sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Quando a liberdade é só pretexto para...


Toda vez que encontro ou sinto a presença de um ser-sem-noção por perto, reajo instintivamente a não conceder liberdades demais. Há indivíduos que não sabem lidar com o “espaço do outro”. Os INTRO-metidos são assim, por isso vivem literalmente dentro, INTRO-duzidos no espaço alheio. Refletindo um pouco sobre os limites do “outro”, sobre as apropriações indevidas do direito à liberdade, viajei pra dentro de algumas cenas já vividas e outras testemunhadas por aqueles e aquelas que não sabem ficar de fora; ao contrário, sentem um frisson pelo IN-ocular de seus venenos aparentemente gentis e IN-ofensivos...


I

- É isto o que você chama de “liberdade”?
- Não entendi. O que disse?
- Liberdade pra você é fazer o que der na telha?
- O que me for necessário, e só eu sei o que é necessário em mim!
- Que liberdade fácil! Isso pra mim é libertinagem, sinto pela franqueza...
- “Isso”? Isso é apenas pra você saber que não sou você, assim como você não sou eu. Liberdade é o “como” vivo a minha própria experiência e história, responsavelmente conscientemente.
- Conheci muita gente que viveu assim e se deu mal...
- Aham, entendo. Eu também conheço muita gente “assim”, que trabalha contra a apropriação da liberdade dos outros...
- Alguma indireta?
- E desde quando você se importa com o direito dos outros?
- Direito de “dar indiretas”?
- Não. Direito de defender-me das apropriações...


II


- Posso te perguntar algo?
- Sim, claro. Pergunte.
- Eu tenho toda a liberdade pra te dizer o que quiser sem que você corra o risco de sair ferida?
- Depende...
- ?...
- É conveniente pra mim tanto quanto é pra você? Vou sair melhor depois que te ouvir?
- Bem, só você poderá dizer isso ao final...
- Você não é capaz de discernir o mínimo do que perguntei?
- Bom, é que eu gostaria que você soubesse que...
- Não, você não gostaria. Você quer. É Diferente.
- Diferente, por quê?
- Porque sua liberdade é legítima desde que não me importune no que é meu. Neste caso, a decisão de te ouvir ou não é minha. Já que você não é capaz de me responder ao que perguntei, então, não.
- Não?
- Não! Não pode me perguntar algo.
- Tudo bem. Você é livre...
- Exatamente! Uma grande conquista! Com licença...

18 comentários:

Daniel Savio disse...

Liberdade, algo que todos falamos, mas nem sempre temos...

Fique com Deus, menina Daniel.
Um abraço.

Wans disse...

Adorei os textos.
Obrigado pela visita no blog.

Já está sendo seguido.

bj

Priscila Bispo - disse...

Aproveitando para parafrasear a brilhante Clarice Lispector: 'liberdade é pouco, o que eu quero ainda não tem nome'.
Catársico, moço! Parabéns ;)

Mãezinha, Anna Maria disse...

Realmente, meu filho, quantas vezes eu mesma tirei a liberdade das pessoas, por querer bem e por amar tanto.

Mas esse diálogo seu, me colocou em uma bela reflexão e também em um belo ponto de vista que "eu" devo também mudar.

Muito bom, e que Deus te dê sempre mais e mais sabedoria para estar discernindo o que os outros pensam, agem e também para que tenhamos mais discernimento para entender o que é a "liberdade" sem ferir o sentimento do outro e o que é a "libertinagem".

Um beijo com muita ternura de mãe.

P.S. Tenho um pequeno trecho onde Dom Giussani falar sobre a liberdade.

"[...] Com efeito, gostaria de chamar a atenção para uma questão de método, porque se eu perguntasse o que é liberdade, a grande maioria das pessoas responderia segundo imagens, definições ou sensações determinadas pela mentalidade comum. A definição das palavras mais importantes da vida, se for determinada pela mentalidade comum, assegura a escravidão total, a alienação total. O que seja o amor entre o homem e a mulher, o que seja a paternidade, a maternidade, o que seja a obediência, a companhia, a solidariedade e a amizade, o que seja a liberdade, tudo isto gera, na maioria das pessoas, uma opinião ou uma definição emprestadas literalmente da mentalidade comum, quer dizer, do poder.

É uma escravidão da qual não nos libertamos automaticamente, mas com uma ascese. Como já dissemos, a ascese é uma aplicação que o homem faz de suas energias num trabalho sobre si mesmo, no âmbito da inteligência e da vontade.
Esse é o início da liberdade, como dizia Santo Agostinho: 'intellectus cogitabundus initium omnis bonis':'uma inteligência operante é o início de todo o bem'. Mas a inteligência operante intui um método, de outro modo não pode sequer caminhar, porque o método é o caminho. Como fazemos, então, para saber o que é liberdade? As palavras são sinais com os quais o homem identifica uma determinada experiência - a palavra AMOR identifica uma determinada experiência, a palavra LIBERDADE identifica uma determinada experiência.[...]Mas não ser livre só por um fim de semana, por uma noite, não ser livre só em cem, duzentas, mil ocasiçoes, mas SEMPRE; ser livre-livre, ou seja, A LIBERDADE, e não um momento de liberdade... Seguindo a indicação da experiência, é claro que a liberdade se nos apresenta como a satisfação total, a realização total do eu, da pessoa ou como perfeição. Quer dizer, a liberdade é a capacidade do FIM, é a capacidade da totalidade, a capacidade da FELICIDADE"!

