Imagem: "Expositor", por Ian Rangel.
sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008
'50-tinha' pra Bossa Nova
quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008
Coisas pra gostar
02. Gosto de devorar livros e saberes. Gosto de ensinar a pensar. Fazia isso desde os idos de catequista. Cada um tem seu modo de pensar. Pra que formatarmos o pensamento?
03. Ainda acredito na bondade da alma humana. Sei que os “luzeiros” estão acesos pelas ruas e esquinas da vida. Basta ter olhos pra vê-los. Quando fecho meus olhos, abro muitos outros poesia a fora. Quem disse que a vida é somente prosa?
04. Amo a natureza. Passeio pelos recantos da cidade. O Rio é tão privilegiado! A Urca, as pedras do Arpoador, o calçadão de Copa, o Caminho Cláudio Coutinho, o Forte do Leme, o friozinho do clima ameno no Jardim Botânico, nas Paineiras, na Gávea. O Centro Histórico. A Quinta da Boa Vista. Os museus, os centros culturais, tudo o que tem ar de cultura. Bom pra se ir. Bom pra se fotografar. E por aí vai...
05. A boa companhia. Tenha o nome que for. Eu me perco em boas companhias. Tem vezes que é melhor até esquecer o caminho de volta...
Coisas, apenas coisas, que não curto
01. O medo, a pressão, a fala negativa nos discursos feitos e também ouvidos. Como faz bem ser feliz! Como perde quem não faz do bem sua força motriz!
02. Gente coisificada. Um "isso". Alguma coisa que se esvai, se perde. Empobrece pra ser apenas - comerciavelmente - “prazer”, “aparência”, "incoerência". Quando muito, apenas um sufixo: “desejável”, “cobiçável”. Que morfema lamentável! Isso pra mim é que é inumano! E alguns seguem o fluxo sem nem se aperceber...
03. Balas de café. Chá com açúcar. Acordar cedo. Fofoca. Noitadas e suas variantes pela “night” afora... Me desculpem, é que meus dias são melhores servidos ao sol.
04. Verdades impostas. Mentiras. Gírias de gueto. Roupas extravagantes. Brincos. Trincos. Fumaça de cigarro. O próprio cigarro. Desrespeito a mim, a ti, a quem for.
05. A superficialidade. A falta de compromisso. O “desromance”. O pagar com a mesma moeda. A falta de atitude. Nossa, sou atípico!
Coisas pra cansar
“Como é bom ver tanta gente bem em volta da minha vida...” – canta o Ira! Dessas coisas é que não me canso.
Que canção você é?
Pensava rapidamente sobre isso enquanto relembrava algumas obras que li. Mario de Andrade dizia que era “trezentos”, "trezentos-e-cincoenta”, mas que um dia afinal se toparia consigo mesmo. O processo de auto-conhecimento é gozado. A gente faz uma viagem alucinante por uma vida toda pra perceber que as maiores raízes em nós estavam na simplicidade dos anos, das coisas, da vida. Muita gente vai concordar comigo quando traduz o que viveu como uma trilha sonora. Que canção poderia expressar nossa mais profunda raiz? Qual canção afinal somos nós? “É preciso saber viver?”, “Como nossos pais?” Não me diga que alguém aqui ousará dizer “Yellow brick road”! A minha canção não é propriamente uma canção concreta, fixa, com identificação. É apenas uma canção. Sons, notas e lembranças da infância. São os sons combinados de briga de pardais me acordando. Sons das maritacas no abacateiro da dona Melita, minha vizinha portuguesa. Sons das canções que minha mãe inventava pra eu adormecer. Sons dos remos das canoas nas águas do cais, bem aqui na antiga Colônia de Pescadores Z-5. Sons dos temporais de granizo nos telhados de zinco da saudosa dona Melinha. Sons dos ventos nas árvores da Escola Comandante Armando Pinna. Foi lá que estudei dos 6 aos 9 anos de idade. Acredito que a combinação deles todos daria minha canção...
segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008
E o Oscar vai para "Freeheld"
Há dois meses atrás fui procurado por um senhor com drama quase parecido. A diferença era o fato que seu companheiro já tinha falecido. A pensão por morte foi negada, a despeito dos mais de quinze anos de união. Detalhes que não poderia revelar (ética profissional) lhe impediu o recebimento do benefício previdenciário. Semanas se passaram. Nas idas e vindas daquele cliente fui obtendo um caramanchão de informações que me fizeram pensar e repensar não apenas nossa cultura como também minha própria humanidade. Sim, antes de qualquer profissional há um ser humano (ou deveria havê-lo). Resolvi ajudá-lo. O caso está em estudo. A par disso, uma realidade. Eis mais uma história envolvendo vidas e patrimônio adquirido em comum. Falei vidas sim. Há mais força no termo. A palavra é sexualmente mais embaixo. Laurel, Stacie, Zés e Marias da vida é que mereciam prêmios. Pergunte a eles quais! E ainda tem gente que confunde cultura e moral com Justiça. O pior é que não é só aqui. “Freeheld”, ainda que enlatadinho dos EUA, confirma o que acabo de dizer. Não vejo a hora de assisti-lo.
Enquanto não chega ao Brasil, fica aqui uma palhinha neste vídeo do Youtube:
sábado, 23 de fevereiro de 2008
O amor, uma antiga lição e uma certeza
Sei, contudo, que existem acordos que urgem pelo outro ao meu lado. Quem estará ao meu lado? “Quem é o meu próximo?”. Velha pergunta lá das salas de aula de catecismo. Jesus respondeu contando uma parábola. A do bom samaritano. O título já carrega em si sinais de radicalidade sócio-histórico-existencial. Samaritanos naquela época eram os putos da sociedade, os “misturados” com outras crenças tidas impuras pelo grupo dominante, os que se auto-intitulavam puros. Na história, o bom era o “impuro”. Que ironia! O amor é sinalizado como sentimento sem fronteiras. Sejam quais forem. Daí me vieram à mente algumas certezas. O amor não respeita nossos limites de pensar, crer e gostar. Ele é amor independente de nós. Amor existe a par de nós. A recíproca não é verdadeira. Ninguém existe sem o amor. Vegeta-se. É muito diferente. O amor é simples. Nós é que nem sempre o entendemos (ou aceitamos). Em geral, queremos amor. Por que “em geral”? Porque nem todos o tem a si mesmos. Amor-próprio. Nem todos o tem aos outros. Amor solidário. Mas isso é um outro assunto. O samaritano foi o agente de bondade naquela velha história religiosa. Rubem Alves, na obra “Perguntaram-me se acredito em Deus”, sabiamente nos leva a uma viagem de contexto histórico-literário. Ele reconta a mesma história como “O travesti e os religiosos”. O amor não usa passaportes. Desconhece quaisquer fronteiras. Ele é apátrida. Gostemos ou não. Neste caso, não há acordos. Amor é pra quem põe coração à obra. Uma construção, uma reforma, uma demolição. Tudo é obra. O amor é mais ou menos isso. Às vezes nos construímos, nos reformamos e nos desmontamos para construir novamente. Nunca é tarde para acordar. A-[CORE]-dar. Esta é uma das minhas certezas.
Nunca pare de amar
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[*]Pasárgada foi capital da Pérsia, hoje Irã. Para os persas era o lugar sagrado, a terra ideal para se viver. Manuel Bandeira, em seu famoso poema "Vou-me embora pra Pasárgada" usa a mesma palavra Pasárgada para indicar um lugar ideal.
sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008
Queridos diálogos
Bia: - "Eu nunca fui alvo do amor de ninguém..."
Lúcia e Ivan: - "A gente te ama."
Bia: - "Ah, mas não tô falando de amizade."
Bia: "Falo é de amor. É diferente. Amor 'homem-mulher', entende? Nunca fui alvo de um amor assim..."
Ivan: - "A gente nunca sabe..."
Bia: - "Ah, eu não seria tão distraída!"
Lúcia: - "A gente é muito distraído pra tudo o que tá fora de contexto..."
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Cena com as personagens Lúcia, Bia e Ivan.
"Queridos Amigos". Episódio de 21/02/2008
quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008
Confissões típicas-de-mim - Parte I

O que nos torna felizes
Há tempo passou na Tv um comercial do Pão de Açúcar narrado pela poesia de Arnaldo Antunes. “O que faz você feliz?”, perguntava o próprio Arnaldo. O conjunto de palavras era de uma simplicidade daquelas que a gente só vê nos pores-de-sol de verão. Lindas. Os ecos daqueles raios de por-de-sol invadem meu parágrafo-instante e me atingem numa manhã londrinamente carioca. O que é que nos torna felizes?
