terça-feira, 30 de março de 2010

Palavras recôncavas, versos trôpegos



Jogo as cartas sobre a mesa que me sustenta. Já chega! Por que tão longa espera? Por que as horas passam voando e o dia alcança tantos anos sem trazer a companhia da noite? Quem foi que nos disse que há verdades na verdade? Quem espera sempre alcança! É clichê ou chiclé? À vista do meu mais próximo desejo, com que me presentearei? Trajes finos, meu desenlace com a certeza, o atônito da esperança e todo o valor depositado na simplicidade. Se possível, ainda, um olhar esquivo de quem ainda não sei... Há um emaranhado de divagações aqui dentro do peito. Sou um homem de sorte? Depende do momento. Há tanta sorte controversa no mundo: uns têm tão pouco; outros, tanto têm quanto mais querem ter! E quem me tem, ou, antes, quem supõe que me terá?

Se me tiver, que será de mim?

Basta! Seria o fim do quase-sempre ou do apenas-começo? Não tenho uma resposta imediata. A hora já avança, salta pelas janelas e corre por entre as minhas verdades. Não adianta tentar segurar, se é a hora da verdade não pode ser prisioneira! Da janela, lá se vai, e corre faceira, e escorrega, e cai, e levanta, tal como a certeza do que não vejo. Eu não sei partir. Eu já nem sei permanecer. Não sei ser como as horas. Só sei das minhas verdades que ora vão, ora vêm. Vou abrindo janelas e mais janelas no meu peito. E o que sei é tão pouco, pouco demais numa vida inteira, nesta longa espera...

Se soubesse o tanto e o muito, eu acreditaria em mim?

Chega! Não creio mais em amores perfeitos, acabados, inatingíveis... Não sei mais pregar mentiras pra mim nem pra mais ninguém. Desaprendi algumas tarefas simples, coisas lá de trás dos dias de menino, das tardes adolescentes, das noites adultas... Não faço mais dever de casa. Não tenho ás nas mangas. O que carrego é mais que saudade. É fome de presença, uma palavra desconhecidamente em negrito. Mas não qualquer uma! É a tua que ainda não decifro, por isso nunca chega, nem pode ficar porque não sei se um dia existirá.

Mas se um dia existir, não será um belo aprendizado?

Aquieta-te, palavra intransitiva! O silêncio irrompe o momento. É tudo presságio, mais uma verdade que corre e escapa. As palavras conspiram detalhes que, dizem, não posso saber. Tem certas coisas que o dicionário não interpreta. É preciso conjugar no toque, no cheiro, na pele, esses lances de conjunção verbo-nominal. Não tenho parênteses, sou de família reticente. Reticências à parte, que detalhes me nocautearão? No texto, na vida e na dúvida, que seja pró-réu! Eu me confesso desajeitadamente incerto, trôpego como estas linhas em versos. E quem saberá ao certo? Será um nome não apresentado? Um aviso ou encomenda? O que trará no improviso? Uma palavra recôncava? Um dorso esculpido? Quem sabe, o olhar? O sorriso, talvez?

Eis as cartas! Onde o pronome próprio?


"Posso ser generoso pelo egoísmo.
Posso ser amoroso pela tirania.
Posso ser educado pela vergonha.
Vê só o quanto uma virtude esconde uma maldade”
(Fabrício Carpinejar, em "Acácia ou eucalipto?").

sábado, 27 de março de 2010

Lembro-me como se fosse ontem...

Sua composição poética me fascinava na adolescência. Não que não me fascine mais, mas naquela época tudo tinha um outro sabor. O sentido tão forte envolto nas palavras, seus significados como leituras da nossa alma, o tom que ele emprestava a cada em-TOM-nação, tudo isso me compunha um misto de admiração e perplexidade. Era assim que me sentia ao ser absorvido pelas canções de Renato Russo. Hoje, exatamente hoje, no dia que o teatro e o circo festejam a data em suas comemorações, nosso poeta rock n’ roll completa 50 anos. Sim, diante dele o verbo faz sentido é no presente! Ele completa – e não completaria – cinquentinha porque antes de qualquer coisa não morreu, sequer foi enterrado ou cremado, como queiram os exigentes com suas canções!

Sua mensagem se entrelaça a história de uma geração ao estilo ‘coca-cola’, como ele dizia. Anos oitenta, muita coisa estava em [re]construção. “Diretas Já”, por exemplo, tinha ocorrido há menos de um ano quando nasceu o primeiro álbum da “Legião Urbana”. O cenário social era o de muitos questionamentos. A vontade era a de explodir uma revolução, mas não de armas, e sim de ideologias re-VITAL-izadas. “Que país é este?”, a gente cantava e se perguntava. “Tempo perdido” era mais um dos muitos questionamentos que nos fazíamos. E assim correram os versos de sua poesia pra dentro daqueles anos que me construiram a adolescência...

"Quando o Sol Bater na Janela do Seu Quarto" foi outro exemplo de como me fez bem saber que havia luz naquilo que cantava. Aprendia como um bom pupilo os versos que me ensinavam, aconselhando: “Lembra e vê que o caminho é um só”. Sim, eu me debruçava sobre a letra devorando cada verso com a atenção devotada a uma prece. Chorei ao cantá-la muitas vezes. “Meninos e meninas” me fascinou de cara, pois me surpreendia saber que havia gente neste mundo cantando suavemente seus segredos mais íntimos sem se importar. Ca#&*lho! Sem se importar! Era o que queria pra mim: não me importar.

