segunda-feira, 7 de abril de 2008

Explicando o poema “O errar o alvo”


A inspiração do poema “O errar o alvo” se deu logo a seguir uma troca de palavras com um desses caminhantes religiosos que, vez por outra, cruzam nosso caminho na estrada-vida. Para ele (e para muitos), ser assim ou assado é estar dentro ou fora da “lista de Deus", diga-se, o Deus da Religião. A dele, no caso.

A Bíblia, livro sagrado para os religiosos e “em tese” um norteador para o bem daqueles que nele se inspiram, freqüentemente é usado em benefício e reforço do discurso em voga. Assim é que a LEI-tura dura e fria do texto que se quer persuasivamente impor, isolando-o de contextos, mas sobretudo isolando-o do “contexto-amor” visto no Evangelho, serve como uma espécie de “lista de aceitação de Deus”. Em tese alguns até negam; outros, não negam, mas sufocam com a primazia dada à conveniência do “sentir religioso” predominante. Na prática, entretanto, é isso mesmo que fazem: a lista de aceitação de Deus. E nesse antropomorfismo aleijado conferido a Deus, seguem suas prédicas com discursos dos que se sentem “zelosos da lei” (leia-se “os inimigos de Cristo”), auferindo significados estranhos ao conteúdo da Graça, revelando com isso o “outro Evangelho” acerca do qual Paulo chegou a mencionar como sendo “anátema”, ou seja, mal-dita informação (a julgar que “Evangelho” é sempre boa nova).

De tal modo a informação é equivocada – pra não dizer "mal" "dita" a tempo e fora de tempo – que o apóstolo Paulo, escrevendo aos “do Caminho” em Roma, se inspira para nos trazer a máxima homogenizadora da condição humana: “Como está escrito: Não há um justo, nem um sequer” [Rm.3]. O errar o alvo é também não dar crédito à força desestabilizadora proveniente dessa certeza: “não há um sequer” que seja aceitável por si. Isto é Graça. Errar o alvo, ainda, é o não-amar não apenas esta certeza como muitas outras que incluem sempre (posto que Evangelho é sempre inclusão) as diferenças como obras-primas de Alguém não-repetitivo na sua criação. Por isso quem crê não é condenado [“nenhuma condenação há para os...”], pois descansa em saber que um dia foi absolvido e projeta a mesma satisfação como bem-querer a todos. O mais é blábláblá de quem não quer acertar alvo algum!

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