sexta-feira, 30 de abril de 2010

Palavras em boas companhias



Em meio ao resfriado que me tomou no início da semana, lenços e descongestionantes não se separaram de mim desde domingo. Fez-se necessário. Melhorei ou, quem sabe (e sei!), estou ficando bem melhor. Juro (sem atchins!). Mesmo!

Sei que parece clichê, mas só parece, eu tava mesmo é com saudades de vir aqui. Trabalhos. Defesas escritas. Alguns probleminhas, ups, oportunidades de crescimento para aprender a resolver. Tudo isso foi formando uma espécie de caldo que venho tomando. Depois de vários dias “ausente”, separei tempo e, dentro dele, alguns e-mails para responder. Há muitos outros. Assim como há alguns comentários no post anterior que merecem um sinal de vida, uns farelinhos para alimento da resposta. Inobstante, rabisco umas frases e as engravido de significados particulares desde sábado passado, quando voltava do teatro. O trabalho ainda requer acabamento.

Por falar em acabamento, resolvi deletar uma narrativa que preparei para postar aqui. Sabe quando você acha que o que escreveu não tinha muito sentido? Mas, para evitar comentários, só adianto que o tema não era nada novo, apenas minha insatisfação com o comportamento delivery dos humanos que buscam fast companhia. É que saí do teatro, estive num barzinho na Lapa, acompanhado de amigos. Invoquei-me com as investidas deselegantes. Sim, sim e sim! Sou chato com essas coisas, não me adequo a esta cultura e tenho plena consciência que a maioria de meus pares discordará de mim, fazendo-me motivo de motejo. Este é o preço a pagar por ser diferente entre os diferentes. Acabei mudando de bar, pois tinha plena consciência do que me propus ao aceitar o convite para sair com amigos. Infelizmente, a coisa se repetiu. Só não perdi a noite porque as cenas do “O amante do Girassol” [Bravo! Bravo!] me inspiraram – assim como ainda me inspiram! – a não semear no vento... no vento!


Nos dias seguintes, assisti com certo interesse ao filme “Pecado na carne” e, na posição de observador-aprendiz, ao espetáculo musical “Vicente Celestino – A voz orgulho do Brasil”, no Teatro Ginástico. Acompanhado de amigas, fizemo-nos necessários uns para com os outros e, além da apreciação às artes, ponderamos sobre muitas questões nos campos profissional e afetivo. Falamos muito sobre companhias e a arte de saber ser boa companhia como necessidade, inicialmente, pra si mesmo (pois quem não se gosta não terá muitos frutos a apresentar para os demais a quem supostamente vir a gostar); logo depois, para os outros.

Em casa, fiquei pensando sobre o que soa necessário no vestir do sangue. Sim, o que se faz necessário quando o que se quer é mais que presença? Rabisquei diversos pensamentos, mas resolvi não publicá-los. São pensamentos. Desculpem a confissão, mas esses a gente semeia é pelo lado de dentro...

O que se faz necessário numa boa companhia?

Que seja presente. Que esteja atenta às necessidades do momento. Que tenha bom senso.

Que não ultrapasse limites, mas acolha sem posse. Em outras palavras: que saiba o seu lugar. Que acredite, pois confiança é um sentir legítimo. Que erre de vez em quando, mas naturalmente. Nada soa mais artificial que o empedramento do comportamento e a maquiagem de heroísmo. Ser humano é ser frágil e forte, gigante e pequeno, mestre e aprendiz.

Que leia-perceba-discirna quando a verdade soar coerente com a trajetória (que é bem mais que o momento dela, seja ele qual for). Que sorria e que chore, sem medos para atravessar as margens do mesmo rio-sentimento. Que se dê chances, sejam elas quais forem. Dar-se chance é abrir janelas. Quanto mais abertas, maior a circulação de ares-sentimentos-fragores-de-vida.




