domingo, 26 de julho de 2009

Palavras pra fazer sentido





Ontem, assistindo a uma entrevista com a extraordinária Marina Colasanti, inebriei-me com seus versos compartilhados numa composição com Ivan Lins. Viajei pra dentro do significado que as palavras emprestam aos versos, encontrei-me nelas. O eco do sentido que me causou não parou mais. Perfeitas. Perfeitas. Perfeitas...

“Em todo lugar sou estrangeira, menos na minha casa. E mesmo na minha casa nenhum habitante sabe que o gosto justo da água é aquele daquela água que na minha terra se bebe”.

Pra mim, toda palavra se alimenta do que se sente. Não se preocupa em ser entendida. Se faz degustar experimentando. Cada um sabe o saber que terá. Por isso mesmo a palavra assume significados diferentes para cada indivíduo que dela prova. Quanto maior o apetite, melhor a fome do sentido. O problema, às vezes, é que nem todos tratam a palavra com o devido respeito. Num mundo tão competitivo e hedonista, mais vale o prazer que do tato se tem do que propriamente o que se pode saber da palavra dita. Os enganos crescem à medida da indiferença. Sim, pois nada sentir – ser indiferente ao que se sente – não é tratar com a real importância o que nos invade o momento, a palavra, o significado ou qualquer coisa que não seja mera aparência, mas fato. Ato. Raiz. Verbo. Conjugação de sabores. A água da gente.



Nota: abrindo a cortina da janela do meu quarto e assistindo o sereno da fria madrugada cair, ponho pra dentro dos goles o gosto justo da água desta minha terra. Palavras pra guardar nesta madrugada de sábado para domingo. Bom domingo a todos!

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Des-serviço – Foda é quando nem se sabe ser


Uma das coisas que mais me fascinam no ser humano é quando ele sabe ser. Não importa o quê tem sido. Pra se saber é preciso conhecer-se. E tudo, sabemos, é um processo que se faz na conjugação mais gerundiana possível. Ninguém é totalmente nada, diz um princípio da psicanálise. Estamos-sendo, já se diz acerca de outro princípio. E os que estão-sendo (conscientemente) me fascinam.

Quando vejo movimentos como os da Conscientização Negra, os Feministas, os Indigenistas, grupos de articulação das Pastorais católicas e, recentemente, a galera da CUFA, ainda que germinando pelas vertentes mais ligadas ao esporte, acesso digital e cidadania, me pergunto por que a categoria dos LGBTs me parece – ainda – distanciada do exercício cidadão dos seus direitos, desconhecedora de sua própria identidade, quando não muito aterrorizada pelos sufrágios da moral inquisidora baseada nos arbítrios da religião. Falo assim pensando nos porquês que suplantam o paradoxo existente nas multidões que auferem às paradas de um suposto orgulho, mas que, invariavelmente, não sabe que corre no Congresso um PLC (o 122/2006) que assinala objetivamente algumas regulamentações constitucionais que dizem respeito ao princípio da igualdade e também confere tipificação para alguns delitos oriundos do ódio contra uma categoria de cidadãos por aquilo que são (e não porque escolheram ser). Falo assim, ainda, em razão de fatos que tomei conhecimento recentemente e que me trazem a sensação de “des-serviço” vinda justamente de quem poderia ter falado bem do que diz representar. Refiro-me a um evento supostamente acadêmico ocorrido na Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro) neste mês, mas que, pelo total despreparo de quem foi convidado, enfrentou a sabatina raivosa de outro grupo, o dos homofóbicos cristãos, e permaneceu visivelmente acuado, utilizando-se de argumentos divorciados do contexto científico e da própria razão do evento, para dar trela ao que se tornou um descarrilamento lamentável da situação.

