Os pés caminham na direção do pseudo-fim, divago num olhar pra dentro. A existência nem sempre é precisa, afirmo pra mim mesmo no mergulho do silêncio. Há dias em que pareço voar, voar. Há momentos em que nem sei por que sinto saudade, a tal vontade de refazer o percurso na própria existência (por lembrança, por fé ou por nostalgia). É coisa do pensamento, eu sei. Mas bem pode ser coisa da vida, a danada que firma o chão sobre o qual caminho. De olhos antes fechados, agora abertos, eu vou. E sou. Maior do que o pensamento. Mais altaneiro que os olhos. Assim, fecundo, de mansinho, de pé até este momento...
terça-feira, 31 de agosto de 2010
Um terceiro momento
Os pés caminham na direção do pseudo-fim, divago num olhar pra dentro. A existência nem sempre é precisa, afirmo pra mim mesmo no mergulho do silêncio. Há dias em que pareço voar, voar. Há momentos em que nem sei por que sinto saudade, a tal vontade de refazer o percurso na própria existência (por lembrança, por fé ou por nostalgia). É coisa do pensamento, eu sei. Mas bem pode ser coisa da vida, a danada que firma o chão sobre o qual caminho. De olhos antes fechados, agora abertos, eu vou. E sou. Maior do que o pensamento. Mais altaneiro que os olhos. Assim, fecundo, de mansinho, de pé até este momento...
segunda-feira, 30 de agosto de 2010
Observações em dois momentos
1º momento – o início da noite de ontem
sábado, 28 de agosto de 2010
Devaneios, o meu e o nosso Bem
Eu penso todas as vezes vir aqui, deitar sobre uma linha imaginária e sonhar palavras, significados, sinais, qualquer coisa que instigue o momento a ponto de modificá-lo. Penso, mas me retraio. Deixo para o instante chamado depois. Os meus dias, melhor, as minhas últimas semanas foram carregadas de frutos penosos de trabalhos e outras atividades que sobrecarregaram a minha carga natural das coisas e de mim mesmo. Sobrecarga já é um peso só na palavra, dá nó só de ler! Não deveria ser assim. Carga, por si só, já denota o peso das coisas. Imagina, então, a sobrecarga!
Palavras, palavras e palavras... Na vida se aprende que somos mais que a palavra, mais que os signos das coisas, mais que qualquer emblema... somos o que somos, e isto transcende, salta para além do olhar de quem quer que seja. Maior do que nós somente o Bem que fecunda a terra e dá crescimento aos nossos sonhos. Maior do que nós é quase um eufemismo, mas dá no mesmo. Somos o que somos, e isto é o que importa.
Bem, isto é o que deveria importar. Mas nem sempre [se] é assim. Os dias passam, os costumes vão e vem num tricoteio efêmero do tempo, e, no entanto, as mentes pouco absorvem as certezas mais óbvias. Afinal, eu sou o que sou mas não sou sozinho! Há vida na terra, dentro em mim e – pasmem, desavisados! – fora de mim também!
E se há vida pro lado de fora, há jardins que não foram plantados por mim – embora deles possa até cuidar, quem sabe... Eis a questão: há mundos pra todos os cantos e pra todos os lados. O meu. O seu. O dele. O dela. O daquele outro ainda indecifrável. O daquela sequer aparecida, mas certo que existirá. E por que não sabemos as lições mais simples da sobrevivência? Por que ignorar qualquer outro universo para além de mim/de nós? Por que a verdade soa sempre como o último grão sobre o prato diante dos famintos?
Eu quero apenas um cafezinho ao pé da varanda. Quero, se possível, as horinhas de descuido para ouvir histórias, qualquer uma delas. Quero o sabor de família na quentura da xícara, aquela que a gente pega sem levantar os dedinhos, mas, às vezes, nem se importando se um deles faz graça e se arrebita frente aos demais. Quero na simplicidade a sua companhia, mostrando presença e força no silêncio da naturalidade das coisas. Quero observar a família do jeitinho que é, assim como eu também sou, mas sem querer mudar nada em mais ninguém. Quero lançar sobre o sonho o cuidado de ser sem sobrecargas, sem cobranças, sem lembranças, desde que esperanças...
Mas se minhas últimas semanas foram tão cheias, já nem peço mais licença para deitar nestas linhas e fechar os olhos pra fora de mim. Quero mergulhar naqueles sabores ditos ainda há pouco. Quero experimentá-los com a quentura do cafezinho vespertino recém saído do bule. De prazer em prazer as palavras vão vindo a convite do tempo, que não para, mas faz dengo na medida em que as coisas ficam mais leves, mais equilibradas e maiores que nós. Bem maiores que nós. Como é cada um de nós... É por isso que vim, vi e venci (a preguiça, a saudade de rever o carinho de todos, o tempo que não me dispunha, o vácuo, o lapso temporal...). Isto me faz um bem danado!
Nota de rodapé: saudades de vir aqui, de roubar letras, de correr em disparada, de trepar na cerca e fugir fabricando as minhas próprias palavras. Gosto de inventar a rebeldia. Gosto tanto quanto o cafezinho aos pés da varanda... basta me convidar na leitura que eu sigo mais as palavras!
quinta-feira, 22 de julho de 2010
Meus heróis morreram de “overdose” (de talento)

Numa semana em que me entristeço com tantos fatos que se entrelaçam com o cotidiano da cidade e do país, tento destemperar a existência com os episódios mais recentes dos noticiários. E antes que alguém suponha que destemperar é abstrair, afirmo que não. É retirar o excesso, o que desequilibra. Casos de bullying em várias cidades. Assassinatos do lado de fora das janelas de nossas casas. Atos covardes em toda a parte. Crescimento do fundamentalismo religioso nos cenários do Poder Político. Intolerância gerando desamor sob vários graus. Oquidão dos seres que se coisificaram tanto que, de tão fúteis, nada restou.
Enfim, o cenário não é de chuva, mas também não é de céu de brigadeiro. É de realidade mesmo. Com toda a expressão de seus matizes.

