terça-feira, 30 de setembro de 2008

Que tristeza!


’Por R$ 3, os moços mexem na gente’, diz Rita. Mexer é tocar no corpo das meninas e fazê-las praticar sexo oral. Ela tem 9 anos” (trecho de reportagem publicada no Correio Braziliense). [Leia + aqui]

Às vezes penso que cadeia ainda é pouco. Há que se pensar além disso sem, contudo, deixá-la de aplicar sob o rigor da lei. A solução ainda está longe disso. Todos estão enfermos, inclusive as famílias. O triste de tudo é que não é apenas aqui, no país. O "curso desse mundo" caminha para a UTI. Que desamor! Que tristeza!

Quando elas me tocaram, chorei


“Livre sou”. Não apenas uma frase. Os sons cantados pela minha amiga Kátia Simone, dia desses, me excederam os tímpanos. “Hoje livre sou” era um dos versos da canção. Como você consegue ser tão linda? – perguntei convicto que ela me entenderia quando disse o que disse. “São os olhos de Graça sobre mim”, disse-me com o sorriso exposto que só não era mais forte que a luz daqueles olhares. Liberdade no ser não tem nada a ver com pseudo-romantismos na vida. É exercício de confiança. É caminhar com os próprios pés no chão da verdade. É saber-se. É conhecer-se. Não pensemos que todos se sabem e se conhecem. Muitos – não poucos – se recusam a se saber, embora já sabendo bem lá no fundo que não são como imaginavam ser. Esses, ao menos, estão no caminho. O verbo tem seu gerúndio em transição. Questão de conjugação no espaço e no tempo, se quiserem. Nada é compulsório na liberdade. Somente a obrigação de ser eu mesmo pra mim.



Nota: dedicado a dois luzeiros no meu caminhar: Kátia, por ter me inspirado com lágrimas enquanto a ouvia cantar, e Lea, por ter me inspirado com lágrimas enquanto a ouvi falar dos “excluídos das estruturas do Poder” como alvo do amor Daquele que é Todo-amor. Falou com tanta verdade que nem ela nem eu nos agüentamos -- por nos sabermos tais "excluídos", não apenas pelo Poder de quem dele se serve mas também por aqueles que se auto-intitulam "Poder" como representantes de Deus na Terra --, choramos. “Aquele que tem um pedacinho Dele dentro de você”, pra mim, foi um desfecho-sem-fim nas palavras dessa grande mulher chamada Léa. Não é simples. É absurdamente belo. Como vocês duas!

A implantação da reforma saiu...


Eu abençoo o enjoo desse voo. Mas só em 2012.
Até lá, posso abençoar com circunflexo.
Voar seguro em qualquer acento.
Enjoar pra dar um ponto.
Final. Não, trema!

Poeminha azul


E foi bem assim que rasguei o céu:
Pus minhas pernas dentro do firmamento.
Mergulhei-as bem fundo no azul. Submergi.
Renasci. Uma “metanóia”, um novo pensar a vida
Azul. Tudo azul como o mar do céu em mim. Sem merecer!


Cardo, in Metanóia: novo pensamento azul.



Nota: post dedicado à doce Bárbara, pelo seu aniversário neste dia. E pensar que em dezembro terei uma afilhada professorinha graduada em Letras... Luz sobre teu viver!

domingo, 28 de setembro de 2008

Festival de Cinema do Rio


O Festival de Cinema do Rio 2008 já começou desde quinta-feira passada em alguns points de cultura da cidade (não apenas cinemas, mas, inclusive no Centro Cultural da Justiça Federal). A programação estende-se até o próximo domingo, 05/10/2008, dia das eleições municipais. Como já é tradição, muita gente bacana na porta do Odeon, na Cinelândia. Eu, que não sou bacana, lá estive também acompanhado de minhas amigas, Aline e Mazinha, e, ainda, da Marjorie Estiano, a quem conheci. Nice girl!


Para saber mais sobre a programação [clique aqui].

Memórias de quem não irá nunca: Clarice


Sábado colorido de várias tonalidades de chumbo. Tal como a vida. Mas, e daí? Eu amo viver nem que seja pra aguardar o renascimento, quando houver. Sim, estou embriagado de Clarice Lispector. Resolvi apresentá-la a uma amiga (a outra já a conhecia). Encontro marcado. Horas e ponteiros na nossa direção. Nós fazemos o tempo. Não, não precisa avisar aos que não souberem. Parei de me importar, o que eu preciso é o agora. De fato, Clarice mexe com a gente. Dá uns nós em qualquer sílaba, quem disse que palavra também não engasga? Eu fico mudo quando a linguagem me destrói. Às vezes sou vencido pela palavra. Emudeço. Tem gente que saberá do que falo.

Não imaginava que iria me apaixonar mais ainda pela aura de Clarice. Ela é danada (“arretada”, como escreve acerca dela meu Serginho), mas dana-se quem pensa o contrário. É dessas que nos esclarece: ‘eu sei o que faço neste mundo: incumbida!’ Não há como não querer senti-la. Mergulhei no seu mundo durante três horas na exposição do Centro Cultural Banco do Brasil. Vi seus retratos particulares, catei os detalhes nos seus documentos, perscrutei seu título de eleitor, a seção em que votava, o passaporte, os boletins, cartõezinhos do INSS, cartas escritas aos 21 anos de idade ao presente Getúlio Vargas pedindo que fosse-lhe deferido o pedido de naturalização como brasileira (o que foi aceito). Encantei-me com a sintonia que nós dois – ela e eu – temos em nossa peculiar história: graduamos no mesmo curso e na mesma Faculdade Nacional de Direito, nasci no dia em que ela deixou de existir (embora o seja sempre, o que é mui diferente), só mudando o ano. Ela costumava emendar o texto da mesma forma que eu no final de meus escritos (crônicas e poesias), sempre puxando setinhas com caneta e bagunçando o coreto de tal forma que ninguém – exceto nós mesmos – entenderíamos os nossos originais. Amei o carinho dela para com o filho caçula, lá pelos idos de 1969, quando o menino ainda era adolescente e fazia intercâmbio nos EUA: “A pessoa que mais te quer neste mundo”, assim assinava no final das cartas cobertas de maternidade. “Não traga gato para este apartamento, exceto se já estiver treinado para os pipis” – foi o bilhete escrito à caneta numa margem de outra correspondência para o filho Paulinho. Ria nos detalhes. Nem me importava com os demais vendo minha autenticidade incorrigível – a liberdade de ser-me. Ouvi-a dizer que, certa feita, pegou um táxi e foi até a Feira dos Nordestinos, no Campo de São Cristóvão, só para sentir o clima do que precisava para uma próxima obra. Pois ao sair da exposição, não é que passei pelo mesmo lugar! Mas nada poderia sentir pela exaustão do que já tinha absorvido. Digerir Clarice não causa náuseas. É um empanturramento satisfatório. Eu é que o diga na constatação da palavra: ela está, nunca foi!


Nota: na imagem acima, Clarice durante a entrevista. Maravilhoso poder ouvi-la num telão enorme. Sentados em puffs ou espalhados pelo chão, como foi meu caso, a maioria dos visitantes se emocionou durante muitas de suas falas e divagações. Que vontade de aplaudi-la. Contido e já de pé, preferi simplesmente suspirar e dizer: sou teu fã, louca em absoluta sanidade perfeita!

A quem honra, honra


Porque um blog também vive de posts e clicks...


Noite de lançamento da obra “Crônicas cariocas e ensino de História”. Bom encontrar grandes amigos por lá...




Nota: na imagem acima, os autores, a obra e eu no Palácio do Catete, RJ.

Palavra que não inventei


Amor. Bolinhas de sabão. O som de copos com água. O som das gotas no chão. Um sorriso tímido. A música por trás dos ruídos. Um barquinho de papel. Um avião nas mãos de um menino. Um coração encostado no outro. Um ou dois para sempres. Uma pipa atravessando as nuvens. Uma sementeira de tulipas. Um par de meias listradas. Dois ou três cata-ventos. Uma palavra inventada.

Rita Apoena, in Sugestões para presente


Nota: o post de hoje segue dedicado à Neidinha, sempre presente neste blog com suas palavras mágicas, amigas e confortáveis para a alma de qualquer ser humano. Uma amiga tão querida que tem se tornado “maninha” ao coração. Só me resta dizer por esta “via” (já que o disse ontem pelas “vias orkutianas”): Feliz aniversário com todas as cores de Graça!


quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Sapatilha


"Faz judô, cara! Balé é coisa de macho. A gente sai todo quebrado, contundido, não é moleza não."