Mas eu ainda me importava com muita coisa, nem tinha maturidade suficiente pra bancar o preço de nada – ou quase nada. Verdade é que, não poucas vezes, eu me sentia um refém trancado pelo lado de dentro. Não havia em mim naqueles anos um desbravamento épico o suficiente pra realizar o gesto mais simples e mais extraordinário, que era me abrir para a vida. A minha própria, sem intervenções de qualquer natureza. No meu caso, como se não bastassem as corriqueiras no universo adolescente, o fardo da carga religiosa. Mas eu chorei muitas vezes com outras canções, como, aliás, ainda espero chorar ao som de muitas outras. Sou fiel à minha natureza deliciosamente humana. Fiel e feliz, diga-se.

“Hoje eu já sei que sou tudo que preciso ser, não preciso me desculpar e nem te convencer”, era o que diria hoje para aquele jovem iniciante, puro e sonhador que fui.

Na faculdade, em meio aos livros da biblioteca [naquele tempo a internet era artigo de luxo, o jeito era pesquisar nos livros!], arranhava um italiano insosso porém coberto de prazer para meu paladar musical. “Strani Amore” e “La Solitudine” iam e voltavam comigo, dentro do ônibus. Nariz grudado no vidro da janela, olhava absorto o ‘nada’. Em meio ao movimento do ônibus, cantava as canções de “Equilíbrio Distante”. Eu mergulhava no mais profundo dos meus sentimentos. Era delicioso [me] saber que ali naquelas canções eu encontrava mais sentido [pra não dizer Evangelho] sobre a vida do que nas mensagens que ouvia dos púlpitos.

Era um estudante cheio de sonhos quando ele partiu pra eternizar seus ricos versos em nós. Foi cremado no cemitério pertinho de minha casa. Eu não quis me despedir porque acreditava que um profeta jamais morreria. Ele era um dos meus profetas prediletos. Minha devocional neste início de sábado é a lição inspirada no capítulo 13 da primeira carta aos Coríntios, escrita em grego no 1º século, cantada em versos de Renato Russo nos muitos outros séculos à frente:

Ainda que eu falasse a língua dos homens.
E falasse a língua dos anjos,
sem amor eu nada seria.
É só o amor, é só o amor.
Que conhece o que é verdade.
O amor é bom, não quer o mal.
Não sente inveja ou se envaidece.
O amor é o fogo que arde sem se ver.
É ferida que dói e não se sente.
É um contentamento descontente.
É dor que desatina sem doer.
Ainda que eu falasse a língua dos homens.
E falasse a língua dos anjos,
sem amor eu nada seria.
É um não querer mais que bem querer.
É solitário andar por entre a gente.
É um não contentar-se de contente.
É cuidar que se ganha em se perder.
É um estar-se preso por vontade.
É servir a quem vence, o vencedor;
É um ter com quem nos mata a lealdade.
Tão contrário a si é o mesmo amor.
Estou acordado e todos dormem
todos dormem todos dormem.
Agora vejo em parte.
Mas então veremos face a face.
É só o amor, é só o amor.
Que conhece o que é verdade.
Ainda que eu falasse a língua dos homens.
E falasse a língua do anjos,
sem amor eu nada seria
.

Parabéns, Renato, profeta renascido dos versos que me construíram homem, humano, cidadão, poeta, proseador, sonhador e alguém de fé na vida! “Olho pra trás, lembro-me como se fosse ontem. Não tenho mais o tempo que passou, mas tenho muito tempo. Temos todo o tempo do mundo...”.

Não repare nas minhas lágrimas, mas é exatamente nisso que penso-rezo-oro-acredito! Axé, shalom, amém e amém!


Notas de rodapé:

[+] Marcinho Retamero, meu amigo de caminhada, como foi lindo e surpreendente ver [mais uma vez!] que temos a mesma sin-TOM-nia. Sem nos confessarmos nada, escrevemos sobre o mesmo profeta com muitas impressões semelhantes! Seu artigo me emocionou!

[+] Fiquei mais saudosista de ontem pra cá. Sei lá, recordar me dá este sentimento revisitante dos meus baús. Piorou um pouco depois de ter assistido às maravilhosas Nathália Thimberg e Rosamaria Murtinho em "Sopros de Vida", no teatro CCBB.


quinta-feira, 25 de março de 2010

Considerações em meio ao breu


Ficar sem energia elétrica é horrível! Senti na pele de ontem pra hoje. Foram mais de 15 horas sem a tal energia. Que situação horrorosa, sobretudo ao considerar que esta noite fez mais um daquele calorzão tipicamente carioca, ou seja, calor e umidade te banhando de transpiração plena madrugada! Sim, eram duas horas da madrugada e eu... banhado em suor, literalmente... @#%&!

Sei dos meus direitos. Uma questão de obrigação profissional. Aliás, insatisfeito com o fato, já fiz as devidas reclamações. Não apenas isso, já digitei minha petição que será encaminhada nesta tarde ao setor de protocolo da concessionária LIGHT S/A, a responsável por esse transtorno. Não sei no que vai dar, ainda é uma dúvida. Não posso me calar, é o que sei com todas as certezas pelas quais transpiro.