“Feliz é o homem que não se condena naquilo que aprova”, dizia Paulo, o apóstolo. Sábia decisão. O problema é que alguns nem sabem quem são ou por que vivem, como então saber aquilo a cujo respeito não se condenaria ao aprovar? Cada um sabe de sua própria história. É a hora. Felicidade é segurança interna. Ela é “in” pra se tornar “ex”-terna quando é tanta que não se contém. Vaza pelos olhos. Escorre fácil no sorriso. Felicidade é um pão desfarelado! Ser feliz é mais um daqueles componentes que todos temos. Nem todos sabemos. Fato é que temos. Há muita insegurança a nossa volta? Verdade. Há insegurança gestada dentro de nós? Quase sempre há (mesmo que não confessemos). Eu 'kiko'? Eu insisto em viver. É a teimosia de uma fé nos meus sonhos. É a pulsão que me faz querer ser feliz. Isto é que me alia àquelas gentes que sobem e descem os morros. Nem percebo, mas faço isso todos os dias. E sempre volto.
quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008
Coisas em que não acredito
- Em muitas coisas, sobretudo as que vivem de aparências. O pior mundo é o do “não-ser”. Há muitos ambientes que se revelam assim. Quanto mais ortodoxo for o ambiente na busca da “perfeição” ou da “moral” mais se perceberá o latejo de um ambiente adoecido. Lá, o “incomum” será imediatamente taxado de “imperfeito”. E assim, doenças se sucederão na maioria das vezes disfarçadas de “ortodoxia”.
- No ser humano “coisificado”, pois se des-significou ao não valorizar o essencial. Assistimos ao levante do império dos “ismos” nestes dias. Como em toda batalha, há muitos mortos-vivos e feridos-nas-emoções caminhando por aí, esbarrando-se pelas esquinas da vida. Os sãos são os simples de alma, ainda que ricos e poderosos. Os sãos são aqueles que fazem de sua vida um caminho existencial seguro e protegido da instigante adesão aos “modismos”.
- No mundo da religião e nos seus instrumentos de poder e controle. Deus que se deixa caber na religião (ou em qualquer outro espaço-ambiente) deixou de ser divindade para ser objeto de manipulação. Uma “doutrina” pode muito bem protagonizar o que digo. Penso em Deus como o Ser mais absolutamente livre que existe. Ele não está. Ele é! E penso que seus filhos, todos eles, sabem o bem que tal liberdade produz para a alma dos que confiam Nele.
- Na vida monocromática dentro da qual cabem apenas o previsível, o “igual a toda a gente” e o “normal”. Meu maior estímulo para o que penso acerca disso tem a ver com os ensinos de Jesus. Ele que esclareceu a multiformidade dos seres na vida, mostrando que tudo é plural, é “multi”, infelizmente não é compreendido. Criaram um “outro ensino” em que se diz o que ele não disse. A vida, segundo ensinos Dele, é multicolorida. Todas as cores são cores de vida. E em todo rastro de vida há a certeza do AMOR DO PAI, seja o ser diferente, estranho ou bizarro.
terça-feira, 19 de fevereiro de 2008
Lances do olhar...
(Caio Fábio)
“eu
quando olho nos olhos
sei quando uma pessoa
está por dentro
ou está por fora
quem está por fora
não segura
um olhar que demora
de dentro de meu centro
este poema me olha”
(Paulo Leminski)
Sobre meu pensar - I
Vai um coxão, aí?
Triste se não fosse verdade, mas nos tornamos cada vez mais consumidores de um grande açougue ou verdadeiros açougueiros da Idade Média. Corpos deixaram de ser parte de um todo para serem o todo-em-si. Vendem-nos como bifes de alcatra, acém, contra-filé, peito, maminha, coxa, tanquinho, bundas, etc. Isso quando não mostram outras partes apelativamente. Tudo porque há consumidores famintos da cultura do nada e que dão tudo – literalmente, dão! – ao vender/comprar esses cortes de carne. Em seguida, postam “tem MSN? O meu é...”. Isso quando não resolvem deixar mensagens e scraps típicos de seres-objeto, elogiando as peças que mais chamaram a atenção na vitrine do açougue. Entre tantas perguntas que poderia fazer, me questiono aonde vamos com tudo isso?
