sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Sobre caminhos, deuses e o amor


Halloween, o dia das bruxas invade a cultura brasileira. Invade sim; afinal, não faz parte de nosso rico tesouro folclórico. A palavra Halloween tem origem na religião católica. É uma contração da expressão “Ali Halliows Eve”, no inglês atual, “All Hallows Eve”, que significa “Véspera do Dia de Todos os Santos”. Com o passar dos tempos, a comemoração do Halloween, tornou-se mais conhecida na América após a emigração escocesa, em 1840.

Alguns dos costumes levados pelos colonos foram mantidos. Como exemplo, temos as Jack-O-Lanterns que, feitas com nabos primitivamente, passaram a ser feitas com abóboras. Conta a lenda que um homem chamado Jack não conseguiu entrar no céu porque era muito avarento e foi expulso do inferno porque costumava pregar peças no diabo. Foi, então, condenado a vagar eternamente pela terra carregando uma lanterna para iluminar seu caminho.


“o amor à força e ao poder sobre as pessoas, impossibilita qualquer amor que sirva às pessoas. E amor que não se dá, é tudo, menos amor”

Se me perguntassem o que me ilumina os caminhos, diria tratar-se de um ponto de vista. Pra mim, o amor. Sem amor, restaria uma sobrevivência biológica. Nascer, crescer, reproduzir e morrer, envelhecendo em todo o processo desde o nascimento. Havendo amor, porém, a liberdade e a esperança me estimulam à capacidade de encanto com o que posso ser, a criar coisas a partir do sonho, a acreditar em possibilidades para além do limite, fazendo com que descubra novas cores e novos sabores em todas as coisas. Havendo amor, o chão é firme para construir aquilo que vale à pena, sendo válidas todas as coisas quando há querer-bem.


Pra mim, o amor é mais do que sentimento. É Dom que se quer achar em qualquer um(a). Como curioso que sou, buscando sempre os porquês, saí pelos caminhos que construí à procura da Fonte. E a encontrei em mim como um abraço dos ventos, o qual não vejo porém sinto, percebendo-o quando as coisas se movimentam para o bem, para a reconstrução de pavimentações esburacadas no viver de cada um. Descobri a Fonte em Deus, que por sua própria natureza não pode ser definido como “deus”, que é o Estado Essencial, Primordial, Final e Eterno de Toda Existência, conforme a descrição budista de deus-sem-eu.

Sobre tudo e todos, fora de qualquer disputa ou competição, há Aquele que diz de Si mesmo que Ele é Ele, é pessoa, é o Eu sou. Ora, esse é Deus. E é todo-poder, toda força e toda sabedoria. Entretanto, Ele diz de Si mesmo que apenas É (Eu Sou) e que É amor. Por isso, confesso, amar faz sentido quando se diz que se O conhece.

Li, certa vez, um artigo do Caio dizendo que “Deus é o Todo-Poderoso, mas isso é apenas bom porque Ele é amor; do contrário, um Deus Todo-Poderoso que não fosse antes de tudo amor, seria um perigo a toda criação. (...) aqueles que se devotam aos deuses de “poder e força” (e seus derivados, como a prosperidade, etc.) não sabem o que é amor, senão como sentimento de afinidade egoísta e pagã; posto que o amor à força e ao poder sobre as pessoas, impossibilita qualquer amor que sirva às pessoas. E amor que não se dá, é tudo, menos amor conforme o Deus que é amor.”

Na projeção de como se entende “deus”, fácil será dizer quem e como nós somos. É neste caminhar que sigo sendo iluminado. Feliz “Halloween”!

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Diálogo sob o lençol de estrelas



São vários minutos da manhã, diz o relógio. Trinta e sete pra ser mais exato. As horas não importam, nem mesmo elas são correntes. Há tempos deixei as correntes. Não foram todas retiradas de uma só vez. Não, não foram. Houve vácuo e, no meio de suas idas-e-vindas, tempos e circunstâncias, fases e nuances proporcionadas pelo crescimento das coisas em mim.

Celeste, nome fictício para uma amiga querida de longa data, gosta muito de me instigar o pensamento daquelas certezas que os bem-aventurados se alimentam: o viver com asas. Ela mesma me sugere que as coisas se agigantam dentro de nós; às vezes, diz, agigantam-se pra baixo, para além do que é visível tal como uma raiz. Estávamos, há um tempo atrás, na porta do Teatro João Caetano, diante da histórica Praça Tiradentes, no Centro do Rio, quando me chama a atenção para algo que não percebia:

- “Olha só como é bela, amigo!”

Não entendi, mas questionei seguro de alguma coisa realmente linda – em se tratando de Celeste, algo embevecido de beleza etérea. O que é belo neste momento?, perguntei.

“Meu Deus! Você não consegue ver como essas árvores são belas!? Olha só o tamanho da raiz daquela ali! Eu ficaria horas contemplando... sim, gastaria horas perdida num abraço ao redor dela!”.

"o essencial que não se vende, mas se encontra em qualquer lugar pra quem sabe enxergar, e não apenas ver"

Não imaginem que seja fantasia porque, à vista do que já testemunhei em mais de uma década de amizade, estou certo que faria sim! Ela é humana demais pra se negar a própria natureza. Um ser humano imune aos conflitos da maioria.

“‘Maioria’? O que eu tenho a ver com a maioria? Dane-se a maioria. Eu quero é o instante de minha própria realidade!”, são palavras do que chamaria discipulado transpirante, algo super natural quando estou ao seu lado. O cenário se iluminava - melhor dizer que se engrandecia - durante o papo que tivemos assentados num banco da parada de ônibus.

E foi ali que filosofamos ares e olhares sobre o significado do viver satisfeito. Que conjunto de palavras desafiadoras! Sob a imensidão de um lençol azul-marinho cheio de estrelas, do outro lado da praça, quase em frente ao Teatro Carlos Gomes, tecemos nossas histórias com sementes que abríamos de sonhos acordados, falando de lutas travadas e felicidade semeada no campo do agora. O resultado nos pareceu um ‘desafio’ desses que se mata como os leões do dia a dia.

"Nem sei se ela saberia me falar do “para-si”, de Sartre, mas fato é que a sabedoria daquela mulher me dava certeza da não-necessidade."

“As pessoas estão perdendo a sensibilidade do que é essencial”, me dizia pra, logo em seguida, completar: “o essencial que não se vende, mas se encontra em qualquer lugar pra quem sabe enxergar, e não apenas ver, meu amigo.”

Embora, talvez, a resposta me parecesse óbvia – porque intimidade, de fato, ‘é uma merda’, como dizia Caetano – quis instigar o profundo daquelas palavras quando perguntei, sulcando a terra: você tem encontrado o essencial?

“Lógico!”, me respondeu com os olhos arregalados pelo espanto com o peso da simplicidade daquelas palavras. – “Lógico que sim! Glória a Deus! Eu sou uma mulher realizada porque me realizo na essência das coisas que conquisto, meu amigo!”.

E sem que perguntasse, resolveu completar o que parecia um discurso aos céus:

- “Sou realizada como indivíduo, única em todo o universo, na cama, não importa com quem desde que seja aquele a quem eu tenha querido, na minha fé que não é propriamente minha, mas eu a reconheço como Dom porque não sei existir sem o fôlego de Deus!”.

Sorria com o tom daquelas palavras. Creio também que não seria o único a sorrir diante de tanta revelação. Mal sabia ela que analisava o compasso, a melodia e o acorde daquelas palavras, quase condicionando o discurso para uma convergência ao existencialismo sartriano. Nem sei se ela saberia me falar do para-si, de Sartre, mas fato é que a sabedoria daquela mulher me dava certeza da não-necessidade. Pra quê, afinal de contas? Minha reação instintiva, sabe-se lá por qual loucura que me acendeu aquela lucidez toda, só veio a aumentar. E teve uma hora naquele 'campo do agora' que não quis mais sorrir, e pus-me a rir num ímpeto de glória com o brotar daquelas certezas. Ouvi-la parecia um despejar de coraçõezinhos cadentes chuviscando daquele lençol do céu acima de nós.

“Você está rindo do quê? De mim?!”, me questionou tomada de absurdo. Ao que respondi: não, não é de você. É da fartura de sementes!

“Quais?”, era a sua dúvida.

As que saíram de sua mão no campo deste ‘agora’, respondi-lhe mergulhando de ponta-cabeça naquela profundidade abissal.

