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sábado, 29 de novembro de 2008
O ser igual
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Auto-exame
“A gaveta da alegria
já está cheia
de ficar vazia”
Alice Ruiz
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Chuvinha esfria os verbos da noite. As orações estão molhadas como as ruas. Ainda bem que estou em casa. Titãs me fazem companhia: “Pra dizer adeus”
Logo esta canção!
Hoje não fui assistir ao espetáculo da Árvore de Natal da Lagoa. Várias atrações. Bem em frente à janela do apartamento de William Bonner e Fátima Bernardes... Mas a chuva insistia em regar as nuvens. Pois, então: elas cresceram tanto que ficaram pesadas. Algumas, obesas, desabaram...
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quarta-feira, 26 de novembro de 2008
Hospital (no Rio) precisa
Informação repassada a mim por e-mail dia desses. As crianças com AIDS do HOSPITAL GAFRÉE E GUINLE precisam muito de:
- Leite em pó integral
- Creme de arroz
- Cremogema
- Alimentos infantis (em geral).
...
Se puder, se estiver pelo Rio ou nas cercanias, ajude.
“Se não tiver amor, de nada me aproveitará...”
...
As doações podem ser entregues diretamente no Hospital Gafrée e Guinle, Ambulatório da PEDIATRIA. Endereço e contato: Rua Mariz e Barros, 775 - Térreo – Tijuca, Rio de Janeiro. Tel.: (021) 2569-1620 - ramal: 253 (251 e 252) - somente pela manhã.
Concordâncias verbais
(Uma amiga, anteontem, citando os versos de Gabriel O Pensador, quando lhe disse que a Igreja Cristã vê, na prática, putas, malandros, bêbados, gays, lésbicas e maus afamados em geral como subcategoria. Impossível tal subcategoria fazer parte dela enquanto subcategoria, ou seja, o paradoxo do discurso do Evangelho. Ela, perplexa, repetiu o refrão pra eu ouvir... considerei profético!).

“Nietzsche estava certo: Deus morreu! O Deus-projeção-nossa morreu!”
(Um amigo clérigo, anteontem, mostrando à sua comunidade como “Deus” pode ser encontrado em muitos rostos pedindo esmola nas esquinas, passando fome, encarcerado, vitimizado por vários preconceitos, desabrigado, nu e miserável).
domingo, 23 de novembro de 2008
Se a vida lhe der limões...
Eu acredito na força das palavras. Um ponto, uma ação. Pontu-AÇÃO!
Interrogação:
Pra que sentar-se à beira do lago, enchê-lo de lágrimas e se afogar?
Três pontinhos:
Parabéns, pai, pelo teu niver hoje!
Se compreen-SÃO, por que não seríamos também?
A todos que me envia(ra)m e-mails, nesta semana respondê-los-ei!
Ponto final:
sexta-feira, 21 de novembro de 2008
No silêncio das minhas falas...
Quanta conjugação um corpo produz? Muitas em muitos aspectos. O gesto, o toque, o movimento, o balanço, o descanso, o ir e o vir. Conjugações metódicas. Falas retóricas. E o que dizer das conjugações sublimes, das falas tangíveis: viver, ser e amar? Certo que não serão percebidas com a mesma sonoridade no desatento e no ausente, no egoísta e no descrente. Assim como há muitos olhos, há muitos ouvidos espalhados pelo corpo. Clarice Lispector dizia: “porque eu, só por ter tido carinho, pensei que amar é fácil”. E não precisa ser poeta pra dizer que ela não está de todo equivocada. Fernando Pessoa, pelo prisma de suas cores, assegurava que “viver não é necessário. Necessário é criar”.
Eu não dispenso o sublime, nem me perco na incerteza dos transitivos mais indiretos. Amo amar o que me é próprio, viver nem que seja no esboço de um sonho e ser conforme o maior tamanho em mim. Tudo é muito peculiar ao espectro das cores de cada um. Uma orquestra! – eis o que os sentidos formam nos sons do corpo. A cada som uma cor na vida. E quanto mais luz houver mais intensas as cores perante o olhar e mais afinados os sons das falas. Tanto de quem se vê quanto a partir de quem olha (ou escuta).
O silêncio não poderia ser um elo desconectado dos diversos sentires. Há silêncio em toda parte. Percebê-lo já é outra história – a mesma das cores. Depende de “como” se vê. Depende de como se sente a vida. Depende do tal “qual é, neguinho, qual é?” que ouvi na repetição dinâmica do Marcelo D2.
E por que falei tudo isso? Nem curto Marcelo D2. Meu negócio é o silêncio sem repetições. Mas vejo que há razão na argumentação, seja ela em prosa ou verso. A argumentação do corpo do outro. A nossa também.
Tenho procurado alguns silêncios, mas eles não têm o poder de me impedir a nada que queira. Ontem, por exemplo, mostrei a duas amigas o que é o silêncio gargalhento. Fomos assistir “A mulher de meu amigo”. Ríamos tanto que nada nos impedia de manter comunicação. No meu silêncio, como falo! E como canto, e como grito, e como silencio!
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Imagina se conseguiria viver no silêncio sem falar! Não usar a voz até que conseguiria (com certo esforço, concordo), mas não falar? Qual é, neguinho!? Que desperdício! E quem acha que consegue, explique-me como se faz para não tocar e não sentir, pra não dizer as falas mais agudas da orquestra, como amar e ser.
quinta-feira, 20 de novembro de 2008
Pra agradecer...

