sábado, 23 de fevereiro de 2008

O amor, uma antiga lição e uma certeza


Acordo tem a ver com “a-core”, ou seja, de coração. Acordar é por o coração no que vier a fazer. É por legitimidade. É certeza de que levarei a sério. Seja o que for. Faça o que vier a fazer. A recíproca, por sua vez, também é verdadeira. Não há acordos solitários. Mas penso existir acordo silencioso de mim comigo mesmo. Por exemplo, já fiz acordos bem intencionados comigo mesmo pra não duvidar de minhas certezas. Decidi, por minha iniciativa, investir mais em mim mesmo.

Sei, contudo, que existem acordos que urgem pelo outro ao meu lado. Quem estará ao meu lado? “Quem é o meu próximo?”. Velha pergunta lá das salas de aula de catecismo. Jesus respondeu contando uma parábola. A do bom samaritano. O título já carrega em si sinais de radicalidade sócio-histórico-existencial. Samaritanos naquela época eram os putos da sociedade, os “misturados” com outras crenças tidas impuras pelo grupo dominante, os que se auto-intitulavam puros. Na história, o bom era o “impuro”. Que ironia! O amor é sinalizado como sentimento sem fronteiras. Sejam quais forem. Daí me vieram à mente algumas certezas. O amor não respeita nossos limites de pensar, crer e gostar. Ele é amor independente de nós. Amor existe a par de nós. A recíproca não é verdadeira. Ninguém existe sem o amor. Vegeta-se. É muito diferente. O amor é simples. Nós é que nem sempre o entendemos (ou aceitamos). Em geral, queremos amor. Por que “em geral”? Porque nem todos o tem a si mesmos. Amor-próprio. Nem todos o tem aos outros. Amor solidário. Mas isso é um outro assunto. O samaritano foi o agente de bondade naquela velha história religiosa. Rubem Alves, na obra Perguntaram-me se acredito em Deus, sabiamente nos leva a uma viagem de contexto histórico-literário. Ele reconta a mesma história como “O travesti e os religiosos”. O amor não usa passaportes. Desconhece quaisquer fronteiras. Ele é apátrida. Gostemos ou não. Neste caso, não há acordos. Amor é pra quem põe coração à obra. Uma construção, uma reforma, uma demolição. Tudo é obra. O amor é mais ou menos isso. Às vezes nos construímos, nos reformamos e nos desmontamos para construir novamente. Nunca é tarde para acordar. A-[CORE]-dar. Esta é uma das minhas certezas.

5 comentários:

Nando Damázio disse...

Texto brilhante, muito bem escrito .. Um tratado sobre o acordo, levando a um momento de reflexão .. Gostei da sua abordagem !!

Também tenho um blog, se puder visite, e o conheci por acaso mandando um recado para a Graça no Orkut .. Vi seu link lá e resolvi passar aqui .. Tá excelente seu blog, parabéns, pretendo voltar mais vezes !!
Abraço !!

[Farelos e Sílabas] disse...

Valeu, Nando. Então, a Graça acabou nos servindo de ponte! (rs...). Concordo [com-core] contigo quanto ao objetivo último do texto: a reflexão. Gostem ou não. Independente disso, desejo sempre que ame, pois amar é viver com sentido! Volte mais vezes, amigo! Visitarei seu blog sim. Aguarde!

Nando Damázio disse...

Voltando aqui para agradecer a visita e o link, e também dar uma lida em outros posts .. Já pude observar a qualidade dos textos que podemos ler por aqui !!
Abraço, até logo !!

Anônimo disse...

Olá

Sobre o acordo, sei de cor e concordo. Bacana seu post.
Que preciosa visita e gentil comentário recebi em meu blogger!Adorei demais. Fique à vontade para colocar meu blogger entre seus links. Aliás, muita honra para mim. Farei o mesmo com o seu blogger. Tentarei até atualizar.

Abraço!

[Farelos e Sílabas] disse...

Eu é que me sinto honrado com tantas palavras impregnadas de simpatia.

Gostei do seu texto ao falar dos cães e gatos (além do homem). Aliás, gostei de vários textos seus, sua forma inteligente de lidar com as letras.

Seu blog, então, já se encontra no meu índice. Pitty que pariu! Abração, Priscilla!

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