quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Pequena trajetória de um bandido confesso


Eu acreditei tanto. Eu me incompreendi tanto. Eu ousei pôr fé. Queria pôr fogo. Não podia, cri. Não apenas cri, sucumbi. Deram-me veneno. Sobrevivi. Olho-por-olho. Matei o deus que cri. E o sepultei. Não me faz falta. Nem me traz fé. Agora caminho com os próprios pés. Descalço, sei como é. Você não deve estar entendendo nada. Não é pra entender. Não valho um vintém. Confesso, não invento. Mas sei o que é meu também. O caminho é de paz. Minha história é de amor. Encontrei-o numa esquina, na virada do beco. Não o chamei de deus, mas pai. Sem roupagem real. Sem incenso e sem altar. Simples como os pés descalços. É assim que é pra todos. Chamado com muitos nomes. Até de “não existe”. Hoje me compreendo. Desarmado, pra que travar lutas? Questão de fé. Estou fé-liz neste ato concreto. Acho que não mais vivo: me deleto. Caminhei duas léguas. Retirei suor da pedra. Talhei lágrima no concreto. Hoje, descalço, abracei o abismo. Reconstruí o pó. Soprei pelas asas do vento. Inteiro, sem remendos. Que alento! Meu Todo-amor! É pura intimidade. Pra qualquer um na rua, beija-flor. Confesso: não se perde por amar. Todo-amor, deponho as minhas armas!


Eu.

3 comentários:

Serginho Tavares disse...

estar em duas vias pede-se calma
tudo se resolve

beijos

Anônimo disse...

Filhote, lendo esta "Pequena trajetória..." me deu uma vontade louca de escrever um poema lindo do pe. Fábio de Melo, DEUS É PAI, mas ele é muito grande e não cabe aqui.
Vou apenas escrever algumas partes que me fizeram muito bem.
(...)Chegou sem alarde, retirou o chapéu da cabeça e buscou um copo de água no pote de barro que ficava num lugar de sombra constante.
Ele tinha feições de homem feliz, realizado.
(...)Eu o olhava e pensava: Como é bom ter Deus dentro de casa!
Como é bom viver essa hora da vida em que tenho direito de ter um Deus só prá mim.
Cair nos seus braços, bagunçar-lhe os cabelos, ...
(...)Mas aquele homem não era Deus, aquele homem era o meu pai. E foi assim que eu descobri que meu pai com o seu jeito finito de ser Deus revelava-me Deus com seu jeito infinito de ser homem.

Se você quiser, meu filho, eu escrevo ela inteira para você e mando pelo e-mail. É só dizer bem simplificado, rsrs...

Um beijo e que Deus te abençoe.
Su madrezita, que te ama muito.
Anna Maria

Anônimo disse...

Que interessante.
Embarquei na narrativa e adorei o resultado final.
Abraço

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