- “Ah, bom! Pensei que você também fosse desses que não sabem enxergar o essencial... que tristeza seria, meu amigo!”


Nota: o nome fictício apenas resguarda alguém a quem não consegui contactar a tempo para autorizar a divulgação no post. Apenas isso.

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Prevenção é o melhor remédio


O Cristo Redentor foi iluminado de rosa nesta terça-feira. Uma situação inusitada para os cariocas de todas as cores, acostumados com as cores originais da imagem tida como uma das novas maravilhas do mundo. O fato ocorreu com o propósito de chamar a atenção para a campanha pelo combate ao câncer de mama, doença que atinge uma em cada oito brasileiras e que mata, anualmente, 10 mil mulheres em todo o país.

O colorido diferente também poderá ser visto nesta quarta-feira. A iniciativa faz parte da campanha “Não aceite informações pela metade”, idealizado pela Federação Brasileira de Instituições Filantrópicas de Apoio à Saúde da Mama (Femama) em parceria com o movimento Outubro Rosa. O objetivo da campanha é incentivar a importância do diagnóstico precoce. Vários monumentos pelo Brasil foram iluminados, entre eles a Pinacoteca do Estado de São Paulo, a Ópera de Arame, em Curitiba e o Memorial JK, em Brasília.

O Outubro Rosa nasceu há 11 anos na Califórnia. Ao longo da década, a iniciativa iluminou monumentos como a Torre de Pisa, na Itália, a Opera House de Sydney, na Austrália, e a Casa Branca, nos Estados Unidos.

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Por onde quer que seja



O Rio amanheceu com prefeito novo, mas ainda não empossado. Amanheceu com a estranha sensação de que estamos divididos. De um lado, os moradores da zona sul (e os de nível superior) que preferiram o candidato Gabeira; de outro, os moradores da zona oeste (a mais populosa da cidade), que foram decisivos na eleição do prefeito eleito, Eduardo Paes. O “day after” às eleições privilegiou uma parcela da população: nós, os que trabalhamos para o Tribunal Regional Eleitoral. Folga concedida por lei, minha disposição convergia para a fuga de congestionamentos duvidosos. Todos meus, particularmente meus. Nada de ser ou não ser, mas de ser apesar de. E é apesar de que me sinto teimoso além do que deveria ser. Não me chamaria metido porque o rótulo não me caberia. Distraído sim, às vezes.

"Se me perguntassem agora o que desejaria sentir, evitaria o óbvio, o usual e o comum. Um balão de gás (...). Ares novos dentro de mim"

Ultimamente tenho sido convidado a libertar desejos, medos e uma série de abraços-sem-fim. Tudo de uma vez só. Não que esteja encurralado por situações atípicas em mim, mas porque na amadurescência ainda se é aprendiz, e eu sinceramente sinto que algumas coisas são nossas até que queiramos que sejam. A liberdade é como um balão de gás que sobe sem dizer adeus. E como é bom olhar do alto o que se sabe daqui de baixo! Depois, falo de liberdade apenas porque quis um paralelo entre o que ainda sinto e o que desejo sentir daqui pra frente. Se me perguntassem agora o que desejaria sentir, evitaria o óbvio, o usual e o comum. Um balão de gás, é o que diria. Ares novos dentro de mim, a mim, parece-me o melhor sentir.

Estou farto de querelas vãs, as que não são naturalmente minhas e as que insistem numa tutela que não me cabe, bem como estou farto de gente interesseira que (me) absorve até os calos (para quem os têm) ou aos cisos (para quem também os têm).


"nada melhor que o vômito de um verbo: viver. Que ele me encha os pulmões de esperança. Que ele me impulsione para o que não vivi com coragem desbravadora"

Como numa antítese imposta, seja na vida, seja no paradigma do texto, estou faminto de sentires benéficos, como a procura por horinhas de felicidade e sorrisos trocados ao vivo, no puff ou esparramado no sofá, à mesa da cozinha, encostado no azulejo do banheiro, embalado na rede da varanda, refestelado na cama e ao telefone. A qualquer hora! Se é que me cabe regurgitar uma palavra temperada em linhas tão macias, nada melhor que o vômito de um verbo: viver. Que ele me encha os pulmões de esperança. Que ele me impulsione para o que não vivi com coragem desbravadora. Que ele me desafie ao futuro aprazível. E que uma corrente de ar me conduza por cima das cristas das ondas à janela azul do firmamento pelo oceano afora. Afinal, como balão de gás, não me importa a chegada se tudo segue em liberdade desde a saída. Seja bem aqui, seja na longínqua São Francisco ou nas duvidosas cidades pelas quais Judas perdeu as botas. O apesar de continua valendo. E é apesar de tudo o que já vivi (e o que ainda não vivi) que vale a pena seguir as mudanças com esperança até perder-se no infinito do Atlântico. Tudo bem, do Pacífico ou do Índico também. Que seja!

sábado, 25 de outubro de 2008

O que basta e o que não basta


Peguei numa folha. Apenas olhei. Vi que algumas páginas são escritas mesmo quando não há tinta. E pensei: vou pôr palavras no pensamento, montar frases com sorrisos e ver como seria se de fato fosse um dia. Precisei virar a página. Palavras não couberam, eram tantas em tantos pensamentos. Manhã começa cedinho num beijo enviado ao sol. Que dia iluminado! Tenho a impressão de um desenho de verão em plena primavera. Estive no cartório da zona eleitoral. Vi pessoas trazendo sóis, nuvens e alguns temporais. Atrás do balcão, atendi a alguns presidentes de seções eleitorais. Atendi a telefonemas também. Cris, amiga com frases nos tons certos de afeto, ao me ver na sua chegada ao cartório, me recebe com “oi, queridoooo!”. Abraços com candura e eloqüência irrompem pelos vários braços. Coisas de amigos que não se vêem há algum tempo (desde o primeiro turno das eleições). Trocamos figurinhas com nossas digitais ali mesmo. Assentados, trocamos sorrisos de nossas próprias histórias. Horas depois, despedi-me sem a devida aprovação dela. A conversa tava boa, sei disso. Contudo, ambos sabíamos que ainda havia locais [de votação] para visitar e preparar.


Melhor é escrever a dedo - os dez, sem exceções. Tocar e sentir as ações. Produzi-las ao vivo. Nossos cadernos precisam de páginas com impressão digital.

Dirigi-me a outro bairro na direção da zona portuária. Ao entrar em determinados locais, outros tantos abraços. Amigos, diga-se. O sol continuava seduzindo ao longe. Início da tarde e uma constatação: não acreditei quando todas as coisas se resolveram antes que o sol se pusesse atrás dos montes [aqui no Rio são tantos!]. Voltei pra casa mais descansado que na outra vez. Entre um raro silêncio e outro nem tanto, surpreendo-me com uma ligação do interior de São Paulo. Um amigo a quem não via (e ouvia) há dois anos reaparece com riqueza de detalhes. Mais palavras e muitas lembranças nossas. Amizade é uma dádiva, não há tempo – ou falta de página – que a interrompa. Penso-oro para que tudo lhe vá bem. Instantes seguidos, já absorvido por outras ações, um convite daqui de perto se aproxima de mim. À noite, reunião de amigos na casa de minha irmã. Declino com elegância. Os amigos são mais próximos dela do que propriamente de mim, embora a todos conheça. Reuniões à noite na véspera de um dia intenso (início do trabalho às 6h para toda a supervisão) não chega a ser o convite que me trará benefícios para meu descanso merecido. Continuei observando as páginas que escrevi com o pensamento, me povoei de uma companhia que não está. Nunca esteve. Quem sabe, um dia, esteja. Meneio a cabeça e, sem perceber, apago algumas linhas do pensamento. Resolvo despertar daquele processo caligráfico-pensativo. O sol enruiveceu no firmamento, tão lindo que ficou. É a tarde no momento mais festivo, o da paquera com o fim do dia. Diante dele me convenço que é preciso dar um basta à tinta que não escreve, embora encha as páginas de pensamento. Melhor é escrever a dedo - os dez, sem exceções. Tocar e sentir as ações. Produzi-las ao vivo. Nossos cadernos precisam de páginas com impressão digital. Nem todas as coisas bastam. Apago algumas linhas pensadas, mas lembro-me de Fernando Pessoa. Eu saio pra ele entrar. Sim, a sabedoria dele fica. Tantas páginas e a certeza de que a obra se completa...



