quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

O mundo, as notícias e as gaivotas




A moça abre o jornal e se impressiona com a falta de novidade. As novas estão se tornando velhas mal acabam de nascer. Detalhe: não são todas elas que nascem. Muitas já se esfacelam na sua notória contrariedade. A que se daria tamanha infertilidade? – é apenas uma divagação latente enquanto folheia as manchetes. Deputados não trabalharam no primeiro dia após o recesso de carnaval. Pouquíssimos senadores – leia-se menos de dez – se aventuraram numa sessão legislativa que iniciou às 14h e terminou antes das 16h. Nesta quinta-feira o Governo anuncia as estatísticas de mortes e acidentes no trânsito em todo o país durante o carnaval, a primeira delas na vigência da “lei seca”. O arcebispo da Paraíba pune com suspensão de suas atividades o sacerdote - Pe. Luiz Couto -, que também é deputado, pois, segundo ele, prega “diametralmente contra a posição do Vaticano”. A moça arregala os olhos e lê uma notinha no pé da página. Em tempo: o sacerdote, antenado com a realidade humana e com a essência do Evangelho – que gera vida e liberdade, e não aprisionamento e morte da própria consciência -, proclama-se a favor do uso de preservativos pelos jovens e da tolerância à diversidade, incluindo-se o direito às uniões entre pessoas do mesmo sexo. Num ímpeto de impaciência, joga aquelas páginas sobre o criado mudo. Desiste de tentar entender a ganância humana, que vai engolindo o outro – pelo engano e pela sede de poder – até tentar ser o outro, roubando-lhe a individualidade, formatando mentes e corações num só pensar e sobre este impingindo-lhe sua própria adjetivação como “certo” ou “errado”, segundo suas próprias convenções. Nada é totalmente novo debaixo dos raios do sol, exceto a experiência de ser livre. Cada qual busque fazer seu próprio caminho. Ela corre, apressa-se em se jogar no trigal que dá por trás de sua casa. É lá que sua imaginação alcança os melhores vôos. Basta ser feliz que o mundo à sua volta se povoa de pássaros. Algumas vezes, de gaivotas. Cada uma delas sendo um ser humano em paz por ser-se sem culpa, bastando-se com o que tem, deixando-se livre pra que a liberdade do outro crie seus próprios ninhos...


_______ dedicado a todos que um dia voaram [e não pararam de voar], não se importando com as vaias nem com as convenções. Viver era mais importante!

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Considerações pós-carnaval



Carnaval passou em alguns lugares [ao menos no Rio]; noutros, vai-se gerundiando. Está passando. Melhor que aguardemos... A despeito dos modos verbais, hoje é quarta-feira de cinzas. Purificações para os que delas necessitam! Aos caminhantes de pés empoeirados no chão da vida, nada a purificar. Nossa remissão já ocorreu muito antes de qualquer folia. Mas a folia ainda se faz presente pelas lembranças. Quem é que não lembrou dos dezesseis anos de espera do Salgueiro? Desde o “Explode coração na maior felicidade”, há muito tempo seus admiradores não explodiam de tanta felicidade! Não apenas ele – o Salgueiro – ou eles, os salgueirenses [pois aglutinar mais de um reflete uma coletividade bem-vinda nessas horas], mas aos que festejam qualquer coisa neste dia. Minha amiga Valéria recebeu uma caixa de bombons pelo seu niver. Entre parabéns e confissões de vida, pulamos na maior felicidade. Na verdade, pulei porque ela me induziu a pular! Minha cunhada lá em Brasília também aniversaria. Nada de pulos [at all!]. Um telefonema já ajuda a encurtar a distância, bem sei. É o que fiz. Mas ainda não fiz todas as coisas. Alto lá, o dia valseia sua despedida com a noite! Enquanto eles namoram, junto as mãos bem próximas ao rosto numa atitude reverente, pois enquanto penso no que me resta a fazer, vou decidindo por onde começar. Já sei! Reordenar algumas coisas aqui dentro, abrir mais as janelas [da alma], sacudir as cortinas, pôr a literatura em dia. É hora de realidade! Nada de tamborins, confetes, fantasias ou “carna vale”. O que vale é saber que os dias não dão tréguas. Há muito o que realizar. O pós-carnaval é sempre ‘pré-anúncio’ do início de muitas coisas. Eis-nos no “agora início”. Agora sim começamos 2009!