Pois, então. Neste embalo saudosista, esta semana me lembrei com

Os boatos de que estaria com AIDS surgiram em janeiro de 1989, quando pediu afastamento de Vida Nova, na qual era protagonista, alegando estafa. Voltou dois meses depois, muitos quilos mais magro e com uma visível queda de cabelo. Logo em seguida mudou-se para a casa dos pais, isolando-se até mesmo dos amigos. Quando o estado de saúde piorou, foi internado, mas os pais proibiram o hospital de dar qualquer informação à imprensa sobre o estado de saúde do filho.
Depois de nove dias internado, partiu... e se eternizou em nossa memória. Um ano após a partida de Laurinho, foi o poeta Cazuza quem partiu em condições semelhantes... Poderia parar por aqui, mas aqueles idos me deixou órfão de heróis vestidos de humanos talentosos. Um ano após Cazuza, foi a vez de Freddie Mercury, astro iluminado do Queen nos deixar...
As constelações foram aumentando sobre nossas cabeças e, paradoxalmente, se silenciando nos céus de nossos tempos, nos idos de minha adolescência e início de juventude...
Hoje, são todas elas (as constelações) mar de doces lembranças. Isso pra mim é reequilibrar o caldo da existência com bons temperos. Por mais que meus heróis tenham morrido de “overdose” de talento e por mais que meus atuais inimigos estejam no Poder, meu mais insistente desejo é sempre trazer à memória o que pode me dar esperança!
Notinha de rodapé:
Por falar em esperança, começaremos aqui no Rio de Janeiro, no projeto Betel, uma série de encontros com candidatos a cargos eletivos que defendem programas em prol da diversidade. O primeiro deles será o Jean Wyllys. Portanto, quem estiver pelo Rio, não custa aparecer na Praia de Botafogo, 430, 2º andar, domingo, 25/07, às 17h30. Apareça(m)! Quero dar um abraço nos meus leitores por lá!
segunda-feira, 19 de julho de 2010
Meus sentires nesse retorno
Vai me ver com outros olhos ou com os olhos dos outros? (Leminski)
Um mês e meio se passou. As palavras não emudeceram, saibam disso. É que tem horas que a gente cala pra se ouvir mais. Por outro lado, há tantas formas de se fabricar uma palavra. A escrita é apenas uma delas. O caracter é outra na dimensão informatizada. Há palavras que não se dizem, mas se percebem. É nítido. É evidente. Quantas vezes disse tantas palavras em meio ao burburinho de apenas-olhares!... Calei-me por aqui, nessas terras, mas me fiz ouvir em outras. O twitter é só mais uma delas. O e-mail [como tenho usado ultimamente!] é outra terra que frequentemente recebe as pegadas de minha presença e de meus suores...
O fato é que estive ausente de um canal que me fascina e por intermédio do qual tantas portas se abriram. Portas de entrada para gente do bem. Semeadores de vida na vida de quem os lê. Assim é que sinto o clima “humano” na blogosfera. Falava dia desses com amigos a respeito do sentir a humanidade. Aliás, ontem também falei numa aula em pleno domingo. Sentir a humanidade é pra quem tempo de ouvir o outro. Às vezes soa contraditório falar exatamente disso dentro de uma perspectiva no planeta “world wide web”, fica meio raso, sei disso, afinal, a internet é um mundão sem porteiras. Pessoas entram e saem tais como as informações. Costuma-se não ter tempo para ouvir. As usual as natural... Mas, convenhamos, o contraditório está em nos fazermos gente que para e ouve em meio à multidão que apenas passa, não semeia nada porque não traz nada para oferecer ao outro.
Tenho buscado sentir o outro na sua dimensão histórico-sócio-cultural. Minha pretensão é tanta que diria ser um exerciciozinho de amor pela humanidade. Tudo bem, ando meio que abusado ultimamente. Não é nada premeditado. Acontece. Por outro lado, não é olhar o outro com quaisquer outros olhos. Não! Já vivi isso numa parte de mim que se foi com um novo florescer de idéias e de transformações no ser. É olhar com vontade de entender, acolhendo, ainda que. E quando falo em acolhimento não afirmo que concordo com tudo o que olho e entendo (ou não). É apenas lançar um bom olhar sobre o outro, de modo que ele não seja “o inferno” de Sartre nem o “lobo” de Hobbes. Seja apenas o que é pra mim, o que fará toda a diferença.
No entanto, olhar o outro com os olhos dos outros é o que fomenta o mecanismo sórdido das nivelações de um humano para outro. Aqui, pelo licença aos desavisados para me referir às nivelações que nutrem o “status quo” do universo dos preconceitos. Apenas para ilustrar o que acabei de dizer, na semana passada meu amigo Márcio Retamero – que lançará seu segundo livro daqui a duas semanas -, dizia num editorial: “reduzir a pessoa humana à sua orientação sexual é de uma violência atroz! Dia desses eu lia uma manchete de um jornal do nordeste: ‘Gay em Alagoas é morto’; nunca li: ‘Heterossexual carioca é preso’, ‘Mulher heterossexual paulista é assassinada’. Por que reduzir uma pessoa à sua orientação sexual? Porque o preconceito usa dos rótulos para denegrir, reduzir e rebaixar socialmente.”
Então, pra mim, que sou um carioca tão limitado e com tanto caminho pela frente a percorrer, que, embora tendo caminhado até aqui em segurança, já foi vítima de preconceito e do que atualmente se convencionou chamar bullying, já foi traído muitas vezes por mim mesmo (porque o outro, o qualquer outro, apenas foi o que foi pela minha desatenção em não observar que o mundo não é um eterno comercial de margarina e que pessoas nem sempre falam com palavras, mas com pequenos gestos, ou seja, na perspectiva da lição ensinada pelo pedagogo Jesus quando afirmou que “pelos frutos os conhecereis”), ter mudado radicalmente minha maneira de pensar o mundo, a vida, as pessoas e sobretudo a mim mesmo – a tal “metanoia”, palavrinha traduzida por “conversão” – é que me estimula a percorrer neste caminho, caminhando com vontade de aproximação. É o ter tempo para ouvir ao qual me referi no início dessas palavras. É o construir pontes, e não muralhas, conforme li na obra de Colin Higgins, “Ensina-me a viver”, clássico dos anos setenta que acabou virando peça de teatro e filme.
Gozado que escrevi tudo isso em meio a um ar de ceticismo pelo desenhar das nuvens que anunciam um temporal daqueles. Sim, pesquisas indicam que a próxima legislatura no Congresso Nacional tende a ser a mais fundamentalista de toda a história, considerando o avanço do fundamentalismo religioso que se candidatou nos TREs (tanto nos que concorrem pela primeira vez quanto nos que desejam se manter em seus cargos eletivos). Num próximo texto explicarei melhor as minhas razões. De antemão, saiba-se, é legítimo que um fundamentalista se candidate e seja eleito. Entretanto, não é legítimo que faça de sua legislatura uma orquestração para olhar o outro com o olhar da religião, a qual sempre divide [pois só o amor constrói, liga qualquer coisa!], impedindo que muitos avanços alcancem uma parcela da população da qual faço parte. Mas, no final das contas, penso que tudo isso apenas sirva como [mais uma] lição para eu aprender a ter cuidado com meu olhar, sabendo que “não se colhem uvas dos abrolhos”. É o que disse, sou apenas um aprendiz com muito o que caminhar pela frente...
Notinha de rodapé:
A imagem acima foi proposital. Busquei a autoria para a questão dos créditos, mas não a encontrei. Achei-a provocativa num texto que li, no original em inglês, falando sobre impressões equivocadas que temos sobre algumas coisas que apenas aparentam ser. Mas não são. Ou, quem sabe, são muito maiores que a imagem. Reduzir o que alguém é a uma imagem é coisa de publicitário. Não deveria ser assim no cotidiano. Jefferson Lessa, no brilhante texto “Medo de ser”, publicado ontem no jornal O GLOBO, fazendo referência ao bullying pelo qual passou, traduz o cotidiano como feito de muitas e pequenas coisas que deveriam ser levadas em conta (ao invés de um rótulo). É por aí...
sábado, 5 de junho de 2010
Embalos [da madrugada] de sábado à noite
Noitinha fria pede passagem e assenta-se, fazendo-me companhia. Somos eu e ela próximos. O mar anda meio duvidoso, rugindo seus cantos de ressaca, irrequieto com o barulho dos ventos. A natureza tem dessas coisas, a gente não controla. Aliás, o que a gente controla? A lágrima? A saudade? A perda? A ausência? O tempo? A vida? A morte? O presente? O futuro? O quê?
Não temos controle sobre quase coisa alguma. No máximo, quando queremos, a palavra não sai. O texto não sai. O beijo não sai. E tantas outras coisas também não saem...
As coisas parecem ser passageiras? – alguém pode perguntar. Talvez. Depende do que se espera e por quanto tempo se espera. Depende, portanto, de quem espera, não das coisas em si.
Ontem, comemorando o aniversário de um amigo na Lapa, sucumbi a vários momentos sobre os quais não tenho controle. A princípio, não estava disposto o suficiente. Fazia frio e havia muito cansaço sobre a pele que me veste o corpo. A hora também não me soava interessante, pois qualquer evento que inicie após às 22h já me força o [des]controle com as coisas que costumo controlar. No entanto, fui. Algumas coisas não podemos controlar. O momento seguinte é uma delas. O fato é que acabei encontrando amigos outros que não imaginava, gente com quem não falava – sequer por e-mail, carta, telegrama, nada! – desde meados de 2008! Amigos de perto ficaram felizes com minha presença, pois sabem que não sou das viradas da noite, o que aumentava mais ainda a contagiante alegria pelo ineditismo da ocasião. Entre rostos conhecidos e outros nem tanto, fui apresentado a quem não conhecia. Conversei com todos e todas, essas coisas naturais do convívio social dos seres humanos. Emocionei-me com as cores daquelas alegrias e sobretudo com as músicas cantadas ao vivo. “Como nossos pais” me retirou das mãos os aplausos antes tímidos. Há quem canta e quem interpreta. Vi quem faz os dois verbos se tornarem um só pela conjunção carnal.
Entre sorrisos e palavras, gargalhadas e conselhos dados, alegrei-me com a oportunidade do encontro e com a dádiva da vida sobre quem aniversariava. Quando tudo, enfim, preencheu seu lugar no baú das memórias vividas naquela madrugada, despedi-me sob a intensidade das cores daquelas alegrias. Tudo tinha valido a pena até então. E como tudo concorre para lições que aprendemos no incontrolável das coisas, saí a passos gratos daquele bar. Do lado de fora, o friozinho ainda dava o ar de graça. Mas não estava sozinho com minha própria companhia. Um ventinho na consciência me sussurrava a certeza de que ainda havia um pedacinho de noite pra me consolar sob o edredon...
Já que falei em lições que aprendemos, uma delas é que o fluxo da vida não pode ser controlado. É necessário que não consigamos controlá-lo! E assim é com o que não depende de nós. No meu caso, pra quem não estava muito a fim sequer de sair, o cansaço emudeceu diante da emoção do que não esperava. É bom demais não me sentir deus em momento algum. Meus embalos se afirmam no chão do que me estabelece. No baú das memórias, bom mesmo é a essência da simplicidade nas coisas. Como aprendi com meus pais. Sem pretensão alguma, não é que os ecos da canção de Belchior foram comigo para o edredon?! É, bons ecos! E como me ensinam mesmo depois do amanhecer!...
“É por isso que não quero falar das coisas que aprendi nos discos... quero lhe contar como eu vivi e tudo o que aconteceu comigo. Viver é melhor que sonhar e eu sei que o amor é uma coisa boa, mas também sei que qualquer canto é menor do que a vida de qualquer pessoa...”
quarta-feira, 2 de junho de 2010
Um [novo] verbo: twittar