Não Basta
Não basta abrir a janela
Para ver os campos e o rio.
Não é bastante não ser cego
Para ver as árvores e as flores.
É preciso também não ter filosofia nenhuma.
Com filosofia não há árvores: há idéias apenas.
Há só cada um de nós, como uma cave.
Há só uma janela fechada, e todo mundo lá fora;
E um sonho do que se poderia ver se a janela se abrisse,
Que nunca é o que se vê quando se abre a janela.


...

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Pérola do mestre





“Uma relação não é sustentada pela cama ou pela mesa, mas pela linha tênue do prazer pela conversa. Para saber se a relação vai dar certo ou não importa, antes de tudo, responder-se: serei capaz de manter diálogo com esta pessoa por muito tempo na minha vida? Sim ou não?”



Dr. Rubem Alves (catedrático de filosofia na UNICAMP, teólogo e psicanalista), no Programa do Jô, 23/10/2008.


Utilidade Pública





Primeira: Quem quiser tirar uma cópia da certidão de nascimento ou de casamento, não precisa mais ir até um cartório, pegar senha e esperar um tempão na fila. O cartório eletrônico, já está no ar! Nele você resolve essas (e outras) burocracias, a qualquer hora dia, on-line. Cópias de certidões de óbitos, imóveis e protestos ser solicitados pela internet.

Para pagar é preciso imprimir um boleto bancário. Depois, o documento chega por Sedex. O serviço está disponibilizado no site: http://www.cartorio24horas.com.br/

Segunda: Telefone pelo serviço 102.... não! Agora é pelo: 08002800102. Nem todos sabem, mas na consulta ao serviço 102, pagamos pelo R$ 1,20 na conta telefônica. Acontece que a operadora não avisa que também existe um serviço similar e GRATUITO.

Terceira
:
Documentos furtados ou roubados – Boletim de Ocorrência nas mãos dá direito à gratuidade. É o que determina a Lei 3.051/98. Mas, ATENÇÃO: a Lei é válida apenas para o estado do Rio de Janeiro. A maior parte da população não sabe que a Lei 3.051/98 nos dá o direito de, em caso de roubo ou furto (mediante a apresentação do Boletim de Ocorrência), obter a gratuidade na emissão da 2ª via de tais documentos, economizando, por exemplo:

Habilitação (R$ 42,97);
Identidade (R$ 32, 65);
Licenciamento Anual de Veículo (R$ 34,11).

Para conseguir a gratuidade, basta levar uma cópia (não precisa ser autenticada) do Boletim de Ocorrência e o original ao DETRAN (para o caso de Habilitação e Licenciamento e/ou para o caso de 2ª via de Identidade). Bom que divulguemos essas informações!

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

É pelo olho






“Beleza e glória das coisas é o olho que põe. Bonito é o
desnecessário. É pelo olho que o homem floresce
Manoel de Barros

...


Se os olhos forem bons, todo o corpo reluzirá. E vestirá verde-esperança. E tomará a certeza. E porá vento em cada esquina pra refrescar o tempo. E fará do encontro apenas o instante pra quando outros chegarem. E nada mais importará: se dia ou dias, quem dirá?


Você diria?

...

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Eu esperaria


Há cenas e cenas. Tanto na vida real quanto na telona dos cinemas. Pra quem me conhece, já sabe, prefiro os filmes que me fazem pensar, que me estimulam no bem-sentir. Não me convidem para assistir a filmes impactantes de violência. Não curto. Não preciso ir longe ou pagar ingre$$o. Quando preciso, se é que um dia precisei, abro a janela do ônibus e assisto bem diante de meus olhos em 3D as melhores cenas de violência. Gratuitamente! Em contraposição a essa “emocionante cultura” para alguns, recolhi no meu baú de cenas memoráveis umas três. Uni-duni-três, salame-minguê, a escolhida da vez foi... Por que você não me escreveu?” (“Why didn’t you write me?”). Reparem na belíssima fotografia e sobretudo na poesia dos detalhes do texto (isso pra quem entende inglês, sorry). “Esperei por sete anos!”, diz num determinado momento. Parei e pensei: nos dias atuais poucos esperariam. Tudo é rápido demais, tudo é muito “fast” (“fast-food”, “fast-love”, “fast-sex”, “fast-friend”). Mas, e você. Por quanto tempo esperaria um amor?

A previsão e...




Diante de tudo o que leio e vejo, restaram na sala: meus pensamentos e minha companhia. Sequestro de Eloá. Morte de Eloá. Comoção pela vítima Eloá. Despreparo da polícia no “caso Eloá”. Mídia sobre as investigações. Promotores pedindo pena máxima. Advogado que sai, advogado que entra. Peritos agora divergem. Antes ou depois da explosão: quando se deu o primeiro tiro? Lindemberg fez tudo movido pelo amor? Amor é doentio? Ciúme é sempre doentio? Para algumas perguntas, respondi “sim”; a outras, “não”. Pode ser e talvez ficarão para o que se espera de tudo isso. E a polícia continuará pedindo reajuste salarial em São Paulo. E o governador José Serra continuará enfrentando os dirigentes da polícia com veto ao aumento salarial. E a insatisfação dos profissionais continuará. E virão outros crimes com maior repercussão nacional. E outras vidas serão contadas como simples algarismos cadavéricos. E famílias serão partidas. E dores serão eclodidas. E discussões levantadas. E especialistas em alguma-coisa nada trarão de concreto, apenas dirão. E o amanhã não suprirá a falta, a perda, o mais-que-um-número. Sequer a esperança de um reordenamento no aparelho policial, na instrução da tropa, na satisfação pelo trabalho valorizado, na certeza da “imputabilidade” dos algozes. Daqui a dois anos teremos eleições para governador (segurança pública é competência constitucional dos Estados). Promessas virão à tona quando os mandatos estiverem por vencer? Serei mais explícito: falo de 2010. Até lá a sociedade sossegará?




terça-feira, 21 de outubro de 2008

Na minha agenda



Dia amanhece com sol cantando “Wave”, de Jobim. Não acreditei, mas é verdade. O sol daqui canta Jobim logo nas primeiras horas... Telefonema me chama, insistindo a levantar da cama. Não atendo, nem vi quem seria. O sol me hipnotiza de tão seguro que está. O dia prossegue com mais gente me chamando. Uma amiga me explica que não poderemos sair juntos. Ela visitará uma ONG que trabalha exclusivamente para atender a pessoas com problemas de surdez. Serão futuras conexões, me explica. Entendo perfeitamente, sei o que é isso. Conexões. Ontem falei de conexões com algumas pessoas. A vida toda formamos conexões.

Pessoas insistem em querer saber em quem votarei no próximo domingo, no segundo turno das eleições municipais. Não tenho dúvidas, mas não costumo revelar meu voto. Sou a favor do bem, mas daquilo que é sempre enraizado. Creio que o que seja para o bem, de fato, há necessidade de raízes! Campanhas bem montadas, porém sem projetos e sem um discurso que esteja coeso com as conexões históricas do candidato, não colam. Um tem história e coerência; o outro, oportunismo político (falava bem mal do presidente até o ano passado, mas, em se tratando das “conexõe$ política$”, mudou o “pensamento”).


Um amigo aqui do Rio me pediu “palavras-presentes” ainda há pouco. Respondi-lhe falando delas, mas pelas raízes. Alguém me pede sorrisos sinceros na hora em que lhe respondia sobre meus sorrisos sinceros. Pura sintonia, nada premeditado. Fico sabendo neste momento que outro amigo esteve hospitalizado, recupera-se bem agora. Irei visitá-lo em breve. Se não fosse o trabalho árduo na preparação das eleições neste sábado e domingo, iria vê-lo neste final de semana. Cheguei de Ipanema ainda há pouco, confesso que pisquei pro mar – aquele marzão – mas não era possível continuar o cortejo. Tive que pegar um documento importante por lá. Horas passam por entre os dedos da gente. Fecho um encontro no escritório de um advogado daqui a algumas horas. Penso se dará para ir ao lançamento de um livro muito interessante na PUC aqui do Rio, às 17h. Acho que não. Preciso remarcar exames de rotina, cuidados preventivos. Preciso ouvir sons de violino. Sou atendido com uma canção de Steven Curtis Chapman. Preciso enviar alguns e-mails. Preciso de sonhos com pés no chão. Preciso largar o PC e correr atrás do almoço. Não posso me atrasar. Só não posso é deixar de precisar.