Talvez muitas pessoas não estejam entendendo nada, mas acabo por decidir que o texto sofrerá – como quase sempre sofre – as manifestações de minha liberdade pra apenas desabafar um pouco acerca daquilo que me cansa, a saber, a falta de conhecimento e o dês-serviço que alguns causam por não saberem sequer o que são nem o porquê de aqui estarem. E tudo isso porque sou um cidadão atento à liberdade que deveria ser conscientemente exercitada por todos, o que vale dizer, com respeito a si e ao espaço do outro, seja o outro quem for. Quando isto não ocorre – e aqui não faço apologias a establishments, partido ou categoria alguma -, observo com inusitado cansaço. Sussurro a expressão mais exclamativa para o momento: é foda!

Por essas e outras tenho me sentido, cada vez mais, um E.T no meio dos humanos (rs). Assim como intimidade é uma merda, diz o título de uma comunidade orkutiana, o pensamento consciente acaba sendo outra merda! A gente vai dissecando a realidade com olhar crítico e vendo, estupefato, que não é só a escassez da água que está correndo risco neste planeta. Os cérebros também!


Nota: aproveito o texto pra pincelar o convite recebido e propagado (porque tem gente com respaldo envolvida). Quem estiver pelo Rio nesse final de semana, tá convidado. Comunidade Betel. Praia de Botafogo, 430, 2º andar, Botafogo.


terça-feira, 21 de julho de 2009

Rabisco de terça no pé da agenda



Hoje amanheci mais cansado que ontem. Não se trata de um cansaço puramente físico, deve ter lá seus contornos emocionais. Deve, não. Estou convicto que sim. As obviedades estão me cansando os olhos. Pelas ruas vejo pessoas, anônimas porém repetitivas. A estranha impressão é que o filme já foi visto muitas vezes. Naquele programinha dito de relacionamento, então, - Orkut - a coisa parece assumir dimensões tsunâmicas. É sempre a mesma coisa, mudam-se apenas os dias. Em geral, via de regra, é sempre os mesmos olás, bons dias, boas tardes, passando aqui pra te desejar bom "findi", saudades, e etc. Em se tratando de um filme já visto, confesso que não sei onde pus o controle remoto, mas vontades me persuadem a procurar a tecla "stop" e pôr um basta a tanta repetição. Gozado. Reli o que acabei de escrever e já me pus a sorrir com o dito. A gente acaba projetando o que sente do lado de dentro, daí porque o ditado milenar extraído dos Evangelhos nos lembrar que “a boca fala do que está cheio o coração”. Na linguagem dos autores bíblicos o entendimento acerca da figura do coração era o que prevaleceu até meados do século XIX, ou seja, o centro das nossas emoções. Sei que há coisas novas se refazendo todos os dias. O recomeço, sempre e sempre, como já dizia a mestra Cora Coralina, é tal qual uma arte. A arte do bem-viver. Por essas e outras que ainda não sucumbi. Sou teimoso por natureza. Quando o cansaço parece inflamar a vontade, qualquer que seja, salto me lembrando dos versos que me inspiram e dos quais eu mesmo sou pai: retirem-me qualquer coisa exceto a capacidade de sonhar e de sorrir com as coisas simples na vida. Bom, já chega. Vou guardar a agenda pra amanhã soltar mais sorrisos do que hoje escrevi. Foi apenas um rabisco. Querem saber? Como parte do processo, nem vontade tenho pra apagá-lo. Bom que seja assim...

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Aos amigos com carinho


Comemora-se hoje o dia do amigo. A data nunca foi celebrada antes por mim, talvez porque não sinta (sentia) necessidade. Amigos os temos diariamente por perto, ainda que não os vejamos todos os dias. Sabermos que os temos e que estão próximos (apesar das geografias) encurta qualquer distância dentro das lembranças. Amigos de verdade tornam o significado mais robusto de algumas certezas bem pessoais. De tão chegados, vão ficando parecidos com as figuras mais próximas da gente, aquelas parentais.

