqui o registro do evento logo mais à noite, no Centro Cultural Silvio Monteiro, na cidade de Nova Iguaçu, para a palestra “Homofobia e Religião”, a qual, desde já, segue com meu agradecimento pela oportunidade de te ver e ouvir!

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Uma fábula sobre o que se pode pensar do amor



Junto a saída principal do CCBB, em frente à Livraria da Travessa, dois rapazes aparentando serem estudantes conversam assentados num dos bancos do saguão. Assentado bem próximo um outro alguém a cujo respeito limitarei dizer tratar-se de um sonhador de olhos abertos. Não há muito o que adjetivar tanto de um quanto dos outros. Na imensidão daquele vão de saída os bancos se dispõem lado a lado. Pra quem já passou por ali sabe que há todo um favorecimento da própria acústica enaltecendo qualquer sussurro naquele ambiente. E não apenas ela, a acústica, mas, no caso em questão, alguma coisa também parecia priorizar as cenas como se estivessem sendo gravadas em slow-motion. Dois estudantes e a atenção de ambos se curvando desmedidamente para um daqueles laptops wireless sobre o colo de um deles. Pelas múltiplas imagens que a todo instante se abriam, pareciam conectados à grande rede.

A conversa prossegue em meio aos cliques e ‘enters’ até que os ventos mudam o rumo da prosa num diálogo teatralesco para os ouvidos atentos do sonhador de olhos abertos. Como num abrir de cortinas, aqueles dois estudantes parecem imergir sob o holofote de uma outra atenção. Como numa boca de cena as frases vão destrinchando palavras interessantes na apresentação daquele diálogo. Mais do que as frases, o que tornava tudo interessante é que ali se destoavam duas qualidades diferenciadas nos seres humanos ditos humanos. Duas visões diferentes sobre suas próprias existências. Dois olhares do que nos cerca – do lado de dentro e de fora – como reflexo da riqueza com que conjugamos nossa existência e a visão que temos dela sobre o mundo a partir de nós. Cada um seguiu defendendo sua própria e heróica verdade segundo o olhar que carregava do amor...

Se tudo não passou de mais um sonho, não sei. Só sei que foi assim que o sonhador de olhos abertos captou parte daquela epopéia urbana contemporânea:



- Anjos, o que são?
- Anjos são mensageiros.
- Ah, tá bom. Onde podemos contratar um?
- Até onde sei nunca ouvi dizer que se contratam anjos...
- Ah, corta essa! É lógico que em algum lugar se pode contratar anjos!
- Pode procurar, será perda de tempo! Anjos não se contratam porque não estão à venda! Eles são inegociáveis...
- Engano seu! O que não é negócio nesta vida, heim?
- Ora, o amor!
- Tem certeza? Até o amor é "business"! Abra agora o MSN! Vai, abra!
- Pára de tolice! Pra que iria abrir o MSN?
- Vou te mostrar como se compra amor facim, facim...
- Não vou abrir coisa alguma! Vai pensando que amor se compra, vai...
- Cara, chega a ser ridícula essa tua ideia do mito do amor romântico!
- Ridícula por quê?
- Porque isso não existe. Acabou. C’est fini. Dá pra entender ou quer que eu desenhe?
- Pra início de conversa, o amor jamais acaba...
- Voilá! São Paulo aos Coríntios!
- Correto!
- São Paulo de hoje é uma outra história. Aliás, qualquer grande cidade!
- Você sabe muito bem que me refiro ao apóstolo! É “o”, e não “a” São Paulo.
- E você sabe que no fundo, no fundo, o amor existe porque a vida também é "business". Você me ama. Eu te amo. Não importa em que nível. É assim até que eu venha conhecer um melhor ‘produto’, você sabe... Nada é perfeito. As coisas são mais práticas nos nossos dias...
- Você quer dizer mais ‘plásticas’.
- Que seja! [Cantando Titãs] "As flores de plástico não morrem". Por isso que o amor nunca acaba! Ele é plástico como tudo na vida!
- Não, agora posso dizer que você viajou legal...
- "It's true, is business!" É a realidade! O mundo muda, meu caro. Você tá nele e nunca parou pra perceber?
- Daqui a pouco vai querer me convencer que já existe o “love delivery”, pronta entrega do amor que você precisa em casa, na hora que bem desejar...
- Pode apostar que sim. Tenho amigas e até amigos que já agarraram muitos entregadores em domicílio. Duvida? Pergunte a eles o que acharam do ‘serviço’... [gargalhadas]
- Das duas uma, ou você tá ficando maluco ou eu é que não devo ser desse planeta!
- Péeeeeeeinnnnh! A campainha avisa que está correta a segunda alternativa! Uma salva de palmas ao ‘momento lucidez’!
- Chega de chistes por hoje! Chega de reduzir a vida nesse palanfrório!
- Não falei de vida. tá enganado! Falei sobre o produto mais consumido no mundo capitalista depois da água e da cocaína: o amor!
- Vida. Amor. E quem te disse que um existe sem o outro?
- Bobagem! Quantos não sobrevivem sem amor!?
- Isso! Exatamente isso! Muitos até podem sobreviver. Viver requer muito mais que uma sobrevida existencial... Viver requer amor. Amor é vida. Vida sem amor não é vida, mas mera existência. Amebas existem. Formigas existem. Hienas existem e riem sem nem saber os porquês. Seres humanos não deveriam apenas existir...
- “Não deveriam apenas...”? E deveriam mais o quê?
- Viver. Sair de si. Pra amar é preciso sair de si, já dizia o poeta Vinícius.
- Mais uma vez com poesia! Blá blá blá... Isso não muda os conceitos, não muda o mundo!
- Mas pode mudar uma pessoa! Vamo embora! Desisto de prosseguir!
- Valei-me santos anjos! Vocês existem! Depois a gente acerta as contas!
- Desliga esse laptop! Um dia vai saber que o amor é um ‘anti-isso’ que me falou...
- Vamo então, poeta! A vida é escrita em versos e cifrões, queira entender ou não...