Nota: a fim de compartilhar as conexões do meu sentir, "When love takes you in". Steven Curtis Chapman pra quem dele precise.




segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Ao poeta com carinho



Numa justa homenagem ao dia do Poeta, 20 de outubro, meus olhos se voltam para as sílabas, piscando intencionalmente como quem pede uma palavra, só uma por inspiração. Assim é que a gente tasca o sentimento na ponta do lápis (ou no teclado, como queiram), espreme o sumo e enche o papel de significados, um a um, versejando na costura das palavras paridas. Há algum tempo atrás rabisquei uns versos-de-mim, que seguem nestas bandas de cá para os amigos me entenderem com mais significado. Seguem, ainda, outros versos não menos importantes pra mim. Todos têm sua própria história na minha História.

Sou um isso.
Meu viço é a vida.
Meu vício é o viver.
Amar até a palavra.
Fecundar significados.
Sem-senões. Exceções. Bemóis.
Qualquer nota desde que em prosa.
Pra cantar paz. Tanto faz. Errante demais.
Clímax humano. Sou verbo e conjugações.
Escrevo. Rio e choro. ‘De Janeiro’ a dezembro.
Semeio planícies. Assopro poeira pra pular até o céu.
Sou-sendo. Individuando. Recomeçando. À espera-ndo.

E pela inspiração, homenagens não faltariam. Escolhi uma pra identificar o que as demais também me causam. Na imagem, versinhos pra fora-de-mim numa parceria pra lá de arretada: imagem e palavras. Sou autor apenas de uma.

domingo, 19 de outubro de 2008

O saber certo e a necessidade



Chove lá fora e aqui dentro também. Manhã de domingo, em que pese a emocionante final de nossa seleção de Copa do Mundo de Futsal, disputada contra a Espanha aqui no Rio, os rios se amontoam pelas calhas nos telhados da vizinhança. É um pinga-pinga de águas doces; às vezes, de água salgada também. O solo, aquecido pelas corrente das águas vindas das nuvens, vai se tornando escorregadio e incerto. Muitas vezes são os nossos caminhos. Algumas vezes são os nossos sonhos. Graças a Deus, não todos!

No dia anterior falei de Adélia, mais precisamente, na tal esperança implorada nos versos em “Dolores”. Quem espera, alcança. É o que dizem lá fora. A questão é saber o que se alcança, pois, se sabe, algumas vezes, o que se alcança é justamente o saber não ser alcançável. Só dependerá de “como” a esperança está sendo aguardada. Princípio na física – a terceira lei de Newton – é que toda ação estabelece uma reação. Princípio da sabedoria é que é preciso saber certo, pois o saber incerto é quase sempre duvidar. A dúvida é necessária, pois alavanca o pensamento à inquirição do que se quer saber ao certo. Mas ter dúvida sempre já é demais. Assim, não há passo que caminhe certo. A dúvida que não sai incomoda como reação estranha à ação.

Meio-dia na ação dos ponteiros adiados pelo horário de verão. Vejo pela janela que a chuva lá fora aumenta. É uma ação da Dona Natureza quando torce as nuvens. Quase próximo do final do tempo regulamentar na partida de futsal, Espanha empata em 2 a 2. Foi uma reação e tanta. Para os espanhóis, fique bem claro! Não ter gostado foi minha reação. Retorno à janela, percebo que as ruas se tornam incertas no desenho dos rios de chuva. Desisti de ir à feira. Há poças demais para saltar; por outro lado, não caminharia tranqüilo num solo incerto. O árbitro apita e a partida agora será disputada nos pênaltis. Putz! Todos aguardaremos as ações emocionantes que virão em instantes. À parte de tudo isso, porém, a necessidade de um abraço pra calar todas as dúvidas. É a ação que mais preciso. Como torcedor, como ser humano, como homem, me pergunto: quem reagirá?

sábado, 18 de outubro de 2008

Esperança de Adélia



Exijo a sorte comum das mulheres nos tanques,
das que jamais verão seu nome impresso
e no entanto sustentam os pilares do mundo
(...) Uma tal esperança imploro a Deus



Porque Adélia sempre me chama para um café sentado no banquinho da cozinha, bem assim como em seus textos. Tudo é tão cheio de odores que leio e me estimulo no paladar, sentindo o ronco na boca do estômago.

Embora tenha criado o painel acima no ano passado, a homenagem subiu à mente quando sussurrava pra meus ouvidos contos e preces de esperança. Daqui a pouco vamos adiantar os relógios. "Day light", o nosso horário de verão inicia em plena primavera! Hoje!

Da casa, do que é certo e da palavra aberta


A casa abre as janelas, mas não há vento. A cortina não sorri e a vontade é urgenciar a dança das venezianas. Pelos corredores, uma composição de palavras abertas, que nem afeto. Fatos novos pra caber neles, salpicar-lhes pelas paredes só pra abraçar o tempo; torná-lo mais nosso, bem mais perto, o que é certo. De qualquer modo, o nosso modo de ser inteiro, um verbo pra crescer pra dentro, frutificar pra fora, alcançar o teto, tocar naquela estrela, piscar lá do alto pro mundo, iluminar a paisagem e cantar pelos detalhes. Quem pode dizer que não é certo o que é certo? Quem sabe melhor a minha verdade, mostrando outro modo, que não é nosso, mas dizem que é certo? Quem planta ou quem colhe, quem tem mais valor? O que tem por perto, o que ao longe tem ou o que nunca teve? Quanta tolice! Que palavra é essa, que não é aberta, tampouco certa para além de mim? A vida inteira é toda a vida, mas pra qualquer um, individualmente. Quem lança verbo colhe do fruto a ação na vida, e faz do belo o seu trabalho pra não dar trabalho a mais ninguém. Há teto, paredes e muitas cores dos anos de construção. Há margaridas espalhadas, muitos cheiros e um pé direito alto. Obra de artista, um detalhismo com toda a acentuação. Móveis novíssimos, madeira de lei intacta, épocas de exposição. Observo a casa por um espelho de dentro dos olhos. Quantos verbos: sorrir, sonhar, plantar, colher, cantar, casar, brincar, abraçar, acertar, tocar, piscar, frutificar até o teto. E o que eu queria nessa visita bastava-me um gole com gosto de palavra aberta, daquelas que nem afeto.

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Dos beija-flores



Há algumas palavras que caíram em desuso por várias questões. Bem sei que a língua é viva. O “vossa mercê” acabou por se tornar simplesmente “você” (no coloquial, para alguns, diz-se apenas “cê”; outros há, na virtualidade dos Messengers da vida que teclam simplesmente “vc”). Mas não é disso que me refiro. Falo de palavras que se vestem de significados sem qualquer paridade com o habitues. Assim como a língua e os costumes, os ofícios também se aprimoram, se modernizam e, dependendo da “necessidade”, mantêm-se ou desaparecem por completo. Antigamente havia profissões que atualmente quase desapareceram. Poucos saberiam dizer o que um “lambe-lambe” fazia no meio das praças. Hoje em dia, porém, há profissões que poucos sabem realmente pra que servem. Se seu filho dissesse que quer ser “trendspotter” um dia ou, quem sabe, vir a se tornar um “booker”, você o incentivaria? Seria preciso, incialmente, admitir que seu filho tem boa ambição. Em seguida, entender que a primeira profissão se refere a alguém que investiga idéias que tendem a ser impactantes e que possam virar produtos, bens ou conceitos. A outra – “booker” – tem a ver com o caçador de talentos para agências, mas que, em alguns casos, tem o papel de conseguir trabalho para os(as) modelos.

Pelo meu desejo de Justiça proeminente desde a época em que brigava no colégio (sim, queridos, cansei de brigar em colégio. Até o ensino médio, quando já sé é bem grandinho, envolvi-me em brigas no pátio da escola), não quis outra coisa a não ser a carreira jurídica. Mas quem me conhece de perto sabe que meu amor pelas letras e pela filosofia são indiscutíveis! Em meio a tudo isso, o que me vem à mente é saber que nunca deixei de exercer um ofício que independia de mim propriamente (falo de habilidade), mas que me tomou durante os períodos de explosão de “metanóia” (que é a forma de repensar a vida com inspirações e aspirações mais elevadas, por meio da fé): o “munus” profético.


