quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Sintaxe na vida real


Queria ser freira. Desistiu. Tornou-se professorinha de religião - catequista infantil. Alegrias pueris para uma mulher-aprendiz. Um dia, porém, o conheceu. Ele, um jovem professor. As missas não perdiam. Era lá que mais se viam. Ambos muito equilibrados nos seus conceitos de pureza. Nos canais irrigados de sangue, os corpos acendiam. No sangue, rios de vida. Como os mistérios do terço, as fases da lua e dos corpos. Nada demais senão duas geografias. Eis o mistério daquela fé! O calor. O desejo. O tesão. O encontro. O fruto da moral: a culpa. Assustados, tão infantis, se puniram. Romperam o elo daqueles mistérios. Rezas não adiantaram. Nem adiantariam; afinal, não era pra ser. Os amigos se comoveram. Era o que todos mais queriam para eles. E eles queriam?



Ela, perdida nas dúvidas, procurou-se nos anos seguintes. O melhor de tudo, encontrou-se. A melhor amiga lhe ofereceu o peito. O calor mais puro que a moral. Ela aceitou. Confusa, se confessou. Absolvida pelo desejo, se entregou. À amiga perguntou: somos amigas ou amantes? Entre, vamos conversar. Ela entrou...




Conheceram-se num madrigal. Ele a ouviu cantar. Ela o ouviu declamar. Apaixonaram-se. Naquele jardim tão bem cuidado felicidade crescia. Na estação própria um filho lhes nasceu. O lar sorriu até que ele perdeu o emprego. Não durou muito ela o vitimou. Introspectivo, depois de todas as respostas, emudeceu. Tempos depois, um novo amanhã e um novo emprego. Apenas uma fagulha de sol. Pouco a pouco tudo esfriava. A cama e a poesia não declamavam mais rimas. Sequer gemidos verdadeiros. Sombras noturnas cobriram o jardim. No emprego se firmou. Amizades construiu. Um amigo em especial. Histórias parecidas. Nos diários revelados uma poesia pelo olhar. Versos de tão parecidos, germinados iguais. Sob aquelas folhas, uma camada de tinta original. Feliz, reconstruiu-se por dentro. Por fora, a aparência do mesmo cenário. Aparentemente, nada diferente. O filho, no entanto, o maior tesouro. Do casamento apenas uma folha perdida na gaveta. Poeiras também...



Três anos se passaram. Seus versos cada vez mais iguais. Suas camadas de tinta, mais e mais originais. Certo dia, ergueu-se diante da janela do quarto. Abriu as cortinas. Convidou os feixes de luz. Retirou todas as peças de roupa. Ficou apenas com a sua própria. O seu “eu”. Pegou a moto e partiu. Descobriu que continuaria a ser com ou sem casamento. De fato, como sempre o foi, é...




19 comentários:

Lúcio Fer disse...

Ai, q lindo... Entre o pudor e o amor, eles fizeram uma escolha...

J. M. disse...

Você é um escritor! Estou paralisado com tamanha poética, com a forma como você descreve os sentimentos, as sensações, as atitudes. Adorei. Simplesmente, adorei.
Parabens.

Pedro disse...

como faço para ser seu follower?

muito legal o blog!

Pedro

Dany disse...

Lindo!! E o mais importante de tudo é que, apesar de decepções e tristezas no meio do percuso, eles souberam dar a volta por cima e seguiram em busca da felicidade!
Parabéns mais uma vez pelo belo texto...
bjos

Lilian Devlin disse...

Vi um comentário seu no blog do Vavá e vim conhecer o seu. Gostei demais!Voltarei mais vezes, tenha certeza. É muito bom encontrar textos bem escritos e com conteúdo!

VINCENZO GONZAGA disse...

Oi
Onde pego mais informações sobre a palestra que vc citou no comentário no meu blog?
Fiquei muito interessado... nao estou no Rio, mas quero saber o que o resultado depois!
Valeu a dica!!!
Abração

CARLA ROCHA disse...