Rubem Alves
Notinhas de rodapé: Já coloquei o link do meu twitter no texto. Acho que vou colocá-lo mais destacado na barrinha ao lado. Ainda decidirei sobre a conveniência ou não. E, como não poderia deixar de ser: um excelente feriado
segunda-feira, 31 de maio de 2010
O absurdo da liberdade, os limites do amor

Quem vive, e vive no gozo da liberdade, sobe para além das nuvens. Vai além das chuvas e dos temporais. Lá em cima o sol é constante. Ele, definitivamente, nasce para todos e todas. O “definitivo” aqui é apenas a certeza de como lá em cima as coisas são diferentes. O buraco é mais embaixo lá em cima! Lá em cima é acima do quê? De meus limites. O perfeito amor lança fora toda a proposta de limite, inclusive o medo de ser. É por isso que o amor jamais acaba. Havendo profecias, elas passarão. O amor é apenas eterno, mas até o conceito de eternidade não o encaixota. O amor é! É porque não tem tempo de durar. Quem tem tempo é quem tem amarras, portanto, não goza da total liberdade. Liberdade é o não-tempo? Não, é antes o benefício de quem não está nem um pouco aí para o que é, para o que ainda não é e para o que não é. É tal como o amor, que deveria ser o chão desta vida, mas, às vezes a gente faz de teste inconsciente dos nossos próprios limites. Mas a gente não agüenta o amor. Ele é sempre além de nós, para acima da escadinha que eu imagino e que leva para não-sei-onde, mas só sei que é acima dos meus próprios limites – os limites de minha própria consciência. Quem dera todos vivessem nos limites de suas próprias consciências! E o que passar disso? É abismo. Para nós. Não para o amor. Mas que cada um descubra isso enquanto caminha. Eu sigo o meu próprio caminho. Adiante de mim, a tal escadinha e o desconhecido amanhã. Subirei assoviando porque o melhor desta
Nota de rodapé: Um texto que parece ter sido psicografado, dada a
domingo, 30 de maio de 2010
Notinhas do ainda-acontecendo final de semana
Entre um e outro dia neste final de semana, ainda arranjei tempo, numa tarde dessas qualquer, ao lado de uma amiga, para cumprir cabalmente minha Missão junto aos idosos de uma instituição asilar. Tudo, diga-se, movido pelo inconfundível prazer de fazer o que me faz bem. Pra mim o amor também carrega esses apelidos, o de fazer o bem sem esperar algo em troca.
Como se vê, meu final de semana
Após o debate de ontem à noite [
Por falar em côrte, o Viula e meu amigo chileno Jorgito ainda insistem na tese de doutorado de que estoy solo por mi própio deseo. Era o que diziam no coquetel pós-debate de ontem. Eles sabem que discordo disso. Considerando que os meses têm passado tão rapidamente [
Bom, tô de saía pra mais uma aulinha no projeto Betel. Domingo ainda promete... É isso, ao menos por agora. Bom domingo a todos!
quarta-feira, 26 de maio de 2010
Fazendo amor com os sons e com as palavras
E por falar em sons que não são tocados, os do abraço e os do tapinha nas costas são estimulantes. O som da lembrança que a memória não apaga também o é. Às vezes, até o som do pranto (e por que não?). Há outros mais estranhos, mas não perdem o destaque enquanto fabricantes de sons. A folha que rasga quando assume que era rascunho. O plac-plac dos sapatos pelos corredores famintos de ecos. O selvático tabefe na cara do filho que assume ser original, e não rascunho social. O cansaço da madrugada que rasga tal como folha até que tombe na cama. Há um sem número de sons espalhados pelas ondas que, por sua vez, são pela física conhecidas como perturbações que se propagam pelo espaço. Se perturbam, emitem qualquer ruído. E assim, fabricando e fabricando sons a gente se percebe vivos.

