sábado, 8 de agosto de 2009

No encontro, eis-nos achados




Há um preço que poucos pagam, nem tanto pelo valor em si mas muitas vezes porque o que é caro requer um esforço muito grande pra se conquistar. Penso exatamente na liberdade. Não a vejo como mera palavra, mas um estado de ser o qual é visto pelas lentes da autoconsciência. Quem se sabe livre deseja ardentemente liberdade pra si e para os outros. Não existe espaço algum para manifestações egoísticas do ser. Quem se sabe livre, enche-se de indignação quando assiste alguém escravo. É tal aquele que se sabe perdoado. Invariavelmente, derramará perdão (pois a autoconsciência do prazer que causa é algo pra ser compartilhado). Tudo o mais é assim quando o ser não é egoísta...

Pensando um pouco no que o ser da gente é capaz de promover quando sabe compartilhar a alegria de um encontro, lembro-me da história muito antiga de uma dona de casa extremamente pobre que, certo dia, resolveu fazer uma faxina daquelas com o propósito de encontrar o que lhe era caro. No caso dela, uma moeda perdida e o significado emprestado a ela (a moeda). Tratava-se de seu tesouro pessoal. Era-lhe como tábua de salvação para, quem sabe, muitos apuros de ordem material. Não era qualquer coisa. Não era sequer “coisa”, uma “res” (do latim). Nada disso. Era um pedaço significativo da costura de muitos sonhos. Os sonhos daquela pobre mulher. O barato da história é que termina com o encontro da dona de casa com seu tesouro. Mais que isso, a alegria dela ao celebrar o tal encontro. Dizem que chamou a vizinhança da comunidade onde morava e os seus amigos discerniram que os sonhos daquela mulher não seriam sonhos em vão. Ali todos se viam nivelados pela necessidade e também pela alegria. Tanto foi que a alegria de uma foi a alegria da galera toda. O prazer de uma acabou contagiando a muitos.

Fico pensando na liberdade quando veste o ser humano de esperança e fé. Aqui, por favor, não me leiam com significados vinculados a qualquer religiosidade. É a fé que impulsiona a crer na possibilidade, no potencial que existe em nós. Pois, então, quando o ser humano se liberta impossível que mudanças não sejam acarretadas pelo processo. Quando são visivelmente boas, muitos compartilham da realidade de tais mudanças (até quem nunca gostou da gente). Afinal, não se esconde a candeia debaixo do alqueire. O que é luz sempre iluminará pelo simples e ao mesmo tempo majestoso exercício de viver.

Penso que o maior legado que a gente pode oferecer pra nós mesmos é a própria liberdade. Liberdade pra ser. Liberdade pra promover a construção de uma casa alicerçada na verdade. A maior de todas, creio, a verdade do ser.

Estas linhas são rascunhadas e ao mesmo tempo pinceladas do encontro tido com os amigos da Comunidade Betel nesta última quinta-feira. Assentados numa reunião que realizamos cada qual foi pondo suas próprias considerações acerca de si e das mudanças advindas no entendimento de sua liberdade. Mas, diga-se, a liberdade a partir da verdade. Lágrimas. Alegrias. Retrospectivas. Confissões. Uma satisfação contagiante pela serenidade e pela desinstitucionalidade do momento. Ninguém ali quis mostrar-se perfeito. Antes, pelo contrário, era o privilégio de se saber humano e acolhido no encontro dos semelhantes imperfeitos que fazia a diferença.

A verdade quando inserida num ambiente de acolhimento pelo outro se torna uma ferramenta de Graça que promove a comum-UNIÃO. E a coisa não ficou só entre nós, houve um ajuntamento de lembranças acerca de muitos outros seres humanos, os quais foram lembrados. Falou-se das necessidades do país, a sede de justiça e de conscientização política. Falou-se dos que não caminham na verdade e se dissolvem sendo muitos ‘eus’. Solidarizamo-nos com os agentes do Bem neste mundo, independente do que sejam, do que tenham ou no que creiam. Lembramo-nos do Gabriel Buchmann, brasileiro que buscou conhecer o mundo a partir da miséria para melhor servir como gestor, porém foi encontrado morto nesta semana, no Malawi. Foram momentos muito enriquecedores pra mim. Como disse na ocasião, aprendemos uns com os outros no encontro, mesmo no silêncio que tal encontro algumas vezes provoca. Silêncio, todavia, não silencia os ecos da alegria.