“Temos muitos profetas (...). São semeadores da Mensagem, denunciadores da injustiça, da indiferença e do desamor nas relações humanas”

Vendo o que se vê em relação aos descaminhos do curso deste mundo, tanto em relação ao homem (egocentrismo, hedonismo e individualismo crescentes) quanto em relação à Natureza (desordem influenciada pelos maus tratos nossos em relação ao planeta e seus recursos naturais), sem deixar de considerar as setas inflamadas lançadas por aqueles que deveriam falar de amor – o segmento da religião – mas que perverteram a Mensagem, adequando-a à cultura e moral próprias, as quais mudam conforme os tempos e as épocas, não há como alguém, consciente de seu papel como agente do Bem, esquivar-se da atuação direta como profeta nessa geração. Assim me sinto desde há muito tempo. O profeta não apenas fala, denuncia também. Não apenas emite uma opinião, mas age determinado pelo Amor em profunda coesão com o que chamaria de “espírito da Mensagem” (ou “espírito da Palavra” para alguns que me lêem, entendendo do que falo realmente).

E o que seria a tal Mensagem? Deus é amor no céu dentro de nós, e todo o que ama O conhece, ainda que diga sequer crer em sua existência. E o que é o Amor? É o que dentro dele cabem a vida, a fé e toda esperança, sendo maior que todas essas coisas. Como disse há muito tempo atrás um profeta chamado Paulo, dirigindo-se aos cidadãos de Roma: “Nem a morte, nem a vida, nem poderes, nem a altura, nem a profundidade, nem absolutamente qualquer criatura poderá nos separar do Amor de Deus”. Por isso mesmo, o Amor jamais acaba. Temos muitos profetas ao redor do planeta. São semeadores da Mensagem, denunciadores da injustiça, da indiferença e do desamor nas relações humanas.

Poderia citar muitos nomes, desde Chico Mendes e irmã Dorothy Stang, assassinados no palco da Floresta Amazônica, ou, quem sabe, o jovem missionário Edgard Gonçalves Brito, assassinado por falar de paz em Dili (Timor Leste), até aos que ainda vivem profetizando o Amor, como a ex-ministra do meio-ambiente, Marina Silva, Desmond Tutu, na África do Sul, Gene Robinson, em Nova Hampshire, Martti Ahtisaari, que recebeu neste ano o prêmio Nobel da Paz, cada um dentro de seu “mundo particular”, seja a Floresta Amazônica, a África, a América do Norte ou na mediação pela paz nos conflitos mundiais. Com eles, uma multidão profética formada pelos Josés, Franciscos, Marias, Severinas, entre muitos outros “beija-flores nas florestas em chamas”, cada um deles, talvez, anônimos apenas pra gente; no entanto, tal como ocorre com as estrelas no firmamento, são reconhecidos pelo Todo-amor com a singularidade que lhes é própria.


"Há sempre um preço a pagar"



Você pode ler tudo isso e dizer pra si: “profetas? Que caretice!” A esposa de Chico Mendes pediu diversas vezes pra que o marido esquecesse aquela Floresta e levasse a família pra longe dali. A família Stang não fez diferente, querendo a irmã religiosa de volta à sua terra natal quando surgiram as primeiras ameaças. Gene Robinson, o primeiro bispo assumidamente gay, no dia de sua investidura no comando da diocese de Nova Hampshire, estava com colete à prova de bala por debaixo do toga e da estola, e tudo isso porque a Ala conservadora da Igreja Anglicana o ameaçou de morte caso comparecesse na cerimônia de sagração episcopal. Há muitas outras histórias de beija-flores profetas pelo mundo afora. Há sempre um preço a pagar. A História não tem mostrado que sempre foi assim?


Nota: na imagem principal, “Beija-flor”, de Ian Cota.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Uma lição no dia do mestre



Amanheci com fome de palavras, que só veio a aumentar depois da reflexão que fiz sobre a dinâmica moderna dos relacionamentos. Às vezes acordo com vontade de fazer xixi e de parir palavras; na maioria das vezes, apenas fazer xixi. Hoje foi diferente. Quis os dois.

A vida é um “enter” de muitas coisas – nem sempre boas – que entram rápido demais nos costumes da gente. Por outro lado, infelizmente, a vida e suas novas dinâmicas não deixa de ser um “delete” pra qualquer coisa. Pior, pra qualquer pessoa! Há gente que trata o ser humano como “qualquer coisa” que mereça um “delete” quando preciso for. Trazendo tudo isso para os relacionamentos não é diferente. Também! Não, não posso me assustar.

“Os homens trocam de canais uns com os outros na mesma agilidade – e isto sem terem construído qualquer vínculo!”

O que não posso é concordar. Quando falo de relacionamentos me refiro a qualquer um que tenha o ser humano como agente do que chamaria ‘construção’. Somos todos construtores de relacionamentos: pais e filhos, amigos e irmãos, amantes (no sentido perdido e caído em desuso do que significa), colegas, confrades, vizinhos, etc.

Na vida com suas novas dinâmicas, onde o que prevalece é “o mais” (forte, belo, poderoso, influente, “pegador”, blá-blá-blá), “enter” e “delete” são botões indispensáveis, os quais se usam várias vezes e cada vez em menos tempo. Estou ficando velho demais, por vezes penso. Sinto falta de vínculos e afetos diante da enxurrada de meras companhias que o mundo apresenta. Sim, vivo dias em que o ser humano prefere as companhias aos vínculos. Deve ser mais fácil, não exige trabalho. É, não é apenas o controle remoto e seus botõezinhos que vieram “facilitar” a agilidade com que trocamos de canal. A vida contemporânea tem estimulado o ser humano ao mesmo comportamento entre si! Os homens trocam de canais uns com os outros na mesma agilidade – e isto sem terem construído qualquer vínculo! Quando muito, trata-se meramente de boa companhia. Casais se formam motivados pela companhia que um representa ao outro, mas, passada a surpresa inicial de se saber com quem “está”, resta o “delete”. “Sinto muito, querida, você não é tão dinâmica quanto pensava. Gosto é de mulheres que tenham papo agradável, sejam divertidas, curtam baladas, gostem do visu “super style”, trabalhem, dirijam e estejam sempre sorridentes no dia a dia”. “Não, mil perdões, mas não dá mais, querido. Quando a gente se conheceu pensava outra coisa a seu respeito. Na convivência fui ver que você não é tão positivo (?!), tão flexível e perfeito. Você fala muito de seus problemas, tá sempre cansado, muito diferente daquele cara que conheci no MSN e que me fez perder a cabeça...”. Meras companhias. Corpitchos, como canta Maria Rita no álbum “Samba Meu”. Não há mais tempo para vínculos.

“Seres humanos são como casas (...). A questão não é saber se tem ou não alicerce, mas se este é sólido ou não”

Agora é tempo de “delete” se o “enter” não for mais como “mostrava” no papo do MSN, na troca de scraps do orkut e do Myspace, nos diálogos em viva-voz pelo “Skype”. O carinha e a gatinha dos altos papos na mesinha do bar, da rave, da “pool party” e o caramba a quatro, de repente, como num passe de mágica, é o sapo no conto de “A Bela Adormecida”: ele ou ela roncam demais, não curte muito ficar em casa (ou não curte muito trabalho), só pensa naquilo (desde que aquilo não seja o que constitui investimento nos vínculos, mas qualquer coisa de agrado de um e mero esforço repetitivo para não desagradar por parte de outro), é todo(a) endividado(a) pela irresponsabilidade que lhe constitui o ser, curte putarias “oficiais” (chamando seu par para participar) e “extraoficiais” (quando o par não precisa ficar sabendo, em geral, quando viajam ou estão trabalhando), é um desastre nos seus vínculos parentais e familiares, um poço de preguiça, de individualidade latente ou de futilidade gritantes. Tudo isso, porém, com a maestria de não formar vínculos.

Seres humanos são como casas, aprendo neste dia do mestre com as lições do Mestre Jesus. A questão não é saber se tem ou não alicerce, mas se este é sólido ou não. Vai depender do que cada um está à procura. Pra uns, “corpitchos” e sorrisos. Pra outros, a mera companhia de alguém pra morar junto.