Cenas tão reais, tão próximas ao cotidiano... Ser "se vendo"; isso é que importa! Grande abraço,semana iluminada!

Paula disse...

Olá, obrigada pela visita. Adorei seu comentário e adorei o seu blog. O nome dele é o máximo!

Seu post, encontrar-se é uma das melhores coisas do mundo, não é? Gostei muito, muito mesmo!

beijos e volte sempre!

Homorango disse...

Nossa, isso é tudo seu????
Perfeito, adorei, amigo...

Anônimo disse...

Que lindo meu filho!
Achei interessante o começo da sua historia "Pronome feminino", porque me fez me lembrar o início da minha história.

Na adolescência,minha madrinha de batismo me levou ao convento das Carmelitas descalços e eu me encantei...queria ser freira. Já tinha na minha família Andrada, 3 tias freiras e eu seria mais uma. Só que conheci o paizão vindo da Nicarágua (estudante convênio) e aí meu desejo acabou, pois me apaixonei pelo gringo.
Na Faculdade almoçávamos juntos, veio o filme que assistimos "O diabo na terra do sol" e dali seguramos nossas mãos e só nos separamos em 2005 quando o Senhor o chamou para perto Dele.

A nossa vida foi cheia de encontros e desencontros...
Iamos a missa todos os domingos,levando os filhos, fomos catequistas, encontros com casais e por aí seguimos as nossas vidas, procurando sempre ensiná-los qual caminho certo e cada um seguiu o seu e eu dou graças ao Pai pelas bênçãos que são meus filhos.

Francisco José, pastor do Caminho da Graça, em Brasília, casado, 2 filhos; Paulo Roberto, professor de psicologia da USP e vai fazer votos daqui a 2 anos; Adriana, casou-se, separou, 2 filhas lindas e leva sua vida... Luiz Fernando agora parece que se encontrou depois de tanto tempo desempregado está trabalhando e pretende pagar sua Faculdade.
Pois é filho querido, não me esqueceria de você, um presente de Deus em 2000 quando nos conhecemos virtualmente e nos tornamos mãe e filho e como me orgulho de você, meu advogado, meu lindo.

Foi muito bom querido, ler esta história e me lembrar do início da minha que não teve um final feliz porque o paizão se foi, mas a moça da história, se realizou com uma outra e foram felizes, suponho, para sempre.

Um beijo cheio de ternura.
Su madrezita que te ama mucho, mucho.

P.S. Lindo, estou melhor, apenas um pouco sonolenta, acredito que seja de tanto antialérgico que tomei no hospital.

e-Chaine disse...

O oposto que fascina, que faz a vida valer sem nenhuma condição oposta.
O oposto que se atrai.

Abração.
Muito bom, o blog.

O amor e etc. disse...

Ah, que triste a história do cara.
Mesmo assim foi muito emocionante. Adorei as cores das fotos, belo efeito.
Mas será que os homens, mais do que as mulhres sentem a necessidade de sentir o vento na face, de sentir-se livre?

Pâmela disse...

Gostei muito dos escritos...
Leveza e ritmo nas tuas letras.
=)

Evandro Varella disse...

Obrigado pela visita! Foi muito bom vir aqui e conhecer um pouco da tua casa.
Que história bonita e que emocionante ler o comentário da Anna Maria.
Se permitir, estou te linkando, fica mais fácil de sempre estar por aqui.
Abraços

Leonardo disse...

É cara, a vida é feita de escolhas, e esperamos sempre acertar.

Abraços

Alex&Elisa disse...

Faltou o aconchegante final "...e viveram felizes para sempre"...

hohoho

Saudades de você, ó!

Vou querer resposta aos comentários...era a segunda melhor coisa que existia aqui...adorava ler suas respostas...

Beijos de saudade, ditos ao telefone!