Por conjugarem o amor de uma maneira fraterna, amigos acabam entendendo as nossas intempéries. Ao jeito deles, mas entendem. A importância que assumimos uns para com os outros torna o essencial absolutamente compreensível, mesmo que os contornos adjacentes de nossas escolhas nem sempre se encaixem no que se espera. Quem se importa, em se tratando de amigos? É no silêncio eloqüente da presença que a gente mais faz bem uns aos outros. Amigos sabem muito bem que isto não depende de concordar ou não concordar. Essas outras “questões” nem nos importam. O saber que se está presente, que podemos contar, isso sim é o que dá sentido ao que a gente sente quando sabe que se tem amigos nos capítulos de nossa história... isso faz toda a diferença!

E antes que termine o baile com as palavras do texto, válido reafirmar que um dos benefícios da contemporaneidade é saber-se que há, além dos amigos reais, os reconhecidamente virtuais. Embora não seja a regra, sou testemunha ocular da premissa que grandes amizades iniciaram a partir dos teclados. Portanto, a estes e àqueles, a todos, enfim: abraços rendidos em afeto neste dia do amigo!

Falando acerca dos hobbies

Quase todas as pessoas costumam ter algum hobby. Tem gente que pinta nas horas vagas. Tem gente que se doa no voluntariado. Outros preferem o cultivo das coleções. Não importa a caminhada, fato é que o caminho nos direciona ao que nos traz satisfação. Sempre tive os meus hobbies. A literatura me acompanha desde que entendo que existo. Colecionar bilhetes e cartões também é outro que, diria, “foi ficando”. Não consigo parar, ao menos ainda quis. Ainda. Aprender idiomas, pra mim, saiu do legado de hobby para necessidade. E isto há uns aninhos atrás. Mas, para minha total surpresa, acabei enveredando pelos caminhos do design gráfico. Resultado: quando posso, crio imagens para campanhas específicas em causas que acredito.

Esta aqui embaixo forma a mostra que é fruto de uma campanha a ser lançada na Feira da Diversidade em outubro próximo:





quarta-feira, 15 de julho de 2009

Sendo-me – Parte I

Há quanto tempo não correspondia ao desejo de tanta gente ao vir aqui! Passados dois meses ausente [absurdamente ausente diria uns três ou quatro amigos mais chegados], retornei. Não sei dizer se mais blasé do que antes, talvez, quem sabe. Maiorzinho que antes, estou certo. Nem tanto para fora das janelas. O crescimento a que me refiro se alarga das janelas pra dentro desta casa-ser. Não sei medir, foge-me ao pensamento. Apenas olho pra trás e vejo o quão distante fiquei do ponto de partida, o “status quo” de todos os revezes.

Roberto Carlos empolgou o público carioca neste final de semana pondo o Maracanã numa espera de meio-século pelo auge de sua carreira. Queria ter ido, acabei me deleitando com o teatro. Tudo é arte, mas cada qual com suas cores próprias. Por falar em Roberto, lembrei de alguns versos muito próximos deste sentir que me enche os olhos ao olhar pra trás. “Se chorei ou se sorri o importante é que emoções eu vivi!”. Um hino que só se pode entoar quando a gente esbarra no limite. O nosso próprio. seja com a dor mais profunda, seja com a alegria mais festiva e que não se iguala a nada mais.

Obviamente meus olhos se voltam para o presente e não deixam órfãos estes nossos dias do presente. Não há horizontes próximos, ou seja, a caminhada nem chegou ao clímax. A vida [ainda] mostrará grandes surpresas. Este é o fiozinho de esperança que move o coração dos seres-vivos-mesmo. O fator surpresa que apimente o “logo depois” que somente a Deus pertence (pois somente Ele-é desde sempre). Quanto a mim, sigo cantando e seguindo a canção. Chato seria saber do fim sem qualquer trabalho no existir...


Notinhas de rodapé:

[1] Prometo ler e responder cada recadinho deixado nestes dois meses ausente. Aguarde(m)-me.

[2] Dois meses fora acabaram me deixando por dentro de uma série de peças maravilhosas a que assisti no teatro. Desde o empolgante “O homem do princípio ao fim”, de Millôr, até o encantador Machado de Assis em “O homem célebre”. E poderia citar “Isaurinha Garcia”, “Zoológico de Vidro”, entre outras. Assim que desarrumar as malas e retornar à labuta, pouco a pouco, me insurgirei com mais detalhes.