Mas-porém-toda-a-vida-é-possível...

Em meio ao breu, ouvindo música ao celular até altas horas, fiz uma daquelas minhas sutis viagens no mar dos pensamentos. Falta de luz é um problema sério. Horrível, melhor dizendo. Fiquei pensando como deve ser estratosfericamente horrível não ter luz própria. Tem gente que sobrevive assim, vivendo apagada. Pior, às vezes, vivendo na sombra da luz produzida por outros. Sanguessugas de luz. Sanguessugas da luz alheia, eis o que são!

Sanguessugas de luz? Toc toc toc! Sai pra lá!

Viver uma vida assim não é vida, mas sobrevida. Tem gente que passa pela existência sem se dar conta que não viveu. O que mais fez foi apenas não-ser, sobrevivendo às custas das energias dos outros. Eu enxergo alguns desses seres nos “ólatras” da vida, que sugam o que podem nas suas taras existenciais, fazendo do outro [pessoa, vício ou objeto] o sentido em si mesmo. Poderia falar de muitos outros seres [invejosos, gananciosos, maquiavélicos, pérfidos, etc], mas não quero me expressar mais do que deveria. Até mesmo as palavras recuam quando tento propor uma frase a mais. O ‘tema’ não i-LUZ-mina sequer o texto. Digamos, serve apenas de alerta, de mera observação da realidade. Que triste realidade! Fiat lux, diziam os romanos! Haja luz!


Notinhas de rodapé:

[1] Ontem, meus pais completariam 49 anos de casados. Bodas de Heliotrópio (?), acabei descobrindo na net. Papai partiu nos meus braços. Não houve tempo para uma despedida formal. Isso é coisa de Hollywood e de final de novela à la Janete Clair. Foram várias despedidas, muitas nem percebi. Coisas da vida, a gente aprende aos pouquinhos...

[2] Hoje, 25 de março, é exatamente o dia da rua tão famosa lá em Sampa. Alguém saberá o porquê da data?

quarta-feira, 24 de março de 2010

Rapidinhas ao acordar


Ontem, à noite, tinha rabiscado algumas palavras num pedaço de papel. Na verdade, eram idéias que pretendia usar numa crônica que me veio à mente num daqueles estados de catarse inspiradora. Coisa de poucos minutos. Como tenho me conhecido, corri ao primeiro pedaço de papel que vi. De tão pequeno, me desdobrei a rabiscar no verso. Guardei a idéia. Depois, madrugada a dentro, tentei passar a limpo. Comecei a ter outras idéias. Excitado com o vai e vem das sílabas, acabei me lembrando de umas perguntas que me fizeram dia desses qualquer. Desavergonhado, resolvi torná-las públicas. Quando me dei conta, passavam das duas horas! Fui dormir no instante em que o sono deu o ar da graça com convites inexprimíveis. Depois de acordar, blábláblá e verificar os e-mails, titubeei quanto a publicar ou não o post. Sou chato com minhas exigências insofismáveis. Gosto de pujança nas palavras, o que vale dizer, gosto de texto com pretexto, lambusado de contexto. Perguntas e respostas são pra formulários, divaguei. Por que não variar? - continuei divagando. Depois, acabei me rendendo a outras necessidades. Concluí que é preciso se beliscar de vez em quando tanto quanto é preciso se permitir a variações pra se saber existindo. Não sou fôrma-tado. Sou untado, é diferente. Untado de muitas vontades próprias. Noves fora, o estilo bate-bola acaba fugindo um pouco do trivial, mas tem muito açúcar-de-mim num cafezinho de perguntas-e-respostas desses...

Acredita em Deus?
Eu acredito no amor, serve?

Céu e inferno...
O primeiro: amar e ser amado. O segundo: não amar, que triste escolha!

Morte ou miséria, o que temer?
Nem um nem outro. A solidão.

Homens ou mulheres?
Pessoas, não importando o sexo que carregam, a cor que lhes veste a pele, o sotaque que lhes alimenta a fala, nada disso.

Amante à moda antiga?
- Desculpe, em que anos estamos?
- 2010.
- Ah, bom...

[Insistindo] Do tipo que ainda manda flores e paga a conta?
Um, quero que me façam; outro, acho respeitoso. Só não digo qual é qual!

Ménage à trois?
Minha vitamina da banana, maçã e beterraba.

Um grande amor...
A gente nunca esquece!

Você esqueceu?
Ainda não encontrei. Ainda, grife isto!

A maior violência...
Se é vil, não é maior nem menor. É. Por isso, vil mesmo é não-ser.

Hoje é o melhor dia pra...
Recomeçar.

Uma burrada?
O ignorar-se. A ignorância.

Virtude?
Nenhuma, sou humano. Isso se auto-explica.

Uma verdade?
Quem sou.

Mais outra verdade?
O amor.

É possível ser feliz?
Pergunte-se a si mesmo!

Nunca faria...
O que não aprovasse.