E foi justamente neste cenário de alegrias e recordações que nosso grupo – falamos emprestando o sentido de ‘família’ àquele ajuntamento – completou três anos de existência. Senti-me como a tal dona de casa que vibrou com seus vizinhos pela moeda que tinha encontrado.

Olhando fixamente nos olhos dos que ali estavam presentes, percebi que todos éramos os donos e as donas de casa daquela velha história contada por Jesus nos Evangelhos. Ali, cada qual havia se achado em algum momento na trajetória da vida. Cada qual havia discernido mudanças significativas em si e a partir de si no encontro. Penso que sejam valores imensuráveis frutos dessa tal liberdade igualmente imensurável! Que tesouro!

6 comentários:

Mãezinha Anna Maraia disse...

Filho,lendo este texto seu me emocionei não só pelo escrito, mas pelo que estou vivendo atualmente.Como tenho aprendido no MCL.Realmente é uma verdade quando temos a liberdade de falar em fé sem tocar em "religião". Antes tudo era religiosidade e hoje podemos abrir a nossa boca para falar Daquele que viveu a 2000 anos atrás com a emoção daquele encontro que João e André teve com Jesus.
João e André experimentaram naquele encontro um sentimento dulcíssimo, terno e cheio de surpresas.

Hoje lendo seu relato sobre o que aconteceu na Betel nesta quinta-feira, pude perceber como você está se sentindo... Está mais solto, liberto de tantas coisas que foram se acumulando.
Posso sentir a sua alegria pois foi a mesma que senti quando me libertei de todas as amarras da religião.

João e André queriam apenas ficar com Jesus pois eles sentiam que só Ele tinha palavras que explicam a vida.
Isto é fé!
A fé é um gesto humano, portanto deve nascer de modo humano.
A fé é o reconhecimento da realidade por meio do testemunho que alguém dá,que justamente se chama testemunha.
É um conhecimento da realidade que acontece através da mediação da pessoa em quem confio, que é adequadamente confiável.

Mais uma vez, meu filho, está de parabéns e que Aquele que começou um trabalho em sua vida, esteja sempre caminhando ao seu lado.
Um beijo com a ternura materna.
Mãezinha

Hugo de Oliveira disse...

Amigo adorei o texto...principalmente quando você diz: "Liberdade de ser"...nossa eu sempre reflito sobre essa sonhada liberdade.

Te desejo um ótimo final de semana.


abraços

Hugo de Oliveira

[Farelos e Sílabas] disse...

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Mãe:

Que bom que o entendimento de fé passa por esse discernimento! Eis por que vejo tantas mudanças em ti, coisa boa que a gente enxerga no detalhe (considerando toda a trajetória até aqui).

Por isso mesmo, mãe, prossiga! E siga adiante! Sempre e cada vez mais!

Vale a pena, não?

Respiro “amém” para tudo o mais! Acolho no peito cada palavra!

Beijo!

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[Farelos e Sílabas] disse...

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Hugo:

Rapaz, ouse sonhar e viver o sonho na realidade chamada “hoje”. Todos os dias. Mais e mais. Incansavelmente com todo o ser.

Uma casa edificada sobre alicerce firme faz a diferença.

Agradeço pelas visitas, pelo carinho e pelas palavras.

Bom final de semana, caríssimo!
Todos-os-abraços!

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anjo disse...

____________________a fé também é um pássaro nas mãos???

um abraço meu assim com tanta fé no teu talento «««

CARLA ROCHA disse...

Lindo, lindo, lindo. Nada melhor que estarmos vivos, neste mundo agora! Muita luz, boa semana!

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