sábado, 23 de agosto de 2008

História das escolhas do coração


Depois de enfrentar nos tribunais, pela manhã, os advogados do ABN Real e da Petrobrás, à tarde atendi a vários clientes no escritório da ONG. Um deles, lá pelas tantas, me procurou. Tudo bem, já se tornou amigo e é em razão deste fato que salientou algo que me deixou bastante reflexivo com os caminhos que os muito gostares da alma humana percorre. Disse-me, em relação a uma terceira pessoa: “Não faço questão que goste de mim, desde que esteja comigo. O importante é que eu sei que amo.”

Existem vários amores e vários “gostares” como coloquei. A cada afeto, uma escolha diferenciada. Assim é a diversidade humana. Assim é a complexa alma humana. Sabemos, no entanto, que, independentemente de qualquer coisa ou pessoa, há um gostar – podemos dizer “amar” – que deve nos acompanhar do início ao fim, o amor próprio. Quem não se ama por inteiro, penso, não sabe o que é amar de fato. A primeira decisão a tomar é, portanto, identificar que o nosso primeiro amor é o próprio. Será que falei algo escalafobético? Não, estou certo que não; tanto que para muitos já se tornou frase de pára-choque. Amor próprio. Mas tudo isso que penso, penso sem estabelecer ajuizamentos em relação a quem quer que seja.

Numa relação, amar e ser amado é a resposta natural que obtemos durante a caminhada a dois. Quando não há correspondência é porque não temos uma relação, mas um só amor que pensa amar enquanto adoece porque pobre de afeto, porque não quer enxergar, porque se acostuma com o não-ter (mesmo estando fisicamente presente ao lado de alguém). Todas essas reflexões me povoaram a mente enquanto observava meu amigo se entregando à companhia das lágrimas. Após o silêncio respeitoso, falei-lhe algumas coisas não menos respeitosas porém carregadas da verdade que só amigos dizem quando todos parecem apenas querer agradar. Falei-lhe de nossas escolhas. Falei-lhe dos sentimentos.

Por que relato o que acabei de dizer? Porque, assim como ele, não poucos amam se esquecendo de si mesmos. Amar sem esquecer-se de si é saudável, já ensina a psicologia. A droga toda é que, em se tratando de sentimentos, vale o dito da boca de Jeremias, profeta judeu de uma época muito remota e anterior à Cristo: “enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e desesperadamente corrupto; quem o conhecerá?”

2 comentários:

Anônimo disse...

Filho querido, como gostaria de ser como este amigo que em lágrimas pode regar seu coração e você com todo o carinho alugou por um tempo, o seu ouvido! Nestas 2 últimas semanas eu precisei tanto de 1 ouvido, busquei e não encontrei... Eu precisava tanto de ombro amigo, mas não encontrei...
Fui para o mirante do parque das Mangabeiras,lá eu chorei olhando as nuvens que brincavam no céu de "esconde-esconde", admirava as montanhas, as flores, tudo criação de Deus! Lá eu estava em paz... mas, resolvi descer do mirante, pegar o ônibus e voltar para onde estava os meus problemas e não tinha ninguém para me consolar!

Filho, deixo aqui a minha bênção para você e clamo ao Senhor para que Ele sempre te dê este "dom" de aconselhamento!
Um beijo! Sua mãezinha mineira, ANNA MARIA

[Farelos e Sílabas] disse...

Lembra que sempre dizemos que nada é por acaso? Naquele momento, sabemos, o Mangabeiras lhe foi seu cantinho do silêncio, o ambiente propício para aquietar-se. Tenho certeza que lhe foi necessário!

"Lá eu estava em paz", foi o que disse. E não precisa dizer mais nada. Tudo o mais já nos dissemos recentemente, nesta semana. Beijo!

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