Que saiba satisfazer os legítimos desejos do coração ou ao menos tente, pois ousar é também mostrar-se presente. Que construa – palavras, uma história ou o próprio momento -, seja como faz um bom pedreiro ou um dedicado artífice. Que produza sons nas suas sinfonias mais viscerais, nunca o barulho, restrito apenas aos címbalos que retinem pela desafinação do amor.

Por fim, que seja – e que não aparente ser – qualquer coisa, mas seja com louvor dos próprios suores no caminhar. Que caminhe semeando, não importa de que caminho desde que seja sincero. Se, porventura, houver pedras, que desvie e continue seguindo. E semeando. Pra mim, isto se faz necessário.


Nota de rodapé: os créditos para a segunda imagem são para André Bernardo. Imagem extraída do original (em cores) “Left Alone”.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Versos cantados no aprendizado



Há algumas semanas atrás cheguei a comentar sobre uma palestra que daria enfatizando a percepção dos significados do Evangelho nas letras de Renato Russo. Não tenho como descrever os detalhes nas intenções do post de hoje. A coisa vai para além das palavras. É preciso sentir a vida nas nuances dos versos. Posso adiantar que todos trocamos experiências e fomos capazes de aguçar o sentido das coisas pela mudança radical no nosso pensar. Concluímos que o despertar diante do ocaso da vida se revela a partir de um novo pensar. Penso que Renato Russo viajou bem mais profundo que a nossa leitura de seus versos. Há uma certeza primordial que encharcam seus versos: a de nos sabermos aprendizes na Vida (que pra mim é diferente de ‘vida’ com vê minúsculo, o que seria mera existência biológica). Quem duvidará disso ao escutar Vento no Litoral?


Quem assistiu ao musical “Hair” sabe que é preciso “let the sunshine in”, pois é somente quando os raios do Sol entram é que os desdobramentos de um novo pensar produzem bons frutos de mudança. Não estou dizendo que “é preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã”, embora, se você parar pra pensar, na verdade, não há outro caminho que desemboque em respeito, justiça e paz. Digo, no entanto, que é imperioso dar-se chance para um novo pensar, um pensar mais aberto, mais cristalino, sem vícios e resistências de qualquer natureza. Mas, é claro, que isso implicaria numa mudança, a nossa, a partir das raízes. Num contraponto com os ensinos do Cristo, debruçamo-nos sobre a constatação de que aquele caminho foi-continua-sendo tão mal compreendido. E tudo isso porque o transformaram no discurso de adesão à religião e aos seus partidos. “Os caras”, os que resistem ao laicismo do Estado, diminuíram a beleza do que é simples em manuais de conduta baseados em leis morais de podes-não-podes. É contra tudo isso que eu mesmo me insurgi há alguns anos atrás. Tornei-me um semeador no meu próprio caminhar. Plantei minhas verdades nos acordes da alma. Colhi seus frutos e ainda os colho na mesma alegria de homem-menino buscador. Um desses frutos é a certeza de que mudanças radicais, aquelas que são capazes de nos elevar em sinfonias impregnadas de nossos cheiros e que podem de fato mudar um caminhar, ocorrem dentro de nós, não nas pedras, nas tábuas ou pelas doutrinas...

A musicalidade na existência só faz sentido quando meus olhos estão afinados aos seus acordes mais verdadeiros, promovendo graciosamente o benefício da liberdade para semear e semear e semear o Bem que eu apenas carrego, mas não possuo. Ele é livre como o vento!

Em meio ao processo de semeadura – e aqui não sistematizo nem o processo em si, mas apenas o identifico como parte integrante de mim como o transpirar, o sorrir e o fabricar versos – vou sentindo de perto os ventos da alma humana. Às vezes, encontro mais que isso. Sinto a fragrância de uma ‘boa notícia’ [literalmente “Evangelho”, ευαγγέλιον no grego], a do amor que embala a vida com ninhos de presença. Falei de Renato Russo, mas também falei de Hebert Vianna, outro que me inspira pelas letras codificadas de bom norte para meu caminhar seguro.