De resto, altos papos de barzinhos são apenas altos papos de barzinhos. Ótimo para aliviar o estresse do dia fatigante. Diferentemente, uma casa leva tempo pra edificar, gasta-se em investimento e preocupação com o material utilizado. O que não se pode esquecer é que o local sobre o qual será edificada (rocha ou areia?) é sobremodo importante. A dinâmica da vida moderna tem subestimado a prudência como valor no ser. Na leitura do Evangelho de São Lucas, Jesus convida à reflexão, comparando o prudente e o investidor do bem “a um homem que, edificando uma casa, cavou, abriu profunda vala e lançou o alicerce sobre a rocha; e, vindo a enchente, arrojou-se o rio contra aquela casa e não a pôde abalar, por ter sido bem construída”.

Esta é uma lição para quem não abre mão de vínculos, o que é muito diferente de investir em meras companhias. Na vida, não importa a dinâmica, todos somos alunos-aprendizes. Fica aqui minha homenagem ao Dia dos Mestres.



P.S.: Parabéns a todos os mestres que conheço, alguns dos quais como escolha profissional: Caio, Marcinho Retamero, Paulinho, Chico, Eulen, Mazinha, Madrezita, Ophelinha, Neidinha, Inho-inho, Iraydes, Leozito, Lea e Luiza, Katinha Moreno, Marcinha, além de muitos outros, tanto os de casa quanto os de qualquer casa!

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Acerca do olhar-sentir


“Você pode ver o mundo com um olhar de luz em razão do amor; o mundo, porém, será moldado pela soma dos olhares prevalentes. Apesar disso, o seu mundo pode ser outro dentro de você. E se a maioria tivesse um mundo interior governado pelo olhar do amor como você, então, a realidade toda se faria moldar conforme a prevalência dos olhares do amor.

O mundo é feito de olhares, os quais são também pensamentos. Pensamentos fazem a ponte entre o olhar e a construção do olhar como algo transmissível como impressão da realidade.

O olhar é olhar mesmo no cego. Esse olhar é espírito. Esse olhar é inevitável. Esse olhar é o ser e sua manifestação como intérprete da vida e legislador de pensamentos que se tornarão em atitudes que se expressarão como atos e ações.

Não existe mudança da realidade sem mudança do olhar humano. Por isso não adianta converter um homem de uma religião para outra e de um deus para outro, se seu olhar essencial não for alterado pelo olhar de amor e fé.”

Caio Fábio, in “O OLHAR HUMANO ESTÁ ACABANDO COM O MUNDO — um caso de mal olhar coletivo!”

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Meu ontem no dia das crianças


A semana finalmente sorriu com brilho de sol! Ontem, domingão, após abraçar carinhosamente a amiga de magistério (época boa em que dava aulas!) num culto em ação de graças por sua recuperação (saúde restabelecida, graças a Deus), rever queridos aos quais não via há alguns aninhos, decidi que deveria sentir o azul do mar com os odores de sal que a Baía de Guanabara elimina nas quebras das ondas. Da calçada do Copacabana Palace já sentia o perfume do mar, foi o que comentei com um amigo e com o filhinho dele, de dois aninhos (no meu colo), que resolveram me acompanhar. Andar com criança é sempre uma festa pra mim. A areia da praia foi um picadeiro, estejam certos. Passeei pelo Leme até Copacabana. Desisti de chegar à Ipanema, pois uma multidão me impedia. Um milhão e meio de pessoas, muitas das quais colhendo assinaturas em favor da aprovação no congresso do PLC 122/2006 pela criminalização da homofobia. No metrô, ao retornar pra casa, brincando distraidamente com as duas crianças no banco à minha frente, esbocei um furtivo diálogo com a linda jovem que, sentada ao meu lado, era só sorrisos para as crianças. Quem me conhece sabe que estabeleço relações com anônimos em qualquer lugar, principalmente nas viagens e em supermercados. Ao meu lado, porém, não se tratava de alguém anônimo. Ambos – ela e eu – consultávamos o pensamento pra identificar de onde nos conhecíamos. O pensamento latejava palavras tentando colher resposta – “de onde é que eu a...”. Foi quando, numa e outra brincadeira com as crianças à frente, sorri e disse: você parece demais com alguém que não vejo há muito tempo! Ela, disputando sorrisos com os olhos, me confessa: “- Sabe que eu também tô com a impressão que te conheço, mas não sei de onde...?”. Prossigo, quase certo de quem se tratava: nossa, como você é parecida com uma amiga que conheci num evento, o nome dela é Patrícia. Ao que ela, olhiaberta (embora boquiaberta também!), confessa: “- Meu nome é Patrícia!”. Então, é você mesma! Nos vimos pela última vez no Fórum de Educadores lá na Casa de Banhos de Dom João VI (a residência de veraneio do imperador, atualmente, Museu da Limpeza Urbana da Prefeitura do Rio). “- É verdade! Jurava que te conhecia, mas sem saber de onde!”, completou. Dali em diante, abraços, beijos e diálogos repletos de frases com boas recordações. Anotei o endereço do blog e ofereci-lhe com a promessa de que aquele encontro renderia um post. Promessa é dívida. Meu final de noite ainda me surpreenderia com mais criança para um dia tão especial quanto o das crianças: meu sobrinho, de três aninhos, e minha irmã estavam lá em casa num convite para jantar feito por minha mãe. Mais brincadeiras e mais colo, levei-os até o portão. Despedimo-nos. O dia das crianças havia cumprido seu papel em mim...

Notas de rodapé:


Pá ti, Patrícia: é a imagem que guardei quando te cliquei no evento há quase dois anos atrás, lá na Casa de Banhos de Dom João VI. Homenagem pelo reencontro! Saudades dos amigos!

Quem pode, pode: aproveite a viagem e os dias em Brasília, Madrezita. Não esqueça daquele roteirinho que sugeri. Déia vai gostar de te conhecer.

Inho-inho: você (**) faz falta, arretado! Apareça!

Declaração dos Direitos das Crianças


1. Todas as crianças são iguais e têm os mesmos direitos, não importa a sua cor, raça, sexo, religião, origem social ou nacionalidade.

2. Toda criança deve ser protegida pela família, pela sociedade e pelo Estado, para que possa se desenvolver física e intelectualmente.

3. Toda criança tem direito a um nome e a uma nacionalidade.

4. Toda criança tem direito à alimentação e a atendimento médico antes e depois do seu nascimento. Esse direito também se aplica à mãe.

5. As crianças portadoras de dificuldades especiais, físicas ou mentais, têm direito à educação e a cuidados especiais.

6. Toda criança tem direito ao amor e à compreensão dos pais e da sociedade.

7. Toda criança tem direito à educação gratuita e ao lazer.

8. Toda criança tem direito de ser socorrida em primeiro lugar em caso de acidentes ou catástrofes.

9. Toda criança deve ser protegida contra o abandono e a exploração no trabalho.

10. Toda criança tem direito de crescer em ambiente de solidariedade, compreensão, amizade e justiça entre os povos.


Notas de rodapé:

É todo dia: ontem, infelizmente, não consegui tempo pra vir aqui e postar o texto para o dia das crianças. Mas, como se trata de uma declaração cujos princípios foram estabelecidos pela ONU (Organização das Nações Unidas) para o ano todo (por toda a vida), o “hoje” é certamente o melhor momento pra guardar o que é importante.

Favela do Arará:
a imagem com créditos para Ratão Diniz retrata uma das brincadeiras que fizeram parte de meu ritual lúdico na pré-adolescência, o peão. Saudades dos idos nos quais bola de gude, pique-esconde, pelada no Largo da Caixa d'água (e depois no campo de areia da extinta Fábrica Mavilles), pescar no varal dos pescadores, furtar amêndoas no telhado de dona Palmira (e correr quebrando as telhas quando ela nos flagrava!), furtar tamarindos dos pés do "seu Flor" e tomates deliciosos da plantação da família Bottas, fabricar carrinho de rolimã, jogar futebol de botão e fazer campeonato de vôlei de rua no bairro era o sentir-existir de um paraíso que ocorria aqui na Terra. O Arará dista mais ou menos meia hora de minha casa. É lógico que eu, andarilho pelas histórias das comunidades do Rio, tendo nascido numa, conheço muita gente boa por lá.

Morro dos Irmãos: é a imagem captada e compartilhada de um domingo tipicamente carioca pelas comunidades do Rio. A pelada carrega um "isso" de liberdade, uma semente embrionária para o que muitos desconhecem na democracia.

sábado, 11 de outubro de 2008

Cartólico, orgulhosamente!