...
Sei lá, eu quis. Como respirar.
Simples assim
No dia da consciência negra, feriado em mais de 350 cidades brasileiras
...
quarta-feira, 19 de novembro de 2008
É no repente, é de repente

“É no sangue, é no povo, é no tipo, é na raça,
Nota: Hoje, 19 de novembro, é dia do cordelista. O cordel, pra quem não sabe, é de inestimável importância na manutenção das identidades locais e das tradições literárias regionais, um grande incentivo à manutenção do folclore nacional. Entre os educadores é pacífico o entendimento que a literatura de cordel, pelo fato de poder ser lida em sessões públicas e de atingir um número elevado de exemplares distribuídos, é de grande ajuda na disseminação de hábitos de leitura e na luta contra o analfabetismo.

O ser e as bandeiras

“Nossa casa é o canto mais nosso dentro do ser. As piscinas prefiro pensar que são o esplêndido no prazer, as bandeiras são os ideais e os sonhos que se carrega. (...) uma casa bem arrumada tem ares de lembranças, bom senso pelas paredes”
No dia à Bandeira, me pergunto quantas bandeiras já levantei por acreditar no meu tangível ideal, quase um idealismo absoluto como o que encontro nas idéias de Kant e Hegel, embora prefira neste caso a subjetividade do platonismo. Quantas bandeiras baixei por crer que era preciso maior articulação que a simples defesa de um princípio ou de uma idéia ou mesmo por simplesmente acreditar diferente. E fui me dando conta que não é apenas o mundo que gira ou os sentimentos que se transformam, mas a idéia também modifica e, por conseqüência, o ideal.
Não há equívoco algum ao dizer que já acreditei em contos e idéias que não corresponderam aos fatos, aquela velha história de piscinas cheias de ratos nas casas de qualquer um. Quem nunca viu? Quem nunca se percebeu assim? Nossa casa é o canto mais nosso dentro do ser. As piscinas prefiro pensar que são o esplêndido no prazer, as bandeiras são os ideais e os sonhos que se carrega. Não quero me preocupar em falar dos ratos. Só sei que são roedores por natureza.
Ultimamente, porém, ando mais sensível aos vôos dos beija-flores. Graças a eles e ao que me é palpável – o que contrasta com a essência do idealismo – minhas recentes bandeiras são pela vida e pela liberdade de ser. E já que falei em ser, me perguntaram dia desses o que uma casa bem arrumada deveria ter. Pra mim, uma casa bem arrumada tem ares de lembranças, bom senso pelas paredes, calorzinho de alegrias pueris em todo o canto e coisas simples pelo varal. E as bandeiras? A resposta segue por meio de outra pergunta: por acaso, onde é que a gente aquece o coração?
Promoção musical na Apoteose
Com a promessa de ser o primeiro show pago com lixo reciclável do planeta, entrando para o ranking Brasil e quem sabe para o Guiness Book, o objetivo é incentivar a conscientização das pessoas para a questão sócio-ambiental do lixo. A coleta seletiva pode e deve ser um hábito natural dos cariocas.
Atrações confirmadas: Bangalafumenga, Serjão Loroza, Fernanda Abreu, Toni Garrido, Charlie Brown Jr, Dudu Nobre, Arlindo Cruz, Dona Ivone Lara, Samba na Moral, DJ Marlboro, Mc Marcinho, Mc Sapão, Timbalada, Carlinhos Brown, Margareth Menezes, Moraes Moreira e Bochecha.
Como fazer para conseguir o ingresso: inicialmente, é preciso se cadastrar no site do evento - apenas os cadastrados participarão da promoção; a seguir, imprimir o comprovante de cadastro e no dia do evento levá-lo com duas sacolas de supermercado com papéis, latinhas ou plásticos. A escolha é sua.
terça-feira, 18 de novembro de 2008
Do lado de cá da liberdade
Não tenho muitos direitos, apenas os suficientes. Não quis meu banho de sol. Hoje choveu mais do que previa os homens do tempo. Não me alimentei do que me empurraram à porta; os sonhos têm sido meu prato predileto. De minha própria companhia me empanturrei nos últimos dias. No começo passei mal. Hoje passo bem. E a cada passo a estrada encurta...
– II –
Não quis as chaves das celas. Tampouco aceitei suborno. A vida é melhor aqui fora do que nos presídios da mentira. Se fugisse, morreria de desgosto. Que me tapem a boca. Ingênuo é quem limita a verdade aos sons da voz.
– III –
Não me chame pelo meu nome. Não me faça refém de mim. Se te disse que sou uma multidão, acredite! Não vês que estou muito ocupado com a vida?