Eu sou mais uma dessas pessoas que chegam e se fincam no Cais de Porto dos versos de "Lanterna dos afogados" como se fossem barquinhos. Aproveitando os versos de Daniel Lobo com quem ontem jantei palavras e me embuchei de versos os mais lindos, compartilho que também “trago no peito meu Porto Seguro, contorno a boca com lápis escuro e brinco, eu quero recolher as âncoras, puxar as cordas, eu quero é navegar por entre as estrelas e tocar o azul da lua e sonhar...”.

Não tenho medo de mim mesmo, ainda que nem me conheça em todas as estações. Estou ocupado no processo frutificador, de olho no sabor da polpa e no pipocar dos brotos no caule do ser que se renovam como esperança e certezas. Mas sou orgulhosamente humano, o que vale dizer, sou flor, sou fruto, mas também sou caule, sou quebradiço, sou incerto, sou barquinho no meio dos mares... dos mares-de-mim... dos mares... É por isso que não corro atrás de elogios; aliás, não tenho alma ameninada pra isso. Sou um homem inteiramente homem, pleno de defeitos e limites como diz "Ao coração", outra canção que me inspira e me seduz ao aprendizado:

“Nem sempre sei fazer o bem que eu desejo
e, às vezes, eu me vejo me enganando sempre mais
não que eu não queira acertar, mas nem sempre é possível

Humano eu sou assim: virtudes e limites
se agora me permites eu pretendo ser feliz
sem prender-me ao que não fiz,
mas olhando o que é possível”

Nesses últimos dias andei falando por e-mail sobre acordes, sinfonias e sobretudo sons. Gosto de me ouvir, mas fato é que deveria gostar mais. Talvez acordasse para todas as possibilidades que me são oferecidas. Distraído que sou, sobretudo em algumas áreas, nem sempre percebo o que diante de mim está. Os sons na vida são os acordes que, literalmente, dão sentido nas notas mais particulares que carrego. Estes sons, juntinhos, se transformam num conjunto de notas a-FIM-nadas e outras apenas iniciadas, inexperientes, em profundo estado de gerundismo latente. A minha sinfonia é assim, nem simples nem complicada. É alguma coisa muito parecida comigo.

Em meio a tudo isso, não tenho do que reclamar. E por que reclamaria? Bobagem pensar assim. Onze horas da noite e eu assistindo tevê. Zapeando por um e outro canal, ouço "Tocando em frente" nos versos de Almir Sater. De repente, os sons invadem o ar e se achegam pra dentro das minhas janelas. Há um silêncio no meu peito que se desmorona em sentimentos devocionais. A musicalidade que me habita faz orquestra nos córregos da emoção. A música tem pra mim essa capacidade de me apontar o Belo na vida na linguagem mais simples. Entro nas juntas mais profundas dos acordes e avisto minha história musicada. As notas seguem com essa percepção e valseiam entrelaçadas às minhas verdades mais íntimas...




Sussurrando a canção [na letra inserida na imagem acima], descubro-me na percepção dos versos tecendo meu sentir-viver-sonhar. Literalmente, ando devagar porque já tive pressa. Eu só levo a certeza de que muito pouco eu sei. E nada sei para além de mim mesmo, um ser humano inacabado. Hoje sorrio com ‘ene’ possibilidades diante das minhas janelas. Quero-as pra mim. Todas elas, cada uma a seu tempo. Eu as convido pro meu regaço, vem!


Notas de rodapé: Tava com saudades de vir aqui, abraçar as palavras e fazer amor com seus significados. Ando ultimamente precisando ouvir mais sons, abrir as janelas, fecundar terrenos férteis, essas coisas...

Pela ordem, as imagens são de minha autoria e seguem com referências a versos cantados: excetuando-se a primeira, a segunda imagem possui versos de Renato Russo em “Ventos no Litoral” e créditos de imagem para André Bernardo em “Oh Fascination”; a terceira imagem possui versos de Hebert Vianna em “Lanterna dos afogados” e a última imagem possui versos de Almir Sater em “Tocando em frente”.