Conselho que o Thiago Soares costuma dar aos amigos que pretendem se dedicar à dança. O brasileiro é primeiro bailarino do Royal Ballet de Londres.

Nota 1: para visualizar a reportagem do brasileiro à BBC de Londres, [clique aqui]. Para visualizar o site do bailarino (em português e em inglês), basta clicar no nome logo acima.

Nota 2: na imagem acima, cena coreografada pelos bailarinos da Companhia de Dança Jair Moraes.

Pra pensar


“O ser humano, guiado pelo sentido da beleza, transpõe o acontecimento fortuito para fazer dele um tema que, em seguida, fará parte da partitura de sua vida. Inconscientemente, o homem compõe a sua vida segundo as leis da beleza, mesmo nos instantes do mais profundo desespero"



Milan Kundera, in A insustentável leveza do ser.

És fascinação


“Não acredito em doutrinas que julgam, punem. Sou um cristão fervoroso e busco propagar isso com meu trabalho. Quanto mais humano for o Cristo, mais fascinante”


Eriberto Leão, ator.

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Lançamento oficial: divulgação


Divulgar é apresentar o que nem todos sabem ou tem. O “produto”, por assim dizer, é a História do Rio de Janeiro em crônicas pelo meu amigo (historiador e professor), Leandro, entre outros colaboradores. Crônicas cariocas e ensino de História. Lançamento oficial pela editora nesta sexta-feira, 26/09, a partir das 19h30min, no Museu da República, no Catete, aqui no Rio de Janeiro.

Sairei tarde do trabalho, mas espero estar lá nem que seja para ser o último livro a receber os autógrafos. Leozito, green-eyed-boy, meu abraço-ergue-pés, como você já conhece! Deus sempre te inspire, amigo-irmão!

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Meritocracia instalada


Domingo me alimentei de várias formas, não apenas pelo churrasco do qual participei, mas também pelas muitas palavras que ouvi de meu amigo de caminhada, Marcinho Retamero. Não terei pretensão alguma de reproduzir ou testemunhar em letras tudo o que ouvi, mas de uma coisa sei: foi Graça pra meu viver! Primeiro, porque o lecionário litúrgico para o domingo foi justamente a parábola que me representa (a dos trabalhadores na vinha) não apenas num contexto amplo de “metanóia” (o novo pensar a vida, que, já disse uma vez, ocorre em Graça, pondo cores novas no viver), mas sobretudo no meu “infinito particular”; aliás, meu e de Marisa Monte também. Segundo, porque a trajetória de suas palavras foram delineando o que ocorre conosco – todos nós! – desde que nascemos. E eu me senti sendo cortado em pedacinhos dentro de mim mesmo.

Dizia ele que somos altamente meritocráticos em nossos relacionamentos (afetivos, familiares, fraternos e sociais) e conosco também. De fato, o somos. Senão, vejamos. Queremos a troca. Precisamos das carreirinhas de barganha. Satisfazemo-nos em ser recompensados. E assim o é desde os idos de jardim de infância, por exemplo, quando a professorinha promete recompensar o que se comportar e castigar o que fizer bagunça. Passa por toda a adolescência, alcança a juventude e vai se estabelecendo na vida adulta. Mais e mais... Marcinho ainda citou o brilhantismo de Freud que sacou esse “mal” em nós como projeção no outro. E assim vamos vivendo, de méritos em méritos, projetando nossa humanidade adoecida com este “sistema” para quem quer que seja o outro. Tem gente que faz isso até com Deus! A religião - e aqui se diferencia de Graça, pelo amor de Deus! - é expert no catecismo e na práxis deste tema. “Se eu me dedicar à religião, certamente, serei abençoado!”, pensam. "Eu preciso estar na igreja pra que Deus me...". Eis um genoma altamente mercantilista em nosso ser! As bênçãos, portanto, são meritocráticas também. É o tal toma-lá-dá-cá ao qual nos acostumamos e pensamos que Deus também curte. Mas, como disse, Marcinho, “Deus não é homem!”. Ele não cai nessas furadas, nessas esquisitices nossas (aprendidas desde pequenos, é verdade). Projetamos o mesmo comportamento meritocrático nos nossos inter-relacionamentos. “Ah, me dá um beijinho!... Só dou se você me der primeiro...”. “Se ela fez isso, ah, também vou fazer! Isso não vai ficar barato!”. “Me deixou aqui sozinho e foi se divertir? Não perde por esperar!”. “Tenho me esforçado pra agradá-lo e ele não tá nem aí pra mim... vou parar de me esforçar...”. “Quanto que já fiz por ela e o que ganho? Nada. Sou mesmo um otário!”. “Olha quanta gente merece um pouco mais de atenção dele e eu, que o conheço há mais tempo, sou tratado como alguém sem muita importância...”. E assim vivemos. Adoecidos. Meritocráticos. Esperando sempre receber. Viciados nisso, precisando de doses cada vez maiores conforme aumenta a doença em nós. Sem saber amar. Sem saber que amor, quando puro e verdadeiro, dá sem esperar receber. Ama-se por decisão, não por recompensa. Mesmo que a recompensa seja a atenção, o carinho ou a resposta. Quem ama, ama. Quem se sabe amado, sabe-se que é amado. É feeling, vê-se com a vida. Tudo isso faz bem. Exceto o querer em troca, não importa o quê. Graças a Deus porque Ele é Graça, e não impõe “condições” para amar. Graças a Deus por muita gente que aprendeu amar com este Amor...


Nota: “post” dedicado e inspirado nas ricas palavras de meu amigo Marcinho Retamero, pela sua garra, coragem e dedicação no anúncio do amor. Fiquei feliz em saber que ele abriu a Parada de Duque de Caxias com uma oração no alto de um trio elétrico. Isso é, no mínimo, profético! Segue, ainda, a dedicação ao Juninho, amigo que me enviou uma mensagem linda no celular dizendo o quão sensibilizado ficou com as palavras que ele também ouviu do Marcinho no mesmo dia que eu.

Sobre tempo e jabuticabas


Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui pra frente do que já vivi até agora. Sinto-me como aquela menina que ganhou uma bacia de jabuticabas. As primeiras, ela comeu displicente, mas percebendo que faltam poucas, rói o caroço. Já não tenho tempo para lidar com mediocridades. Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflados. Não tolero gabolices. Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram, cobiçando seus lugares, talentos e sorte. Já não tenho tempo para projetos megalomaníacos. Não participarei de conferências que estabeleçam prazos fixos para reverter a miséria do mundo. (...) Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas, que apesar da idade cronológica, são imaturos. Não quero ver os ponteiros do relógio avançando em reuniões de “confrontação”, onde tiramos fatos a limpo. Detesto fazer acareação de desafetos que brigaram pelo majestoso cargo de secretário geral do coral. Lembrei-me agora de Mário de Andrade que afirmou: “as pessoas não debatem conteúdos, apenas os rótulos”. Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos, quero a essência, minha alma tem pressa...

Sem muitas jabuticabas na bacia, quero viver ao lado de gente humana, muito humana; que sabe rir de seus tropeços, não se encanta com triunfos, não considera eleita antes da hora, não foge de sua mortalidade, defende a dignidade dos marginalizados, e deseja tão somente andar ao lado de Deus. Caminhar perto de coisas e pessoas de verdade, desfrutar desse amor absolutamente sem fraudes, nunca será perda de tempo. O essencial faz a vida valer a pena.


Nota: Extraído do Jornal “Extra” (RJ). Recebi de presente de uma amiga. Detalhe: presente que me chegou como um pedaço do jornal sem data, cortado a mão. “- É seu, guardei pra você porque sei que gostará”, disse-me. Após a leitura, sorri e respondi: Verdade. Tanto gostei que hoje mesmo colocarei no meu blog.

Nota de última hora: Coincidência ou não (prefiro dizer “sintonia”), mi Madrezita tinha me enviado um e-mail nesta mesma noite com a mesma sugestão para o blog. Ela havia retirado do Jornal Opinião, por sinal, muito bom. Portanto, a essas duas mulheres em absoluta sintonia dedico este post.