Hoje, Angenor de Oliveira, nosso “Cartola”, completaria cem anos de vida.

Ao longo de seus 72 anos de vida, Cartola compôs, sozinho ou em parcerias, cerca de quinhentas canções. Seus principais parceiros: Elton Medeiros, Carlos Cachaça, Noel Rosa e Dalmo Castello. Até hoje essas músicas são regravadas por vários intérpretes, tamanha é a grandeza de seus versos e melodias. "O Sol Nascerá" (uma composição do início dos anos 60), por exemplo, já teve mais de seiscentas regravações até o momento. Entre algumas antológicas gravações das músicas de Cartola estão "Alvorada no Morro" (de Cartola, Carlos Cachaça e Hermínio Bello de Carvalho) na voz de Carlos Cachaça; "Garças Pardas" (parceria dos anos trinta de Cartola e Zé da Zilda), na voz de Clementina de Jesus; "Soldado do Amor" (de Cartola e Nuno Veloso) com Maria Creuza, e "Não Posso Viver Sem Ela" (de Cartola e Bide), com Paulinho da Viola.


Carioca do Catete, mudou-se com os pais para o Morro da Mangueira aos onze anos. Desde criança trabalhou como pintor de paredes, lavador de carros e pedreiro. Vaidoso, ganhou o apelido de Cartola quando passou a usar um chapéu coco para não sujar os cabelos de cimento.

Freqüentava as rodas de samba do morro da Mangueira e estudou somente até a quarta série do ensino fundamental, o que não o impediu de compor melodias inesquecíveis e poesias inspiradas.
Cartola foi um dos fundadores da escola de samba Estação Primeira de Mangueira, em 1928, e responsável pela escolha das cores verde e rosa como símbolo da escola. Farelos não poderia deixar de homenagear aos cartólicos do Brasil com a lembrança do centenário do Mestre Cartola. [Leia +]


Apontamentos com as roupas de sábado


A semana tá quase chegando ao fim. O sábado traz um solzinho típico de primavera do sudeste. Ainda tímido, talvez, chame a chuva pra companhia na parte da tarde. Cliente liga. Nem no sábado [alguns] são capazes de me entender. Tentei explicar que os reajustes de aposentadoria e do salário mínimo se dão por índices e variações diferenciadas, o que explica a defasagem. Corri até a janela. O sol é sempre uma estrela de primeira grandeza. Põe cores e calores na palheta do Planeta. Saí até a varanda pra abraçá-lo. Olhei as horas e acreditei que ainda sobra tempo pra qualquer coisa. Sempre sobre tempo quando se é amigo do tempo. Dormir cedo pra acordar mais cedo tem me ajudado no planejamento do dia. Tanto que teimei em acreditar, não é que é verdade? Preciso sair às compras na floricultura. Uma amiga de longa data ama margaridas.
Quero presenteá-la com algumas quando estiver no culto em ação de graças que fará por ocasião da recuperação no seu estado de saúde. Amanhã é dia de alguns acontecimentos aqui no Rio. Pra quem curte, a XII Meia Maratona Internacional do Rio de Janeiro 2008 terá largada nesta manhã (de 12/10) pelo belíssimo corredor das Praias do Leblon e Ipanema até o Aterro do Flamengo. À tarde, igualmente, pra quem curte, a 13ª Parada LGBT do Rio pela Avenida Atlântica e, certamente, uma multidão não menos numerosa que a da maratona do Rio. Esqueçamos o domingo. O hoje ainda está vestido com as roupas de sábado. Os minutos pela frente hão de me direcionar às próximas atividades. Espero que o sol possa ajudar no brilho do restante do dia. Se assim o fizer, certamente, o convite que me fiz será uma grande dica para relaxamento: caminhar até o Arpoador. Abandonar as sandálias – o traje tipicamente carioca para qualquer lugar! – e refrescar o pensamento nas espumas das ondas.


sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Desfoque em pensamento



“Um defeito no vidro, e o pardal é uma águia no telhado”

(Jules Renard)

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

A Grande Confissão (ficção)


Compartilho uma palhinha de um rabisco que fiz recentemente. Larguei-o de lado, mas, talvez por conta de umas leituras que tenha feito na noite anterior, resolvi mostrar-lhes. Trata-se de uma obra de ficção. Como não tinha o que postar, o rabisco pareceu-me pertinente depois de ter lido um psicanalista famoso falando de "escolhas" e o que, segundo ele, "não" pode ser bênção, mas "apenas fato" em alguns seres humanos. De fato, foi propositalmente pertinente. É dedicado – e por que não seria, não é mesmo? – a todos os que, segundo o tal psicanalista cristão, formam o “padrão da constituição prevalente entre os humanos”:

O Julgamento do filho do Vento

O Grande Tribunal se reuniu perante àqueles que detinham o poder. Naqueles idos, “poder” era o que se obtinha através do conhecimento. E este, por sua vez, somente alguns poucos detinham. Critérios não importavam. Tudo deveria seguir a Ordem Mundial, por meio de suas muitas “interpretações resolutivas do Comando Local”. Obedecia-se por amor. E amor também era algo questionável de acordo com outros tantos entendimentos dos Líderes Superiores do Bem. Os rebeldes, considerados todos os que se recusavam à obediência a Deus, o Líder Supremo da Grande Ordem Mundial, recebiam “uma segunda chance” ao arrependimento. Bem, quase todos. Esta “segunda chance” vinha dos Justíssimos integrantes do Grande Tribunal, pessoas de alto valor pela performática humildade e rendição absoluta ao Reino da Grande Ordem Mundial. Pra mim, no entanto, não passavam de bandidos travestidos com a aparência do bem o qual nunca jamais conheceram. Não é necessário que alguém compreenda que, ao pensar assim, eu era considerado um daqueles “rebeldes” ao Sistema. De fato, o sou! Mas esta não é minha confissão. Ela se deu numa oportunidade única, a que sabia ser o momento propício para denunciar com intrepidez a loucura daqueles ensinos meritocráticos, cheios de desafeto e toda sorte de impiedade disfarçada de “bondade”.

Na Sala Branca de Julgamento, sentado diante de meus algozes, pus-me de pé na hora devida e, contrariando todas as Normas Superiores da Grande Ordem Mundial, esbravejei com ímpeto diante daqueles detentores do “poder”, dizendo-lhes: - Confesso! Confesso diante dos Senhores e de quem seja preciso que minha máxima culpa é ter vindo a este mundo tido duas vezes mundo, não apenas por ser o útero que me habita como também por ser o inferno que me condena diferente dos demais. Sim, confesso que sou diferente porque escolhi ter nascido negro quando deveria ter aceitado o Ensino de Sabedoria de que a cor padrão para todos é a mais alva que possa existir! Sim, confesso que sou diferente porque escolhi ter nascido canhoto quando deveria ter observado às multidões desde pequeno, pois elas é que sabem que a destra é a Mão de Justiça, a Destra de Companheirismo e o sinal de que a Verdade habita em meu braço forte! Confesso aos Senhores e aos Líderes Supremos desta Grande Ordem que deveria ter aprendido a me comportar como os demais, a não me permitir dar margem ao desejo puramente carnal e abominável para envergonhar a Santíssima Escritura e os Mui Honoráveis Ditos da Tradição de nossos Pais, desonrando os ensinos, a Tradição e a Sacratíssima Lei de Deus que me interpelou várias e várias vezes para que não aceitasse a escolha de ter nascido diferente dos demais, pois deveria ter optado pelo que rege o capítulo 1º da Grande Lei para a Humanidade Sadia, quando assevera que “Deus criou o Homem e a Mulher para que vivam em união sagrada, multiplicando-se em muitos rebentos benditos a fim de viverem a plenitude do que a Grande Ordem Mundial determinou para que vivam bem e em abundância para todo o sempre”. Confesso que não consegui escolher o caminho certo porque sou mal, meus instintos são perversos e não posso ser considerado padrão para ninguém, sendo, portanto uma maldição. Benditos sejam os vossos filhos porque souberam escolher a Obediência como sinal de Graça. Eu sou um terrível desafeiçoado, pois não quero seguir a nenhuma das Normas Supremas da Grande e Venerável Ordem Mundial! Confesso que poderia ter aceitado os inúmeros convites para “reversão” e “adequação ao Sistema”, mas preferi cuspir no inigualável e para sempre bendito Dom de Deus! Eu confesso que escolhi a Morte Eterna e os sofrimentos desde a tenra idade como meu destino, não havendo nada nem ninguém, sequer este miserável Deus que todos obedecem “por amor”, que possa mudar o meu entendimento porquanto eu escolhi deliberadamente permanecer assim: negro, canhoto e diferente do Padrão da Criação! Sou inimigo confesso do Sistema e contrário à Lei de Amor da Grande Ordem Mundial! Eu escolhi! Eu escolhi! Eu escolhi, cães malditos que falam de amor sem jamais terem conhecido!