Existe fim?
Muitos, depende do recomeço.

segunda-feira, 22 de março de 2010

Soltando grãos de pensamentos

O verão nos deixou como necessidade. Era preciso partir pra que o outono desabrochasse. Com a despedida silenciosa do verão, foram-se os dias mais quentes dos últimos anos. Foram-se litros de transpiração por todos os poros da pele desde o primeiro dia de sua chegada. Foi-se para o baú das memórias. No final do ano, depois de abrilhantar muitas peles com seu bronzeado, é certo que voltará. A certeza do retorno é precisa nas dinâmicas do jogo da vida. Não estou falando do inesperado, menos ainda do que nos foge às certezas [sim, porque há muito mais incertezas debaixo do céu que as ditas certezas]. Ao menos neste caso a gente sabe que o verão há de voltar. Eis uma certeza daquelas certeiras, coisa rara. A realidade de que foi ninguém duvida.

Não falarei sobre o outono, até porque gosto dos ares da estação. Só fico cauteloso quanto aos elogios porque a previsão – feita por quem diz que entende – é a de que este outono nasça esculpido pela forte sensação de calor. Mais que suposições do momento, os pensamentos insistem que sejam elocubrações meteorológicas. Nada muito certo, coisas das nossas incertezas mais sutis. Segredos irônicos da natureza. Deixemos isso de lado.

Minha mais absoluta certeza é a de que o verão nos deixou. Gosto de pensar ‘o deixar’, não de deixar propriamente. Costumo deixar pensamentos na janela da minha varanda. Não deixo propositalmente, quando me dou conta foi lá que permaneceram. Tem dias que os quero de volta de súbito. Não consigo. Gosto de me deixar à vontade quando preciso. Confesso que não gosto de deixar certas manias. Exemplo disso é que durmo tarde, uma mania que ma fascina porque o silêncio da noite me inspira. O pior é acordar cedo ciente que a noite não me deixou dormir o sono dos justos...

Pensando sobre o que já deixei poderia escrever uma lista enorme. Já deixei de ser menino, muito tímido, inseguro, esquisito, afobado, ingênuo, intolerante, cínico, babaca, arrogante, pegajoso, medroso, religioso, irrequieto, preocupado com o ter, descrente, desmedido, contradizente, cruel, homofóbico (sim, tive homofobia internalizada por anos!) y otras cositas más... Pensando sobre o que já me deixou, a lista também não seria curta. Pra começo de conversa, o afortunado dinheiro. Já dizia o mestre Paulinho da viola, dinheiro é vendaval quando está na mão. O que dizer dos sonhos? Alguns se foram com a maturidade; outros fui vendo que era melhor transformá-los em realidade. Pessoas são as mais doídas quando nos deixam. Não falo só de esquecimento ou decisão de partida; neste caso, incluo também a morte e a própria ausência (injustificada ou não). Já fui deixado por quem amei. Pensamentos, pessoas e muitas coisas (dentro e fora de nós) podem nos deixar a qualquer momento. Se nos deixaram, seguiram seu caminho. Foram-se como grãos de areia que a gente solta quando quer regá-los na praia. Não é assim o fluxo natural da vida? Farão como o verão, que sempre volta? Creio que não!

Nem todas as coisas merecem voltar...

Nem todas as pessoas farão em nós uma estada permanente...

Nem todas as perdas são derrotas, nem todas as ausências, vazios...

A vida é feita de escolhas, mas também de incertezas. É, eu tô sabendo disso aos poucos. Deixar por deixar, vou ‘me’ deixar quieto por enquanto...



22/03. Só pra não deixar de lado. Só pra não deixar de lembrar do que nos é vital.

Que não sejamos deixados à margem dos rios, dos lagos, dos mares, dos oceanos, enfim... Não se trata simplesmente de vir com aquele papo [que não deixa de ser super sério!] sobre meio-ambiente e tal. É uma questão vital, a gente sabe [ou não deveria deixar de saber!]. Quando a gente não cuida do que é nosso, nós é que nos deixamos à margem. Tenho aprendido que isso vale pra tudo. Se a água não for racionalmente usada, não será a mencionada água que nos deixará. Nós é que nos deixaremos de lado. Uma existência assim não é vida, mas sobrevida. Um caos que não precisa acontecer. Depende de nós! Eu me recuso a viver à margem de qualquer coisa, de qualquer pessoa, de qualquer circunstância! Eu e muitos de nós! Quanto a mim, estou certo. Quanto aos demais, eu acho. Quanto à água, sou convicto e ponto final!

sexta-feira, 19 de março de 2010

Mudanças e transforma-[ações]

Domingo encontrei-me com um antigo aluno, na verdade, um amigo daqueles que a gente não vê há algum tempo. Chegamos a trabalhar juntos numa ONG há três anos atrás. Após o papo habitual de como-vai-isso e como-anda-aquilo, recebi uma sentença: “Você está muito melhor agora!”. Como assim? Perguntar não ofende, principalmente quando eu mesmo me perguntei logo depois que ele se foi. Não costumo ser curioso, por isso não quis perguntar a ele os motivos da sentença. Parecia claro falar de mudanças em mim. Mudanças pra melhor, disse. Outra pergunta me ecoou nos porões da alma: e como deveria ser antes ou, quem sabe, como aparentava ser antes?

Gozado como a gente muda conforme a sede de verdade. Minha sede era pela minha verdade. Considerando o ambiente familiar, passei anos e anos vivendo a verdade imposta pra mim. Inquestionável, num certo ponto. E por quê? Apenas porque algumas construções são difíceis de serem derribadas. Quando a gente constrói idéias sobre fé, moral, verdade, absolutizando o sentido conferido a elas, pouco espaço sobra para o pensar diferente. A coisa rola simplesmente porque é assim, e, em sendo assim, ‘funciona’. É uma espécie diazepânica de comodismo.

