1º momento – o início da noite de ontem
Canetas repousam sobre a mesa diametralmente colocada para servir a duas dúzias de cotovelos e pernas. Olhei para o relógio de pulso, que me pulsava a chance de mais uma interrupção naquela reunião. Brinquei com a palavra parida antes de meu parto natural. Era um amigo que reclamava seu ponto de vista sobre determinada situação que não gostaria de ter vivido. Falávamos sobre o papel político que nos vestia o “sentir subversivo” contra toda ordem de intolerância na sociedade. Lembrávamos – embora eu apenas observasse – o encontro da última sexta-feira com os candidatos do PSOL ao governo do estado, à Câmara dos Deputados e ao Senado Federal. Recalcitrantes àquele palavrar politicamente ideológico, amigos reconheciam que o fundamentalismo religioso – diferentemente do que eles nos passavam – era e é o câncer que grassa nosso país. As lembranças apenas ilustraram parte da preocupação de nossos olhares. Estratégias foram delineadas pelas manifestações tão acolhedoras de todos. Ali, todos pareciam querer a mesma coisa, embora ninguém carregasse fuzis dentro dos olhos ou do próprio coração; ao contrário, o sentir mais visível estava no doce aroma da paz. Ela, a paz, não era um ideal menino, nem um cheirinho gostosamente inalcançável, mas uma nota alta de si maior na garganta de nossa vontade. Léa falava sobre os sonhos e, dentro deles, o projeto para alfabetizar travestis. Márcio, perguntado por mim, ressaltou os convites que fez com os psicólogos para desenvolvermos o mais rápido o projeto anteriormente aprovado para dar assistência aos jovens portadores do HIV. No fim de tudo, se é que sonhos podem ter fim, lembramos o ardor que carregamos e que não cabem em outra palavra senão no amor que desejamos não apenas pra nós, mas para todos. Afinal, buarquianamente nós cremos que “dura a vida alguns instantes, porém mais do que bastante, quando cada instante é sempre." Tudo o mais foram falas e mais falas até o sinal do fim. Reunião terminada. Cafezinho quentinho na ponta dos lábios. Um abraço, dois, três. Os meus olhos, sorrindo, acolhiam e se transformavam entre tanta gente que não apenas deseja os quês da vida, mas vai e faz. O domingo continuava produtivo, [antropo]logicamente falando...
2º momento – o início do dia de hoje
Abri a janela. Olhei com olhar entreaberto para o mundo lá fora. O dia me pareceu ter amanhecido acinzentado pelos cantos. Os rabiscos pelo firmamento não mostraram os raios do sol. A preocupação foi tanta com os detalhes que as nuvens sequer notaram o campo todo preenchido, sem chance para o sol surgir e mostrar seu brilho. Instante pensativo. Barulhos no andar de baixo não me seduziram. Olhei para o relógio sobre um canto qualquer da estante no quarto, reparei que apontava a indicação para além da hora esperada. Sequer percebi os minutos. Isso é difícil de acontecer, mas tem coisas que nos escapam. Olhei novamente para o cenário das nuvens e do próprio firmamento, confessei pra mim mesmo uma reza certeira de que o dia prometia trabalho. Fui lá cumprir a promessa de granjear o pão nosso de cada dia. Fiel, cumpri prazerosamente a força do meu desejo: devorei a fome. Sim, comi. Foi bom para ambos...
3 comentários:
meu domingo também foi produtivo pelo menos consegui fazer o que pretendia
gosto de saber que se um dia esse pais se tornar grande de fato você esteve la desde sempre
saudades imensas suas
beijos
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Serginho:
Sabe que dá pra sentir daqui a tua verdade? Pois, então, meu amigo, semeie o fruto honesto de teus esforços, seja sempre acolhedor e sinta saudades dos momentos que não deveriam ter ido! E, claro, ame, ame e ame!
É assim que te cubro de saudades!
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Gostei da escrita e li vários posts. Fiquei fã.
Abraço.
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