Ambos levantaram-se. Foram-se. Aquelas palavras ficaram ali presas naquele recinto. O eco parecia eclodir os vidros da rotunda bem no meio do saguão. Alguns ouvidos captaram. Só não se sabe quais daquelas verdades nem quais ouvidos as receberam, senão os do sonhador e os das estátuas de Hermes espalhadas pelo edifício. Antes o sonhador tivesse dormido e não conseguisse ouvir o que ouviu. Quando os olhos são abertos quase sempre é o coração que mais sente...


segunda-feira, 20 de abril de 2009

Os minutos, os sons e as cores de domingo




Olhando o relógio, um ímpeto enaltece a vontade só pra soltar as horas. Fico imaginando como os ponteiros se comportariam na liberdade. Tantos anos engessados, de início, suponho que se recusariam a saltar rumo ao ‘kayrós’, o tempo sem dicotomias ou quaisquer frações cronológicas. O engessamento faz parte das rotinas. Não apenas a dos ponteiros. Vou vendo que nem todo o começo (ou recomeço) é fácil. Cambaleantes, tanto eles quanto nós ainda insistimos no caminhar trôpego. As coisas parecem rodar, rodar. É o desacerto procurando ritmo pra acertar. Os joelhos vacilam. Do nada, põem-se de pé. O despertar é assim mesmo. Um pouco preguiçoso. Sem muitos sonhos pra estimular. Há uma epiderme sobre os ossos que nos belisca e nos faz crer que essa vida anda. Sente. Segue. Tal como os dias. Um após o outro. Cada um singular como tem que ser. As horas, já soltas, também dão contam do recado. Sinto este mistério se desvendando. A coisa em si reveste-se em significado e em importância. Saber que em qualquer um de nós as coisas caminham rumo ao que nos propomos é um sabor a mais na degustação do prazer. Que mais importaria? Se sonhos, que sigam com asas pra chegar mais rápido. Se realidade daquela tipicamente nua, que siga plantada com chance de enraizamento.