Ontem resolvi rabiscar uns pensamentos sobre mudanças. Cheguei a compartilhar um deles, a pedido de minha querida amiga Léa, que escreve seu livrinho (como ela mesma o chama) e precisava de algum farelinho por lá. Penso que toda mudança é uma trans-FORMA-ação. Sim, uma ação que vai além de, que ultrapassa algum limite, o limite da forma original. A gente só muda o mundo quando muda o olhar do mundo da gente. Que puta viagem! E foi uma viagem dessas que fiz à procura de minhas próprias verdades. Aquelas mais suadas, porém feitas por mim e sob minhas medidas. Acreditem, tinha passado dos meus trintinha (com cara de vinte e cinco!). Não me arrependo; aliás, do que me arrependeria? Derrubei muros enormes. Não foram desde sempre. Arranquei peles que me vestiam a pele. Acho que as vesti nas muitas estações da vida. Criei tsunamis dentro de mim que nem mesmo sei como não sucumbi. Recebi adjetivações nada gentis, mas a minha sorte é que não entreguei verbos nem pronomes aos bandidos. Caí no conceito de alguns (e como festejei tudo isso! Que delícia cair do conceito de alguém! Como isso nos torna absolutamente livres, tão livres como livre deve ser um ser humano verdadeiramente humano!). Como resultado de tanta ebulição, produzi raízes gigantescas pra todos os lados! Amigos passei a tê-los em razão de simplesmente existir. Isso deve bastar aos amigos. Nada em troca. Nada pra barganhar. Não tenho amigos porque sou gentil, rico ou famoso. Tenho-os porque eu sou assim, eu-eu-mesmo e ponto. Que dádiva! Quanta liberdade!

Acho que me revolucionei. Não, estou certo que estou me refazendo. Transformando-me. Dia a dia, um pouco mais. Sinto-me nu diante da porta aberta do quarto. Sigo pela sala e debruço na janela. Avisto alguém do lado de lá. Estão me olhando da janela, a janela de seus olhares curiosos. Qualquer uma. Qualquer um. Olhando-me nu e inteiro. Quem se importa? Eu? Que nada! Já me transformei para além desse detalhe...

Por falar em transformação... uma reflexãozinha de Rubem Alves.

Há tempos não postava nada dele por aqui...


“(...) A pipoca tem sentido religioso? Pois tem.

Para os cristãos, religiosos são o pão e o vinho, que simbolizam o corpo e o sangue de Cristo, a mistura de vida e alegria (porque vida, só vida, sem alegria, não é vida...). Pão e vinho devem ser bebidos juntos. Vida e alegria devem existir juntas.

Lembrei-me, então, de lição que aprendi com a Mãe Stella, sábia poderosa do Candomblé baiano: que a pipoca é a comida sagrada do Candomblé...

A pipoca é um milho mirrado, subdesenvolvido.

Fosse eu agricultor ignorante, e se no meio dos meus milhos graúdos aparecessem aquelas espigas nanicas, eu ficaria bravo e trataria de me livrar delas. Pois o fato é que, sob o ponto de vista de tamanho, os milhos da pipoca não podem competir com os milhos normais. Não sei como isso aconteceu, mas o fato é que houve alguém que teve a idéia de debulhar as espigas e colocá-las numa panela sobre o fogo, esperando que assim os grãos amolecessem e pudessem ser comidos.

Havendo fracassado a experiência com água, tentou a gordura. O que aconteceu, ninguém jamais poderia ter imaginado.

Repentinamente os grãos começaram a estourar, saltavam da panela com uma enorme barulheira. Mas o extraordinário era o que acontecia com eles: os grãos duros quebra-dentes se transformavam em flores brancas e macias que até as crianças podiam comer. O estouro das pipocas se transformou, então, de uma simples operação culinária, em uma festa, brincadeira, molecagem, para os risos de todos, especialmente as crianças. É muito divertido ver o estouro das pipocas!

E o que é que isso tem a ver com o Candomblé? É que a transformação do milho duro em pipoca macia é símbolo da grande transformação porque devem passar os homens para que eles venham a ser o que devem ser. O milho da pipoca não é o que deve ser. Ele deve ser aquilo que acontece depois do estouro. O milho da pipoca somos nós: duros, quebra-dentes, impróprios para comer, pelo poder do fogo podemos, repentinamente, nos transformar em outra coisa — voltar a ser crianças! Mas a transformação só acontece pelo poder do fogo.

Milho de pipoca que não passa pelo fogo continua a ser milho de pipoca, para sempre.

Assim acontece com a gente. As grandes transformações acontecem quando passamos pelo fogo. Quem não passa pelo fogo fica do mesmo jeito, a vida inteira. (...) É preciso deixar de ser de um jeito para ser de outro.