No dia em que se celebra, além da Inconfidência Mineira, a grata lembrança de um movimento iluminista porém acovardado pelos seus cabeças, à exceção do alferes Joaquim José da Silva Xavier, faço dos versos extraídos do poeta Virgílio (“Libertas Quæ Sera Tamen”), até hoje expostos na bandeira mineira, meu canto de aprendizado para o dia a dia. E não apenas isso, mas também parabenizo os 50 anos de Brasília e, como não poderia deixar de ser, homenageio a cidade com beijos enviados aos três sobrinhos nascidos por lá, Tiaguinho, Felipinho e Rodriguinho!


segunda-feira, 12 de abril de 2010

Estigmas, liberdades e radicalidades



Se eu fujo dos clichês, dos estigmas, dos rótulos e das comparações, então não sou o que esperam de mim. A vida toda esperaram muito de mim. Nunca me perguntaram o que eu esperava de mim. Crescer com uma obrigação imposta – mesmo no silêncio das projeções (dos familiares, principalmente) – é um martírio. Sim, pois a imposição do bom mocismo quando introjeta na psiquê é avassaladora pra quem dela se serve. É por isso que quem cresce livre desses fluxos de imposição familiar ou moral, de fato, respira mais aliviado. A razão é simples: não há fardos ou cobranças ditando o comportamento. O sujeito segue livre, leve e solto na sua construção pessoal existencial. Considero tudo isso um privilégio, um presentão chamado liberdade. Liberdade para ser.

Agora, quem nunca esteve nem aí para os tais fluxos de imposição – ou seriam “formatação”? –, fazendo justamente o que dele (ou dela) não esperariam, não se importando com mais nada, recebe de cara a tarja “ovelha negra”. Antes que as palavras soem comoventes, digo que há um bom sentido em ser ovelha negra. Bem-aventurados os que, rotulados como ovelhas negras, conquistaram suas alforrias! É verdade. O sujeito sabe que a cadencialidade das suas atitudes transgressoras lhe abrirá as portas da liberdade. O resultado, de certa forma, é que o sujeito está safo! Estar safo não deixa de ser uma implicação de liberdade, se é que me entendem...

Do contrário, se o sujeito preferir a maciez da estigmatização de bom mocismo – que não deixa de ser perversa, porém de forma aparentemente indolor –, fazendo sempre o que esperariam que fizessem, algumas vezes por se acostumar com o hábito viciante dos méritos e congratulações (“Ah, como ele é maravilhoso!”, “Como gostaria que meu filho também fosse assim!”, “Este é o genro que toda a sogra adoraria!”, etc), neste caso, o caminho para a liberdade – a liberdade do ser! – será mais pedregoso justamente pelo vício das performances politicamente corretas e até perversamente louváveis numa sociedade comportamentalista. Eis a razão de ter dito aqui num post de ano passado, se não me engano: por pior que seja você, prefira mil vezes ser você-você-mesmo a ser um não-você.


Falo por experiência própria em todos os aspectos que ressaltei logo acima, tanto na questão da estigmatização de bom mocismo e nos vícios meritórios que seguem por tabela como também na desvantajosa acomodação em ser um não-eu. Evidentemente não gostaria de imprimir nestas linhas uma conotação de pobre coitado. Pelo contrário! É por isso que folgo em dizer que nada se compara ao prazer de sermos e fazermos o que nos der na telha, como fruto de decisões maduras de quem assume todas – disse e repito: todas! – as conseqüências.

O prazer de vivermos na verdade, absolutamente livres dos rótulos impostos, errando e acertando durante nossa existência, fazendo merda quando bem quisermos, mas também solidificando alicerces em muitos aspectos, é uma graça que todos poderiam curtir na sua própria experiência. O poder libertador de uma vida que se impõe pela sua verdade é uma das poucas coisas que são eternas. A amizade que se prova nos tempos de angústia e o amor que de tão grande ultrapassa as fronteiras do desejo, pra mim, são as outras coisas que considero eternas. Não morrem, mas se eternizam na memória de várias gerações.