Em meio ao desabrochar dos minutos em total cumplicidade com a existência, uma breve permissão para um vôo abaixo da epiderme. A dimensão em profunda metamorfose de realidade para sonho. Levei-me pra ver a mostra de arte contemporânea “Vertigem” com OSGEMEOS. Aqueles personagens amarelos me protagonizaram minutos ao lado das fábulas mágicas que denunciam o mundo de tristezas e alegrias. Tudo isto, diga-se, através de um olhar primoroso de transparência e ingenuidade. Dei-me de presente algumas cores para as paredes do meu coração. Voltei menos incomodado. Bem, até certo ponto. Já que tinha me proposto mergulhar pra dentro das águas oníricas, nada melhor que encerrar as horas assistindo O fabuloso destino de Amelie Poulin. Pra quê! Extravasei meus ecos aprisionados entupindo os poros antes abertos com lágrimas avulsas. Não poucas porque o momento – ah, este momento! – me seduz com acenos de “live and let it go!”. Queria ser daqueles que constroem frases raras e, portanto, perfeitamente sadias – como falou Henry Thoreau num de seus poemas – só pra sinalizar que aquele final acabou levando todo o meu estoque de projeções pessoais. Não sei porque acabei citando o poeta pacifista Thoreau. Talvez porque meus dias andam na certeza de “uma vida de cada vez” ou, como gosto, de um minuto sem pressa das horas...

Manhã de domingo. Dia de feira livre. Gosto daqueles vaivéns de olhares, ora furtivos, ora atentos, sobre as frutas, sobre os legumes e sobre as tabelinhas riscadas de giz e cifrões. As cores estão por toda a parte. Os meus olhos se distraem com tantos retalhos de detalhes. Eles formam uma colcha multicolorida de gente, de corpos, de folhas, de talos, de cheiros e de um céu de anil estirado sobre nós. Que cenário! Crianças nos carrinhos de bebês. Senhoras apressadas e tagarelas. Senhores com gravidade e ares de circunspecção. Gente que deu bom dia ao dia. Gente que mal acordou. Gente solta de si mesma. Gente acorrentada pelas horas. A cada aproximação, ‘bom dias’ pra plural nenhum botar defeito. Mais uma vez voltei pra casa com mãos impregnadas de odores e bolsos fartos de sons.

Pausa para o almoço. Em seguida, antes que os odores desapareçam, corro pra rabiscar algumas linhas. Uma necessidade de liberdade como a que vi nas ruas da feira me sacode pra pingar cores no texto. Lembrei-me das cores que ganhei pela manhã. Tudo de graça como são o sorriso franco e o aperto de mão dos cavalheiros. Uma idéia de última hora resolve aparecer antes do ponto final. Pego pequenos objetos. Um par de óculos escuros e uma câmera pra ser mais preciso. Corro pra rua e faço sinal para o táxi. Salto ao lado do Copacabana Palace. Os lábios já sentem o sabor do mar. Atravesso o calçadão e me disponho na direção do maior divã do mundo. Por descuido – ou mera intuição, sei lá! – olho para o relógio e não vejo os ponteiros por lá. Sorrio por dentro imaginando que eles também devam estar em bom lugar. Livres do tempo.


