sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Por que te calas?


A palavra engravidou e a voz enciumou-se: onde está o som que não vi nascer? Não é um conto. É um silêncio, "o espião" de Mário Quintana.

O instante do silêncio é pura meditação, depende somente da experiência direta e da observação sem preconceito. No início deste ano estive numa palestra sobre o budismo zen, aprendendo com a Monja Coen o sentido da meditação. Não que seja adepto da fé, mas que aprendo com ela – seja ela a fé que for. De fato, não sou niilista. A vida tem sempre algo de esperançoso. Eu me pus em estado de observação nos últimos dias. Tenho me dedicado a respeitar o meu silêncio como o melhor momento eloqüente. Entre um pensamento e outro, esforço-me com maravilhosa atenção a me ouvir enquanto sossego o corre-corre dos ventos dentro de mim. Não chega a ser tarefa das mais fáceis, mas até que tô me saindo bem. Os amigos mais próximos, às vezes, nem sempre conseguem entender, questionam as poucas palavras, duvidam e, pior ainda, voam nas asas das muitas e equivocadas interpretações ao que esteja nos ocorrendo no maravilhoso instante do silêncio. Mas é um enlevo do instante. Um aprimoramento para re-encaixe de algumas peças. Tudo naturalmente necessário.

C’est la vie, me desafiam as palavras-suspiros...


"A vida humana não é diferente, estou aprendendo. Acreditar que ontem é igual a hoje é resultado de nossa ignorância e insensibilidade"

Tenho aprendido que se não nos ouvimos como veremos bem? E se não vemos bem como poderemos entender o que está nos cenários ao redor de nós – ou dentro de nós? Quando o olhar da mente é límpido, as janelas se descortinam. Vemos tudo como realmente é, de modo natural. Mas assim que os olhos se distraem, a cortina corre para o abraço da outra na mesma janela. Elas se encontram, se abraçam e se fecham. Não vemos mais. Perdemos a capacidade de ver corretamente. Sons e imagens nos atacam, nos arrastam, nos puxam. Coisas que deveríamos ver, não vemos. Coisas que deveríamos ouvir, não ouvimos. O silêncio mal interpretado também. Não é assim?

A vida humana não é diferente, estou aprendendo. Acreditar que ontem é igual a hoje é resultado de nossa ignorância e insensibilidade. A palestra da monja zen me refrescou um ensino aprendido com outro Mestre no Evangelho, o de que os olhos iluminados vêem claramente a imagem das coisas em eterno movimento e reconhecem que um instante é diferente de qualquer outro.

Movimento e diferença. Uma linearidade muito particular no caminho de cada um.

Para calar todas as demais vozes dentro de mim, o silêncio emergiu como um instante de meditação e - por que não – diálogo. Há muito o que aprender, mas meus olhos agora já vêem coisas que antes não viam...

5 comentários:

Anônimo disse...

Boa tarde filhote!
Foi muito bom ter lido este texto seu "Por que te calas?".
É bom sim, calar de vez em quando, acho que até mandei nesta última cartinha que foi esta semana, um texto sobre silêncio, para você. Acho excelente podermos trabalhar isto dentro de nós. Sei que é difícil, principalmente para aqueles que gostam muito de falar e falar.
Só que entro em um pequeno questionamento. Porque calar tanto assim? Muitas vezes o nosso calar atrapalha os nossos ouvidos, porque não sabemos se alguém gostaria de falar e ter um ouvido para escutar! Eu penso muito nisto quando estou no meu silêncio ouvindo os ruídos do meu interior e começo a me questionar, será que isto é bom para mim e para o outro que quer ser ouvido?

Conheço muito sobre esse budismo zen, já estive em uma palestra aqui em BH com uma amiga, em 2005. Nunca comentei sobre, porque já conhecia algumas técnicas na época que frequentei o "Silva Mind Control" durante quase 6 anos. Eu e o paizão dávamos relaxamento no salão da Igreja São José todas as sextas-feira.

Lendo o seu texto onde você comenta que "Os amigos mais próximos, às vezes, nem sempre conseguem entender, questionam as poucas palavras, duvidam e, pior ainda, voam nas asas das muitas e equivocadas interpretações ao que esteja nos ocorrendo no maravilhoso instante do silêncio".

Claro, a mãezinha anda questionando muito sobre o seu silêncio e peço desculpas pelos torpedos, cartas, chamadas telefonicas, recados deixados nas secretárias eletrônicas, etc... se fiz isto, me perdoe mas não sei se você se lembra que no mês de agosto eu passei por um problema sério e nem sabia que você se encontrava neste instante maravilhoso de silêncio e quem sabe até te atrapalhei.
Não vai mais acontecer isto, viu?

Não vou me alongar aqui, acredito que não seja o lugar apropriado para desabafar. O dia ou um momento que você não estiver em silêncio, talvez eu consiga falar.

Um beijo no seu coração, da mãe que mesmo sabendo que o filhote está em silêncio,ama assim mesmo.

Éverton Vidal Azevedo disse...

Um texto fantástico sobre o sentido e as peculiaridades do silêncio.

Um aula.

Definitivamente voltarei mais vezes.

[Farelos e Sílabas] disse...

...

Mãe:

Entendo perfeitamente, querida minha. O silêncio só não pode é nos emudecer para quem amamos... estou soltando algumas vozes daqui de dentro em cada palavrinha que segue pra ti. Entenda-me neste instante quebrando alguns momentos pra não te ver-sentir sem par de ouvidos! Nunca!

Beijo no seu grato coração, que aprende TODOS OS DIAS a amar o filhote que tem!

E é tão recíproco...

...

[Farelos e Sílabas] disse...

...

Robson:

Eu CONCORDO com cada palavra tua, as deste silêncio.

Cê sabe, amigo, pra que dizer mais? Por si, já conforta-me!

...

[Farelos e Sílabas] disse...

...

Éverton:

Ao cara das letrinhas substantivadas e de cujos textos se extraem sentidos múltiplos, o

A
G
R
A
D
E
C
I
M
E
N
T
O

Quero ainda ler muita palavra por lá!

...

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