[3] Muita coisa acontecendo no circuito cultural do Rio. O centenário do Theatro Municipal foi simplesmente mágico! Coro, orquestra e Corpo de Baile numa apresentação digna da mais preciosa pérola da coroa desta cidade, como disse Olavo Bilac no discurso de inauguração em 1909. Ainda: “Anima Mundi”, “Os Russos”, e uma dezena de exposições em tudo quanto é canto da cidade. Eba eba! Farei comentários em breve.

[4] Ô saudades disso daqui!...

Sendo-me – Parte II



Sabe, to ficando cansado de alguns programinhas da virtualidade. MSN, então, nem digo mais nada. Definitivamente não faz parte de mim. Orkut, o mais famoso programa de relacionamento deste país, já me cansou tantas vezes quantas necessárias foram até que saísse e retornasse. A mesmice me cansa. A falta de [qualquer] coisa nova, o fator surpresa ao qual me referi no texto acima, tudo isso corrobora o cansaço de meu ‘sentir pra fora’. É como assistir ao mesmo filme umas quinhentas vezes e crer que poderá ser diferente. Não, não é. Diferentes são as interpretações conforme as prioridades destes meus sentires. De resto, não. Pouca coisa muda de fato. E não me refiro a fotinhas ou novos amigos.

Bem, não desejo compartilhar o cansaço de minhas percepções de vida e de seus enraizamentos, sobretudo considerando o modo orkutiano de viver entre “amigos”. Fato é que, pra quem quiser saber quem sou [e lá essas coisas acabam prevalecendo como “cartão de visitas”, quando poderiam ser norteadores de uma fabulosa rede de a-FIM-nidades, sejam elas quais forem], agora terá que me ler num todo. Um único texto será pouco, figurará apenas como pista. Será preciso tecer toda uma colcha de retalhos pra poder me visualizar mais perto. Por ora, reproduzo aqui o que por muito tempo constou no perfil de apresentação do tal programinha. Eis o que sou-sendo e o que não me disponho a ser [neste meu hoje-agora]:

========================================
• Quem sou_____ • um homem completamente do bem, do café tirado do bule, da fé descomplicada, da liberdade no ser, dos pés descalços, dos círculos de afeto em família, das semeaduras pra eternidade, dos programas diurnos, que faz amor com as palavras, que se doa a quem precisa. Sou-sendo-humano, o que vale dizer: errante-aprendiz.
========================================
• Quem não sou_____ • um não-eu, um rótulo, uma grife, um showbusiness, um número para a coleção de amigos de qualquer perfil, um bilhão de neurônios alienados, uma projeção, um religioso ou fundamentalista.
========================================
• Meu mundo_____ • o das letras, o das leis, o dos solos de verdade, o dos almoços em família e o que corresponder em alicerce, o da gratidão pelo Bem que me ocorre até enquanto durmo, o da amizade enraizada, o do amor que esbarra nos limites do outro e ainda assim decide amar, o do voluntariado, o da Graça em todas as coisas e em todas as geografias, o da sede de justiça e o da paz em todos os níveis (sendo eu um colaborador e não apenas amante platônico e idealista).
========================================
• Não-meu-mundo_____ • o da intolerância, o do individualismo, o da alienação, o da futilidade, o da preocupação com o “ter” e o “aparentar”, o dos barulhos de dentro e os de fora, o dos vícios e o das night-rave-baladas-pool-parties.
========================================
• Considerações gerais_____ • a partir desse “norte” quem for sábio entenderá o que não corresponde a mim. O que não for sábio insistirá na projeção de valores e, mais adiante, quebrará a cara e não mais aparecerá. Naturalmente... Aos sábios, errantes-e-aprendizes, no entanto, ofereço as raízes longas de minha amizade!
========================================

Related Posts with Thumbnails