O abraço da brisa me torna cúmplice da paisagem, me lança pra dentro do cenário. Aceito-o de bom grado. A esta altura os passos não me pedem nada. Seguem com as horas. A tarde de domingo fala por meio de tantos detalhes. Cachorrinhos. Carrinhos de bebês. Cadeiras de rodas. Estátua viva. Corredores apressados. Ciclistas concentrados. Mulheres bonitas. Homens, igualmente. Casais apaixonados. Vendedores hippies. Policiais atentos. Um grupo de MPB cantando Ana Carolina. Um salva-vidas. Um surfista abaixando o zíper do traje. Um casal de garis varrendo as marcas pretas e brancas do calçadão. Turistas como as areias da praia. Muitos idiomas. Muitos dedos em riste para cada canto. Garotos exibindo seu futebol de areia. Rapazes em saques e defesas espetaculares nas redes de vôlei. Assisto a uma partida sem qualquer necessidade senão a de não ter necessidades. Capturo imagens, qualquer uma que venha emprestar significado. De um instante a outro já estou no meio dos pescadores junto à colônia de pesca de Copacabana. Idosos conversam libertando o passado. Assento-me num daqueles bancos bem ao lado do Forte. Uma roda gigante bem ao fundo saúda a campanha para os jogos olímpicos na cidade. Mais uma vez, algumas capturas com a câmera. Olho gente me olhando. Escuto os sons dos outros. Uma orquestra empresta e recolhe sons. Tudo acaba em troca. Passo na porta da Paróquia da Ressurreição. Da rua avisto que uma missa prossegue, mas são as pessoas com caras felizes que me chamam a atenção. Mais à frente, o Arpoador. A dimensão das coisas torna-se tão enaltecida que me comove. É o entardecer fazendo solos com assovios das brisas e rabiscando de dourado o firmamento. Aquilo, pra mim, me encanta como canto de sereias. Flashes e mais flashes. Muitos casais. Eles são casais, não importando se héteros ou gays. São muitos corações trocando segredos em meio àquelas pedras. Pulando de pedra em pedra, atinjo o topo. Muitos olhares fitos para o espetáculo do entardecer. Quase todos assentados nas poltronas imaginárias. Refestelo-me numa das pedras e também troco segredos de liquidificador. Eu comigo mesmo. Eu com os céus sobre mim e os céus dentro de mim. Fiz as minhas preces sem pedidos, questão de costume. Olhei a espuma do mar tomando banho nas ondas. Sorri mais uma vez por dentro com tanta gente serenada ao redor de mim. Fiquei por ali enamorando o firmamento até que Alguém apagou a luz da tarde pra acender estrelas...
...

Nota: apenas para os que ainda não assistiram ao filme ao qual me referi (e para que o mergulho se aproxime do significado das palavras que pari logo acima), trecho do final que me encantou sob os sons de “La Valse d’Amelie”.



sexta-feira, 17 de abril de 2009

O agora e o minuto seguinte



Passos generosos e nada acanhados. Uma lágrima teimosa, daquelas incautas, pula pela janela da alma. Até a saudade mareja os olhos e acaba umedecendo o rosto no trajeto vertido. Que horas são? – a pergunta é pra eu mesmo me ouvir. Faz um bem danado saber que o pensamento não tá preso lá atrás. Se assim não fosse, a esta hora estaria fazendo alusões ao que vivi na sexta-feira passada. Sete dias se passaram. Parece sete dias de caminhada em profundo silêncio-de-mim...

Aqui dentro um “sempre” ora me atordoa, ora me indispõe comigo mesmo. O tempo, às vezes, aparece apenas vestido de “sempre”. É quando o que parece eternidade não tem fim. Uma lição inesperada – e ao contrário do que imaginava –, é que nem todo “para sempre” é contente. Tem sempre alguma coisa diferente pra acontecer. Um sempre-algo-inesperado. A saudade. A dor. A tristeza. A dúvida estéril. O que trará o Carregador de minutos seguintes?

A vida é uma longa espera. Uma estrada e uma espera, diria. Tudo acontece num minuto e basta. Passou. A gente fica com cara de não-sei-o-quê! Mas até a cara passa. Amarrada, se solta. Solta, se fecha. Novamente se abre e um e outro “talvez” desconcerta o “sempre”. Tudo, no entanto, muito lentamente...

O que há lá fora que me encolhe de tanto frio? Nenhuma resposta. Insisto. O que há aqui dentro que me arrepia diante de tanto frio? O que foi e que não volta mais. O instante que nunca é igual ao que passou. A lembrança que nunca mais se terá senão a que eu mesmo aprisionei. O cheiro, a pele, o riso, o barulhinho dos passos de quem se perdeu... Tantas lembranças! De repente, a única certeza. O Carregador de minutos seguintes voltará, mas a gente não sabe o que traz. Isso não soa alguma coisa fria? Tem dias que sim. Tem dias que não. Hoje, sinto-me exercitando o direito fruto da liberdade pra dizer que sim. Este é o meu “sempre” dentro do qual o meu agora está preso.

É precisamente neste agora no qual reflito que há tanto frio. Tudo o que eu queria era só duas ou três coisas pra aquecer, quem sabe deseternizar uns fatos. Que a saudade me avisasse quando tivesse que doer. Que os dias voltassem a ter as 24 horas que me acostumei. Que meu caminhar com os próprios pés não viessem a se cansar, mesmo sabendo que algumas companhias se foram.