Conversa imaginária


O mundo precisa da alma de poetas. É por isso que, às vezes, imaginar a vida simples assim pode ser daqueles momentos em que falar, pensar ou estar com amigos de verdade faz um bem danado. Um diálogo desses bem que podia ser de verdade (pra mim, foi verdade). E pra você?

- Fala, meu arretado!
- Vixe, que surpresa! Tudo bem?
- Tudo. Tava aqui de bobeira, sentado nas pedras do Arpoador, pensei: Vou dar uma ligada [...], a primeira ligada, só pra dizer que o pôr de sol é deslumbrantemente lindo, principalmente visto daqui... algo indecifrável.
- Hã? Faz isso comigo, não...Antes de voltar ao [...] tenho que passar aí. Pecado seria não passar aí... Mas, peraí, desliga que eu te ligo em seguida.
- Claro que não, eu quis. Nem vem que não tem. Nem desligo a ligação, menos ainda o momento diante desta janela aberta no firmamento. Tá tudo on line diante de mim... e é mais lindo do que eu imaginava... um marzão azulzim da cor do céu...
- Ó meu Deus, tinha que estar aí... e vou estar! Tô indo!
- Que nada, duvido!
- Ih! Ô teimoso, tô dizendo que vou pintar esse azul com minhas cores é porque vou, não teime!
- Tá bom, mas não por não teimar. Vou te aguardar no Arpoador. Rápido que o pôr de sol pediu um tempo à lua, mas não demore. O momento é simplesmente mágico.
- Posso imaginar... deve ser um paraíso...
- E o que não é paraíso passa a ser num olhar, num sotaque... Lembrei até de uma poesia de Corinne Bailey Rae, diz assim: “...just like a star across my sky, just like an angel off the page”… cara, só liguei pra compartilhar o momento, até porque também eu queria [...].
- Tá bom, amigo, não vou incomodar sua catarse. A ligação já deve estar cara... Dia desses eu te ligo debaixo de um pôr de lua... [...]
- Valeu, poeta! [...]

domingo, 21 de setembro de 2008

O Rio diz: eu tenho fé


Domingo, pela manhã, no percurso da Praia do Leme até a Praia de Copacabana teremos a caminhada contra a intolerância religiosa. Projeto "Eu tenho fé". A idéia do movimento – lançada por vários segmentos ecumenistas – começou a se formar quando do ataque de um centro espírita sofrido por um grupo de jovens dito cristão. À época, deu no que falar. Todos os jovens foram indiciados. Não preciso dizer aqui que o ato insano - e de desamor! - que realizaram foi crime previsto no Código Penal. A proposta que segue ao ato (ou marcha para os mais exigentes) é a de incentivar o respeito através da tolerância à fé de quem quer que seja diferente de mim e você. Ninguém é obrigado a declarar-se em apoio à religião (ou fé) de quem quer que seja, mas todos temos o dever garantido pela Constituição de respeitar o culto e a crença de todos. Todos.

Neste momento, junto as mãos e, olhando nos olhos do outro, o qualquer outro alguém, digo ANAMASTÊ ("o Divino em mim saúda o Divino em ti"). A seguir, flexiono meu tronco e como não posso abraçar na virtualidade, seguem abraços mesmo assim.

P.S.: Dedico este post a todos que pedem paz com axés, améns e anamastês, sobretudo a dois luzeiros que sei estiveram neste ato e que me fazem bem pela amizade que construímos: Lea e Ana Luiza, minhas “pequenas-grandes-mulheres”.

Pequena reunião familiar


Sábado. 20h. Telefone toca. Camilinha, minha sobrinha, me convida para um churrasquinho. Mais uma vez resfriado, quase desisti. Acho que estou precisando de vitamina C. Os resfriados me amam, só pode ser. Domingo chegou. Manhãzinha batendo na janela. Levanto-me pra ver. Quanto cinza colore a paisagem plúmbea! Estou no Rio ou em Londres? Dúvida momentânea. Domingo com nuvens chorando chuva e vários abraços de garoa. Não iria em virtude da coriza. Desisti de não querer ir. Tenho fome de mais “alguéns” ao meu lado. Acho que vou. Melhor, estou indo. Fui.

Nota: Na imagem acima, Camilinha e eu flagrados na cozinha pelos paparazzi.

sábado, 20 de setembro de 2008

Hermandad


"Soy hombre: duro poco
Y es enorme la noche
Pero miro hacia arriba:
Las estellas escriben.
Sin entender compreendo:
Tambien soy escritura
Y en este mismo instante
Alguien me deletrea".


Otávio Paz, in Hermandad (Homenaje a Claudio Ptolomeo)


“(...) Sem entender compreendo:
Também sou escritura
E neste mesmo instante
Alguém me decifra”



Nota: Otávio Paz, mexicano, recebeu o Prêmio Nobel de Literatura em 1991. Importante ensaísta e conferencista (El Laberinto de la Soledad, El Arco y la Lira, El Mono Gramático, Los Hijos del Limo, Sor Juana Inés de la Cruz o las Trampas de la Fe). Gracias, Madrezita. Fui inspirado por ti!

Última Parada – 174



O filme de Bruno Barreto foi o escolhido para representar o Brasil na disputa por uma vaga no Oscar 2009. O anúncio foi feito pelo secretário do Audiovisual do Ministério da Cultura, Silvio Da-Rin, aqui no Rio de Janeiro. Quatorze filmes estavam na disputa, entre eles "Chega de Saudade", "Meu Nome Não é Johnny", "O Passado" e "Os Desafinados".

O longa-metragem foi escolhido por uma comissão composta por seis profissionais da área. Sabe-se que a decisão pelo filme de Barreto não foi unânime, e sim consensual.

É esperar pra ver, se bem que “Linha de Passe” – vencedor do prêmio de melhor atriz no Festival de Cannes e muito bem recebido pela crítica nacional e estrangeira – poderia ter saído o vencedor.

A 81ª edição do Oscar está marcada para 22 de fevereiro de 2009, no Kodak Theater, em Los Angeles. Um mês antes, no dia 22 de janeiro, serão anunciados os indicados de todas as categorias, inclusive de Melhor Filme em Língua Estrangeira.

Terra fértil para amar - Por Anitta Schver


Uma pessoa que admiro muito e tem muita sabedoria me disse uma vez que é preciso se preparar para encontrar um grande amor. É preciso se cuidar, estar de bem consigo, gostar de estar sozinho para aprender a lidar com uma outra pessoa.

Um relacionamento não deve completar e sim acrescentar, somar. Ninguém completa ninguém. Viemos sós ao mundo e morreremos da mesma forma. Somos seres em unidade que contribuem para o crescimento coletivo da humanidade. As pessoas dependem umas das outras, o homem vive sozinho mas não sobrevive da mesma forma. É preciso estar bem consigo para fazer o bem a alguém. É bom deixar o coração limpo e livre para chegar alguém e habitá-lo.

É importante remover as pedras, mágoas e medos que ficam no meio do caminho que trilhamos e também resolver as pendências com todas as outras pessoas de forma que você possa respirar aliviado e com leveza para poder abrir os braços para um novo amor...

Verdade, respeito e cuidado sempre. Melhor a verdade que dói do que a mentira que dói. Entre as duas opções, fique com a primeira que terá resultados positivos em breve.