De uns aninhos pra cá passei a pensar a vida e a mim mesmo de uma nova maneira. Mergulhei pra dentro dos significados da “metanoia” dos gregos. Pra quem gosta de histórias, essa palavrinha foi pronunciada pelo Cristo num diálogo que teve com um sujeitinho covarde chamado Nicodemus, que o procurou às escondidas por temer os rótulos que receberia dos outros. Ele era alguém da elite, acostumado nas práticas de bom mocismo impostas pela sua religião, adepto dos clichês “modus operandi” que até hoje muitos aderem – “dize-me com quem tu andas e eu te direi quem és”, “quem com porcos se mistura, farelos come”, “pau que nasce torto nunca se endireita”, entre outros –, mas doido pra conhecer o Cristo de perto em razão de sua fama transgressora e ao mesmo tempo pacifista. O encontro está registrado por João no seu evangelho. O barato daquele encontro resultou na palavrinha “metanoia”, quando Cristo lhe diz que seria necessário que ele nascesse de novo pra poder entendê-lo e, por consequência, entrar no clima daquela radicalidade pelo amor. A expressão foi traduzida de “metanoia”, que é uma aglutinação de “meta” [novo] e “noia” [pensamento, conhecimento], ou seja, seria necessário que ele passasse a pensar a vida de uma outra forma, sem clichês mas apenas com sua verdade.


Se eu disser que falei meu primeiro palavrão aos trinta anos, poucos acreditarão. Se eu disser que nunca fiquei alcoolizado, mesmo depois dos trinta, provável que também não acreditem. Se eu disser que nunca entrei numa boate, aí terão certeza que estou mentindo! Se eu disser que, por várias vezes, inclusive recentemente, já evitaram de vir falar comigo em razão de suposto receio pela ‘falta de assunto’, acreditem, é fato. E tudo isso por quê? Porque o peso das estigmatizações dificulta o florescimento das nossas próprias idiossincrasias.

É por isso que não afirmo pra ninguém que sou um camarada bonzinho, que sou romântico, que envio flores, que choro em público ao falar de amor, que choro reservado ao ouvir canções de fossa, que jamais fiquei por ficar com quem quer que seja pelo valor que todos os seres humanos têm pra mim ou, pior ainda, que sou pra casar. Dez ou onze entre nove ou dez dos meus amigos mais íntimos dirão sem pestanejar que sou exatamente assim, sem pôr nem tirar. De uma maneira filosoficamente teimosa digo que estão todos errados, mesmo envidando patéticos e desajeitados esforços contrários... Como eu bem sei que é viciante o processo de adequação ao que esperam que sejamos, fujo - ao menos tento fugir! - dos clichês.

Antes que me polarizem como anarquista, explico meu ponto de vista defendendo categoricamente que pessoas são pessoas. E só. Eu sou mais uma que me distingo pelo que sou dentro daquilo que Marisa Monte identifica como infinito particular. Eis por que costumo dizer – e nem sempre sou compreendido no cerne – que eu não tenho virtudes e que, portanto, não sou o que esperam de mim! Meus limites são fruto da minha liberdade! Os meus amigos e todos e todas que de fato gostarem de minha companhia - inclusive pretendentes - saberão quem sou pela proximidade na troca de nossas energias. Simples e radical. Coisa de gente livre. De tudo, até dos estigmas!


+ + +



E pra quem pensar que a força de minha verdade é mais forte que a solidez do amor, o que seria um contra-senso, pois vida em mim se dá pela via do amor, afirmo que sou mais um radical que sonha e que respira pelo amor.

Os porquês de minha radicalidade confessa lancei em farelos soltos enquanto me despedia deste post. Deu no que deu.

Eu confesso que...

Sou radical pelo amor que me irrompe as veias, me sacode os braços na direção do meu próximo – qualquer um! – e me torna sensível ao mundo que me cerca. Sou radical pelo amor que não me cala o sentimento, mas grita em muitos silêncios dentro e fora de mim.