Os passos prosseguem. Não me perguntem onde estou. Até eu mesmo tenho me feito o mesmo questionamento. Se estou ficando louco? Pasmem! Ainda há gente que crê ser possível a imunidade em meio à selva urbana?! De perto, repita-se o poeta-cantor, ninguém é normal.

Caminhando e cantando emudecido avisto lá na frente uma casinha com lâmpada acesa. Altercado com os próprios passos, me aproximo pouco a pouco. A casinha se agiganta na medida da aproximação. A luz se torna forte demais, parece não caber naquele lugar. De fato, não cabe. Começo a perceber as coisas se encaixando. Elas sempre se encaixam quando os passos se aquietam. Não é uma casinha qualquer, é um ambiente de portas abertas. Não é uma lâmpada qualquer, é um sol querendo estar a pique.

Alguma coisa me diz que todo este cenário tem dedo do Carregador dos minutos seguintes. De repente, um assovio desliza pelo vento. Me alcança e me convence a se aproximar mais, a chegar bem perto, a retomar o prumo e a convidar o sol pra sair por qualquer das portas. É uma escolha. Acredito que tenha a ver com a liberdade que, heroica e corajosa, nos lança para o caminhar com os próprios pés.

Meu instante de reflexão é como faca de dois gumes. Corta meu pensamento, multiplicando-o em muitos outros. Pouco a pouco um fio de certeza vai quebrando todo o frio. Digo um fio porque tenho aprendido que nem toda a certeza cabe dentro da gente. Somente a que for necessária. É hora de buscar o sol pra colocá-lo novamente no firmamento, mesmo que fique tortinho à primeira vista. Pra que perfeição nessas horas? Há muito trabalho a fazer. Apesar das saudades, há muito o que se fazer. Tanto lá fora quanto aqui dentro...


domingo, 12 de abril de 2009

Num domingo de Páscoa tão diferente dos demais


Há muitas gentes nas ruas. Tantos rostos. Tantas histórias. Cada uma delas, porém, um universo particular. Naquele infinito que somente cada um pode desvendar – o chamado “eu” – a dimensão existencial de tudo o que vivemos e recordamos. Lembranças me povoam as constelações que cabem em meu próprio mundo. Explosões se irrompem aqui dentro e, sem nem perceber, rios caudalosos nascem sulcando os poros do rosto até formarem uma foz corrida abaixo. São chuvas, não são apenas águas. Chuvas de lágrimas. Uma e outra lembrança – talvez o conjunto delas – passando como filme aqui dentro. Imagens de meu pai, das nossas conversas, dos instantes de agonia quando queria me ver mas seu olhar se esquivava para outra dimensão bem maior que a minha. Queria ter-lhe contado tantas coisas de mim. Queria ter-lhe mostrado tantas vitórias que estão por vir. Queria ter-lhe compartilhado alguns sonhos, os mais recentes, os de hoje. Por outro lado, se o “crómos” – o nosso tempo multifacetado em horas, minutos, segundos, centésimos, e por aí vai – não convergiu para as oportunidades que delas sinto falta neste instante, sei que o “kayrós” – a dimensão pra lá de quântica, talvez pelas conseqüências de eternidade que somente a Graça pode se autoexplicar – guarda um quê de mistério com ares de certeza, fruto da fé. Um dia nos veremos para continuar o que aqui a limitação das coisas não nos permitiu. Bem, falo por ora. O pensamento engravida a lembrança em dores de parto como as das saudades. Sou um gestante em potencial assim como cada um que produz as mesmas emoções. Gestantes. Grávidos de lembranças. As dores de parto, mais uma vez, se aproximam. É hora de me aquietar por uns instantes e deixar fluir os fluxos caudalosos que me formam cascatas lindas de espontaneidade, amor e saudade de meu pai. Ontem, em meio a dor da perda, sepultei meu pai. Hoje, no domingo de Páscoa, inspiro-me pra ressuscitar todas as lembranças como sementes de afeto, as que mais gosto de semear. Como meu pai fazia. Tal pai, tal filho. Que orgulho!

Sei que há brotos nascendo aqui no meu peito - um processo natural quando se rega tais sementinhas. É por isso mesmo que este "fim" não termina aqui. Até breve!