sábado, 14 de fevereiro de 2009

No retorno, quando o que é bom, é bom e pronto




De longe, avistei domesticada em mim a paisagem. Ao me aproximar, olhei procurando enxergar os detalhes que as saudades me instigaram. Coração casando com boas expectativas no retorno. Mãos firmes e ao mesmo tempo inquietas casando com a ansiedade. Chave casando em movimentos rotativos com a fechadura. Instantes que se foram casando com o recomeçar do agora. À parte das discussões niilistas, embevecido pelo meu despudor socrático, penso que tudo se faz sentido. Ainda que não haja aparente nexo. O tempo dará luz ao que veremos logo a seguir. Espero, logo alcanço porque me empenho. Fato é que faz um bem danado abrir a casa da gente e sentir os ares do que é nosso, do que tem nossa cara! Reencontrar-se é como o abrir das nossas portas. A casa atende pelo nosso nome.

Regressei das férias após uma eternidade idiossincrásica pra mim. É, talvez, esteja ainda regressando. O gerúndio tem lá suas emblemáticas vicissitudes. Dependerá do contexto, dirão os mais entusiastas. Costumo dizer que sou um homem à-esperando. Sempre há espaço para caber mais um sonho. De preferência, daqueles que a gente conseguirá realizar um dia...

Na matemática circunstancial das últimas semanas, o saldo foi bastante positivo. Devorei alguns livros e vários textos avulsos. Assisti a alguns filmes que nunca tinha visto (revi alguns também). Prestei bastante atenção nos diálogos, pois sempre me foram reveladores do “establishment” da alma humana. Conheci gente nova. Reencontrei outras tantas. Revi meus sobrinhos brasilienses. Fiz uma pequena (e chata) cirurgia buco-maxilo-facial. Repus um aparelho que tenta me impedir de algumas soletrações (acabei de lembrar das falas de meu amigo Jessé neste domingo...rs...). Isto pra não dizer que não falei do estresse na volta e de alguns pepinos no trabalho, um dos quais mais parecido com uma bomba. Tá bom, dependendo do olhar é só um pepino. No bojo das experiências vividas e das expectativas a realizar, até que o saldo permanece positivo. E por que não permaneceria? Os caminhos da gente têm lá seus contornos atípicos. E, como disse, depende da perspectiva no olhar de quem vê.

O saldo sempre restará positivo ante o olhar de quem não desiste fácil. De minha parte, sigo desajeitadamente mesclando tudo o que diante de mim está com o que só me é possível sonhando de olhos abertos. E quanto aos sonhos não-realizáveis a gente recomeça. Motivo é o que não faltará pra se comemorar.

Vamos nos recriando enquanto o que precisa recomeçar, recomeça com qualquer palavra. Já escolhi as minhas da vez. Depois, refeito dos sintomas do êxtase do retorno, escolherei outras, de preferência nas muitas respostas que pretendo dar a cada comentário salvo nos posts anteriores. Pra terminar não preciso de muitas palavras, nem de meias palavras. Basta a palavra certa. Inteira como um ser humano respeitável. Afinal, o momento é sacratíssimo pra mim. Me jogo na cama com reverência quase irreverente. Atiro os tênis pra qualquer canto. Arranco a calça num ímpeto de liberdade. Escolho quatro palavras no pensamento. Bom estar de volta!

...

Nota: a liberdade passa a ter forma de liberdade quando em nossos pés nem meias trazemos mais... A imagem é só pra aguçar o pensamento com mais quatro palavras.

...

Related Posts with Thumbnails