sábado, 15 de novembro de 2008
Notinhas públicas de um feriado
A proclamação é da República. A coisa é pública, portanto, res publica! Se a res (coisa) é pública, então que seja minha enquanto dure. E que faça conforme o que penso, logo existindo. Haja luz, sou o criador! E surja luz sobre a penumbra. E que se dissipem as contrariedades pra que, enfim, a unanimidade burra tão rodriguiana se estabeleça no susto.
Haveria alguma coisa mais estapafúrdia que o susto da unanimidade? Só a morte desavisada! Não é o caso, pois a coisa, neste caso, é a vida.

Por falar no que é belo, notinhas pra refrescar os sons nesta manhã:
“Alarmes já pararam de apitar
O telefone celular descarregou
Roberta Sá in “Belo estranho dia de amanhã”
sexta-feira, 14 de novembro de 2008
Conjugando historinhas vida afora
Um caderninho pra aprender a conjugar olhares. Tu me olhas e não me vês. Eu te olho e não conheço. Eles simplesmente não entendem, deixam de olhar. Um olhar, dois olhares, três olhares e... te amo! Um não-olhar, dois não-olhares, três não-olhares e...me ajude! O que vai além da pele não é o que sente, mas o que se sabe. O olhar denuncia o que se entendeu, não dá pra disfarçar. Eu me olho, não me vejo. Eu me olho e me reconheço. Quantos olhos há em mim! Tu te olhas, não te vês. Tu te olhas e te reconheces. Quantos olhares há em ti! O Bem e o Mal na soma dos nossos olhares! Nós é que “com-julgamos”: seja o diferente, o que interfere e o que se liberta. Eis o verbo, cidadão! Isso aqui é vida, é olhar gramática! Não é ensaio, pseudo-matemática! A aula acabou. Chega de lógica. O viver feliz-conjugado é antológico. De pedacinho em pedacinho as histórias se repetem. Exceto os olhares, eles nunca mais serão iguais. Os bons autores se decifram. A gente vai formando a nossa própria trajetória. E o que não se viu, o que não se viveu, deixa a Decisão reescrever numa outra ficção...