Nota 1: Como diz a letra de uma canção, “a saudade eterniza a presença de quem se foi”. Perdas Necessárias. Quanta verdade!

Padre Fábio de Melo - Perdas necessárias (Com. Transforme em Jardins!)






Nota 2: aos que não entenderam as razões de meu silêncio, aos que cogitaram mil coisas, aos que souberam e compreenderam, aos que telefonaram pra oferecer o coração, aos que semearam palavrinhas por e-mail e outros recursos, aos que rezaram (tanto em silêncio quanto em letras engravidadas de sentimentos), aos que, mesmo sem entender, foram eloqüentes no silêncio e se mostraram presentes do mesmo modo, um punhado de gratidão espalmado na direção de todos. É dado de coração, ainda que pela mão deste ser saudoso, mas convicto que a paz é o melhor lugar pra se estar.

sábado, 4 de abril de 2009

Ressignificados



Algumas semanas fora, mas não propriamente fora da cidade ou do país. Sabe aquelas coisas que nos ocorrem sem que nos preparemos por completo? Fato é que ninguém sabe o que nos reserva o momento seguinte. Talvez por isso seja tão inquietante. Alguns defendem que não é diferente com o tema “morte”. Mas esse não é nem de longe o que me propus nestas linhas parideiras. Quando falei das coisas para as quais não encontramos espaço no nosso comum, referia-me a realidades que nem sempre são personagens protagonistas de nosso cotidiano. Aliás, não o são da maioria das pessoas. Nunca parei pra pensar nisso, mas tive a leitura íntima dos fatos quando o que veio a ocorrer foi justamente um problema de saúde no coração de meu pai. Foi a partir daí que comecei a ressignificar certas coisas, algumas das quais valores. Mergulhei fundo pra dentro da incerteza, nadei nas águas gélidas da tristeza vendo meu pai desfalecido, premeditando morte. E foi lá naquele oceano em mim que entendi que era preciso ressignificar muita coisa. A começar em mim, perpassando pelos meus diletos conceitos. Ressignificar.

Precisei cuidar de meu pai durante toda a convalescência. Sim, ressignifiquei tanta coisa que até alguns papéis, temporariamente (e por uma justa causa) se inverteram. Penteava seus cabelos brancos, brincava com os penteados que inventava, dave-lhe banhos gostosos, levava-lhe água e os remédios nas horas certas. O tempo afastado daqui, quero dizer, destas linhas me trouxe inúmeras lições ante ao que assisti pelas andanças em diversas clínicas e até num hospital da rede pública (o primeiro lugar para onde o levei quando desfaleceu). O enfrentamento de problemas, sobretudo os inesperados, sejam eles de que natureza forem, são por si mesmos uma grande oportunidade. A gente só entende de fato quando mergulha de cabeça nesta grande “oportunidade” dita problema. Trata-se do mergulho ao conhecimento de nossos limites. Gozado, lembrei de uma obra que li e que falava que os chineses é que estão certos quando no seu idioma apreendem de uma mesma palavra – “crise” – o termo “oportunidade”. Posso lhes dizer que não tem como não concordar com os orientais. De fato o que ocorre, na prática, é isso mesmo. Oportunidade. A palavra carrega sua própria raiz etimológica. Estas raízes são “chose de la vie”, diria Deise, minha amiga que teima em só falar francês quando se encontra comigo.

Considerando as coisas que nos acometem sem [nos] esperar – porque nem tudo é previsível justamente pra não esmaecer diante de um simplismo existencial -, a cada dia me convenço que a vida é sim uma espécie de roda-gigante. Hoje estou bem; já amanhã nunca se sabe. Aliás, alguém aqui arriscaria dizer o que nos revela o minuto seguinte? Pura redundância, o minuto seguinte é o que será. Quanto a ele, não importa. Importa o “como” se deve enfrentá-lo (ou como enfrentaremos). Isto é o que acaba prevalecendo no final de todas as coisas [in]esperadas.

Tinha falado de ressignificados justamente ao pensar nessas coisas. Ressignificar a vida. Os problemas. As adversidades. A própria existência. “Como” acaba sendo muito mais epidérmico do que um “por que” inquiridor, é o que penso. Um revela certo cuidado com o que de fato é sem se importar com as razões periféricas; o outro, apenas um pré-qualquer-coisa com vistas a uma explicação desejada.