Nós cultivamos pessoas no jardim da vida e é preciso regar as nossas flores diariamente. Elas são frágeis e delicadas, mesmo que algumas finjam que não. [Leia + aqui]

Casas e varais


Sou uma casa de quintais, varandas e varais. Tudo no plural, exceto a mim mesmo que sou um só. Mas nem sempre foi assim. A gente aprende a brincar de esconde-esconde é desde pequeno. Adulto, se esconde quando pode. Se mostra quando quer. Mas o dia não clareia quintal algum se não pendurarmos o sol lá em cima. “Não se põe uma candeia sob o alqueire, mas no velador a fim de iluminar a toda a casa”, ensino clássico do Mestre no relato dos Evangelhos. É quando a gente sabe que o sol precisa ter destaque que as coisas voltam para o eixo. Planta sabe que é planta. Beija-flor sabe que é beija-flor. A gente se encontra. A casa agradece a arrumação de seus próprios espaços, inclusive de seus baús. Todos temos baús em nossas casas. Se no sótão, no porão ou nos cômodos mais acessíveis é questão própria da individualidade de cada um. Mas para arrumar baús é preciso revisitá-los. Abri-los. Encará-los de frente. Pôr nomes aos “baús”. Chamá-los pelo nome sem receios. É baú da gente, precisa mais intimidade? Ter uma casinha branca de varanda na esquina é meu sonho de quintal. Um sonho singular. Tal qual a vida, que é singular pra cada casinha, branca ou não. Mas o que dizer dos varais? São importantes. Sem varal não se pendura um sonho sequer. Nada se espera. Tudo se apressa. Sabemos que a vida não quer pressa. Todas as fases são estações. Tem seu momento próprio pra acontecer. Imagina só a lua e o sol brigando pelo mesmo espaço! Não dá. Um aquece. Outro poetiza o momento. Tem momento na vida que a coisa não é só mistério, é poesia também. Sem verso pendurado como secar as palavras molhadas depois que a gente diz ou chora? Sem varais o que resta é o quarador. Gente simples é assim. Tem varais e quarador. Complicado é que nem todos querem se agachar e aquecer seus sonhos a partir do chão, pra dentro do quarador. Querem flutuar no inatingível sem se importar se o que se quer não tem base. Falta de humildade. No varal a gente se expõe, dá cara ao tapa. Mas revida com tapa de palavra honesta. Pura e verdadeira. A coisa assim se torna até mais leve. Tão leve que sacode no vento. Sai todo o pó. Saem as dores e os medos de ser feliz. Uma casa que se preze tem estações e cores que se reaproveitam no tempo certo. Nada é disperdiçável quando se busca ser sábio. Tolos é que buscam as aparências sem se importar com o alicerce. Eu sempre gostei de cheiro de terra molhada. Este é o perfume de uma casa com varandas sorrindo para os quintais. Lá nos varais é que tudo se impregna. Duvida? Então, experimenta pôr uma palavra gratuita qualquer pra se expor. A cautela – que é fruto da prudência – é uma virtude. Outros frutos há, que beleza! No varal se penduram sonhos, palavras, esperanças e páginas em branco. Essas coisas pra escrever com calma. E as outras coisas na vida de uma casa? As outras a gente das duas uma: ou carrega junto da gente (como o amor próprio) ou semeia debaixo dos quintais pra fecundar os pés. Casa que é casa tem nos alicerces pés bem plantados. Tá na hora de ir no quintal recolher os frutos...

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Embaixo da porta


“Alguns escrevem pela arte, pela linguagem, pela literatura. Esses, sim, são os bons. Eu só escrevo para fazer afagos. E porque eu tinha de encontrar um jeito de alongar os braços. E estreitar distâncias. E encontrar os pássaros: há muitas distâncias em mim (e uma enorme timidez). Uns escrevem grandes obras. Eu só escrevo bilhetes para escondê-los, com todo cuidado, embaixo das portas”.


(Rita Apoena, in Bilhetes)

Treinamentos & prazeres


6h, de pé. 7h, café. 8h, pois é. Treinamento e mais treinamento nestes dias que antecedem as eleições municipais pelo país afora (exceto no Distrito Federal). O de hoje, dobrado. Manhã e tarde. Almoço? Não houve chance. Apenas um lanchinho porque não dava tempo pra sair. E já que estava na chuva, o jeito foi sorrir. E rir. E abraçar amigos também. E ouvir muitas histórias, tanto as sérias quanto as hilárias que só a Regina, nossa sarcástica chefona, e a Ana Kelly, amiga de anos e anos, poderiam contar. Tudo isso, no entanto, pra dizer que, apesar do prazer que tenho nestes treinamentos pelas bandas do Tribunal Regional Eleitoral, estou fisicamente cansado. Aliás, amigos [e]leitores, votem conscientemente. Voto nulo não é solução de nada. E aos que forem justificar, dirijam-se a qualquer local de votação para preencher o Formulário de Justificativa e levá-lo à seção eleitoral mais próxima para validação. P.S.: Já disse, mas repito: não, não sou presidente ou mesário. Estes treinam, uma vez, apenas quatro horas.

Na imagem acima:
“Sou cidadão”, por Saulo Mohana.

Nossos atletas valem ouro


Fato Um: as Paraolimpíadas de Pequim terminaram há poucos dias. Fato Dois: não poderia deixar de homenagear nossos atletas paraolímpicos. Fato Três: batemos vários recordes de superação, garra e determinação. Afinal, a vida não tem fim quando se quer o recomeço! Fato Quatro: Pouco se fala acerca destes nossos heróis. São nossos heróis, por todas as razões, inclusive. Fato Cinco: Ainda procuro palavras com as cores de todo esse vigor. Não procurarei pelo Olimpo. São filhos deste solo cuja Mãe lhes é gentil. E orgulhosamente grata! [Leia + aqui]


Nota 1: na imagem acima, Daniel Dias, nosso “golden boy”.

Nota 2: dedico à sensibilidade da Neidinha, maninha-amiga, que, dia desses, demonstrou uma sintonia incrível comigo ao sugerir um tópico em homenagem aos nossos atletas paraolímpicos. Só tenho a agradecer ao Todo-amor por sua Graça em nós!

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

O que significa escrever


"Escrever é enfiar um dedo na garganta.

Depois, claro, você peneira essa gosma, amolda-a, transforma.

Pode sair até uma flor. Mas o momento decisivo é o dedo na garganta."


Caio Fernando Abreu - in Carta ao Zézin

Não quero mais


Lembro de ter lançado num post por aqui há algum tempo atrás a “Minha Lista de Nunca”. Mas como é costumeiro dizer “nunca diga nunca”, exceto quando o que se afirma é apenas relato do que nunca ocorreu até então, não direi "nunca" mas não quero. Na verdade, suponho, o dito popular se aplica para as concepções que o futuro poderá – ou não – trazer. Fatos passados não correspondem a esta idéia. Já que Cazuza no seu auge poético via um museu de grandes novidades, por que não fazer o mesmo exercício? Quero coisas novas a cada despertar. E quem diz que um dia é sempre igual ao outro é porque não está vendo as novidades que cada momento traz. Algumas coisas são invisíveis aos olhos, estamos certos. E é por isso que minha lista de hoje será a de Não quero mais.

Portanto...

Não quero mais o ontem que se foi com todas as marcas que já doeram. Não quero mais a nostalgia do que poderia ter sido. Qual o proveito? Não quero mais prender coisas nem pessoas. Quem precisa de mim sou eu que me esqueci por não poucos anos. Quem quiser me amar, que ame. É de graça, jamais cobraria. Mas, um porém é certo: que me ame mesmo coberto de casacos de defeitos e sem pretensões de querer me “endireitar as veredas”. Não quero mais me embriagar com a noite, apesar de não querer largar os encantos da lua. Saibam que meus dias pedem luz solar, e eu sinceramente não raciocino tão bem depois de uma da madrugada. Não quero mais ambientes barulhentos porque não consigo “me” acomodar, só me incomodar (meus amigos me dizem que tô ficando velho, mal sabem que canto os versos de Marisa Monte: “Vivo tranqüilo, a liberdade é quem me faz carinho”). Não quero mais falar e ter que me explicar quando tecerem ambigüidades (não abandonei o trema, viu!) no meu discurso. O que disser, tá dito. Façam suas interpretações e as assumam pra si. Mas há coisas que nunca falei, pensem bem na hora de me cobrar. Não quero mais a companhia duradoura de sentimentos que não me suprem os reservatórios de energia da alma. Não quero mais, ao menos por enquanto, dizer que tá bom assim e que assim ficará. Cada momento tem seu quê de mistério. Por ora, é meu torpor ficar assim, quietinho no meu canto. Não quero mais pular as fases de qualquer coisa. Já disse o que precisava acerca do mistério de cada momento. Não quero mais me agarrar ao ativismo enebriante que ativa o “stress”. Como diria o Marcelo Medici, “a vida é minha, o pobrema é meu”. E por ser a minha vida, tão preciosa a mim e sobretudo Àquele que a deu pra ser significativamente bela, não quero mais que me confundam nas aparências de quem sou e como sou. Não quero mais porque não quero. Quando voltar a querer, a gente chama as reticências e toma umas e outras pra predicar o meu retorno. Ah, sim, não quero mais consumir álcool. Se bem que nunca fui um bebum, mas é que me cansei do incômodo de temer ficar embriagado.