Por que te calas?
O instante do silêncio é pura meditação, depende somente da experiência direta e da observação sem preconceito. No início deste ano estive numa palestra sobre o budismo zen, aprendendo com a Monja Coen o sentido da meditação. Não que seja adepto da fé, mas que aprendo com ela – seja ela a fé que for. De fato, não sou niilista. A vida tem sempre algo de esperançoso. Eu me pus em estado de observação nos últimos dias. Tenho me dedicado a respeitar o meu silêncio como o melhor momento eloqüente. Entre um pensamento e outro, esforço-me com maravilhosa atenção a me ouvir enquanto sossego o corre-corre dos ventos dentro de mim. Não chega a ser tarefa das mais fáceis, mas até que tô me saindo bem. Os amigos mais próximos, às vezes, nem sempre conseguem entender, questionam as poucas palavras, duvidam e, pior ainda, voam nas asas das muitas e equivocadas interpretações ao que esteja nos ocorrendo no maravilhoso instante do silêncio. Mas é um enlevo do instante. Um aprimoramento para re-encaixe de algumas peças. Tudo naturalmente necessário.
C’est la vie, me desafiam as palavras-suspiros...

A vida humana não é diferente, estou aprendendo. Acreditar que ontem é igual a hoje é resultado de nossa ignorância e insensibilidade. A palestra da monja zen me refrescou um ensino aprendido com outro Mestre no Evangelho, o de que os olhos iluminados vêem claramente a imagem das coisas em eterno movimento e reconhecem que um instante é diferente de qualquer outro.
Movimento e diferença. Uma linearidade muito particular no caminho de cada um.
Para calar todas as demais vozes dentro de mim, o silêncio emergiu como um instante de meditação e - por que não – diálogo. Há muito o que aprender, mas meus olhos agora já vêem coisas que antes não viam...
quarta-feira, 12 de novembro de 2008
Das lentes do meu verso
“O meu código de acesso, é imenso
domingo, 9 de novembro de 2008
Novembro, mês do filme nacional
Cada exibidor participante vai montar a sua programação com produções nacionais que fizeram parte do calendário 2008. A grade completa já está disponível desde 5 de novembro no site. Ao todo, mais de 300 salas de cinema de todo país se cadastraram e vão participar da campanha.
Uma ótima dica pra quem curte a sétima arte, valorizando nossos cheiros e nossas raízes. Pra mim, então, unindo o útil ao agradável (adoro promoções!), chega em boa hora para me emocionar com o filme que desejo assistir: “Orquestra dos Meninos”.
sábado, 8 de novembro de 2008
As cores de vida
Eles se casaram tendo um (ele) dito a outra (a ela) que era soropositivo. Isto ainda no namoro. Não houve impedimento no coração de nenhum deles. Menos ainda no dela, que não é soropositiva. Religiosos, creram nas suas convicções de que o amor realiza milagres. Eu não duvido. A vida é prova-em-si: um milagre audacioso (e inigualável) do amor. Nem a clonagem é capaz de reproduzir tamanha perfeição (no máximo, apenas a imagem; não a consciência).

"Hoje, no entanto, um sol que recusa se pôr. Foi decisão deles. Os tempos nos obedecem quando viver vale à pena."
Nem sempre foi assim, pude ouvi-los. A bonança que se fez foi precedida de temporais e confusão nas regiões mais abissais do ser. Delírios e quase desistência. Solidão, medo e dor do inevitável. Hoje, no entanto, um sol que recusa se pôr. Foi decisão deles. Os tempos nos obedecem quando viver vale à pena. Por falar nisso, combinamos ao longo da semana um passeio com pôr-de-sol. Despedimo-nos. Foram-se e me deixaram numa tarde menos anuviada. Sentei-me diante do teclado, pensei com o baralho de letras próximo dos dedos e esbocei um pôr-de-sol estampado diante do que aprendi. Milagres da vida, coisas que não se repetem em qualquer um. Uma história que precisava compartilhar.
Conjugando diagnósticos
Sou um isso.
Meu viço é a vida.
Meu vício é o viver.
Amar até a palavra.
Fecundar significados.
Sou uma senda.
Um caminho só meu.
Uma vírgula na terra molhada,
sementes brotando, idéias paridas.
O vento acaricia a cortina ainda branca.
Sou uma voz na exceção.
Uma nota em fé, bem lá, a si,
a sós, bemóis, em paz, qualquer sílaba.
Uma história inacabada, o tropeço, a ênfase.
O arrepio do vento consola a cortina na janela...
quinta-feira, 6 de novembro de 2008
Uma parábola recontada