Quase sempre é preciso dispor-se de alguns saltos para se ver a mesma situação com o mesmo tamanho que todos os mortais a vêem todos os dias. É a tal capacidade de ver-se no tamanho que se é que dignifica a paisagem – toda ela – enquanto se percorre a estrada-vida. Há quem afirme que o belo é o que se torna comum, sem perder a sua grandeza. Chegar até aqui não é tão fácil, bem sei, há que se ter ousadia e acuidade desmedidas para discernir todas estas realidades.

Vi de perto como muitos são relegados a segundo e terceiro planos nas emergências dos hospitais. Tudo a que assisti não passou de um retrato daqueles em 3x4. Desde aquelas duas jovens a quem ajudei com algumas informações e que traziam seu pai quase desfalecido, pedindo um colchonete que fosse para o pai deitar-se (e que acabou sendo atendido ‘em parte’ por uma enfermeira que, após a insistência das jovens, trouxe dois cobertores), àquela outra que, indignada, me contava que seu pai estava internado há dois dias sentado na emergência porque não tinha mais vaga em leito algum. Sequer na enfermaria. E olha que a coisa estava apenas em 3x4. Fico imaginando como não se dá o retrato desta miséria sob o aspecto “macro” da coisa.

Ante o caos na rede pública de saúde (que começa pelo desvalor dado à pessoa), felizes os que podem pagar pela rede privada como foi o caso de meu pai. Tudo isso é muito triste, tão triste que não encontra resposta na obviedade dos discursos políticos tentando explicar o inaceitável. Ano após ano os Tribunais de Contas dos Estados aprovam as contas das secretarias – entre elas, as de saúde – como se os recursos estivessem realmente sendo aplicados. Em suma, tudo paira tão fantasioso como os tijolos amarelos da estrada que levava Dorothy até a Cidade das Esmeraldas em “O Mágico de Oz”. Perdoem-me a comparação, a obra de Lyman Frank Baum não mereceria tamanha infâmia!




Mas não quero perder de vista o tom da esperança. Mergulhado naquele oceano com inúmeras ondas bravas de descaso e de um arrogante “selfismo”, assistindo a cenas que nunca imaginei assistir tão perto da realidade, lembro-me de um enfermeiro que me atendeu. Não sei o nome dele. Não perguntei, sequer tinha cabeça pra isso naquele instante. Fiquei de 7h até às 20h numa emergência vendo como aquele rapaz lidava com os doentes, como consolava os familiares, como se importava e como o toque – apenas o toque – tranqüilizava os desesperados. É isso. Importar-se. Aproximar-se e tocar. O mundo seria menos caótico se houvesse mais pessoas se importando com o que fazem e como fazem. Aquele jovem esguio e de olhar lânguido, cabelos compridos e passos curtos e rápidos, pareceu-me um beija-flor numa floresta em chamas.

Passado tudo aquilo a que assisti, a certeza que me restou veio como tábua de salvação naquele universo bravio. Senti-me convidado a rever o significado que cada coisa dita importante – vida, saúde, família, carinho, atenção, etc – acaba tendo quando o minuto seguinte se torna nossa realidade deste instante. A isto chamarei de ressignificar valores. Sinto-me ressignificando muita coisa aqui dentro enquanto escrevo. No final das contas, minha conclusão não é “concluível”. Em meio a tanta ressignificação sei que o que me ocorre é como uma conjugação em gerúndio. Um processo cujas ações povoam o lado de dentro. O que virá a partir daí somente o tal minuto seguinte revelará. Sem pressa. Sem todas as certezas. O “como” acontecerá é o que importa!



Nota: sementes de gratidão para todos aqueles e todas aquelas que souberam dos fatos antes que o publicasse e me regaram com águas de consolo e carinho. O beijo há de impingir o que até agora não seguiu nos últimos agradecimentos, estejam certos!