Diego Rebouças disse...

Ih, gente, eu preciso pensar.

[Farelos e Sílabas] disse...

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Daniel:

Verdade, rapaz. Nem todos de fato possuem, são várias as razões...

Infelizmente!

Liberdade é alguma coisa sem nome pra mim, embora tenha sentido – total sentido – diante do que espero de mim mesmo, dos limites que me imponho e dos benefícios que me traz...

É pra cada um descobrir o seu próprio significado!

Abraços, Daniel.

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[Farelos e Sílabas] disse...

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Wans:

Grato pelo retorno à visitinha...
Grato ainda pelas palavras.
Espero que voltes!
Beijo!

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[Farelos e Sílabas] disse...

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Priscila:

Sim, é isso!
Se me empurrar de um precipício, que importa?
Eu adoro voar!...
Beijo, menina!

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[Farelos e Sílabas] disse...

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Mãe:

Eis uma reflexão pra cada um de nós, SEM exceção...

Palavras sábias de Dom Giussani. Saí enriquecido com essa sacada dele:

“a palavra LIBERDADE identifica uma determinada experiência.[...]Mas não ser livre só por um fim de semana, por uma noite, não ser livre só em cem, duzentas, mil ocasiçoes, mas SEMPRE; ser livre-livre, ou seja, A LIBERDADE, e não um momento de liberdade...”

Nisso eu acredito!

Beijo terno com gratidão no recheio!


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[Farelos e Sílabas] disse...

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Diego:

Cara, enquanto pensa eu te abraço pelo retorno!

P.S.: Acabei de ler o e-mail. Breve, a resposta!

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Hugo de Oliveira disse...

A liberdade é algo que desejo muito.

abraços


Hugo

[Farelos e Sílabas] disse...

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E que a deseje como ar.

E que a tome como um abraço preciso.

E que a acompanhe como fruto do amor, a começar por si.

E que não dure tempo algum, mas viva o tempo do teu viver!

Abraços, Hugo!

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Abraão Vitoriano disse...

há uma diferença gritante em ser livre e em ser do jeito que for... a liberdade é uma liderança responsável e de muitos reflexos, temos que ter em mente que um passo pode atrasar ou adiantar toda uma vida, e me nego em descobrir isso pelo saber alheio, meu desprendimento é pra que eu mesmo descubra meus caminhos, trajetos de aprendizagem...

beijos,
e tudo de bom!

do homem-mais-menino

[Farelos e Sílabas] disse...

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Abraão:

Grato pelo comentário, meu caro! Palavras amadurecidas dão frutos!

De fato, não apenas a liberdade mas qualquer implicação sobre o “ser” de alguém precisa trilhar seu próprio caminho, pois tratam-se de aspectos a cujo respeito somente quem os produz – seja em que dimensão de compreensão for! – é quem poderá vivenciar na sua individuação e – por que não – na sua individualidade.

Como disse no post:

[i] “e só eu sei o que é necessário em mim.”

[ii] “vivo a minha própria experiência e história, responsavelmente conscientemente.”

Ou, ainda, como venho dizendo em outros posts [no de 15/02/2010, por exemplo]:

[iii] “Que cada um discirna a si mesmo!...”

No mais, é isso! Beijo! Volte quando desejar!

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Francisco Renaldo disse...

Você disse oque o BLog Filosofia e Vida tem ares pedagógicos! O seu verdadeirametne tem ares filosóficos! rss A sociedade precisa disso! Ah, quanto à liberdade, cito Jean Paul Sartre: "Estamos condenados à liberdade", e a nossa vida? Somos reponsávéis por ela, o que acontecer é fruto de nossas escolhas! Nunca escolhemos sozinhos, sempre somos livres com os outros! Um abraço!

[Farelos e Sílabas] disse...

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Francisco:

Rapaz, mandou ver! Sartre é demais!

A responsabilidade, penso, é fruto de nossa consciência. Quanto mais conscientes de nós mesmos, o que inclui as ações, mais responsáveis pelos limites e o alcance delas.

Abraço com gratidão pelo retorno, pela participação e pela construção de um mundo mais pensante (parabéns pelo blog)!

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Heliomar Melo disse...

Estou adorando seus posts.
Em especial,O que fala de liberdade. Foi inteligente e para se pensar. Muito chato quando nos impoem comportamentos como se fossemos uma receita de bolo por exemplo.
O blog esta de MUITO bom gosto!
Ah, estou te seguindo !
Um abracao!!!

[Farelos e Sílabas] disse...

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Heliomar:

A imposição é chata mesmo! Chata porque a-CHATA a individualidade do ser. Eis um GRAVE problema...

Eu é que fico MUITO honrado pela visita, pelas palavras, pela possibilidade de trocarmos experiências e aprendizados, pois, ainda que tenhamos que ter as nossas próprias experiências e aprendizados, é na troca que a gente ganha e cresce, ensinava o saudoso mestre da educação Paulo Freire...

Abração, meu caro!

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