Mas Deus lhe disse: “Como és tolo... Não és dono do teu corpo e pensas que, com esse corpo que não te pertence podes possuir alguma coisa? Hoje vão pedir a tua vida! Deverias ter gasto o que ganhaste enquanto a vida te era dada. Agora que a tua vida te é tirada, o que ajuntaste vai para outros... De que vale a um homem ganhar o mundo todo se, para ganhá-lo, deixa a sua vida no presente escorrer por entre os dedos de sua mão?
Rubem Alves, in “Quarto de Badulaques LXXV”
quarta-feira, 5 de novembro de 2008
Transformações nos mundos que habitamos
Mudamos, ou pelo menos deveríamos mudar, positivamente o mundo ao redor. Nem sempre é assim, é verdade. A Mãe Natureza que o diga. Seu pior inimigo é justamente a ação do homem.
O mundo hoje, por exemplo, amanheceu com fatos novos frutos da mudança que se impõe na História. Os americanos elegeram o primeiro presidente negro de sua História. Barack Hussein Obama, o senador democrata. Duvido que alguém há algum tempo atrás, quando da ocupação dos EUA no Iraque de Saddam, iria crer se afirmasse profeticamente que um dia a América iria ter o seu próprio Hussein. Na Casa Branca, como o 44º presidente. Não menos interessante seria pensar, há muitos anos atrás, que este país um dia iria eleger um presidente sindicalista e torneiro mecânico. "A vida é uma peça de teatro sem ensaios", dizia Chaplin.

"Mudanças se fazem necessárias quando o mundo – o nosso mundo – pede fôlego de verdade e paz conosco mesmos."
Mas não é apenas o mundo de fora que muda. O de dentro também. Todos mudamos. Bem, todos deveríamos ter o prazer de mudar. O que aprendi é que a mudança no mundo interior afeta o mundo exterior. A sacada não foi só minha, mas de São Paulo séculos antes de mim. “E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente”, ensinava o cara, convicto que um interferia no outro.
Mudanças acontecem diariamente no pensar, no agir, no sentir a vida com suas tonalidades. Mudanças surgem com as ebulições de novas idéias, algumas escolhidas a dedo para serem novos planos de vida. Mudanças se fazem necessárias quando o mundo – o nosso mundo – pede fôlego de verdade e paz conosco mesmos.
Já fiz tantas mudanças que não seria louco de contá-las. Pra quê? São inúmeras. São constantes. São vitais dentro do processo de amadurecimento e equilíbrio com a vida. Deixei tanta coisa pra trás. Deixei de curtir determinados estilos musicais e até programas de TV. Deixei de acreditar em contos de fadas da contemporaneidade. Passei a enxergar alguns sapos no lugar de príncipes. Aprendi a discernir o “ser” da “aparência de ser”, se bem que o aprendizado é constante. Tornei-me menos ansioso, porém profundamente mais sentimental. Deixei a ingenuidade do discurso absoluto, fosse qual fosse. Abri-me para a verdade-do-outro, como aprendi uma vez com Marília Pêra. Conheci lugares e pessoas que, em razão de “como” cria, eram desimportantes noutras épocas. Passei a identificar sinais de enfermidades no ser, o que, pra mim, só existiam em razão da matéria. Tanto em relação a mim quanto em relação aos queridos próximos. Descri completamente dos caminhos que estimulam a virtualidade como chão seguro. Salvando-se raríssimas exceções, hoje só piso nos solos que se podem tocar. Mesmo. O mal antes tão distante, passou a mostrar-se bem diante dos meus olhos. Nas ruas. No trabalho. Nos que se diziam amigos sem nunca terem sido. Nos que falavam de amor sem nunca terem conhecido o amor.
Vejo que mudanças ocorreram sob diversos ângulos. Isto sem falar nas quedas, nos tropeços, nas frustrações, nas paixões não correspondidas, etc. Quero ainda mudar tantas coisas hoje e no amanhã. Eu sei, eu sei, lembrei que ontem escrevi sobre o saber aquietar-se com o cada dia. Trata-se, porém, de um ideal salutar para minha própria História. E quem é que não quer o que faz bem? Sendo assim, eu quero mudar sempre.
terça-feira, 4 de novembro de 2008
O que nos basta no agora
Dedicado a todos os amigos que me amam e são correspondidos:
“Ai quem me dera ouvir o nunca mais
Vinícius de Moraes
Nota: a imagem acima intitula-se “Heartbeat” (batida do coração). Autoria desconhecida. Um êxtase para quem curte o segundo-eternidade de cada gesto terno e simples.
segunda-feira, 3 de novembro de 2008
Encontros e despedida: uma questão lispectoriana
Ontem, dia de finados. O congestionamento fica incalculável pelas ruas nas quais preciso trafegar. A resposta não sobe estranha à razão. Moro no bairro onde se concentram estranhamente quatro cemitérios, o maior do estado, um religioso, um israelita e outro com a pompa de ter sido o primeiro vertical do país. Policiamento ostensivo é reforçado. Camelôs e flores dão brilhos e cores à la Joãozinho Trinta. Mas o dia tem um ar grave pra se respirar diante desses cenários. Prefiro sair daqui, buscar novos ares fora do bairro. Caminhando, vejo no chão um desenho que parte o lúgubre ao meio. Um desenho de amarelinha, a brincadeira que não se vê mais nos pés de ninguém. Sorrio, mas prossigo. Entro no ônibus. Encontro conhecidos até lá. Aceno educadamente. Assento. Viajo. Salto. Caminho. Encontro amigos. Encontro abraços. Encontro uma notícia triste. Alguém que conheci há uns meses atrás veio a falecer. Sepultamento nesta segunda-feira. Trinta e poucos anos de existência. Preocupo-me com as causas. Amigos me respondem. Meningite. Reunimo-nos e fizemos uma prece. Adrielly, o primeiro transexual que conheci de perto. Chamavam-na “dama da cozinha”. Disseram que preparava excelentes quitutes. Nunca deles provei. Pouco conversamos, mas tenho boas recordações. Discreta – o que nunca imaginei encontrar numa “trans” para ignomínia minha –, elegante, temente a Deus e de poucas palavras. Um obliquoso antagonismo no estereótipo homicida que nos habita. Pra muitos juízos de plantão, uma imoral. “Perdida”, no linguajar da religião e de seus adeptos tão cheios de coisa-alguma-pra-deus.