Há sons de ventos lá fora. Aqui dentro, calmaria. É o que importa. Tomo a outra metade do copo sem companhia. Volto ao pré-texto e me embriago de lembranças e alguns pensamentos torpes. Rasgo alguns deles como folha de papel. Vou fabricando ruídos em ondas e rascunhos. A noite tomba, mas o pensamento sobrevive à queda. Estou no melhor horário pra procriar textos. Há um clima fértil me esquentando as idéias, mas até que tudo se consuma vou de leve pelas bordas das divagações. Gosto dessas coisas, preliminares ou não, só sei que gosto. As quatro paredes são meras testemunhas silenciosas. É assim que deve ser. Somos somente eu e as palavras. Breve, se tudo der certo, após o ciclo natural da gestação, o texto. Enquanto não penetro no absurdo das palavras, levanto-me para encher só mais um copo. A noite promete...
Notinha de rodapé [convite]:
Não poderia deixar de mencionar um evento que ocorrerá no fim de semana e para o qual fui convidado. Quem estiver pelo Rio neste sábado, 29 de maio, segue aqui o convite para uma discussão interessante sobre o filme “Meninos não choram”. Após a exibição, os doutores em psicologia Luiz Ribeiro e Fátima Almeida, ambos da PUC/Rio, darão uma palestra seguida de debate sobre a temática envolvida no filme. O endereço do evento consta na imagem.

quarta-feira, 19 de maio de 2010
Frases soltas no ar, o simples sem complexidade
Extraídos da obra “No caminho do arco-íris”, organizado por Lea Carvalho. RJ: Editora Metanoia, 2010.
terça-feira, 18 de maio de 2010
O debate sobre o Estatuto das Famílias na CCJ da Câmara Federal
Críticos e defensores da união civil de homossexuais colocaram seus argumentos diante do plenário lotado, onde evangélicos contrários à união de pessoas do mesmo sexo estavam em maioria.
Para tentar chegar a um acordo, o presidente da CCJ e relator do Estatuto das Famílias, deputado Eliseu Padilha (PMDB-RS), disse que diante de tantas diferenças e dúvidas, vai tentar encontrar um meio termo. Hã? “Meio termo”? Não me peçam pra imaginar o que poderá sair desse estatuto franksteinizado...
Para o presidente da Associação Brasileira de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais, Toni Reis, não se trata de casamento, mas sim de garantir direitos civis. "Envolve essa questão da herança, de planos de saúde, de adoção. Nós queremos nem menos nem mais, queremos direitos iguais. Nós não queremos é o casamento, nesse momento não é a nossa pretensão. O que nós queremos são os direitos civis".
Toni Reis citou declarações das organizações das Nações Unidas (ONU) e dos Estados Americanos (OEA) para defender o direito ao reconhecimento da união civil e da adoção entre pessoas do mesmo sexo. Ele destacou que o Governo Lula também apoia a reivindicação e mencionou o programa Brasil sem Homofobia, coordenado pela Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República. E argumentou ao final: "O Brasil é um Estado laico e queremos o que a Constituição preconiza, direitos civis".
O pastor da Assembleia de Deus, Silas Malafaia, questionou se outros comportamentos poderiam, futuramente, virar lei. "Então vamos liberar relações com cachorro, vamos liberar com cadáveres, isso também não é um comportamento?" O pastor foi muito aplaudido durante sua exposição. Malafaia afirmou que conceder os diretos civis é a porta para depois aprovarem o casamento. Ele defendeu que a família é o homem, a mulher e a prole, sendo que a própria Constituição defende esse desenho familiar.
Na mesma linha crítica, o pastor da Igreja Assembleia de Deus, Abner Ferreira afirmou que o Estatuto das Famílias seria, na verdade, o Estatuto da Desconstrução da Família. Segundo ele, ao admitir a união de pessoas do mesmo sexo, a proposta pretende destruir o padrão da família natural, em vez de protegê-la. Ele disse que todas as outras formas de família são incompletas e que toda manobra contrária à família natural deve ser rejeitada.
A vice-presidente do Instituto Brasileiro de Direito de Família, Maria Berenice Dias, afirmou que o fato de a Constituição proteger a união entre homem e mulher não significa que uniões homoafetivas também não possam ter direitos na esfera civil.
Ela avaliou que o debate foi para a esfera ideológica. "Estou sentindo nesse espaço um clima de muito medo, de muito revanchismo, pouco técnico, pouco científico, pouco preparado”, observou. “As pessoas estão se deixando dominar por posições religiosas muito ferrenhas, e confesso que não sei porque têm medo que simplesmente se assegure direitos aos homossexuais, se assegure a crianças terem um lar", acrescentou.

Maria Berenice Dias citou decisão recente do Superior Tribunal de Justiça, que reconheceu a adoção feita por duas mulheres, e afirmou que a união homoafetiva não ameaça a família. "Argentina, Uruguai, México e Canadá são alguns dos países que reconhecem essas uniões. Quem conhece esses lugares sabe que, por lá, a família vai muito bem, obrigada", disse. Aliás, diga-se, não apenas por lá, mas em pelo menos 17 países pelo mundo.
Ontem, 17 de maio, no dia mundial de combate à homofobia, o presidente de Portugal , Aníbal Cavaco Silva, anunciou em cadeia nacional a promulgação da lei que autoriza o mesmo tratamento das uniões homo às hetero. Particularmente, saltou aos olhos seu pronunciamento ao dizer que estaria deixando de lado suas “convicções pessoais” como católico praticante para pensar mais elevado em outros temas nacionais: “sinto que não deveria contribuir para prolongar inutilmente esse debate, que só serviria para aumentar as divisões entre os portugueses e tirar a atenção dos políticos dos graves problemas que nos afetam”.
No sítio da Câmara Federal [Agência Câmara de Notícias] do dia 12 de maio de 2010 é possível ver como o assunto mexe com os ânimos da fé de muitos – isso mesmo, a coisa está sendo reduzida à esfera religiosa! -, pois os comentários postados pelos internautas reproduzem o quantitativo de opiniões sob a mesma vertente ideológica. Os mais recentes comentários diziam, entre outras coisas:
“Uma coisa é respeitar o homossexual e não ter preconceitos quanto à sua opção sexual, assim como fazemos com os fumantes no tocante à opção de fumar, ninguém deve discriminá-los. Outra coisa é dizer que o fumo faz bem à saúde. Respeitar as opções não quer dizer que todas as opções sejam iguais. A opção de não fumar é melhor que a de fumar e a opção heterossexual é melhor que a homossexual”, assina Bruno.
“Definitivamente essa proposta de regulamentar a união de homossexuais é uma desonra aos preceitos da palavra de Deus para o homem e a mulher pois contraria e se opõe à santidade do nosso Deus”, assina Robervanda.
Um tal de Vanderlei foi mais tirânico, pois disse: “Vivemos na democracia. Em outras palavras, a maioria do povo governa ou decide como deve ser o governo. As minorias devem acatar o que a maioria determinar. Este é o princípio básico da democracia. Existem países que não existe a democracia. Será que lá é melhor?”.
Daí, pergunto: vivemos num país ideal no qual as pessoas são respeitadas por aquilo que são ou vivemos num país do “ainda-não” em que se é necessário lutar com as armas da cidadania plena para o respeito à dignidade da pessoa humana? Sim, pois é preciso avisar aos desavisados que homossexualidade não é “opção”, ou seja, não é escolha de ninguém em sã consciência psíquica sofrer diante de um padrão heterossexista, o ter que passar por esse achincalhe ou, para os que se curvam ao letrismo dos dogmas de natureza moral e tirânica, o padecer pela escravidão ao medo da danação eterna!

