sábado, 5 de junho de 2010

Embalos [da madrugada] de sábado à noite



Noitinha fria pede passagem e assenta-se, fazendo-me companhia. Somos eu e ela próximos. O mar anda meio duvidoso, rugindo seus cantos de ressaca, irrequieto com o barulho dos ventos. A natureza tem dessas coisas, a gente não controla. Aliás, o que a gente controla? A lágrima? A saudade? A perda? A ausência? O tempo? A vida? A morte? O presente? O futuro? O quê?

Não temos controle sobre quase coisa alguma. No máximo, quando queremos, a palavra não sai. O texto não sai. O beijo não sai. E tantas outras coisas também não saem...

As coisas parecem ser passageiras? – alguém pode perguntar. Talvez. Depende do que se espera e por quanto tempo se espera. Depende, portanto, de quem espera, não das coisas em si.

Ontem, comemorando o aniversário de um amigo na Lapa, sucumbi a vários momentos sobre os quais não tenho controle. A princípio, não estava disposto o suficiente. Fazia frio e havia muito cansaço sobre a pele que me veste o corpo. A hora também não me soava interessante, pois qualquer evento que inicie após às 22h já me força o [des]controle com as coisas que costumo controlar. No entanto, fui. Algumas coisas não podemos controlar. O momento seguinte é uma delas. O fato é que acabei encontrando amigos outros que não imaginava, gente com quem não falava – sequer por e-mail, carta, telegrama, nada! – desde meados de 2008! Amigos de perto ficaram felizes com minha presença, pois sabem que não sou das viradas da noite, o que aumentava mais ainda a contagiante alegria pelo ineditismo da ocasião. Entre rostos conhecidos e outros nem tanto, fui apresentado a quem não conhecia. Conversei com todos e todas, essas coisas naturais do convívio social dos seres humanos. Emocionei-me com as cores daquelas alegrias e sobretudo com as músicas cantadas ao vivo. “Como nossos pais” me retirou das mãos os aplausos antes tímidos. Há quem canta e quem interpreta. Vi quem faz os dois verbos se tornarem um só pela conjunção carnal.

Entre sorrisos e palavras, gargalhadas e conselhos dados, alegrei-me com a oportunidade do encontro e com a dádiva da vida sobre quem aniversariava. Quando tudo, enfim, preencheu seu lugar no baú das memórias vividas naquela madrugada, despedi-me sob a intensidade das cores daquelas alegrias. Tudo tinha valido a pena até então. E como tudo concorre para lições que aprendemos no incontrolável das coisas, saí a passos gratos daquele bar. Do lado de fora, o friozinho ainda dava o ar de graça. Mas não estava sozinho com minha própria companhia. Um ventinho na consciência me sussurrava a certeza de que ainda havia um pedacinho de noite pra me consolar sob o edredon...

Já que falei em lições que aprendemos, uma delas é que o fluxo da vida não pode ser controlado. É necessário que não consigamos controlá-lo! E assim é com o que não depende de nós. No meu caso, pra quem não estava muito a fim sequer de sair, o cansaço emudeceu diante da emoção do que não esperava. É bom demais não me sentir deus em momento algum. Meus embalos se afirmam no chão do que me estabelece. No baú das memórias, bom mesmo é a essência da simplicidade nas coisas. Como aprendi com meus pais. Sem pretensão alguma, não é que os ecos da canção de Belchior foram comigo para o edredon?! É, bons ecos! E como me ensinam mesmo depois do amanhecer!...

“É por isso que não quero falar das coisas que aprendi nos discos... quero lhe contar como eu vivi e tudo o que aconteceu comigo. Viver é melhor que sonhar e eu sei que o amor é uma coisa boa, mas também sei que qualquer canto é menor do que a vida de qualquer pessoa...”



quarta-feira, 2 de junho de 2010

Um [novo] verbo: twittar


Confesso que ainda estou aprendendo sobre o tal programa Twitter. Confesso que Orkut e MSN não me seduzem há séculos, tanto que não os tenho. Confesso que fui atraído porque o programa não é de conversação, o que não me agrada, e sim de troca de informações. Confesso que a sede por informações é o que mais me convenceu da utilidade (eu as seleciono por categorias e temas). Confesso que, às vezes, me perco nas ferramentas (apesar de tão simples), mas até que o meu twitter já deu uma melhorada básica. Confesso que os poucos caracteres me exercitam o dom. Confesso que é viciante nos primeiros dias. De uma certa forma, confesso que fico mais ‘antenado’ agora sobre vários assuntos (trânsito na minha cidade, meteorologia, promoções musicais – amo ganhar CDs! –, promoções literárias – adoro ganhar livros! -, shows, exposições e peças em cartaz no momento, cancelamentos de shows, os projetos que estão sendo votados neste instante e até quantos compareceram nas sessões da Câmara e do Senado, as novas leis promulgadas, resultados de jogos, etc). Confesso, por sua vez, que há muita coisa que não vem ao caso (informações sem nexo algum, bobagens, etc). Confesso que é preciso ter discernimento e bom senso pra não perder-se lendo tanta coisa. Não somos máquinas. Somos seres com um tempo apropriado para nosso aprendizado. Por falar nisso, eis uma pérola que captei neste instante das praias twitteiras de um dos autores que mais admiro (suas obras me fazem um bem daqueles!):


“Nós não somos máquinas. Somos seres da natureza (...) .É perigoso introduzir pressa num corpo que tem suas raízes na lentidão da natureza.”

Rubem Alves



Notinhas de rodapé: Já coloquei o link do meu twitter no texto. Acho que vou colocá-lo mais destacado na barrinha ao lado. Ainda decidirei sobre a conveniência ou não. E, como não poderia deixar de ser: um excelente feriado de Corpus Christi a todos!

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