domingo, 20 de abril de 2008

Dos rótulos


Quando se rotula alguém quase sempre o alguém passa a ser o rótulo. Eu mesmo me sinto tal - o rótulo-em-si, não propriamente a mim mesmo. Nestes casos, o rótulo passa a ser a projeção andante de mim. Ele me forma, e não o contrário. Hoje em dia pensar em defender qualquer coisa é, por si, rotular-se. Ninguém mais pode dizer qualquer coisa fruto do raciocínio (tão sadio e cada vez menos exercitado), pois corre-se o risco de ser rotulado pelo que argumenta (e nem sempre um argumento é uma defesa). Os rótulos dependerão sobre a que tema se possa argüir, refutar, transigir ou parecer defender. Se, por exemplo, falo de processos de individualização com consciência de ser-se quem se é, lá vem o rótulo de bancar o “transparente”. Os fatos – e, neles, a verdade – esmorecem diante das forças acusatórias das máquinas de rotular. A insígnia é o que prevalece. Se disser alguma coisa mais de uma vez sobre determinado tema, eis-me alvo dos rótulos.

Dia desses defendi a “idéia” do livre acesso à Verdade, que, pra mim, condensa-se em Deus (e aqui falo de mim, independente do que possam pensar a meu respeito) pra alguns me rotularem por fazer “apologia” da categoria de pessoas que defendia o livre acesso. Não por elas, “porque não há judeu nem grego; não há escravo nem livre; não há homem nem mulher; porque todos vós sois um” [Epístola aos Gálatas 3], mas sim pela largura de qualquer dimensão de aceitação ou não. Falava de pessoas e me emputecia com o pseudo-vanguardismo de alguns pensadores espiritualizados que, na verdade, revelava-se uma fôrma de velhos sentires-e-pensares untada a uma tolerância mediana ante à diversidade. Diante do quadro, nada mais insosso: a “mensagem” que defendiam resguardava um remendo novo em tecido velho – o hábito de rotular o pensar e o sentir alheio.

Estranhamente preferi não alimentar qualquer discussão. Aprendi que o silêncio fala eloqüentemente quando não abrimos mão de nossas razões. Deixei que observassem minhas falas com minhas ações na vida. Se elas ainda assim nada lhes falar, que mantenham-me rotulado. Sigo um princípio sobre a verdade baseado numa argumentação de Paulo em II Coríntios 13: “Porque nada podemos contra a verdade, senão pela verdade”. Nem os rótulos escapam diante da verdade. E olha que isso não se trata de apologia vária, princípios de ordem jurídica ou regra social. Apenas uma informação dessas que a gente não ousa brincar.


Nenhum comentário:

Related Posts with Thumbnails