Rapidinhas:

1. Hoje, mais outro sobrinho teen aniversaria. Leo e os seus 16 anos. Aeeee! Parabéns! Já pode tirar o título de eleitor (risos). Luv u!

2. Bem-aventurado é mais dar do que receber. Prédica cristã que me inspira a vida toda como Graça no viver. No entanto, são tantas histórias de gente que me sugou, que não pagou o que devia, que ganhou às minhas custas e não agradeceu, enfim, não vem ao caso. Hoje, no entanto, para minha surpresa, logo pela manhã recebo a ligação de um senhor de idade. Conheço-o há algum tempo. Militar, costuma ser sisudo e cheio de formalidades. Mas quem vê cara não vê coração, diriam os antigos. Ligou para agradecer. Explico: precisando de um dinheirinho extra (sou brasileiro, sabe como é que é...), aceitei a empreitada de “ghost writer” e preparei um minucioso relatório de atividades de um determinado trabalho que ele deveria entregar aos superiores. Trabalho feito, entregue e devidamente pago. Pra mim, encerrado. Que nada! Ligou para agradecer à vista dos elogios que recebeu. Poucos lembram de agradecer quando, de alguma forma, se dão bem. Fiquei surpreso e feliz. Agradeci, evidentemente, mas, como todo “escritor fantasma” que se preze, aplico num outro sentido neste post a famosa confissão de São João Batista: “convém que ele cresça e que eu diminua”.

Talento nato: ouvi e gostei


Foi neste final de semana que, lendo alguns artigos da imprensa norte-americana, descobri a existência de um adolescente das bandas de lá que me encantou com sua voz, carisma e humildade. Assisti a algumas entrevistas em programas de TV norte-americanos, fiquei mais encantado ainda com o talento deste jovem. Não é à toa que foi garimpado num programa – que, por sinal, a TV brasileira já tratou de enlatar – intitulado American Idol. Por aqui, chama-se Ídolos e é exibido às terças e quartas-feiras pela Record.

Como os vídeos que disponho são, na verdade, entrevistas sem tradução para o português, não seria democrático postar nenhuma delas aqui. Saí à cata de um clip sem imagens em power point (não sou muito fã desse artifício em clips), mas não tive muito sucesso. No primeiro, sua audição na segunda fase do programa. No segundo, a canção que é febre nas rádios de lá. “Crush”. Quero apenas aqui ter a chance de mostrar um pouquinho da voz deste moleque de 16 anos de idade, David Archuleta. Pela voz e pelo carisma que tem, a gente ainda ouvirá falar mais dele.





terça-feira, 16 de setembro de 2008

Thinking of you


Hoje pensei em tanta gente que me é especial e que, portanto, tem seu cantinho reservado pelas paredes azuis do coração, que não poderia deixar de lado uma citação que guardo na agenda. Foi revisitando-a que considerei apropriado postá-la aqui. Leonardo da Vinci, de fato, manjava bem das coisas. A imagem acima, de cujas palavras vesti o título, na verdade, traz pra mim vários significados. Todos plurais. Os homenageados nestas orações sem sujeitos revelados não são apenas um, são muitos. Cada um traz a mim vestes novas de acordo com o material com que me vestem a amizade. Thinking of you. Pensando em vocês. Sintam-se à vontade para comentar, para discordar, para expor o que bem pretenderem. Perto ou do lado de dentro!


Para estar junto não é preciso estar perto, e sim do lado de dentro
(Leonardo Da Vinci)

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Novidade no blog


No final da coluna à direita vocês saberão quantos visitantes estão acompanhando estes farelos. Identificados pelo IP de suas máquinas e pelo país de acesso (com suas respectivas bandeiras), a novidade foi uma dica captada ao visitar o blog de um amigo no sábado passado. Neste final de semana, pra se ter uma rápida idéia, alguns brasileiros, dois visitantes da França, um dos EUA e outro da Comunidade Européia andaram investigando farelos por aqui (rs...). É o que se pode verificar no banner intitulado Fareleiros. Pensando nisso, contratei os exímios serviços do Sr. Sherlock e de seu fiel escudeiro, Sr. Watson (imagem no canto à esquerda), para me ajudar. Está dando certo. Good boys!

Nota inicial: It’s too bad. Estava reconfigurando as cores do serviço quando, por descuido, apaguei o contador. Moral da história: a contagem teve reinício agora, segunda-feira, 22h. Quem viu, viu, né, maninha?

Notas de aniversário: hoje é niver de minha grande amiga de infância, Marcinha. Parabéns! Faço questão de registrar o carinho enorme por quem sempre esteve ao meu lado (e vice-versa), até quando insisti na santa loucura de fazer alguma coisa pela população de rua e ela, de pronto, me ajudou com seus serviços de enfermagem pelas madrugadas à cata de gente que ninguém quer abraçar. Nosso trabalho, aliado ao esforço de muitos outros amigos que aceitaram a "missão" (não citarei nomes, éramos mais de duas dúzias), mudou a nossa visão de mundo. Posso dizer isso, inclusive, por ela (e por todos os que trabalharam com coração na palma das mãos). Amanhã, bem sei, o niver de meu amigo poeta urbano, o que mais me conhece por inteiro entre os amigos de perto, Devid. Privilégio concedido por pura Graça, ele bem sabe. Feliz aniversário a estes dois seres impulsivamente especiais! I want cake, everybody!

domingo, 14 de setembro de 2008

Tá dito, Pessoa


Palavras vestem os sentidos das coisas.
Há palavras até que se escrevem.
Prefiro as que a gente sente.
É mais democrático.
E todos entenderão.
Questão de tempo.
De palavra.
De alma.
Tá dito.

La vie à l’Edith Piaf


"-Qual é a sua cor preferida?
-Azul
-Qual é o seu prato preferido?
-Carne enrolada.
-Aceitaria viver comportada, Sra. Piaf?
-É o que já faço.
-Quais são seus amigos mais fiéis?
-Meus verdadeiros amigos são todos fiéis.
-Se não pudesse mais cantar?
-Eu não viveria.
-Tem medo da morte?
-Menos do que da solidão.
-Costuma rezar?
-Sim, pois acredito no amor.
-Qual é a mais bela lembrança da sua carreira?
-Cada vez que a cortina se levantava.
-A mais bela lembrança como mulher?
-O primeiro beijo.
-Ama a noite?
-Sim, com muitas luzes.
-E a madrugada?
-Com um piano e amigos.
-À noite?
-É que para nós é a madrugada.
-Se fosse dá um conselho à uma mulher, qual seria?
-AME
-A uma jovem?
-AME
-A uma criança?
-AME"


Nota: Esta veio como inspira-AÇÃO nas palavras de um amigo arretado. Mais uma vez, como já ocorrido, ele saberá. Bom final de semana a todos. Fin de semaine en rose a touts mes amis!

sábado, 13 de setembro de 2008

Des. Maria Berenice Dias, mulher


Maria Berenice Dias é uma jurista. Filha e neta de desembargadores, tornou-se, em 1973, a primeira mulher a ingressar na magistratura no estado do Rio Grande do Sul. A sua especialização é no julgamento de ações que envolvem o Direito de Família e Sucessões.

A desembargadora Maria Berenice Dias foi fundadora e é vice-presidente do Instituto Brasileiro de Direito de Família (IBDFAM), entidade que veio a transformar o entendimento tradicional do que é uma família.

Maria Berenice Dias também é reconhecida internacionalmente por suas posturas progressistas em relação aos direitos da mulher na sociedade. Ela fundou o Jornal Mulher, o Disque Violência, entre outros projetos mais que vieram a marcar e continuam a influenciar profundamente a sociedade brasileira moderna. É autora do livro Homoafetividade - O Que Diz a Justiça, A Lei Maria da Penha na Justiça, Conversando sobre o Direito das Famílias, entre várias outras obras.

Recentemente entrevistada no Marília Gabriela Entrevista, ela conta que uma vez os colegas da faculdade da filha, diante da militância da mãe na causa homoafetiva, chegaram a questionar a sexualidade de Maria Berenice. Tomando o episódio como exemplo, diz: “Parece que não podemos defender outras causas a não ser a própria!”. Gabi elogia o trabalho da convidada e pergunta qual é sua maior vitória. A resposta: “Ter recebido o título de juíza dos afetos”.

Destacarei, ainda, outras falas que tenho desta admirável jurista na área da família:

“Todo mundo ria, porque era uma coisa completamente fora das possibilidades da época querer ser Juíza, era como se eu dissesse que queria ser astronauta.”