Os debates, obviamente, ainda não levaram a muitos passos dado o abismo entre as posições suscitadas. De qualquer forma, ficam aqui as implicações sobre o cenário dos fatos que se discute em nosso Parlamento. Vale a pena ficar calado e permitir que a omissão seja a chave para abrir as portas do retrocesso no campo das relações sociais e jurídicas existentes? Ou será que alguém duvida das manobras articuladas pelos segmentos fundamentalistas religiosos junto aos seus pares eleitos graças aos seus “e$forço$” eleitoreiros?
Na semana passada assistimos chocados ao acinte da malta dos perversos transfigurados em defensores da família [a família na obsolescência do entendimento deles!], comparando comportamentos qualificados como doenças ou distúrbios psíquicos pela OMS e as orientações sexuais. Sim, a disseminação do mal foi tão acintosa e certa de impunidade que ousou verborragiar a estupidez sem máscara alguma: gays e pedófilos, gays e necrófilos, gays e zoófilos foram assemelhados na cara dura diante de uma Comissão de Constituição e Justiça! A arrogância de um deles, aplaudida pela maioria ortodoxa religiosa ali presente, foi tanta que deu seu recado às lideranças partidárias, trazendo o debate para o contexto político das eleições presidenciais:
Que ninguém me entenda mal, tenho lá minhas convicções de ordem religiosa, as quais me inspiram à coexistência pacífica com todos os meus confrades [de todos os credos ou não], mas justamente porque amo os princípios pacificadores que são a essência da Igreja [aqui entendida não como termo com referência a qualquer institucionalização, mas apenas como categoria dos que são "chamados para fora" [1] do arbítrio dos deuses “Poder” e “Glória”], é que não engulo os ideais ensimesmados e absolutistas da "igreja evangélica". Sim, não engulo porque não reconheço nela – nem de longe, nem como sombra ou sereno – as marcas amorosas e portanto revolucionárias daquele que se diz o seu “inspirador”, conforme leio nos Evangelhos. Creio que somente quando o que está aí passar por uma desconstrução é que a Igreja terá chance de renascer no Brasil.
Entretanto, à vista daquilo a que todos assistimos na CCJ da Câmara, cabe-me a retórica da pergunta inspirada numa das letras do saudoso profeta cantador Renato Russo: "Que país é este?". Que país é este que nega direitos aos seus cidadãos, que faz do mais nobre Palácio das Leis neste solo um palco para “panem et circenses”, conforme nos inspiram os versos das Sátiras de Juvenal? Que país é este que transforma um debate sério num solilóquio moral-religioso desses “diabólós” [2] que fazem da fé uma bandeira política?
É pra se pensar, prezados cidadãos de bem e consortes amantes da democracia. Porque parado nem mesmo os modelos tradicionais de família em sociedade não ficam mais! Não me lembro neste instante, mas acho que o nome que se dá a isso é evolução natural das coisas. É, deve ser isso. Evolução natural. Na próxima audiência pública, não poderemos esquecer de levar isso para os “diabos-acusadores” quando emergirem lá no centro da terra dos Candangos.
Por ora, à lei e ao amor! Xô, Satanases [3] !
___________________________
Texto adaptado da reportagem de Daniele Lessa no sítio da Câmara Federal, “Religiosos, juristas e ongs divergem sobre união civil gay”, de 12/05/2010.
[1] Do original grego "ekklésia", ou seja, os "chamados para fora".
[2] Do original grego, “acusador” ou “acusadores”, "opositor", "o que lança através ou por intermédio de". Diabo.
[3] Do original grego, Satan, ou seja, "adversário".
domingo, 16 de maio de 2010
Algumas observâncias do “finde”...
Eu não duvido. Mas que é exceção à regra, ah, isso é!
•• Nesta noite de sábado, estive com três amigos assistindo ao musical “Era no tempo do Rei”, baseado no romance de Ruy Castro, roteiro de Heloisa Seixas e Julia Romeu. Grande elenco. Achei divertido e enriquecedor. Aplaudi efusivamente. O barato é que um amigo está no elenco, ao lado de Leo Jaime, Soraya Ravenle, Tadeu Aguiar, Alice Borges, entre outras estrelas – e nem tinha noção do fato.
Narrada pela rainha Dona Maria – que, apesar de louca, presta atenção em tudo o que acontece à sua volta, - a comédia musical está recheada de paixões proibidas, seduções e intrigas, perseguições e ciúme. Sem falar nas risadas.
Um excelente programa para quem está no Rio de Janeiro.
•• Nesta segunda-feira, 17 de maio, às 20h, no dia mundial de combate à homofobia, minha amiga querida e mais-que-amada Lea Carvalho, que me honra em ser assídua nos meus estudos e palestras, lançará a obra “No caminho do arco-íris”. A proposta é discutir as questões ligadas à diversidade ou, como a autora pondera, "tocar os corações e as mentes para que se possa apreciar e acolher a experiência humana em todas as suas cores e matizes, a fim de fazermos parte de algo realmente grande: a construção de um paradigma social totalmente inclusivo, justo e solidário". Tive a honra de escrever algumas palavrinhas em forma de depoimento na obra.