"Morre e transforma-te!" — dizia Goethe.”

terça-feira, 16 de março de 2010

Impressões do retorno

Silêncio rompido



Para a cultura ocidental o silêncio nem sempre é valorizado. Silenciar é se fechar. Silenciar chega a ser incomodar. Mas eu gosto do silêncio pelas muitos benefícios, sobretudo quando o que mais quero é me ouvir. Ouvir-se é um exercício e tanto. Nos barulhos pra fora de nós pouca gente reconhece os que carrega dentro de si. Mas não é sobre o silêncio propriamente que vou semear palavras nestas linhas. É apenas pra afirmar que meu silêncio não impediu de voltar aqui pra marcar uma das minhas mais prazerosas necessidades: escrever sobre meus sons e sobre minhas impressões do dia a dia.

Que falta que faz


Acreditem se quiser, mas desde domingo estava sem energia elétrica em casa. 48h. Este foi o decurso de todo o calvário. É f%#@! É absolutamente tedioso não conseguir realizar várias – milhares! – de tarefas em casa, sequer carregar o celular pra voltar a ter comunicação com seres do planeta Terra ou, ainda, me inteirar dos meus e-mails e do que rolava no mundo em que habito. Um saco! Culpa de quem? Ah, sei lá! Fujo um pouco desses clichês caça-às-bruxas. Prefiro falar em ‘responsabilidade’. Mas não agora. Não por este canal.

O que queria era apenas mostrar como a ausência é mais instigante que o silêncio. Ausentar-me do mundo, pela [ir]responsabilidade dos que detêm os direitos sobre serviços e concessão desses serviços, é mais complicado que o silêncio em meio ao mundo barulhento. Horrível é a sensação de desconexão com os apelos da existência.

Sobrevivendo como E.T.


Tudo bem, sei que pareço divagar sobre uma prancha de surf em meio ao nada. Mas é que eu tenho pensado bastante ultimamente na minha ‘extraterrestrialidade’. Foi exatamente assim que me senti ao ler um artigo de um blogueiro falando sobre aqueles que na sua opinião eram ‘otários’. Pior, os comentários ecoavam um coro gregoriano de ‘sins’ (porque um ‘sim’ apenas é para os otários), concordando com tudo o que o texto dizia. Obviamente a minha impressão é apenas reflexo do meu olhar sobre aquele texto, por isso não irei apontá-lo indo ao encontro do que abomino, a síndrome da caça-às-bruxas. Cada um tem a liberdade de pensar o que quiser, penso. Posso não concordar – e cá estou pra isso! - , mas respeito.

Meu último post falava sobre outro tema controverso e acerca do qual é duro o exercício do respeito, mesmo em meio à divergência. Homofobia. Costumo dizer sempre que o que mais desejo é o respeito, e não necessariamente a concordância. Creio assim porque me aninho no pensamento de que todos têm o mesmo direito que eu de opinar como fruto do livre pensamento. Mas a minha opinião é apenas minha, não pode servir de verdade pra mais ninguém. Ao menos, não de forma goela abaixo... Lincando o que digo com o que abordei no parágrafo lá em cima, minha ‘extraterrestrialidade’ me apontou que talvez eu seja um otário de verdade. Sei lá, não sigo o fluxo do que chamam naturalidade.

Por exemplo: poderia estar descrevendo aqui – como é comum a muitos, e isso não é crítica – fatos relacionados a fins de semana incrivelmente calientes, gozados – sem duplo sentido! – em meio à ferveção e a tudo o que qualquer corpitcho equilibrado e são gostaria: diversão, azaração e curtição (com ou sem ‘finalmentes’). Talvez um dia, quem sabe, ainda descreva. (rs) Meus últimos três finais de semana, por exemplo, não foram o que se poderia chamar ‘diversão’ ou menos ainda ‘azaração’. Ao lado de uma amiga, visitei idosos em asilo (sem que nenhum deles fosse meus parentes), brinquei, sorri e sobretudo ouvi suas histórias de épocas que não vivi. Levei biscoitinhos e fui chamado de ‘lindinho’ e ‘anjinho’ pelas minhas fãs octogenárias e nonagenárias. Sei que meu risco é ser taxado de E.T. Afinal, convenhamos, quem se proporia a largar tardes de três sábados consecutivos pra cutrir um programa desses? Tudo bem, eu assumo que sou um desses! No último final de semana, por exemplo, depois das visitinhas de praxe no asilo, corri para pegar um debate sobre esquizofrenia e exclusão social. Fui ao debate (que foi precedido pela apresentação do filme “O Solista”) não porque sofra de esquizofrenia, mas porque o tema ‘exclusão’ sempre me aguça a participação. Noutro dia foi a prefeitura de Maricá, cidade próxima a Região dos Lagos, que me contactou para participar de um debate sobre “Diversidade e inclusão". Pois bem, embora tendo chegado atrasado ao filme, só deu mesmo pra rever amigos e me espantar com a participação fervorosa das pessoas que tiveram a mesma idéia e compareceram naquele lugar. Conheci algumas para as quais fui apresentado, troquei idéias e impressões, bebi com amigos e voltei pra casa. Exausto.

Em casa, não consegui dormir porque a Dona In-sônia teima em querer conjunção carnal comigo todas as vezes que me deito após uma jornada cansativa na cama (ou no sofá). Nota explicativa: eu não faço amor com Dona In-sônia, mas sim com Seu-ups-meu-sono. Com a Dona In-sônia é conjunção carnal fria e mecânica mesmo! Mas isto é um outro assunto que resolvo com música e chá de camomila. Remédios, não! Detesto! Apesar dos pesares, a tal insônia me levou a escrever pensamentos. Um a um fui encerrando laudas na imaginação. Como é sobreviver em meio à minha ‘extraterrestrialidade’?... Entre um ponto e outro, teci uma listinha de manias e ‘coisas que nunca fiz’ que qualquer um terráqueo se apavoraria de se aproximar de mim ao saber que elas existem e me formam.