“Quando nasceu meu primeiro filho, me deram licença-saúde e me mandaram trabalhar depois de 30 dias. E falaram assim: Viu como mulher não pode ser Juíza mesmo?”

“Toda essa exclusão que tive ao longo de uma vida foi o que me sensibilizou para esse viés um pouco mais social, um pouco mais atento a essas discriminações.”

Certa vez, numa palestra, Maria Berenice ouviu a pergunta: "A senhora é lésbica?". A resposta veio fundamentada: "Sou lésbica, sou negra, sou vítima de violência doméstica, sou tudo aquilo que defendo e acredito". Isso resume sua trajetória corajosa para quebrar tabus. Detalhe: ela é loira, foi casada cinco vezes com homens e é mãe de três filhos.

“Não se reconhecer a possibilidade do casamento homossexual daqui a 50 anos vai soar tão absurdo como hoje soa absurdo, por exemplo, o impedimento de as mulheres votarem.”

“Sou completamente contra qualquer influência da religião, principalmente na Justiça. Acho horrível a idéia de ter o crucifixo como símbolo no Tribunal.”

“Aposto naquilo que fiz, no que plantei, e espero deixar algumas sementes”, ao falar sobre sua aposentadoria recentemente.

Por fim: “O afeto é uma realidade digna de tutela”.

Olhando pra dentro da gente


Só se vê bem o mundo de fora quando a gente vê com bons olhos o mundo de dentro...

Foi o que disse a duas amigas na tarde de ontem, dentro do expediente de uma ONG na qual atuo, quando falávamos sobre processos de casamento, escolhas, decepções e controles. Papo sério mas embriagado por muitas gargalhadas. Mais tarde, bem mais tarde, foi o que repeti a um novo amigo também amante da língua e mestre. Boas palavras, Cado! Nossa, apelido quase semelhante ao meu... (rs).

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Libras e uma cultura própria


Dizem que os brasileiros costumam não ter memória dos fatos. Pode ser que muitos não tenham. Muitos se acostumam ao viver presente. Mas presente sem passado não é caminho seguro, firme. Poucos somos os que sabemos de nossos direitos. Poucos têm acesso a muitos direitos. Tudo bem, verdade que não poucos também não se preocupam com suas responsabilidades. Há direitos e deveres a todos, mas também há algo que nos une. A língua. Bem, ao menos deveria nos unir. Poucos brasileiros sabem que o país tem, ao lado da língua portuguesa, um outro idioma oficialmente reconhecido por lei federal. Libras – Língua Brasileira de Sinais – é desde 24 de abril de 2002 o segundo idioma a que todos os cidadãos precisariam conhecer e falar. A lei, sancionada pelo ex-presidente, Fernando Henrique Cardoso, foi regulamentada em 22 de dezembro de 2005 pelo presidente Lula, através de decreto. Portanto, não se trata de uma lei pra não pegar, mas de um idioma pra se aprender. Todos os brasileiros! Milhares de surdos agradecerão!

Você conhece Libras?

Mais de três milhões e meio de brasileiros são surdos, você sabia disso? Uma parcela pequena, bem pequena, dos surdos são considerados oralizados. Surdos que falam Libras e português são chamados bilíngües. Considerando a oralização nos processos de bimodalismo, nada há que se compare à dimensão do universo da língua de sinais. Há muitos sinais em Libras que não tem tradução para o idioma português. Assim como a palavra “saudade” é difícil de se explicar para um estrangeiro, o mesmo acontece com alguns sinais para um ouvinte. Nós, intérpretes de Libras, bem o sabemos!

Os surdos não apenas possuem um idioma natural, possuem também uma cultura própria. Eis a principal razão pela qual os ouvintes nem sempre são pacientes com surdos (e vice-versa). Processos de desconhecimento de suas respectivas culturas (a surda e a ouvintista). Empresas e quaisquer instituições que pretendam se abrir para oferecer oportunidades a surdos ou mesmo para atendimento ao público em geral (escolas, delegacias, bancos, cartórios, hospitais, postos de saúde, balcões de emprego, INSS e muitos outros serviços) precisam conhecer a dita cultura surda. Aí é que está o xiz da questão. Quando aprendem o idioma, esquecem-se da "cultura" desses "brasileiros estrangeiros". Lidar com a língua de um povo é também mergulhar no seu universo particular representado pela riqueza de sua cultura.

Mas, hoje, ficarei apenas com a dica para que alguns se despertem a conhecer o idioma. Numa outra oportunidade falarei sobre meu trabalho com cegos (de maio de 1997 a dezembro de 2000).

Nota: Na imagem acima, Filipe Machado, para quem seguem os créditos.

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

11 de setembro: desculpa para outras recordações


Nada de recordações tristes nesta data, sejam os sete anos dos ataques transloucados de radicais islâmicos aos EUA, sejam os trinta e cinco anos de golpe militar e barbárie contra o democrático governo de Salvador Allende, no Chile. O passado não escolhe emoções, sei disso. Hoje, no entanto, uma alegria. A maioridade de minha sobrinha. Adolescência é esquisitamente contagiante. Falo pela amizade conquistada com todos os sobrinhos teenz (de teenager, adolescente). Não são poucos. Alto lá, também não são tantos assim!

Numa determinada época da vida, lecionei religião para adolescentes. Cheguei a criar um grupo de teatro. “Peça-fé-no-ato”. Tínhamos diretoria, eleição e tudo o mais. Era diretor. Produtor. E autor de muitas peças e esquetes. Sempre questionadoras. Eles mesmos, por volta dos 15 a 18 anos, me diziam: “Ih! Se a gente encenar isso aqui que tu escreveu seremos expulsos da igreja!”. Que nada! Jesus era muito mais revolucionário do que imaginamos. Imaginem alguém chegar na cara do clero e dizer contra o stablishment: “as prostitutas vos precederão nos céus!”. Pois ele o fez. O original grego diz exatamente isso: putas. E não “putas convertidas ao cristianismo” como alguns ensinam. Eu me divertia no ensino catequético, verdade seja dita. Tudo o que é feito por prazer torna-se qualquer coisa leve, um hobby. Nunca me expulsaram de igrejas. É, nem tudo é perfeito... Tanto que instiguei para fazerem... Consideraram a briga muito maior do que poderiam crer. E era assim que me sentia uma espécie de Dercy Gonçalves. Talvez cressem não haver mais jeito. Melhor seria não me questionar... (risos). Mas eu mesmo questionava. E tanto que, anos após, mais precisamente em agosto último, os que então eram adolescentes (eles cresceram e alguns até pais já são) me convidaram para dar uma palestra. Relutei, mas aceitei. Não deu outra. Muitos gostaram, exceto os religiosos. Pouparei os curiosos do que rolou ao final da palestra...

Nota: Apenas para constar que na imagem acima vêem-se meus dois sobrinhos teenz, Camilinha e Tiaguinho. Os dois nos seus dezoito anos. O diminutivo - "inho" e "inha" - vem enternecido de carinho desde que nasceram. Lógico que não mudarei. Ao menos neste caso.

Romeu e Julieta na música

Não só de queijo e goiabada se forma um legítimo Romeu e Julieta na gastronomia brasileira. Prato simples, alguns dizem ser tipicamente mineiro. Não há diferença se for ou não, pois a comidinha mineira é tudo o que se pode imaginar de bom. Romeu e Julieta é qualquer coisa que, juntas, acaba nos satisfazendo o paladar. No meu caso, por ora, o paladar musical.




E foi pensando nos recados que recebi, elogiando o vídeo da diva da música portuguesa, Dulce Pontes, que resolvi bem casá-la ao som de outra diva, mas esta conhecida dos amantes de MPB, Maria Bethânia. Dose dupla como um Romeu e Julieta (ou seriam duas Julietas?). Melhor parar por aqui (risos).




quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Todos somos o quê na lei?



Todos são iguais perante a lei. Uma Constituição. Um país.
Quantas violações? Quantas dês-igual-dades? Quantas?
Todos quem? Quem são todos os iguais? A lei? Nós?
As interpretações da mesma lei são iguais? Não?
Somos ou não somos iguais? Ou diferentes?
Iguais ou diferentes: e daí? Repito: e daí?
Onde a lei igual a todos? Que país é este?
Onde todos que calamos? Minorias?
Maiorias? Onde estão os gritos?
Em que parágrafo? Ou artigo?
Falem, meus semelhantes!