Pulando sobre a cancela de madeira que me enclausurava no Banco dos Rebeldes, corri para a Mesa Branca do Grande Tribunal onde se encontravam meus ‘Justíssimos Algozes’. Vários Obreiros do Amor – seres enormes e em cujo rosto não se via um rosto, mas um espelho – vieram em minha direção com armas em punho, vociferando que parasse imediatamente. Parei como uma daquelas estátuas vivas. Observei lentamente cada um dos que me condenavam. Sem movimentos bruscos, movi meu corpo para trás e procurei quem fosse justo naquela multidão de presentes ao meu julgamento. Homens, mulheres, velhos e crianças. Estavam todos lá. Reparei que uns meneavam as cabeças em reprovação ao meu comportamento abominável; outros, cheios de ódio, movimentavam seus lábios dizendo palavras que não conhecia. Eu só conheço a Língua dos Ventos (a que ninguém sabe de onde veio nem para onde vai, exceto os que são nascidos do Vento, como eu). Vi uns seres monstruosamente pequenos, bem menores que os menores que já vi, escondidos na multidão, covardemente chorando enquanto me olhavam com suas auto-projeções. Eram negros e canhotos disfarçados de brancos e destros, diferentes como eu, porém, maquiados para aquiescerem ao Sistema. Lentamente fui erguendo meus braços, tão lentamente que nem sequer me preocupei com os muitos gritos para que permanecesse parado, sob pena de ser executado ali mesmo diante de todos. Olhei para o alto e vi a clarabóia, formada por caixilhos de vidros nas cores celestiais, se abrindo como um descortinar de pétalas.


De repente, todos, como uma coreografia ensaiada que não existiu, olharam para o alto e viram um redemoinho formado pelo Vento soltando um raminho de oliveira, que caiu sobre minha cabeça. Peguei-o e o ergui lentamente até meu rosto, tentando segurar as lágrimas, que me desobedeciam naquele instante. Minhas feições nitidamente mudaram. Esmaguei o raminho entre meus dedos, vendo um estranho sumo sangüíneo com diversas cores escorrer pelo meu antebraço. Eram de todas as cores, nenhuma delas tida como padrão de nada. Apenas cores. O silêncio sepulcral que se estabeleceu por uns poucos segundos, foi quebrado por mim mesmo. Volvi-me à Mesa Branca do Grande Tribunal e fitei meus olhos em cada um daqueles ‘Justíssimos’ travestidos de ovelhas. E gritei:

- Louvado seja o Deus de vocês, sentado confortavelmente no Trono de Injustiça e que os ama com profundo amor de Pai! Morte a todos como eu, bastardos, negros e canhotos, e que jamais seremos como vocês, alvos como a neve, justíssimos e perfeitos como vosso Pai! Somos o que somos por escolha de pele, de motricidade e de ser! Somos o que vossos Pais sempre disseram pela leitura da Santíssima Escritura: a Linhagem do sêmen de Caim! Somos um fato, vocês sim são bênção! O paraíso é vosso, é para vossas obras, é para o vosso merecimento! Eu confesso que sou apenas um pequeno filho do Vento!

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Relatos de um início de semana


Eleições aconteceram. Sei que voltarão no segundo turno – ao menos por aqui. Surpresas são sempre bem-vindas. A gente se acostuma a elas. Difícil largar. Telefone toca. Precisam de mim no Tribunal Eleitoral. Prometo passar por lá. Palmas cantam lá fora. Duas vizinhas vêm tirar dúvida sobre pensão alimentícia. Como sempre, conversamos mais um pouco. Qualquer assunto vale. Algumas coisas são necessárias. Outras, nem tanto. Diria, apenas conectivas. Que importa? O sol, parece, está sombrio e tímido. Agora, que falei, sumiu de vez. Chuva chega, chegando. Lástima encontrar biscoitinhos de goiabinha quase acabando e muitos cacófatos por aqui. Deixa estar, a palavra pode aguardar o grande encontro consonantal que preciso. Ele virá ou não? Será que ainda sente alguma coisa ou não? Perguntas e respostas gramaticais. Nada a ver com a sintaxe. Duas mensagens no celular, cada uma no seu núcleo significativo. Sorrisos acentuados como quem não quer nada. De repente, tudo muda. A notícia é uma bala: um antigo vizinho faleceu. Ele se foi antes do trema. Pena da letra, tadinha, desolada pela perda dos dois pontinhos. A viúva também perdeu seus pontinhos. Não posso fazer nada. Por ambos. Infelizmente. Tem coisas às quais não me acostumo jamais. O incômodo é uma delas. Ninguém se habitua ao incômodo. Eu, à injustiça. O tempo, à mudança. A vida, ao acaso. A má sorte, ao felizardo. O padrão, à diferença. Eu quero meus dois pontinhos. Sou uma letra, um umbigo, uma co-história, qualquer que seja desde que sejam próprios. Como meu nome do primeiro ao último termo.

O que te desejo hoje


"Te desejo uma fé enorme, em qualquer coisa, não importa o quê. Não como aquela fé que a gente teve um dia, ao acreditar nas ilusões baratas que a vida vendeu pra gente. Aquilo não era fé, era se entregar de cara limpa pra mentira, pra grande podridão que pode ser o mundo. E ainda achar que tá tudo bem, que vai ficar tudo bem. Me deseja também uma coisa bem bonita, capaz de me fazer apagar o que passou e que me dê esperanças, mesmo que sejam pequenas-esperanças, mas nunca mais aquela fé barata. Uma coisa qualquer maravilhosa, que me faça acreditar em tudo de novo, que me convença de que a vida e as pessoas não são essa coisa vazia e triste que parecem ser dia após dia."


Caio Fernando Abreu


terça-feira, 7 de outubro de 2008

VEM


A campanha VEM é uma iniciativa da ONG Grupo Arco-Íris como parte do projeto Prevenção Rio – ação coordenada de prevenção às DST/Aids.

Quem está pronto para aceitar um convite?

Todo mundo já sabe que tem que transar com segurança e responsabilidade. E como não adianta ficar repetindo o que todo mundo já sabe, é preciso buscar novas linguagens para seduzir e conquistar cada vez mais adeptos do sexo seguro.

Pensando nisso, a nova campanha do Grupo Arco-Íris vai além da conscientização. Vai além do apelo ao combate às DST (Doenças Sexualmente Transmissíveis) exaustivamente explorado pelas campanhas oficiais nos últimos anos. É hora de falar de sexo sem ameaçar. É hora de falar de sexo como direito ao prazer, independentemente de idade, preferências ou hábitos.

“Criamos uma campanha cheia de sensualidade, focada na naturalidade do desejo, usando como principal recurso gráfico a diversidade humana. Os personagens das fotos “brincam” com a camisinha e fazem o convite: ‘VEM’, seguida da frase ‘Descubra um novo código de sedução’. Nossa idéia é que as pessoas se entreguem a esse novo tempo.” explica Luiz Carlos Freitas, atual presidente do Grupo Arco-Íris e coordenador do Projeto Prevenção Rio.

Aids no Brasil

No Brasil, já foram notificados cerca de 371 mil casos de Aids. Este número representa as notificações feitas desde a identificação do primeiro caso de Aids, em 1980, até junho de 2005. Do total de casos de Aids, mais de 80% concentram-se nas Regiões Sudeste e Sul.

Os indicadores relacionados ao uso da camisinha mostram que aproximadamente 38% da população sexualmente ativa usou preservativo na última relação sexual, independentemente da parceria. Este número chega a 57% quando se consideram apenas os jovens de 15 a 24 anos. O uso de preservativos na última relação sexual com parceiro eventual foi de 67%.


Fonte: Ministério da Saúde / PN DST/Aids

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