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

O mundo, as notícias e as gaivotas




A moça abre o jornal e se impressiona com a falta de novidade. As novas estão se tornando velhas mal acabam de nascer. Detalhe: não são todas elas que nascem. Muitas já se esfacelam na sua notória contrariedade. A que se daria tamanha infertilidade? – é apenas uma divagação latente enquanto folheia as manchetes. Deputados não trabalharam no primeiro dia após o recesso de carnaval. Pouquíssimos senadores – leia-se menos de dez – se aventuraram numa sessão legislativa que iniciou às 14h e terminou antes das 16h. Nesta quinta-feira o Governo anuncia as estatísticas de mortes e acidentes no trânsito em todo o país durante o carnaval, a primeira delas na vigência da “lei seca”. O arcebispo da Paraíba pune com suspensão de suas atividades o sacerdote - Pe. Luiz Couto -, que também é deputado, pois, segundo ele, prega “diametralmente contra a posição do Vaticano”. A moça arregala os olhos e lê uma notinha no pé da página. Em tempo: o sacerdote, antenado com a realidade humana e com a essência do Evangelho – que gera vida e liberdade, e não aprisionamento e morte da própria consciência -, proclama-se a favor do uso de preservativos pelos jovens e da tolerância à diversidade, incluindo-se o direito às uniões entre pessoas do mesmo sexo. Num ímpeto de impaciência, joga aquelas páginas sobre o criado mudo. Desiste de tentar entender a ganância humana, que vai engolindo o outro – pelo engano e pela sede de poder – até tentar ser o outro, roubando-lhe a individualidade, formatando mentes e corações num só pensar e sobre este impingindo-lhe sua própria adjetivação como “certo” ou “errado”, segundo suas próprias convenções. Nada é totalmente novo debaixo dos raios do sol, exceto a experiência de ser livre. Cada qual busque fazer seu próprio caminho. Ela corre, apressa-se em se jogar no trigal que dá por trás de sua casa. É lá que sua imaginação alcança os melhores vôos. Basta ser feliz que o mundo à sua volta se povoa de pássaros. Algumas vezes, de gaivotas. Cada uma delas sendo um ser humano em paz por ser-se sem culpa, bastando-se com o que tem, deixando-se livre pra que a liberdade do outro crie seus próprios ninhos...


_______ dedicado a todos que um dia voaram [e não pararam de voar], não se importando com as vaias nem com as convenções. Viver era mais importante!

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Considerações pós-carnaval



Carnaval passou em alguns lugares [ao menos no Rio]; noutros, vai-se gerundiando. Está passando. Melhor que aguardemos... A despeito dos modos verbais, hoje é quarta-feira de cinzas. Purificações para os que delas necessitam! Aos caminhantes de pés empoeirados no chão da vida, nada a purificar. Nossa remissão já ocorreu muito antes de qualquer folia. Mas a folia ainda se faz presente pelas lembranças. Quem é que não lembrou dos dezesseis anos de espera do Salgueiro? Desde o “Explode coração na maior felicidade”, há muito tempo seus admiradores não explodiam de tanta felicidade! Não apenas ele – o Salgueiro – ou eles, os salgueirenses [pois aglutinar mais de um reflete uma coletividade bem-vinda nessas horas], mas aos que festejam qualquer coisa neste dia. Minha amiga Valéria recebeu uma caixa de bombons pelo seu niver. Entre parabéns e confissões de vida, pulamos na maior felicidade. Na verdade, pulei porque ela me induziu a pular! Minha cunhada lá em Brasília também aniversaria. Nada de pulos [at all!]. Um telefonema já ajuda a encurtar a distância, bem sei. É o que fiz. Mas ainda não fiz todas as coisas. Alto lá, o dia valseia sua despedida com a noite! Enquanto eles namoram, junto as mãos bem próximas ao rosto numa atitude reverente, pois enquanto penso no que me resta a fazer, vou decidindo por onde começar. Já sei! Reordenar algumas coisas aqui dentro, abrir mais as janelas [da alma], sacudir as cortinas, pôr a literatura em dia. É hora de realidade! Nada de tamborins, confetes, fantasias ou “carna vale”. O que vale é saber que os dias não dão tréguas. Há muito o que realizar. O pós-carnaval é sempre ‘pré-anúncio’ do início de muitas coisas. Eis-nos no “agora início”. Agora sim começamos 2009!


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