Cenas de meu cotidiano



Estou em casa. Cheguei cansado. Mas nem sempre foi assim. O que fiz? Nada demais. Teimarei no compartilhamento. Gosto de não me privar. Pois bem: saí do fórum. Tomei vacina. Dupla viral. Sarampo e Rubéola. Enfrentei fila. Tomei sol. Arrepiei-me no vento. Caminhei. Olhei cartazes nas portas dos teatros. Encontrei uma amiga. Multidões anônimas. Todas encontrei. Por nenhuma fui encontrado. Apontei a Primeiro de Março a uma jovem senhora. Agradeceu-me. Olhei rostos. Olhei e observei. Nem sei se me olharam. Nunca me olharam. Eu acho. Achei um amigo numa esquina. Conversamos bastante. Sentamos num capô. Houve risos e sorrisos graves. Abracei-o feliz. Pedi pra não abraçar forte. A vacina no braço doía um pouco. Nós rimos de nós mesmos. Altos papos até o dono do carro aparecer. Despedimo-nos. Paguei contas. Demorei no caixa. Alonguei-me. Almocei. Desci escada. Subi escada. Entrei no metrô. Saí do metrô. Ar-condicionado. Pessoas condicionadas. Poucos revolucionários. E eu ainda espero um pôr de sol pra mim...


Pequenas notas:

1. Já que falei de sobrinho... Não posso deixar de mencionar que amanhã é niver da Camilinha. Foi assim que eu a chamei desde o primeiro dia. E pensar que completará 18 anos... Vida louca, vida. Vida breve! É Cazuza...

2. Queria tanto ver Clarice nesta semana, mas, pelo andar da carruagem, impossível. Será? Vou insistir contra o tempo. E como não bastasse terei mais outro treinamento no Tribunal Regional Eleitoral.

3. Pra quem curte as obras de Caio Fernando Abreu vai uma dica de um trailer curtíssimo. “Aqueles Dois”. Mera coincidência, mas há muito queria dar um presentinho pra dois Serginhos que me lêem (eles lerão e saberão).




terça-feira, 9 de setembro de 2008

Deus dá o dom


o dom é teu
deus já te deu
faça bom proveito
você só tem que fazer bem feito
o dom é teu
deus dá o dom de trazer a luz
o fim do medo de olhar a lua
e de guardar segredo
deus dá o dom
o dom é teu
não aceite imitação
o dom de deus
tem que falar ao coração
tem que tocar teus sentidos
por teu corpo em ação
você sabe que é o dom de deus
se te der tesão
tesão de vida,
pura emoção
deus dá o dom

Alice Ruiz

Os negros e o recente estudo do IPEA: nosso retrato


O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), em estudo recente divulgado hoje, demonstra que os índices de escolaridade, renda e pobreza da população negra registraram melhoras entre 1996 e 2006, mas as condições de vida continuam inferiores às dos brancos no Brasil.

Segundo dados do estudo, em 1996, 82,3% dos negros estavam matriculados em etapas do ensino fundamental adequadas à sua idade e apenas 13,4% no ensino médio. Em 2006, essa porcentagem subiu para 94,2% no ensino fundamental e 37,4% no médio. A proporção de negros e negras que estudavam no ensino médio, entretanto, ainda é muito menor que a de brancos - que chegou a 58,4% em 2006.

Os brancos ainda vivem com quase o dobro da renda mensal per capita dos negros - pouco mais de um salário mínimo a mais.

Outras constatações do estudo mostram que a população negra é menos protegida pela Previdência Social do que os brancos - especialmente no caso da mulher negra - e começa a trabalhar mais cedo para se aposentar mais tarde.

Especialistas dedicados à questão da desigualdade racial concordam entre si com a raiz histórica deste vácuo econômico entre brancos e negros. Educação básica deficiente e pouco universalizada, a herança histórica deixada por séculos de escravismo e uma tradição de ocupar empregos de pouco prestígio social estão entre as causas da diferença.

Para o sociólogo Rogério Baptistini Mendes, professor da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (Fesp-SP), o fim da escravidão sem a criação de um mercado de trabalho que absorvesse a mão-de-obra negra e herança de concentração fundiária na mão de ricos produtores agrícolas privaram a população negra de acesso a "mecanismos democráticos de ascensão social, econômica e cultural". "A sociedade brasileira foi constituída em três séculos de colonização e quatro de escravidão. Isso gerou uma estrutura de segregação absoluta que foi sendo superada ao longo do século 20, mas não na velocidade necessária para democratizá-la", foi o que o sociólogo explicou. "Não temos mecanismos para distribuir a renda. É como se no século 21, ainda vivêssemos em uma sociedade escravocrata." Apesar dos tímidos avanços, triste se não fosse nossa realidade. Se quiser saber [+ clique aqui]


Clarice Lispector - A Hora da Estrela


Segue até o dia 28 de setembro no CCBB aqui do Rio a mostra de fotografias, manuscritos, correspondências, documentos pessoais e fotografias da eterna Clarice. Não são poucos os críticos que consideram a escritora, ao lado de Guimarães Rosa e João Cabral de Melo Neto, como os melhores romancistas da terceira geração modernista brasileira. Eu concordo.

Ainda não estive na mostra, mas assim que puder lançarei algumas palavras pra gente pescar por aqui. Ao sair do Fórum ontem, à noitinha, passei pelo CCBB mas sem muita expectativa. Eu sabia que não abriria às segundas-feiras. Aguarde-me, minha estrela.

sábado, 6 de setembro de 2008

Quando hoje despertei...


Ao abrir os olhos outro par de olhos me observava dormir. Tentando entender a aparente miragem diante de mim, esbocei umas palavras em tom grave. Não muitas. Apenas as de praxe.
- Quem é você?
- “Sou Josué”.
- Ah, é?
- "É",
me respondeu sem cerimônia alguma.

Virei-me para o outro lado da cama. O sono era mais forte que meu desejo de acordar. Claro, sabia estar diante de meu sobrinho de três aninhos. Minha irmã tinha aparecido pela manhã bem cedo. O mágico de tudo isso foi a insistência dele mesmo sabendo que eu talvez não acreditasse na única realidade daquele instante: ele estava diante de mim. Eu parecia não me importar. Não se deu por satisfeito. Ele queria que eu me importasse. E não fez por menos. Pulou na minha cama, arrumou-se ao meu lado e pegou a sobra do meu travesseiro. Num ar blasé desses que nem se importam com a receptividade, deu suas ordens. Ele era muito mais do que eu pudesse imaginar:

- “Conta a historinha das formiguinhas pra mim!”
- Claro, respondi em meio a gemidos desconexos de puro sono. E prossegui, revirando-me na direção dele:

- Tinha umas formiguinhas no jardim, fui iniciando sem me preocupar com a crítica na minha falta de criatividade literária. Pois bem, as formiguinhas queriam brincar ao invés de trabalhar. Quando imaginavam qual o tipo de brincadeira, sabe o que apareceu no meio daquele jardim? – perguntei.
- “Não”, respondeu sem tirar os olhos do teto do quarto.
- Uma borboleta colorida. Foi quando uma das formiguinhas resolveu perguntar: ‘Oi, borboleta! Quer brincar com a gente?’
- ‘Que nada!’, a borboleta respondeu em tom de deboche. Mas concluiu: ‘Vocês nem têm asas! Eu só gosto de brincar de voar!’
- “É?”,
foi o questionamento monossilábico do meu sobrinho.
- É, elas são assim mesmo. Só porque têm asas. Voar é muito bom. E a gente voa sempre que quer. Elas é que não sabem desse segredo...

Concluí, a meu modo, aquela historinha sem pé nem cabeça - ao menos pra mim. O maior barato é que ele gostou. E o pior de tudo é que nem abri os olhos. A inspiração foi surgindo em meio a sussurros de palavras adormecidas. Este foi meu início de manhã de sábado. Claro, depois tive que brincar e assistir ao DVD dos esquilinhos. Não me perguntem o nome. Coisas de tio, não liguem para meu relato de hoje.

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

A reforma ortográfica já começou e não começou




O fim do trema está decretado desde dezembro. Os dois pontos que ficam em cima da letra u sobrevivem no corredor da morte à espera de seus algozes. Enquanto isso, continuam fazendo dos desatentos suas vítimas, que se esquecem de colocá-los em palavras como freqüente e lingüiça e, assim, perdem pontos em provas e concursos.

