Eu acreditei tanto. Eu me incompreendi tanto. Eu ousei pôr fé. Queria pôr fogo. Não podia, cri. Não apenas cri, sucumbi. Deram-me veneno. Sobrevivi. Olho-por-olho. Matei o deus que cri. E o sepultei. Não me faz falta. Nem me traz fé. Agora caminho com os próprios pés. Descalço, sei como é. Você não deve estar entendendo nada. Não é pra entender. Não valho um vintém. Confesso, não invento. Mas sei o que é meu também. O caminho é de paz. Minha história é de amor. Encontrei-o numa esquina, na virada do beco. Não o chamei de deus, mas pai. Sem roupagem real. Sem incenso e sem altar. Simples como os pés descalços. É assim que é pra todos. Chamado com muitos nomes. Até de “não existe”. Hoje me compreendo. Desarmado, pra que travar lutas? Questão de fé. Estou fé-liz neste ato concreto. Acho que não mais vivo: me deleto. Caminhei duas léguas. Retirei suor da pedra. Talhei lágrima no concreto. Hoje, descalço, abracei o abismo. Reconstruí o pó. Soprei pelas asas do vento. Inteiro, sem remendos. Que alento! Meu Todo-amor! É pura intimidade. Pra qualquer um na rua, beija-flor. Confesso: não se perde por amar. Todo-amor, deponho as minhas armas!
Eu.
Eu.
3 comentários:
estar em duas vias pede-se calma
tudo se resolve
beijos
Filhote, lendo esta "Pequena trajetória..." me deu uma vontade louca de escrever um poema lindo do pe. Fábio de Melo, DEUS É PAI, mas ele é muito grande e não cabe aqui.
Vou apenas escrever algumas partes que me fizeram muito bem.
(...)Chegou sem alarde, retirou o chapéu da cabeça e buscou um copo de água no pote de barro que ficava num lugar de sombra constante.
Ele tinha feições de homem feliz, realizado.
(...)Eu o olhava e pensava: Como é bom ter Deus dentro de casa!
Como é bom viver essa hora da vida em que tenho direito de ter um Deus só prá mim.
Cair nos seus braços, bagunçar-lhe os cabelos, ...
(...)Mas aquele homem não era Deus, aquele homem era o meu pai. E foi assim que eu descobri que meu pai com o seu jeito finito de ser Deus revelava-me Deus com seu jeito infinito de ser homem.
Se você quiser, meu filho, eu escrevo ela inteira para você e mando pelo e-mail. É só dizer bem simplificado, rsrs...
Um beijo e que Deus te abençoe.
Su madrezita, que te ama muito.
Anna Maria
Que interessante.
Embarquei na narrativa e adorei o resultado final.
Abraço
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