O verbo existe de per si. "No princípio era o verbo", assevera a epifania no primeiro capítulo do Evangelho de João. Sabedoria antiga que ensina o que a vida traz: o verbo sempre esteve presente... Hoje sou eu quem não estou para muitas palavras, sejam verbos, sujeitos ou predicados.

Seguindo pela rua, telepaticamente, a voz e o sotaque de Clarice surgem como chuva de papel picado:
Eu me agacho e cato minha resposta nos pedacinhos em branco que ainda escreverei...
...
sábado, 1 de novembro de 2008
Comercial politicamente (in)correto
Porque a palavra fala mesmo não se sabendo pra que serve. E a dúvida é eloqüente, perturba como eco. Se houvesse em mim tamanha insanidade, a ponto de não querer mais viver sem ambas, como me compreender num mundo em constante mutação?
E já que duvidar é verbo no cio...
“Posso duvidar da realidade de tudo, mas não da realidade da minha dúvida.”
André Gide
Lidando com os desafios, simples ou não

E ainda poderia citar mais...

O “ter que”. O “assim como”. Lidar agitadamente com o extremo. Lidar sossegadamente com a injustiça. Não lutar a luta contra qualquer vício. Perceber opinião própria na unanimidade sem naturalidade. Entender o preconceito em quem fala de amor (aliás, entender qualquer preconceito). Assistir a um ser humano sem brio. Ou em profunda miséria, inclusive a do lado de fora. Discernir a malícia do momento-encanto. Discernir a putaria do desejo necessário. Felicitar a impetuosidade desassistida. O calar-se quando se sabe correto. Compreender os motivos da coisificação humana no ser, no ter e no jogar fora. Deslumbrar-me com a sofisticação do lado de fora. Deslumbrar-me com o coisa-alguma, o qual é o que se supõe ser qualquer coisa para fora de Deus (como se, fora Dele, coisa alguma existisse).
Mas irei parar por aqui. É o bastante. Por ora.
Bom final de semana a todos!
Sigamos em paz!