Sou radical pelo amor que me enche o peito de esperança, as letras de significados doces e meus amanhãs com o recomeço. Sou radical pelo amor porque me visto de singularidade, mas não projeto em mais ninguém minha singularidade porque sei que projetar é destruir a beleza única do outro.


Sou radical pelo amor que torna meu ordinário o extraordinário de todos os momentos, que o faz belo por me importar. Sou radical pelo amor que me faz eleger o Bem cotidianamente nas coisas mais simples, reconhecendo que todo o processo é uma mística que só me inspira, nunca me cansa.

Sou radical pelo amor que me remete ao valor de todas as coisas, as que compreendo e as que ainda não sei como discernir. Sou radical pelo amor que nunca é pobre ou fraco, mas, às vezes, apenas tímido ou silencioso, incapaz de se encolher ou tornar-se indiferente.

Sou radical pelo amor que me compromete a toda atitude construtiva e que sacia não apenas a mim, mas ao outro. Sou radical pelo amor que dá sentido à Vida que há em mim, pondo sóis nas minhas janelas mais secretas, iluminando meu chão e todo o alicerce do ser.

Sou radical pelo amor porque é nele – o Amor! – que me banho o corpo, a mente e os afetos todos os dias. Por que não se banhar com companhia? – perguntaria qualquer curioso. Porque a porta está entreaberta, sem muita exposição, mas suficientemente convidativa para quem discerne o valor simples das coisas e a profundidade dos laços que se firmam nesse amor, o mesmo do qual sou eternamente radical...

E por falar em amor radical, segue um beijo para além das estrelas na bochecha de meu paizinho. Ontem, exatamente ontem, fez um ano que sepultei o seu corpo, e recomecei a aprender a percebê-lo nas coisas mais simples das lições que ele eternizou em mim. Saudades daquelas igualmente radicais!


Nota de rodapé: dedicado a todos que sabem, na profundidade dos significados, o que é amar sem impor ou esperar condições e, por isso mesmo, podem dizer que são de fato românticos, eternamente românticos... as I am (I suppose)...


terça-feira, 6 de abril de 2010

Rabiscos de mim


Eu não sou pra fazer média. Eu não sou pra tecer juízos. Eu não sou pra estabelecer parâmetros. Eu não sou de muitas pretensões. Tenho tão pouco, mas o que tenho e sou é somente meu. Não houve furto, cópia ou imitação...

Eu não sou imediatista. Eu não sou exclamativo. Eu não sou de poucas horas. Eu não sou pra ocupar meros instantes. Eu não sou de rompantes. Eu não sou de casuísmos. Eu não sou de não-me-toques. Eu não sou das meia-verdades. Só a minha que me veste sob medida!

Eu não sou das noitadas sem sentido. Eu não sou superlativo ou absoluto. Eu não sou das histórias ditas mirabolantes. Eu não sou dos caminhos que os outros seguem, vão-com-os-outros. O que não sou, não sou. É fácil. Não há mistério. É só vir e ver.

Eu não sou o que esperam. Eu não sou amante dos extremos. Eu não sou solitário. Eu não sou pra casar. Eu também não sou pra ficar. Como se vê, não sou clichê! Considero tudo isso metódico e formatado, um reducionismo pobre que não me serve. Eu sou o que sou pra mim e para os campos...

Quer saber? Eu não sou pra-qualquer-coisa, só sei amar. E porque amo, não maltrato. Não faço da vida ou dos humanos meus rascunhos descartáveis. Gosto de papéis, rabiscos e rascunhos. Mas sei distingui-los das pessoas e de suas importâncias...

Eu não sou simplista, mas apenas simples. E tenho história. Começo, meio e um dia o recomeço. Não o fim, porque sei amar. O amor jamais acaba. Nem ele, nem seus promovedores...

Eu sou apenas assim. E nessa constatação prossigo. Procuro um campo fértil. Não qualquer um! Que seja de idéias e sentimentos profundos. Minha vocação é [ser]mear...

* * *

A nota de rodapé é para o caos provocado pela chuva...