Mas é aquela velha história, cada qual sobrevive com as manias, os desejos e as vontades que tem. Eu só fico bolado quando leio um marciano fazendo sua verdade prevalecer sobre a opinião alheia – seja a de terráqueos, como a maioria; seja a de E.Ts, como eu! -, tal como ocorreu quando li um blogueiro falando asneiras do tipo “preocupar-se com os outros, pra quê?”, “ser fiel ao parceiro é uma otarice”, “quero mais é aproveitar porque a vida é uma só, essa história de se guardar para o amor é coisa de otário”, “o que vale na vida é a felicidade do momento, dane-se o dia seguinte”. Ficarei por aqui. Tenho ainda alguns pensamentos pra concatenar, coisas pra compartilhar depois com terráqueos incríveis como vocês!

Antes de me despedir...



Parabenizo o Grupo Arco-íris pelo brilhantismo da campanha sobre o respeito às diferenças [vídeo abaixo]. Parabenizo o pessoal da cidade norte-americana de Washington D.C., capital dos EUA, pela árdua trajetória rumo à legalização dos casamentos. Em especial, parabéns à Darlene Garner e à sua companheira, Candy Holmes [foto ao lado], teólogas e militantes dos direitos humanos, que semanas atrás jantaram na Casa Branca ao lado do presidente Obama [hum...] estarão conosco em maio num encontro aqui no Rio de Janeiro.

Ufa! Quantas impressões neste retorno!



quarta-feira, 3 de março de 2010

Preconceitos e alguns juízos intolerantes


Pensando sobre um tema muito em voga no momento – exclusão versus inclusão -, acabei me lembrando dos vários artigos e posts que li nos últimos dias sobre a questão. IN-cluir é pôr dentro de alguma coisa, é chamar pra perto. EX-cluir é justamente o contrário. Não há como forçar a barra com pretensas posições que não sejam ‘IN’ ou ‘EX’-cluir quando se fala em aceitação ou respeito à diversidade. No entanto, vale aqui questionar se toda EX-clusão é de fato oriunda da ojeriza, do descarte ou da fobia ou se é uma questão mais direcionada à ignorância (de fatos, de detalhes desses fatos ou dos outros mundos para fora do nosso-próprio).



Andei instigado a falar mais um pouco sobre essa questão em razão de vários comentários que li nas minhas viagens blogueiras por outras praias. Recentemente na mídia soube de vários ataques vindos de religiosos cristãos fundamentalistas, tanto no Brasil quanto em Uganda, vociferando seu ódio disfarçadamente puritano contra os gays. Há pouco tempo atrás um participante de um reality show foi acusado em massa pela militância LGBT por ser ‘homofóbico’. Cheguei a receber mail pedindo pra reverberar repúdio e tal. Descartei na hora. Revanchismo não leva a nada. Pior, após avaliar e discernir os fatos, separando pré-CONCEITO de ignorância (desconhecimento), não julguei que a militância tivesse razão no caso do tal participante do programa de TV. Não se trata de um achismo, mas uma convicção respaldada. Não sou amador, por isso não compro brigas sem fundamentos consistentes. Lembro-me bem do episódio envolvendo uma psicóloga aqui no Rio, que rendeu muitíssimo mais que as declarações do tal participante do reality na TV. O caso foi discutido na mídia e nas altas instâncias do Poder Judiciário e do Conselho Federal de Psicologia. O posicionamento da juíza federal na ocasião foi brilhante. Acabou me inspirando num artigo que foi veiculado por mailing de todas as militâncias país afora. Nele sim reverberei a homofobia, pois fundamentos existiam – e muitos! Os fatos falavam por si: depois de sérias advertências e várias desobediências, a tal psicóloga que se dizia vítima de um suposto e psicótico gayzismo foi seriamente ameaçada pelos órgãos competentes a perder de vez seu registro caso continuasse a semear sua intolerância, fruto do desamor. Naquele caso não se tratava de ignorância, mas de uma vontade deliberada - e insana - de aniquilamento - boçalmente dita "cura" ou "reversão" - dos gays. Todos eles!


É preciso separar os fatos e analisar as declarações em suas devidas circunstancialidades. Se assim não fosse, todos – repito: todos! – os programas humorísticos na TV e várias peças premiadas de teatro de comédia estariam na berlinda correndo sério risco de serem tirados do ar ou retirados de cartaz, situação esta que respingaria nos respectivos autores, produtores e roteiristas. E não é o que ocorre porque é preciso discernir fatos de fatos. Como se vê, não bastam a emocionalidade corporativista nem a histeria insana.

Mas vamos à análise do preconceito...


Do ponto de vista de sua origem, de sua etimologia, a palavra preconceito significa pré-julgamento, ou seja, ter idéia firmada sobre alguma coisa que ainda não se conhece, ter uma conclusão antes de qualquer análise imparcial e cuidadosa. Na prática, a palavra preconceito foi consagrada como um pré-julgamento negativo a respeito de uma pessoa ou de alguma coisa.