terça-feira, 11 de maio de 2010
A maio o que é de maio!
Num certo sentido bem familiar, maio é um mês com diversas lembranças esculpidas pelas datas natalícias. Ao menos, para minha família. Um dos sobrinhos, festejou aniversário dia quatro. Irmão, dia cinco. Mãe, dia oito. Tia, festejará oitenta no dia doze. Maio é bem peculiar mesmo.
É o mês das noivas para um monte de gente. Mês de todas as mães, as do ventre e as feitas pelos laços profundos do coração. Mês da família, alguns insistem. E quanto aos outros meses? Bom, deixemos pra lá. Maio é o mês dos trabalhadores. É o mês de heróis e heroínas. De Joana D’Arc, capturada pelos franceses e entregue aos ingleses durante a Guerra dos Cem Anos à Ayrton Senna, morto durante o Grande Prêmio de San Marino. O mês tem também cores fortes em nossa História, como a negra. Foi aos treze do mês que, ao menos oficialmente, abolimos a escravatura neste país. Abolimos mesmo? Bom, deixemos por ora. Maio também foi palco de um célebre julgamento, o de Oscar Wilde no início do século passado, condenado aos vinte e sete deste mês à pena de dois anos de prisão pelo crime de “sodomia”. Apesar da enorme crítica da classe literária à época, o famoso escritor inglês teve que cumprir a pena, imposta apenas porque fruto das convenções vitorianas da época.
Maio também é o mês da luta mundial contra a homofobia, especificamente no dia dezessete. A data foi escolhida lembrando da tiragem da homossexualidade da Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID) da Organização Mundial de Saúde, fato ocorrido em 1990. Se inspirado na data ou não, este é o mês dos lançamentos dos livros escritos por dois queridos amigos: “Proibido Amor” e “No caminho do arco-íris”, de Davy Alberto Rodrigues e Léa Carvalho, respectivamente.
Recentemente criado, maio também celebra aos vinte e cinco o dia nacional da adoção. E penso que muitos outros fatos já aconteceram e ainda acontecerão neste mês. Eu mesmo me sinto retornando, de certa forma, às atividades blogueiras. Fiquei duas semanas mergulhado na defesa de um julgamento, coisa de uma outra missão, diria profética, que desempenho profissionalmente.
Enfim, maio está apenas no início. Eu ando ultimamente me sentindo assim, no início. [Re]começando. A obra “Os Lusíadas”, de Camões, utiliza o “ab initio” para transformá-la “in media res”, ou seja, a técnica para começar pelo meio, e não necessariamente pelo início. Talvez tenha começado pelo meio. Talvez por isso me sinta agora no início. Há tanta coisa nova pra mim, mesmo depois dos trintinha! (risos). Bem, são meus talvezes que dialogam comigo. De talvez em talvez, certo mesmo é meu desejo de querer um final feliz ou, quem sabe, um feliz-acontecendo-sempre. Pra mim e para os mais caros. Neste e nos outros meses também.
Longe de mim ser demagogo, mas eu tenho procurado me esmerar!...
* * *

sexta-feira, 30 de abril de 2010
Palavras em boas companhias

Em meio ao resfriado que me tomou no início da semana, lenços e descongestionantes não se separaram de mim desde domingo. Fez-se necessário. Melhorei ou, quem sabe (e sei!), estou ficando bem melhor. Juro (sem atchins!). Mesmo!
Sei que parece clichê, mas só parece, eu tava mesmo é com saudades de vir aqui. Trabalhos. Defesas escritas. Alguns probleminhas, ups, oportunidades de crescimento para aprender a resolver. Tudo isso foi formando uma espécie de caldo que venho tomando. Depois de vários dias “ausente”, separei tempo e, dentro dele, alguns e-mails para responder. Há muitos outros. Assim como há alguns comentários no post anterior que merecem um sinal de vida, uns farelinhos para alimento da resposta. Inobstante, rabisco umas frases e as engravido de significados particulares desde sábado passado, quando voltava do teatro. O trabalho ainda requer acabamento.
Por falar em acabamento, resolvi deletar uma narrativa que preparei para postar aqui. Sabe quando você acha que o que escreveu não tinha muito sentido? Mas, para evitar comentários, só adianto que o tema não era nada novo, apenas minha insatisfação com o comportamento delivery dos humanos que buscam fast companhia. É que saí do teatro, estive num barzinho na Lapa, acompanhado de amigos. Invoquei-me com as investidas deselegantes.

Nos dias seguintes, assisti com certo interesse ao filme “Pecado na carne” e, na posição de observador-aprendiz, ao espetáculo musical “Vicente Celestino – A voz orgulho do Brasil”, no Teatro Ginástico. Acompanhado de amigas, fizemo-nos necessários uns para com os outros e, além da apreciação às artes, ponderamos sobre muitas questões nos campos profissional e afetivo. Falamos muito sobre companhias e a arte de saber ser boa companhia como necessidade, inicialmente, pra si mesmo (pois quem não se gosta não terá muitos frutos a apresentar para os demais a quem supostamente vir a gostar); logo depois, para os outros.
Em casa, fiquei pensando sobre o que soa necessário no vestir do sangue. Sim, o que se faz necessário quando o que se quer é mais que presença? Rabisquei diversos pensamentos, mas resolvi não publicá-los. São pensamentos. Desculpem a confissão, mas esses a gente semeia é pelo lado de dentro...
O que se faz necessário numa boa companhia?
Que seja presente. Que esteja atenta às necessidades do momento. Que tenha bom senso.
Que não ultrapasse limites, mas acolha sem posse. Em outras palavras: que saiba o seu lugar. Que acredite, pois confiança é um sentir legítimo. Que erre de vez em quando, mas naturalmente. Nada soa mais artificial que o empedramento do comportamento e a maquiagem de heroísmo. Ser humano é ser frágil e forte, gigante e pequeno, mestre e aprendiz.
Que leia-perceba-discirna quando a verdade soar coerente com a trajetória (que é bem mais que o momento dela, seja ele qual for). Que sorria e que chore, sem medos para atravessar as margens do mesmo rio-sentimento. Que se dê chances, sejam elas quais forem. Dar-se chance é abrir janelas. Quanto mais abertas, maior a circulação de ares-sentimentos-fragores-de-vida.

Que saiba satisfazer os legítimos desejos do coração ou ao menos tente, pois ousar é também mostrar-se presente. Que construa – palavras, uma história ou o próprio momento -, seja como faz um bom pedreiro ou um dedicado artífice. Que produza sons nas suas sinfonias mais viscerais, nunca o barulho, restrito apenas aos címbalos que retinem pela desafinação do amor.
Por fim, que seja – e que não aparente ser – qualquer coisa, mas seja com louvor dos próprios suores no caminhar. Que caminhe semeando, não importa de que caminho desde que seja sincero. Se, porventura, houver pedras, que desvie e continue seguindo. E semeando. Pra mim, isto se faz necessário.
Nota de rodapé: os créditos para a segunda imagem são para André Bernardo. Imagem extraída do original (em cores) “Left Alone”.
quarta-feira, 21 de abril de 2010
Versos cantados no aprendizado


