terça-feira, 23 de setembro de 2008

Meritocracia instalada


Domingo me alimentei de várias formas, não apenas pelo churrasco do qual participei, mas também pelas muitas palavras que ouvi de meu amigo de caminhada, Marcinho Retamero. Não terei pretensão alguma de reproduzir ou testemunhar em letras tudo o que ouvi, mas de uma coisa sei: foi Graça pra meu viver! Primeiro, porque o lecionário litúrgico para o domingo foi justamente a parábola que me representa (a dos trabalhadores na vinha) não apenas num contexto amplo de “metanóia” (o novo pensar a vida, que, já disse uma vez, ocorre em Graça, pondo cores novas no viver), mas sobretudo no meu “infinito particular”; aliás, meu e de Marisa Monte também. Segundo, porque a trajetória de suas palavras foram delineando o que ocorre conosco – todos nós! – desde que nascemos. E eu me senti sendo cortado em pedacinhos dentro de mim mesmo.

Dizia ele que somos altamente meritocráticos em nossos relacionamentos (afetivos, familiares, fraternos e sociais) e conosco também. De fato, o somos. Senão, vejamos. Queremos a troca. Precisamos das carreirinhas de barganha. Satisfazemo-nos em ser recompensados. E assim o é desde os idos de jardim de infância, por exemplo, quando a professorinha promete recompensar o que se comportar e castigar o que fizer bagunça. Passa por toda a adolescência, alcança a juventude e vai se estabelecendo na vida adulta. Mais e mais... Marcinho ainda citou o brilhantismo de Freud que sacou esse “mal” em nós como projeção no outro. E assim vamos vivendo, de méritos em méritos, projetando nossa humanidade adoecida com este “sistema” para quem quer que seja o outro. Tem gente que faz isso até com Deus! A religião - e aqui se diferencia de Graça, pelo amor de Deus! - é expert no catecismo e na práxis deste tema. “Se eu me dedicar à religião, certamente, serei abençoado!”, pensam. "Eu preciso estar na igreja pra que Deus me...". Eis um genoma altamente mercantilista em nosso ser! As bênçãos, portanto, são meritocráticas também. É o tal toma-lá-dá-cá ao qual nos acostumamos e pensamos que Deus também curte. Mas, como disse, Marcinho, “Deus não é homem!”. Ele não cai nessas furadas, nessas esquisitices nossas (aprendidas desde pequenos, é verdade). Projetamos o mesmo comportamento meritocrático nos nossos inter-relacionamentos. “Ah, me dá um beijinho!... Só dou se você me der primeiro...”. “Se ela fez isso, ah, também vou fazer! Isso não vai ficar barato!”. “Me deixou aqui sozinho e foi se divertir? Não perde por esperar!”. “Tenho me esforçado pra agradá-lo e ele não tá nem aí pra mim... vou parar de me esforçar...”. “Quanto que já fiz por ela e o que ganho? Nada. Sou mesmo um otário!”. “Olha quanta gente merece um pouco mais de atenção dele e eu, que o conheço há mais tempo, sou tratado como alguém sem muita importância...”. E assim vivemos. Adoecidos. Meritocráticos. Esperando sempre receber. Viciados nisso, precisando de doses cada vez maiores conforme aumenta a doença em nós. Sem saber amar. Sem saber que amor, quando puro e verdadeiro, dá sem esperar receber. Ama-se por decisão, não por recompensa. Mesmo que a recompensa seja a atenção, o carinho ou a resposta. Quem ama, ama. Quem se sabe amado, sabe-se que é amado. É feeling, vê-se com a vida. Tudo isso faz bem. Exceto o querer em troca, não importa o quê. Graças a Deus porque Ele é Graça, e não impõe “condições” para amar. Graças a Deus por muita gente que aprendeu amar com este Amor...


Nota: “post” dedicado e inspirado nas ricas palavras de meu amigo Marcinho Retamero, pela sua garra, coragem e dedicação no anúncio do amor. Fiquei feliz em saber que ele abriu a Parada de Duque de Caxias com uma oração no alto de um trio elétrico. Isso é, no mínimo, profético! Segue, ainda, a dedicação ao Juninho, amigo que me enviou uma mensagem linda no celular dizendo o quão sensibilizado ficou com as palavras que ele também ouviu do Marcinho no mesmo dia que eu.

2 comentários:

Serginho Tavares disse...

queria ter estado nesse encontro
não apenas para ouvir in loco tais palavras mas também para ver meu amigo que tanto amo

beijos

Anônimo disse...

Filhote é muito gratificante ter uma amigo como esse Marcinho. Que pena que estou tão longe e não poder participar de uma parada dessas. Você sabe como sou animada e gosto dessas coisas. Tudo isto me fascina, mexe comigo e é Graça também na minha vida.

Com muito carinho, um beijo da sua e sempre, mãezinha mineira, ANNA MARIA

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