terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

A manobra, a defesa e o que é ser legal


No dia 16/12/2007 escrevi mais um texto sobre a agressão sofrida pelo niteroiense Ferrucio, 19, num dos blogs de amigos. Falava sobre a condução tecnicamente jurídica dos fatos com outro amigo quando me deu vontade de pegar o artigo e colar por aqui. Pensei na possibilidade de realizar uma denúncia sobre o que a radicalidade é capaz de produzir. Seja em que nível for. Depois, pensei, o próprio texto reprisado será uma denúncia em si mesma. Então, ao texto inédito neste blog.

Anteontem escrevi no blog do meu amigo Viula sobre a manobra jurídica que a defesa dos agressores do Ferruccio está intentando. A culpa agora é apenas do terceiro envolvido, um adolescente. E por que será que ele age voluntariamente como “bode expiatório”? Será difícil entender o por quê? Uma dica: ele tem menos de 18 anos, ou seja, é penalmente inimputável. Noves fora, e quanto aos demais? Foram apenas expectadores? A quadrilha agora é apenas de um (e este, pela manobra da defesa, é justamente o menor de idade)?

Como se não bastasse a situação por si mesma, as testemunhas não compareceram para reconhecimento dos agressores homofóbicos. Medo, foi o que disseram. No depoimento que o menor-bode-expiatório deu, afirmou que agrediu porque teria sido vítima de uma cantada, o que, segundo o carinha, muito o irritou na sua heterossexualidade. Evidentemente a reação a uma cantada – considerando a hipótese de que ela existiu - é a porrada até levar a vítima a desmaiar, chutá-la até arrebentar a cara. Ação e reação. Amor e ódio, essas coisas normaizinhas. Como tudo caminha na mesma intensidade, o que foi uns tapinhas? Afinal, tapinha não dói, né, Ferruccio?

Fato é que Ferruccio foi perseguido pelos três, tentou se esconder numa lanchonete mas não pôde permanecer porque o dono do local não queria confusão por lá. Ao tentar fugir pra preservar sua integridade física, foi alcançado e agredido pelos três. Eu disse: três!

Eu me pergunto uma seqüência de fatos, mas, por ora, lanço mão de quase todos os meus questionamentos para ficar com o mais básico de todos: por que incomodamos tanto a alguns? Acredito que a origem de tudo, porém, ta lá atrás. É da formação do indivíduo. Cresce-se (ainda que imaturamente) com a idéia imbecil que ser diferente é repulsivo, “anormal”, atípico e destoante. Pobres criaturas, a miséria que os define é tão grande que o que lhes sobra é monturo, é pó e cinzas. Se possível – e nós cremos que sim -, atrás das grades!



É somente quando a sociedade acorda e cobra providências que as tais míseras criaturas, ditas no parágrafo acima, voltam para os bueiros de sua vaziez de espírito. É somente quando os núcleos responsáveis pela formação do indivíduo se mobilizam (começa em casa, passa pela escola e se entranha como tempero na vida) que entendemos com suavidade que pensar diferente até pode, só não pode dizer que ser diferente não é legal. Ninguém melhor que os diferentes pra afirmarmos que é!

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