Yes! Good news!
Por que Deus criou a sua imagem
foi assim o que me ensinaram
e como Deus é amor
e não comete erros
você deve ser exatamente como Ele pretendia que você fosse
isso vale para todas as pessoas
todos os planetas
todas as montanhas
todos os grãos de areias
todas as músicas
todas as lágrimas
somos todos dele
Ele ama a todos nós
O crescer e o pensar em meio às marés
Naqueles idos já era catequista aos finais de semana. Foram tantos anos dedicados – e tão dedicados – que deixei de aproveitar muita coisa que qualquer rapaz sadiamente urbano viveria. Nunca entrei em boate. Nunca fiquei bêbado. E segue uma lista interessante...
Sempre fui questionador. Paradoxalmente, porém, não questionava quase nada do “campo da fé”. Isso não me fazia bem. Não questionava. Um dia qualquer me deparei com as palavras de São Paulo, o apóstolo intelectualizado, instigando seus ouvintes a uma mente ativa e participativa no processo de captação do que cria. Dizia ele: “observai todas as coisas e retende o que for bom”. Numa outra oportunidade parecia me esganar a quietude e eriçar todos os levantes do pensar com o seu “transformai-vos pela renovação da vossa mente”. Filosoficamente suas dicas permeavam as variantes do pensar “observação” e do pensar “transformação”. É na observação que se questiona e é na transformação que se usufrui do exercício questionador. Muito distante de me levar a escapar da fé acabei me aproximando. Fé pensante. Fé com gratidão pela liberdade de questionar e crer. Não parei mais. De questionar, você pode perguntar. Também. Refiro-me a amar Deus questionando todas as coisas. O barato de tudo é saber que Seu prazer é justamente me ver “ser-sendo” enquanto me transformo Nele a cada pensar.
O que sou hoje? Um ser consciente de mim, que sabe quem é, que caminha feliz na estrada-vida e que faz de todas as coisas escolhas diárias. O “observar” está em todas as coisas e o “transformar” está em mim. Meu problema questionador nunca foi com Deus, mas sim com seus supostos “donos”. Que fique claro. Não é papo de pescador, mas de alguém que conhece um pouco da alma dos homens do mar. Afinal, nasci e cresci em meio às vagas e as marés.
Neste verão algumas coisas me fazem bem, já outras...
Coisas de tio...
Aviso aos "orkuteiros" que aparecem por aqui
Sim a...
[SIM A] Vida e suas [VIA]-bilidades.
[SIM A] Soli-[DAR]-iedade na vida.
[SIM A] Vida com [SIMPLES]-cidade.
[SIM A] Deus que é livre em tudo.
[SIM A] Tudo que forma família.
[SIM A] Gente do bem: luzeiros deste mundo.
[SIM A] Bossa nova e novas idéias.
[SIM A] Abraçar e ser abraçado.
[SIM A] Toda forma de amor.
[SIM A] Todo amor sem forma.
[SIM A] Toda forma sem fôrma.
[SIM A] Toda diversidade.
[SIM A] Certezas maduras.
[SIM A] Sorrisos pueris.
[SIM A] Que me respeitem!
Não a...
[NÃO A] Deus encaixotado na religião.
[NÃO A] Toda verdade sem conteúdo.
[NÃO A] Baladas e sua “cultura-gueto”.
[NÃO A] Insensatez e aos insensatos.
[NÃO A] MSN como “cultura do nada”.
[NÃO A] Pagar com a mesma moeda.
[NÃO A] Coisificação do ser humano.
[NÃO A] Cantadas no mundo virtual.
[NÃO A] Tudo o que sufoca.
[NÃO A] Amor sem prática.
[NÃO A] Fé vazia de amor.
[NÃO A] [MAL]-e-dicência.
[NÃO A] [VIL]-o-lência.
[NÃO A] Que me rotulem!
Rapidinhas de mim
- Carioca merrrrmo! Só troco esta cidade de alma tropical por uma boa proposta de emprego ou pra viver a certeza de uma cinematográfica love story. (rs...)
Canhoto numa família de destros. Nada demais se considerar ser vascaíno num ninho de flamenguistas...
