terça-feira, 4 de março de 2008

Quaresma com cravo e canela


Enquanto devoro um doce, leio um artigo no jornal sobre a quaresma. Não que eu seja um religioso. Já fui. Restou a visão espiritual das coisas ao meu redor. Mas o calendário litúrgico não é um desses resquícios. Invariavelmente o seguimos. Natal, Páscoa, Semana Santa: veja só a influência nos nossos costumes! E, diga-se, datas ratificadas em lei. Não há como não segui-las. Falava da quaresma. Diz-se ser uma época de conversão. O dólar não está em alta. Não vale a pena esse tipo de conversão. Ao menos, não vale para mais de 130 milhões de brasileiros pobres. Ninguém investe em nada na base piramidal. Trabalha-se. Deixa-se a vida nos levar. Mas a palavra conversão a qual me referi tem a ver com o sentido dela, conforme o original em grego: meta+nóia. Meta [novo]. Nous [pensamento]. Não é adesão religiosa. Tal interpretação é deturpação do sentido original. Mas o que seria conversão?

Converter-se é refazer o velho pensar a partir de um novo paradigma, encarando tudo por outro prisma. A partir da maneira pela qual repenso a vida (e o mundo ao meu redor), é também a forma com a qual construo minha identidade. A conversão imposta nestas letras me instiga a me encarar através de uma nova maneira de pensar. Quando repenso, analiso. Discirno. Eu me visto de novas idéias que se projetarão numa atitude diferente (ou inédita). O que antes era “in” passou a ser “out” apenas porque nem todas as coisas de antes me serviriam pra qualquer coisa neste meu “agora”.

Tava pensando [ou repensando?] sobre quantas mudanças me impus neste início de ano. Foram poucas até o momento. Planejei muito mais quando do término de 2007. Estou em falta. Comigo mesmo! Mas como nunca é tarde pra nada nesta vida, sobretudo no início do ano, interajo comigo mesmo na busca pela conversão diária. Eu, tu, ele, nós, vós, eles, todos precisamos de mudanças. Fazem bem. Acomodam o espírito a novas realidades. São necessárias para os nossos auto-reajustes. Mas também penso que repensar a vida e a nós mesmos é, no mínimo, alucinante. Metamorfósico (Meta+morfos). Sei que os resultados quando brotam transformam os cenários. O maior desafio de qualquer ser humano é a mudança do cenário interior. Essa história de “pau que nasce torto nunca se endireita” é discurso comodista. É a manifestação da síndrome de Gabriela, não conhecem? Quantos não se dizem “eu nasci assim, cresci assim, sempre Gabriela” ? Lavoisier, Einstein e tantos outros provaram cientificamente o contrário. Jesus, segundo os Evangelhos e a partir de uma outra perspectiva, também. E foi com ele que aprendi a simplicidade do significado de “nascer de novo”. É um parto interior. Ao me repensar posturas e outras complexidades que carrego, nasce uma nova maneira de encarar o que tá ao meu derredor. Conversão é, diria, a movimentação de solos mais profundos. Aqueles solos do próprio “eu”. Por isso pode ser vista como um vôo altaneiro pra dentro de mim. Conversão e liberdade são como sol e sentir calor. O tempo é quaresmal. Vivemos época de reflexão e conversão. A gente pensa enquanto repensa. Eu fico por aqui pensando a vida enquanto traço um pote de arroz-doce com cravo e canela. Este é o meu vôo altaneiro do momento. Gabriela não tem nada a ver com isso!

Um comentário:

ladyneide disse...

Visão Perfeita, Cardo!
...Esse comodismo não seria justificado pela "falta de tempo" para os momentos de refexão, q acabam se tornando cada vez mais raros?!

...Eu fico por aqui, pensando na vida e com "água na boca", só de imaginar na delícia deste arroz-doce com cravo e canela!Rs
Hummmmm...bom d+++++++

Beijossss!!!

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