quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Onde estarão – Parte I


Onde estarão os cabeças-pensantes deste país? Estarão perdidos nas universidades no estrangeiro, patrocinados pela CAPES (leia-se verba do Governo)? E por aqui? Onde estarão os jovens, homens e mulheres que se antenam com o que rola no microcosmos, no seu mundo particular – seja ele o bairro ou a cidade, seja ele o estado ou o país ? Onde estarão? Não se vêem muitas cabeças em meio a tantas outras que rolam pela guilhotina do descaso. Pior, da indiferença. Simplesmente não se vêem muitas por aí.


Cabeças-pensantes. Verdade é que nunca se precisou de tantas nem de algumas. Precisa-se de qualquer uma. De preferência, cabeça que pense pra além de si mesma, do copinho de cerveja no final da tarde, das risadinhas infames pelo que disse mas ninguém nem sabe por que riu, da baladinha que é freneticamente esperada todos os finais de semana sem que sequer saiba-se como cobrar pela reforma da praça no bairro que tá uma merda ou mesmo como fazer uma simples coleta seletiva no lixo do prédio, enfim, de tantas outras coisas as quais chamaria realidade.

A gente vai se acostumando com a síndrome da responsabilidade transferida. “Tem gente pra fazer isso, pra que se preocupar?” – alguns amigos me dizem. É um estilo freudiano de ser, diria eu. Tudo é mera transferência pra não se fazer nada. Tenho amigos, inclusive, que só pensam em sexo. Bacana, mas é só? Outros amigos só querem festa. Uhu! Legal. E depois? Volta-se como era antes na terra de Abrantes? Mesmice. Razões pra não se fazer nada em prol de nada, menos ainda de ninguém. Que cabeças somos nós? A pseudo-revolução da geração coca-cola passou? Não, não perguntarei nada às viúvas e aos viúvos de Renato Russo. Os fatos são eloqüentes por demais... Sei que reinventamos as gerações de acordo com nossas dês-preocupações (pra não falar em alienação). Então, nada passa. Permanece, porém com outras novidades.

O Hospital de meu bairro tá fechando as portas. Referência estadual no combate a várias doenças infecto-contagiosas, o Hospital São Sebastião ta quase fechado. No dia do abraço simbólico no hospital, poucas pessoas do bairro presentes. Médicos e o pessoal da saúde eram em maior número. Avisamos, colamos cartazes, mas e daí? A agência postal quase fechou se não fosse o incansável esforço de uma amiga e eu colhendo mais de cinco mil assinaturas em todos os lugares, prédios e condomínios. Vejo que as ruas estão sem árvores. Vejo que as calçadas estão sujas e quebradas. Vejo que o posto de saúde Dr. Antônio Braga Lopes não t funcionando com a capacidade para a qual foi reinaugurado. Já estamos formando comissão pra falarmos com o secretário municipal de saúde. Sou político? Não, mero morador. Consciente. Tem gente que faça por mim? Deveria ter. Sou como os versos de Cazuza porque acredito que o tempo não pára. Sou notas da canção de Geraldo Vandré porque sei que devo fazer a hora e não esperar acontecer. Faltam é mais cabeças pra me ajudar a pensar junto. Ah, se houvesse uma espécie de polinização de consciência! Mas seria uma sacanagem muito grande empurrar para as abelhas o papel que nos cabe a cada um. Individualmente.

Nota explicativa: A inspiração para o texto se deu quando tentava conversar com uns amigos sobre algumas questões da atualidade. Falando sobre a convenção do partido democrata na cidade de Denver, nos EUA, que aclamou a escolha de Barack Obama como candidato à Casa Branca, fui percebendo que poucos se dão conta do que rola pelo mundo afora. Pior, quando perguntei se sabiam a respeito do histórico julgamento que ocorre no STF sobre a questão de soberania na Serra da Raposa do Sol, lá em Roraima, que encobre, na verdade, disputas acirradíssimas entre as tribos indígenas (donas das terras na reserva federal) e os grupos de arrozeiros, ninguém soube me responder absolutamente nada. Fazendo um pequeno teste, resolvi perguntar sobre a turnê mundial do novo álbum de Madonna. Não foi surpresa pra mim perceber que todos não só tinham conhecimento como estavam se preparando, inclusive já sabedores que haverá um show extra na cidade de São Paulo, à vista da grande procura pelos ingressos. Diante do relato, imediatamente me vieram à mente os versos da canção de Renato Russo: “Que país é esse?”. Este foi meu start point para desabafar um pouquinho com minhas inseparáveis palavras do momento. Como diria meu sobrinho Josué, de apenas três aninhos: “Ah, bom!”. E antes que alguém pergunte: sim, eu também curto Madonna. Tá explicado!

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