Ser errante que, às vezes, acerta. Acerta depois que tanto errou: no chão do meu barraco a humanidade se alastra! Mas também um ser que NÃO RESPONDE a mensagens coletivas. A falta de criatividade me desestimula. Digo a mesma coisa em relação aos seres insensatos, que transformam Orkuts e blogs em Casas-da-Mãe-Joana (com todo o respeito às mães de santo!).
Ser que NÃO ESTÁ à procura de paqueras virtuais. O mundo da virtualidade é movediço, platônico demais, uma irrealidade no estado gasoso. Não há como abraçar uma fumaça! (rs...) Portanto, se confundiu as coisas é porque anda pela cidade sem lenço, sem documento. Bom que procure uma pousada em outras terras!
Amante das artes, da literatura, da boa escrita, dos neologismos criativos, das pessoas do bem, de gente com fé na vida, de gente com arte no sorriso, de gente com senso de justiça, de gente saudável, simples e sincera.
Casado com as palavras, tanto as que se escrevem quanto as que se dizem. Faço prazerosamente uso de cada palavra nas defesas dentro dos Tribunais tal como faço nas aulas e palestras que dou. Mais de uma década dando aula de catequese para jovens e adultos. E se tentarem me calar, o que faço? Falarei com as mãos. Ser intérprete de LIBRAS acabou me facilitando a experiência de estar bem casado com as palavras, até aquelas ditas por meio de sinais!
Apaixonado pela riqueza que forma o ser humano, tanto que aprendo com gestos os mais simples e aparentemente banais. Acho que fui contaminado com as leituras de Antoine Saint Exupéry (“O Pequeno Príncipe”, “Terra dos Homens”, etc) na adolescência. Curto muito estar ao lado de gente “normal” que, pra mim, é o incomum, o diferente. E todos o somos, basta olhar de mais perto! Sem neuras ou resquícios de qualquer natureza!
Poesia encontrada em Drummond
Chega mais perto e contempla as palavras. Cada uma tem mil faces secretas sob a face neutra e te pergunta, sem interesse pela resposta, pobre ou terrível, que lhe deres: Trouxeste a chave?
A manobra, a defesa e o que é ser legal
Anteontem escrevi no blog do meu amigo Viula sobre a manobra jurídica que a defesa dos agressores do Ferruccio está intentando. A culpa agora é apenas do terceiro envolvido, um adolescente. E por que será que ele age voluntariamente como “bode expiatório”? Será difícil entender o por quê? Uma dica: ele tem menos de 18 anos, ou seja, é penalmente inimputável. Noves fora, e quanto aos demais? Foram apenas expectadores? A quadrilha agora é apenas de um (e este, pela manobra da defesa, é justamente o menor de idade)?
Como se não bastasse a situação por si mesma, as testemunhas não compareceram para reconhecimento dos agressores homofóbicos. Medo, foi o que disseram. No depoimento que o menor-bode-expiatório deu, afirmou que agrediu porque teria sido vítima de uma cantada, o que, segundo o carinha, muito o irritou na sua heterossexualidade. Evidentemente a reação a uma cantada – considerando a hipótese de que ela existiu - é a porrada até levar a vítima a desmaiar, chutá-la até arrebentar a cara. Ação e reação. Amor e ódio, essas coisas normaizinhas. Como tudo caminha na mesma intensidade, o que foi uns tapinhas? Afinal, tapinha não dói, né, Ferruccio?
Fato é que Ferruccio foi perseguido pelos três, tentou se esconder numa lanchonete mas não pôde permanecer porque o dono do local não queria confusão por lá. Ao tentar fugir pra preservar sua integridade física, foi alcançado e agredido pelos três. Eu disse: três!
Eu me pergunto uma seqüência de fatos, mas, por ora, lanço mão de quase todos os meus questionamentos para ficar com o mais básico de todos: por que incomodamos tanto a alguns? Acredito que a origem de tudo, porém, ta lá atrás. É da formação do indivíduo. Cresce-se (ainda que imaturamente) com a idéia imbecil que ser diferente é repulsivo, “anormal”, atípico e destoante. Pobres criaturas, a miséria que os define é tão grande que o que lhes sobra é monturo, é pó e cinzas. Se possível – e nós cremos que sim -, atrás das grades!