O Brasil vem se preparando para a mudança ortográfica que, além do trema, acabou com os acentos de vôo, lêem, heróico e muitos outros. A nova ortografia também alterou as regras do hífen e incorporou ao alfabeto as letras k, w e y. As alterações foram discutidas entre os oito países que usam a língua portuguesa --uma população estimada hoje em 230 milhões-- e têm como objetivo aproximar essas culturas, escreveu Daniela Tófoli (Folha de São Paulo, de 20/08/2007).

Não há um dia marcado para que as mudanças ocorram e sejam sentidas de fato --especialistas estimam que seja necessário um período de dois anos para a sociedade se acostumar. No Brasil, a previsão é que 2008 seja o marco divisor entre a antiga e a atual forma. Portanto, já está em vigor mesmo!

O embaixador Lauro Moreira, representante brasileiro na CPLP (Comunidade de Países de Língua Portuguesa), afirma que, tecnicamente, a nova ortografia já poderia estar em vigor desde o início do ano passado. Isso porque a CPLP definiu que, quando três países ratificassem o acordo, ele já poderia vigorar. O Brasil ratificou em 2004. Cabo Verde, em fevereiro de 2006, e São Tomé e Príncipe, em dezembro do mesmo ano.

Portugal não tem motivos para a resistência, como ainda se vê nos dias de hoje. Fala-se de uma pressão das editoras, que não querem mudar seus arquivos, e de um conservadorismo lingüístico.

Por ora, só vejo que o trema já foi tarde. K, W e Y são sempre bem-vindas. Tem algumas coisas estranhas, mas a gente se acostuma. Difícil escrever "heróico", "assembléia", "paranóia" sem acento, né?

P.S.: Apenas para homenagear a língua, segue um videozinho de uma de minhas cantoras prediletas da música portuguesa. Dulce Pontes interpretando a famosa “Canção do Mar”.

Lembrando-me de Maude


Esteve em cartaz recentemente o espetáculo “Ensina-me a Viver”. A peça foi protagonizada por Glória Menezes e Arlindo Lopes. Adaptado do filme Harold and Maude (1971) — “Ensina-me a viver” foi um dos filmes a que mais me apeguei, tanto que o vi umas três vezes na minha adolescência. E foi durante a adolescência que li a obra. Não cheguei a comprá-la até porque o hábito de comprar livros só foi resgatado na vida adulta.

Na adolescência, porém, passava minhas férias escolares debruçado sobre os livros em plena biblioteca, podem acreditar. Pegava o ônibus e ia ao Centro, na Biblioteca Pública do Estado, bem no meio da Av. Presidente Vargas. Lembro que na hora de fechar, por volta das 19h, a bibliotecária já vinha sorrindo e batendo no relógio de pulso. “Amanhã você volta, tudo bem?”. Sorria e voltava no dia seguinte. A cada período de férias lia umas cinco obras. Foi uma fase que li as obras do Pe. Zezinho de uma vez. Depois resolvi alçar vôos na literatura norte-americana. Gostava de autores desconhecidos e críticos. Foi assim que li “Memórias de uma menina católica”. Em seguida, passei para uma fase mais psicológica, lendo Robert Lauer, Zig Zigliar, Mandino, Colette Dowling, entre outros. Em seguida, descobria-me em novas fases. Tinha entre 14 e 16 anos de idade. Foi um período gostosamente nerdiano de meu ser (risos).

Mas falava de Harold e Maude. No filme, Bud Cort é Harold, um rapaz rico e muito mimado, que tem verdadeira obsessão pela morte. Ele vive simulando suicídios e chega a transformar em rabecão o jaguar que sua mãe lhe dá de presente. A fabulosa Ruth Gordon era Maude, uma velhinha cheia de vida, imprevisível, com muitas histórias, mentiras e idéias mirabolantes. Diga-se aqui, é minha velhinha predileta até hoje. Ambos se conhecem em um funeral e por razões diferentes acabam comutados por um ideal: o de amarem-se. A diferença entre os atores era de 52 anos, mas no filme parecia até mais. Como aprendi com o filme, mais ainda com a obra.

Não sei por que mas acordei com uma vontade enorme de lembrar de Maude. Tem um trecho da obra que fala de pontes, acho-o memorável. Anotei-o numa agenda de 1996. Vou compartilhar porque tem a ver com meu dia.

“A maioria das pessoas vivem fechadas em si mesmas. Moram sozinhas nos seus castelos.

- Bem, cada qual vive no seu castelo – replicou Maude. Mas isso não é razão para não baixar a ponte levadiça e fazer visitas. O mundo não precisa mais de paredes. O que precisa é de construir mais pontes!”

terça-feira, 2 de setembro de 2008

Ares de Neruda


"...Eu digo AMOR,
e o mundo se povoa de pombas.
Cada sílaba minha traz a primavera..."

Pablo Neruda

Um rato na literatura lusa

De vez em quando sinto-me triste:
Tens tempo para brincar
um pouco comigo?
Se vieres, não batas à porta:
ela está sempre aberta.
Corremos juntos
sem nos ralarmos com o gato...

(...)

Hoje perdi-me
num campo de trigo.
Chorei de medo
no meio dos restolhos gigantescos.
Eles, porém, compreenderam
aquela pequena fraqueza.
"Chora pois − disseram-me −
é melhor chorar
do que ficar com um nó na garganta.


Um Rato Fala Com Deus, de Angela Toigo

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Processos de paternidade para nosso crescimento


Hoje, pela manhã, estive numa das melhores palestras deste ano. Há cinco meses não via o Caio, a quem conheço – não apenas por ouvir dizer, mas por abraços – desde o início da década de noventa. Esteve conosco aqui neste domingo chuvoso e friorento no Rio de Janeiro. Condições climáticas à parte (deixemos a obviedade carioca para outro momento), nem por isso deixaram de levantar de suas camas cerca de mil e tantas pessoas que lotamos o espaço na Catedral Presbiteriana do Rio.

Sentado ao lado de um casal de amigos, ambos advogados civilistas (tal como eu) a quem não via há uns três ou quatro anos, ouvimos-lhe dizer, emocionado, de sua intensa e fraterna relação parental com o pai. ‘E o que isso tem a ver com a palestra, você pode me perguntar. É algo tão particular de sua família, alguns podem dizer’ – foi o que dialogou conosco. E a partir da pergunta retórica, expôs a conclusão de forma surpreendentemente assertiva (e não menos bela) sobre os processos de paternidade numa relação de caminhada com nossas formas de amor, controle e infantilização. Eu viajei em tantos argumentos construídos com tamanha simplicidade que desisti de ficar anotando. Ouvir seria mais enriquecedor. E o foi.

‘Nossos problemas são apenas meios que nos possibilitam o crescimento interno, pra dentro de nós enquanto indivíduos. Numa relação transcendental com Deus não é diferente. Se Ele é o paizinho a quem muitos cristãos se referem, então, existem etapas no cuidado com seus filhinhos. Quando a gente se torna adulto e, de repente, cai em meio a uma depressão que nos silencia a alma a ponto de acharmos que estamos absolutamente entregues à solidão, desamparados por todos, enganamo-nos. Não estamos vivendo solidão, mas, no máximo, aprendendo a crescer na solitude. Solitude sim, e nunca solidão.’ E tantas foram as demais palavras que, sinceramente, resolvi silenciar a fim de gestar novas idéias para futuros posts. Aprendi algumas lições. Não poucas. Foi-me o bastante para um dia inteiro. Quiçá para muitos outros não menos inteiros...

Notas rapidinhas neste domingo

[1] Hoje, 31/08, niver de uma amiga desde sempre, Luzinete. Parabéns. Desculpe-me por não poder atender ao convite para almoçarmos juntos neste domingão. O convite para assistir a apresentação de Nilze Carvalho, no teatro, tá de pé.

[2] Marcinho, Marcell, Gu, Leozito, Adilson, Marcão, Katinha, Rose, entre tantos outros amigos cristãos (e ativistas dos direitos civis junto à comunidade LGBT), estão em Sampa. Dessa vez não pude ir em razão de outros compromissos, mas o convite foi recebido com o carinho de sempre. Todo o pensamento foi enternecido para que tenham feito excelente apresentação do coral.

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