Quem assistiu ao musical “Hair” sabe que é preciso “let the sunshine in”, pois é somente quando os raios do Sol entram é que os desdobramentos de um novo pensar produzem bons frutos de mudança. Não estou dizendo que “é preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã”, embora, se você parar pra pensar, na verdade, não há outro caminho que desemboque em respeito, justiça e paz. Digo, no entanto, que é imperioso dar-se chance para um novo pensar, um pensar mais aberto, mais cristalino, sem vícios e resistências de qualquer natureza. Mas, é claro, que isso implicaria numa mudança, a nossa, a partir das raízes. Num contraponto com os ensinos do Cristo, debruçamo-nos sobre a constatação de que aquele caminho foi-continua-sendo tão mal compreendido. E tudo isso porque o transformaram no discurso de adesão à religião e aos seus partidos. “Os caras”, os que resistem ao laicismo do Estado, diminuíram a beleza do que é simples em manuais de conduta baseados em leis morais de podes-não-podes. É contra tudo isso que eu mesmo me insurgi há alguns anos atrás. Tornei-me um semeador no meu próprio caminhar. Plantei minhas verdades nos acordes da alma. Colhi seus frutos e ainda os colho na mesma alegria de homem-menino buscador. Um desses frutos é a certeza de que mudanças radicais, aquelas que são capazes de nos elevar em sinfonias impregnadas de nossos cheiros e que podem de fato mudar um caminhar, ocorrem dentro de nós, não nas pedras, nas tábuas ou pelas doutrinas...
A musicalidade na existência só faz sentido quando meus olhos estão afinados aos seus acordes mais verdadeiros, promovendo graciosamente o benefício da liberdade para semear e semear e semear o Bem que eu apenas carrego, mas não possuo. Ele é livre como o vento!
Em meio ao processo de semeadura – e aqui não sistematizo nem o processo em si, mas apenas o identifico como parte integrante de mim como o transpirar, o sorrir e o fabricar versos – vou sentindo de perto os ventos da alma humana. Às vezes, encontro mais que isso. Sinto a fragrância de uma ‘boa notícia’ [literalmente “Evangelho”, ευαγγέλιον no grego], a do amor que embala a vida com ninhos de presença. Falei de Renato Russo, mas também falei de Hebert Vianna, outro que me inspira pelas letras codificadas de bom norte para meu caminhar seguro.

Eu sou mais uma dessas pessoas que chegam e se fincam no Cais de Porto dos versos de "Lanterna dos afogados" como se fossem barquinhos. Aproveitando os versos de Daniel Lobo com quem ontem jantei palavras e me embuchei de versos os mais lindos, compartilho que também “trago no peito meu Porto Seguro, contorno a boca com lápis escuro e brinco, eu quero recolher as âncoras, puxar as cordas, eu quero é navegar por entre as estrelas e tocar o azul da lua e sonhar...”.
Não tenho medo de mim mesmo, ainda que nem me conheça em todas as estações. Estou ocupado no processo frutificador, de olho no sabor da polpa e no pipocar dos brotos no caule do ser que se renovam como esperança e certezas. Mas sou orgulhosamente humano, o que vale dizer, sou flor, sou fruto, mas também sou caule, sou quebradiço, sou incerto, sou barquinho no meio dos mares... dos mares-de-mim... dos mares... É por isso que não corro atrás de elogios; aliás, não tenho alma ameninada pra isso. Sou um homem inteiramente homem, pleno de defeitos e limites como diz "Ao coração", outra canção que me inspira e me seduz ao aprendizado:
“Nem sempre sei fazer o bem que eu desejo
e, às vezes, eu me vejo me enganando sempre mais
não que eu não queira acertar, mas nem sempre é possível
Humano eu sou assim: virtudes e limites
se agora me permites eu pretendo ser feliz
sem prender-me ao que não fiz,
mas olhando o que é possível”
Nesses últimos dias andei falando por e-mail sobre acordes, sinfonias e sobretudo sons. Gosto de me ouvir, mas fato é que deveria gostar mais. Talvez acordasse para todas as possibilidades que me são oferecidas. Distraído que sou, sobretudo em algumas áreas, nem sempre percebo o que diante de mim está. Os sons na vida são os acordes que, literalmente, dão sentido nas notas mais particulares que carrego. Estes sons, juntinhos, se transformam num conjunto de notas a-FIM-nadas e outras apenas iniciadas, inexperientes, em profundo estado de gerundismo latente. A minha sinfonia é assim, nem simples nem complicada. É alguma coisa muito parecida comigo.
Em meio a tudo isso, não tenho do que reclamar. E por que reclamaria? Bobagem pensar assim. Onze horas da noite e eu assistindo tevê. Zapeando por um e outro canal, ouço "Tocando em frente" nos versos de Almir Sater. De repente, os sons invadem o ar e se achegam pra dentro das minhas janelas. Há um silêncio no meu peito que se desmorona em sentimentos devocionais. A musicalidade que me habita faz orquestra nos córregos da emoção. A música tem pra mim essa capacidade de me apontar o Belo na vida na linguagem mais simples. Entro nas juntas mais profundas dos acordes e avisto minha história musicada. As notas seguem com essa percepção e valseiam entrelaçadas às minhas verdades mais íntimas...

Sussurrando a canção [na letra inserida na imagem acima], descubro-me na percepção dos versos tecendo meu sentir-viver-sonhar. Literalmente, ando devagar porque já tive pressa. Eu só levo a certeza de que muito pouco eu sei. E nada sei para além de mim mesmo, um ser humano inacabado. Hoje sorrio com ‘ene’ possibilidades diante das minhas janelas. Quero-as pra mim. Todas elas, cada uma a seu tempo. Eu as convido pro meu regaço, vem!
Notas de rodapé: Tava com saudades de vir aqui, abraçar as palavras e fazer amor com seus significados. Ando ultimamente precisando ouvir mais sons, abrir as janelas, fecundar terrenos férteis, essas coisas...
Pela ordem, as imagens são de minha autoria e seguem com referências a versos cantados: excetuando-se a primeira, a segunda imagem possui versos de Renato Russo em “Ventos no Litoral” e créditos de imagem para André Bernardo em “Oh Fascination”; a terceira imagem possui versos de Hebert Vianna em “Lanterna dos afogados” e a última imagem possui versos de Almir Sater em “Tocando em frente”.
No dia em que se celebra, além da Inconfidência Mineira, a grata lembrança de um movimento iluminista porém acovardado pelos seus cabeças, à exceção do alferes Joaquim José da Silva Xavier, faço dos versos extraídos do poeta Virgílio (“Libertas Quæ Sera Tamen”), até hoje expostos na bandeira mineira, meu canto de aprendizado para o dia a dia. E não apenas isso, mas também parabenizo os 50 anos de Brasília e, como não poderia deixar de ser, homenageio a cidade com beijos enviados aos três sobrinhos nascidos por lá, Tiaguinho, Felipinho e Rodriguinho!
segunda-feira, 12 de abril de 2010
Estigmas, liberdades e radicalidades

Agora, quem nunca esteve nem aí para os tais fluxos de imposição – ou seriam “formatação”? –, fazendo justamente o que dele (ou dela) não esperariam, não se importando com mais nada, recebe de cara a tarja “ovelha negra”. Antes que as palavras soem comoventes, digo que há um bom sentido em ser ovelha negra. Bem-aventurados os que, rotulados como ovelhas negras, conquistaram suas alforrias! É verdade. O sujeito sabe que a cadencialidade das suas atitudes transgressoras lhe abrirá as portas da liberdade. O resultado, de certa forma, é que o sujeito está safo! Estar safo não deixa de ser uma implicação de liberdade, se é que me entendem...
Do contrário, se o sujeito preferir a maciez da estigmatização de bom mocismo – que não deixa de ser perversa, porém de forma aparentemente indolor –, fazendo sempre o que esperariam que fizessem, algumas vezes por se acostumar com o hábito viciante dos méritos e congratulações (“Ah, como ele é maravilhoso!”, “Como gostaria que meu filho também fosse assim!”, “Este é o genro que toda a sogra adoraria!”, etc), neste caso, o caminho para a liberdade – a liberdade do ser! – será mais pedregoso justamente pelo vício das performances politicamente corretas