Chove sem parar neste Rio de Janeiro. Chove todo tipo de chuva. É água, e não pouca. É sangue. É choro. É homem. É mulher. É criança e velho também. A chuva cai e molha o caos pela cidade. Vidas se foram água abaixo, que desolação!

De tanto que chove, é enchente engolindo as ruas, é desmoronamento amassando as histórias, é grito que a terra encobriu, é de luto que muitas casas se vestem... É tanta coisa, mas não preciso ligar a TV pra ver. Por aqui também chove sem parar. Eu falo do lado de fora da tela. Falo e me molho com a solidariedade comovente...

Não farei perguntas retóricas. Não questionarei as autoridades civis. Estupefação pelos que constroem casas nas encostas? Indignação por conta da população que teima em lançar garrafas pet, papéis e sacos plásticos os mais variados nos rios e nos bueiros? Estranheza pela inabilidade – ou omissão! – das políticas públicas de prevenção? Numa mata em chamas, ou antes, submersa nas águas de abril, salvemos os pássaros e todos os animais. Sejam os racionais, os irracionais e também os incompetentes. Depois, quando a chuva parar, aos sermões – para aqueles que o queiram – e às reivindicações necessárias.

São 22 horas. Ainda estou encharcado, triste e comovido.


domingo, 4 de abril de 2010

A todos e a todas neste domingo


Passo por aqui como quem se achega, acena aos amigos, aproxima-se e se assenta o mais próximo. Faço do momento – como sempre me é oportuno - o encontro. E numa espécie de encanto, mágico e sublime pela oportunidade de vir aqui, rabisco palavras extraídas do pensamento pra sorrir nas letras o desejo do que [me] apelido de ‘agora’: feliz Páscoa a todos!

Mesmo sabendo que a data celebra a Tradição cristã nas leituras históricas da paixão, morte mas sobretudo Ressurreição do Cristo, permanece a boa intenção de revisitarmos lições de amor com alguém que só amou. E ponto final.

Se foi condenado por justamente amar, sobretudo os excluídos daquela sociedade (publicanos, samaritanos, meretrizes, leprosos, cobradores de impostos à Roma, etc – e, por extensão, a qualquer que se sinta rejeitado ou excluído), já é um outro aspecto que me foge ao interesse do instante. Quero apenas enfatizar naquele exemplo, muitos e muitos outros – de todas as épocas! – que só amaram e receberam em si mesmos os frutos de tão elevada conjugação verbal-relacional!

Amar nem sempre é fácil, todos sabemos. Amar, às vezes, dói. Há gente que ama e é compreendida. Há gente que ama e não é compreendida. Amar não deveria ter limites, pois quem ama de verdade, ama pela decisão de amar apesar de. Amar traz sempre bons frutos, mesmo que os espinhos machuquem ao longo do processo de frutificação. Por isso mesmo o “amar” não é pra menininhos e menininhas tolos, é pra gente que sabe o que ta fazendo. Como diz meu amigo Márcio Retamero, “a vida não é um comercial de margarina!”. Neste sentido, amar é para os fortes, para os teimosos e perseverantes. É também para os declarados loucos pela incompreensão racional que relativa todas as coisas, mas não consegue relativizar o amor. Amar é. Cada um decida o quê!

Amar é afeto... é acolhimento... é respeito... é refrigério... é perdão e reconciliação... é dar nova chance e sempre dar nova chance... é aprender nas virtudes e nos limites... é Ressurreição e Vida em nós, e é tanta coisa a partir disso!

Tal como iniciei, assim me despeço: Feliz Páscoa! A todos e a todas!


Notas de rodapé: em memória de meu paizinho que me deixou na Páscoa passada, mas ressurgiu numa força estupendamente inspiradora nas boas lembranças, nos aprendizados que agora discirno na pele como bom filho que ele um dia me disse com todas as letras que sou...

Uma homenagem ao poema que é verso rezado na esperança, uma lição que me inspirou neste momento. A oração de São Francisco de Assis na bela voz da diva Ana Carolina.