Alex

Marcos Freitas disse...

Temos que dar continuidade a vida, e estarmos aptos para todas as cores do amor.

[Farelos e Sílabas] disse...

...

Sieger:

Como se absorve na vida, o tempo todo... a escolha.

A vida é esteticamente bela, já dizia Nietzsche. Tem a ver com a escolha de nosso olhar!

...

J. M.:

Um suspiro e, do nada, uma palavra sinfônica!
Obrigado!

...

Pedro:

Rapaz, de início o meu agradecimento. Sincero!

Respondendo à pergunta: assim que acessar tua conta, estarás no painel. É lá que adicionarás teu seguidores colando na URL o endereço do link que desejas seguir...

Abraço!

...

Dany:

Adoro o calor de tua inteligência! Tinha que ser paraibana! (rs)
Beijão!

...

Lílian:

Sim, volte. Imagina se as janelas iriam se fechar para visitas de bom coração!...

Darei uma visitinha no seu blog. De início, por curiosidade e também pela gentileza que nos torna acessíveis aos sorrisos mútuos!

Beijão e obrigado pelas demais letras!


...

Vincenzo:

Já deixei no blog. A palestra foi extraordinária. Todos nem nos demos conta das horas... Abração, rapaz!

...

Carla:

Ter olhos pra ver-se. Olhos na alma. Olhos do lado de dentro...

Obrigado pelo carinho! Semana com intensidades de paz!

Abraço pra dentro da luz!

...

Paula:

[sem palavras de tão azuis que se tornaram]

Gosto de visitar sim, encontrar sementes e plantá-las com uma ou outra letrinha de vez em quando... Voltarei! Beijão!

...

[Farelos e Sílabas] disse...

...

Eder:

Oi, Eder! Meu é apenas o que me toma. As letras, por exemplo.

As daqui, pra ser mais exato!

Abraço e sublinhado!

...

Mãe:

Sempre é bom ouvir e ouvir tuas narrativas. Elas me encantam!

“A nossa vida foi cheia de encontros e desencontros...”. Bem sei, acompanhei DE PERTO algumas linhas, mas sei sabendo do ponto de vista da leitura de um filho fora de tempo...

Outros beijos em retribuição e um só pra completar com a cereja!

...

Maicom:

O oposto que, de tão igual, revela-se na alma como primeiro desejo. Por isso mesmo, atrai. E fica. Pra sempre. Querendo ou não...

Mas a vida é assim mesmo, alguns escolhem cores mais vivas. Mas só alguns...

Abração e valeu pelas palavras. Gostei. Anote aí!

...

O amor e etc:

1ª Reflexão:

Dependendo do olhar foi triste. Mas o legal é saber que um recomeço é sempre o melhor clímax...

2ª Reflexão:

Tudo dependerá da fome. A fome que te faz comer ou que te come. Estômago, sonhos e desejo, todos temos. Já a fome...

...

Pâmela:

E eu do olhar na tua leitura.
Não pelos elogios, mas pela sensibilidade. A tua!

Num mundo como este em que vivemos... pérolas!

...

Evandro:

As portas se abrem, a cadeira abre os braços e o tapete é só sorriso macio!

Abração e, desde já, um cafezinho pra te ouvir mais!

...

Leonardo:

É na expectativa que a esperança entra no cio... Abração, rapaz!

...

Alex:

[risos]

Digamos que o aconchegante final está nas entrelinhas. Os bons leitores já entenderão. Como você, aliás, dentro do seu olhar, captou...

Beijo de saudade. Taí, uma fala pra se ouvir ao telefone enquanto se lambe a presença!

Uma resposta, duas respostas, quantas quiser... com água de côco e pés nas ondas teimosas...

...

Marcos:

O amor é. Sem explicação. Mas com todas as cores. As nossas e as que quisermos que existam...

Eu assino embaixo do que disseste. Abração!

...

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