Falo por experiência própria em todos os aspectos que ressaltei logo acima, tanto na questão da estigmatização de bom mocismo e nos vícios meritórios que seguem por tabela como também na desvantajosa acomodação em ser um não-eu. Evidentemente não gostaria de imprimir nestas linhas uma conotação de pobre coitado. Pelo contrário! É por isso que folgo em dizer que nada se compara ao prazer de sermos e fazermos o que nos der na telha, como fruto de decisões maduras de quem assume todas – disse e repito: todas! – as conseqüências.
O prazer de vivermos na verdade, absolutamente livres dos rótulos impostos, errando e acertando durante nossa existência, fazendo merda quando bem quisermos, mas também solidificando alicerces em muitos aspectos, é uma graça que todos poderiam curtir na sua própria experiência. O poder libertador de uma vida que se impõe pela sua verdade é uma das poucas coisas que são eternas. A amizade que se prova nos tempos de angústia e o amor que de tão grande ultrapassa as fronteiras do desejo, pra mim, são as outras coisas que considero eternas. Não morrem, mas se eternizam na memória de várias gerações.
De uns aninhos pra cá passei a pensar a vida e a mim mesmo de uma nova maneira. Mergulhei pra dentro dos significados da “metanoia” dos gregos. Pra quem gosta de histórias, essa palavrinha foi pronunciada pelo Cristo num diálogo que teve com um sujeitinho covarde chamado Nicodemus, que o procurou às escondidas por temer os rótulos que receberia dos outros. Ele era alguém da elite, acostumado nas práticas de bom mocismo impostas pela sua religião, adepto dos clichês “modus operandi” que até hoje muitos aderem – “dize-me com quem tu andas e eu te direi quem és”, “quem com porcos se mistura, farelos come”, “pau que nasce torto nunca se endireita”, entre outros –, mas doido pra conhecer o Cristo de perto em razão de sua fama transgressora e ao mesmo tempo pacifista. O encontro está registrado por João no seu evangelho. O barato daquele encontro resultou na palavrinha “metanoia”, quando Cristo lhe diz que seria necessário que ele nascesse de novo pra poder entendê-lo e, por consequência, entrar no clima daquela radicalidade pelo amor. A expressão foi traduzida de “metanoia”, que é uma aglutinação de “meta” [novo] e “noia” [pensamento, conhecimento], ou seja, seria necessário que ele passasse a pensar a vida de uma outra forma, sem clichês mas apenas com sua verdade.

Se eu disser que falei meu primeiro palavrão aos trinta anos, poucos acreditarão. Se eu disser que nunca fiquei alcoolizado, mesmo depois dos trinta, provável que também não acreditem. Se eu disser que nunca entrei numa boate, aí terão certeza que estou mentindo! Se eu disser que, por várias vezes, inclusive recentemente, já evitaram de vir falar comigo em razão de suposto receio pela ‘falta de assunto’, acreditem, é fato. E tudo isso por quê? Porque o peso das estigmatizações dificulta o florescimento das nossas próprias idiossincrasias.
É por isso que não afirmo pra ninguém que sou um camarada bonzinho, que sou romântico, que envio flores, que choro em público ao falar de amor, que choro reservado ao ouvir canções de fossa, que jamais fiquei por ficar com quem quer que seja pelo valor que todos os seres humanos têm pra mim ou, pior ainda, que sou pra casar. Dez ou onze entre nove ou dez dos meus amigos mais íntimos dirão sem pestanejar que sou exatamente assim, sem pôr nem tirar. De uma maneira filosoficamente teimosa digo que estão todos errados, mesmo envidando
Antes que me polarizem como anarquista, explico meu ponto de vista defendendo categoricamente que pessoas são pessoas. E só. Eu sou mais uma que me distingo pelo que sou dentro daquilo que Marisa Monte identifica como infinito particular. Eis por que costumo dizer – e nem sempre sou compreendido no cerne – que eu não tenho virtudes e que, portanto, não sou o que esperam de mim! Meus limites são fruto da minha liberdade! Os meus amigos e todos e todas que de fato gostarem de minha companhia -
E pra quem pensar que a força de minha verdade é mais forte que a solidez do amor, o que seria um contra-senso, pois vida em mim se dá pela via do amor, afirmo que sou mais um radical que sonha e que respira pelo amor.
Os porquês de minha radicalidade confessa lancei em farelos soltos enquanto me despedia deste post. Deu no que deu.
Eu confesso que...
Sou radical pelo amor que me irrompe as veias, me sacode os braços na direção do meu próximo – qualquer um! – e me torna sensível ao mundo que me cerca. Sou radical pelo amor que não me cala o sentimento, mas grita em muitos silêncios dentro e fora de mim.
Sou radical pelo amor que me enche o peito de esperança, as letras de significados doces e meus amanhãs com o recomeço. Sou radical pelo amor porque me visto de singularidade, mas não projeto em mais ninguém minha singularidade porque sei que projetar é destruir a beleza única do outro.
Sou radical pelo amor que torna meu ordinário o extraordinário de todos os momentos, que o faz belo por me importar. Sou radical pelo amor que me faz eleger o Bem cotidianamente nas coisas mais simples, reconhecendo que todo o processo é uma mística que só me inspira, nunca me cansa.
Sou radical pelo amor que me remete ao valor de todas as coisas, as que compreendo e as que ainda não sei como discernir. Sou radical pelo amor que nunca é pobre ou fraco, mas, às vezes, apenas tímido ou silencioso, incapaz de se encolher ou tornar-se indiferente.
Sou radical pelo amor que me compromete a toda atitude construtiva e que sacia não apenas a mim, mas ao outro. Sou radical pelo amor que dá sentido à Vida que há em mim, pondo sóis nas minhas janelas mais secretas, iluminando meu chão e todo o alicerce do ser.Sou radical pelo amor porque é nele – o Amor! – que me banho o corpo, a mente e os afetos todos os dias. Por que não se banhar com companhia? – perguntaria qualquer curioso. Porque a porta está entreaberta, sem muita exposição, mas suficientemente convidativa para quem discerne o valor simples das coisas e a profundidade dos laços que se firmam nesse amor, o mesmo do qual sou eternamente radical...
E por falar em amor radical, segue um beijo para além das estrelas na bochecha de meu paizinho. Ontem, exatamente ontem, fez um ano que sepultei o seu corpo, e recomecei a aprender a percebê-lo nas coisas mais simples das lições que ele eternizou em mim. Saudades daquelas igualmente radicais!
Nota de rodapé: dedicado a todos que sabem, na profundidade dos significados, o que é amar sem impor ou esperar condições e, por isso mesmo, podem dizer que são de fato românticos, eternamente românticos... as I am (I suppose)...