Queridos, estamos na tarde de domingo de Páscoa. Preciso sair para uma palestra que darei daqui a instantes sobre o Evangelho nas letras de Renato Russo, na Comunidade Betel do Rio de Janeiro. Praia de Botafogo, 430, sobreloja, Rio de Janeiro, bem em frente à paradisíaca Enseada de Botafogo. Beijão em todos!

Alguns vão perceber que a imagem acima já foi tema de artigo no ano passado. Ok, vocês venceram... rs. Páscoa pra mim tem tudo a ver com vida e a celebração que fazemos dela. Eis a razão de ser da imagem na ilustração deste post. Ela exemplifica o sentido que empresto ao tema. Ah, sim, a imagem original intitula-se “Heartbeat”. Retirei-a de um postcard, mas não continha os dados do autor.

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Sobre colos, versos e algumas palavras


1º Momento:

Eu faço versos pra deitar no colo, deixar palavras quentinhas com os sufixos de aproximação. Não me envergonho disso nem de um dia ter criado palavras mudas. Tem dias que a gente simplesmente engasga com a letra, não rabisca nem saliva no céu da boca. Nesses dias o melhor a fazer é sorrir e não se preocupar com nenhuma divagação. Tornar-se criança. Brincar com as horas. Abraçar o tempo. Fechar os olhos e fabricar uma escada de pensamento, subir por ela e não se prender a nada.

Do alto de uma semana tão reflexiva, dita Santa, quero apenas deitar meus versos sobre as pernas de meu semelhante, meu igual. Não desejo muita coisa senão intimidade suficiente pra esboçar um pequeno texto. Não precisa ter vírgula, ponto, aspas, travessão, nada disso. Eu me conformo com as reticências, três pontinhos inseparáveis, e um sorriso indecifrável. O contexto eu dou conta!

- Desce daí, menino! – chama a consciência. Volta aqui e termina os teus passos aqui embaixo!

- Não posso agora, a palavra não quer descer!

- Volte com ela, mas não deixe a frase aflita...

- Fica fria! Concentre-se! Faça uma oração daquelas substantivas adjetivas!

- E se eu fizer, que me ocorrerá?

- Te darei colo, e não apenas um, e versos deitados e fáceis de carregar.

- Isto é uma promessa ou puro advérbio?

- Uma certeza indefinida!

- Tipo...

- Feche os olhos e sintaxe!

- Fechei!

- Sintaxe!

- Senti!


2º Momento:

Ah! Quem me dera todos os dias deitássemos versos no colo uns dos outros e subíssemos escadas de pensamento! E não apenas isso, mas levássemos o bom da palavra, muda ou eloqüente, a bons termos! “Amai-vos uns aos outros assim como”, inspira o momento. Amar não é o mais difícil, é apenas um caminho. Quantos egoístas não amam à sua maneira? Tudo, porém, ganha voz quando a palavra engravida do “assim como eu vos amei”. O sentido muda, mas não se torna mudo. As fronteiras gr-AMAR-ticais desaparecem e as palavras se aproximam, finalmente. Não se ouve mais dizer em condições ou meras circunstâncias. Ama-se porque se fez ouvir que a medida do amor é amar sem medida. É assim que a gente sobe e desce naquelas escadas de pensamento e não se prende a mais nada. Nem à palavra, nem ao momento. A gente forma verso é na ação do amor...


3º Momento:


Eu fui por aí lavar os pés das palavras que encontrar. Ontem, encontrei algumas reluzentes, me constrangi diante da sabedoria. "Você deve ser a própria mudança que deseja ver no mundo." "A liberdade não tem qualquer valor se não incluir a liberdade de errar." "Minha vida é minha mensagem." (Mahatma Ghandi)

A língua, indubitavelmente, é rica em gr-AMAR-tica!

Me cingi de versos, ‘passarei por cima’ (*) do final de semana em trovas pascais!


Nota de rodapé: (*) Páscoa, do hebraico “pesach”, ou seja, passar por cima [lit.]

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