Um problema grave, que merece muita atenção, é a verificação dos mecanismos do preconceito. É muito raro que alguém reconheça que tem posição preconceituosa em relação a alguma coisa. Muitas vezes, o preconceituoso não percebe que age dessa forma, pois, como adverte o professor Goffredo Telles Júnior, o preconceito geralmente atua de forma sutil, sinuosa, levando uma pessoa a tomar como premissa, como ponto de partida, aquilo que deseja que seja a conclusão.

Evidentemente, o fato de alguém não gostar de alguma coisa, não desejar a companhia de uma pessoa determinada, recusar uma idéia, uma teoria ou um padrão estético, nada disso é suficiente para que se afirme que aí existe preconceito. E assim como não se deve aceitar a atitude preconceituosa, desprovida de racionalidade e sem o suporte moral de uma avaliação cuidadosa, é indispensável, também, que se respeite a liberdade de escolha de cada um.

Por isso mesmo, por exemplo, não gostar de uma escola de pintura, de um gênero musical ou mesmo de um autor ou intérprete faz parte dos atributos da liberdade humana e é direito fundamental que deve ser respeitado. Mas quem exigir - seja nos discursos, seja nas práticas - que as demais pessoas tenham as suas mesmas preferências ou idiossincrasias, afirmando sempre que tem razões objetivas para que todos o acompanhem reconhecendo certas manifestações como boas e outras como más, corre sério risco de estar dando acolhida ao famigerado preconceito.

A ignorância é uma das mais ricas sementeiras de onde nascem preconceitos. Mas a presa mais fácil do preconceito é o ignorante que não sabe e não quer saber, é aquele que está satisfeito com a sua ignorância. A intolerância, hoje tão disseminada, é mais um desses venenos. O egoísmo também anda muito próximo da intolerância, não pode ser ignorado. O egoísta não se preocupa com a justiça de suas atitudes, de suas palavras e de seu comportamento. É bom o que lhe convém e é mau o que lhe causa embaraço ou prejuízo.


Por fim, outro fator que atua na vida social como gerador de preconceitos é o medo, a começar pelo medo de si projetado no outro a quem deseja aniquilar.

O preconceito não tem justificativa moral nem jurídica e é essencialmente mau e pernicioso. E por quê? Porque o preconceito estabelece a desigualdade entre as pessoas, sacrifica valores fundamentais, justifica agressões à dignidade da pessoa humana e, por isso tudo, é expressão de uma perversão moral que deve ser, incansavelmente, denunciada e combatida.


O preconceito [a homofobia] é uma ameaça à humanidade!

O preconceito agride a igualdade essencial de todos os seres humanos e por isso é necessário criar barreiras às suas investidas. Mas de uma coisa devemos ter consciência: não basta fazer novas leis para eliminar a presença e a interferência maléfica do preconceito. Pode ser útil colocar nas leis a proibição das ações preconceituosas e criar penalidades para quem agride a dignidade humana levado por preconceito, mas, acima de tudo, é preciso que no interior de nossas consciências tenhamos um firme compromisso com a defesa da dignidade humana e da igualdade essencial de todos os seres humanos. É bom que se repita em alto som: de todos os seres humanos, iguais ou simplesmente diferentes a nós!

Inspirado na obra “Policiais, juízes e igualdade de direitos”, Dalmo de Abreu Dallari, jurista e professor universitário.


terça-feira, 2 de março de 2010

O Rio de Janeiro continua...



[] Ontem o Rio de Janeiro completou 445 anos de fundação com maravilhoso motivo para [eu] comemorar: a boa sensação térmica com a queda nas [altas] temperaturas.

[] ...pra quem andou postando sobre o excessivo calor nada mais justo que informar sobre o decréscimo nas temperaturas. Sinto-me honradamente quite comigo mesmo!

[] Minha única preocupação é com o excesso de chuva de ontem para hoje. Não digo por mim mesmo, mas pensando no perigo das [muitas] encostas que abraçam cantos, morros e altos de vielas nesta cidade. Deus nos livre de [mais] catástrofes! Já nos chega a ignorância, o [grande] mal que assola o mundo e desmorona o progresso do ser e o do próprio desenvolvimento...

[] As imagens a seguir são uma justa homenagem aos excluídos desta cidade cartão postal, captadas por excelentes profissionais da fotografia e premiadas em diversas organizações. Eis por que o Rio de Janeiro continua lindo: há vida em movimento! No calçadão de Copacabana, nas quadras do Mercadão de Madureira, ao redor do Campo de São Cristovão, nas calçadas do Leblon, nas penhas do Arpoador, nas vielas da Mangueira, nas passarelas da Avenida Brasil, nos arbustos da Gávea, nas várzeas de Marechal Hermes, no paisagismo do Flamengo, enfim, em cada canto onde se cante o amor!

Favela de Manguinhos - Ratão Diniz

Favela da Rocinha - Ling Ling Ang


Morro do Alemão - Ratão Diniz

Lajes na Favela da Maré - AF Rodrigues

Favela Nova Holanda - Ratão Diniz


[] Parabéns, pela ordem: ontem, ao Rio de Janeiro que continua lindo; ao Johnny, meu amigo e vizinho farmacêutico super gente boa; hoje, à Deborah, que acompanhei desde a gestação; amanhã, ao Mauricio, meu amigo e irmão primogênito!



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