domingo, 2 de agosto de 2009

Vitórias da democracia – Parte 1




Dia 31 de julho de 2009 entrou para a história do Conselho Federal de Psicologia. O até então inédito caso da psicóloga evangélica Rozangela Justino tornou-se o primeiro a ser publicamente condenado pelo colegiado de seus pares no Plenário Ético do CFP. Ela incutia nos seus pacientes seus argumentos de natureza moral, ideológica e sobretudo religiosa para fazê-los crer que, sendo o que eram, não poderiam viver felizes e, segundo ela, serem "aprovados" por Deus. Detalhe: a psicóloga recebia e ainda recebe o apoio do segmento religioso evangélico, que, inclusive, se mobiliza nos seus representantes junto ao Congresso para derrubar por meio de legislação (decreto legislativo) a excelente norma infraconstitucional que lhe serviu de esteio para a sua justa e histórica condenação - a Resolução 01/99 do Conselho Federal de Psicologia.

Res, non verba, ou seja, realidade, e não apenas palavras, fato é que há luz no fim do túnel! Reafirmo que existe um estado democrático de Direito neste país constitucionalmente laico e livre dos cabrestos ideológicos de qualquer natureza. E tal realidade expôs os sofismas e as falácias da profissional, reverberando o grande mal que acabava cometendo indo ao desencontro da verdade do ser de seus pacientes. Graças a Deus, enquanto houver luz de democracia dentro e fora do túnel, aqui não se instalará um novo Irã!

Como disse no final de um artigo escrito ontem (não publicado no blog), percebemos que as importantes decisões tomadas no histórico 31 de julho de 2009, tanto no Judiciário quanto no âmbito administrativo (no CFP), marcaram simbolicamente o momento para aprendermos com a História a revisitarmos o nosso ideal de Paz, não a Romana, mas a tupiniquim, propagada na literatura modernista de Oswald de Andrade nos idos de 1922, que leva na cor bronzeada por este sol a beleza que toda boa mudança evoca. Mudar pra valores cada vez melhores e que contemplem, portanto, a união entre os semelhantes. Mudar como “conversão” de dentro pra fora. Mudar como exercício do repensamento do que até aqui se feriu (em palavras e falsas promessas baseadas numa visão diminutiva da religião que não religa, mas divide os homens). Mudar a ponto de não mais se reconhecer nos discursos ditos no seio da ignorância, outro fruto produzido pelo desamor.

4 comentários:

zé disse...

Na verdade, a autoritária decisão do CFP, em obediência às determinações do movimento gay, significa mais uma derrota da democracia e da liberdade.

A psicóloga Rozangela Justino não obriga ninguém a tratar com ela, nem obriga ninguém a deixar de ser homossexual.

As pessoas a procuram porque querem, e porque estão infelizes como homossexuais.

É direito delas, embora o ditatorial CFP-gay não goste.

A democracia e a liberdade perderam mais um pouco.

[Farelos e Sílabas] disse...

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Com o devido respeito ao que direi, impressiona-me a falta de informação de alguém quando tenta fazer de sua ignorância – por favor, antes que não se compreenda vale o significado da terminologia ignorância como “ignorar fatos” – o esteio de qualquer justificativa. O resultado é lamentável: fala-se sem conhecimento (técnico) de causa, impingindo convicções de natureza emocional num debate sério!

Foi dito pelo signatário do post: “autoritária decisão do CFP”. Pois, bem. O CFP representa um colegiado. O Plenário Ético não decide por imposição ou autoritarismo, antes, seus votos são individuais e baseados na convicção que cada um tem acerca do teor das denúncias e sua investigação (administrativa). A decisão se dá ao final após a contagem dos votos, portanto, sem chance para o autoritarismo.

Saibam todos que a decisão não foi baseada na suposta coerção que a senhora Justino tenha ou não feito para alguém buscar tratamento com ela. Ignorância – pra não dizer manipulação de verdade – é dizer o contrário. Aliás, em sua defesa, tanto no CFP quanto na Justiça Federal, ela fala que JAMAIS faria um tratamento dessa natureza (sim, o acovardamento manifestou-se em negar tudo!). E para que não se diga que manipulo os fatos, informo que tenho cópia em xerox da defesa dessa senhora! Portanto, não falo sem conhecimento de causa!

Fato é que a psicóloga foi punida por VIOLAR as normas que regulamentam o exercício da profissão no órgão que representa sua classe. Uma dessas normas impede o profissional de mesclar no tratamento suas convicções de ordem moral, ideológica e religiosa. E tudo isso a fim de se preservar intacta o que em psicanálise se chama verdade do ser de cada paciente. Isso, diga-se e repita-se, nada tem a ver com “CFP-gay”, mas com normas INTERNACIONAIS, segundo a própria OMS. Isto significa que não apenas aqui mas em todo o mundo civilizado a coisa funciona assim. Neste caso, partindo da suposta premissa do signatário, teríamos um “CFP-gay” para cada nação democrática do planeta!

Por fim, dizer que a democracia e a liberdade perderam é tão absurdo quanto dizer que não punir um comportamento REPROVÁVEL, PREVISTO EM NORMA, é valorizar o exercício da liberdade e da cidadania! Por essas e outras, abstenho-me de ir além. Para responder é preciso ter havido um ponto de vista coerente, por pior que fosse.

COMPETENTES, portanto, foram a decisão dos doutores psicólogos (doutores porque vi o currículo dos membros do Plenário!) e também a decisão da Justiça Federal – acerca da qual o tal senhor signatário não comentou – que, isenta de manifestações emocionais e de cunho religioso num universo laico, um dia antes do julgamento no CFP havia se posicionado através de uma obra-prima digna de primeiro mundo, a saber, a sentença da Juíza da 15ª vara cível federal, na qual, entre outros fatos, esclarece que RESTAM PROVADOS o preconceito e a ridicularização da senhora psicóloga em relação aos homossexuais, REAFIRMANDO ser dever do CFP a repreensão de tal conduta nos seus quadros justamente por atentar CONTRA a democracia e a liberdade!

Graças a Deus vivemos num país que constitucionalmente não obedece a um sistema teocrático, que, inclusive, já passou pelo autoritarismo, achando que tudo é válido e que qualquer norma prevista em lei pode ser violada a bel prazer de pretensa liberdade. As coisas mudaram, saibamos todos que isto aqui é uma DEMOCRACIA.

Durma-se com um santo barulho desses!

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Mãezinha Anna Maria disse...

Filho, li o texto que você escreveu e mais uma vez o admiro pela capacidade que tem para escrever. É sábio.
Gostei mais ainda da resposta ao comentário postado.
Vá em frente, Ricardo, pois e necessário..."Mudar pra valores cada vez melhores e que contemplem, portanto, a união entre os semelhantes. Mudar como 'conversão' de dentro pra fora. Mudar como exercício do repensamento do que até aqui se feriu (em palavras e falsas promessas baseadas numa visão diminutiva da religião que não religa, mas divide os homens). Mudar a ponto de não mais se reconhecer nos discursos ditos no seio da ignorância, outro fruto produzido pelo desamor" .

Parabéns pelos 2 textos.
Beijos.
Mãezinha

[Farelos e Sílabas] disse...

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Mãe:

É por essas e outras que me sinto estimulado a crer na Liberdade, a qual se diferencia da libertinagem justamente porque ninguém pode invadir o limite do outro apenas porque crê que tudo é possível, que suas convicções estão acima das leis, da democracia, etc e tal.

Beijo, mãe! Orgulho das lições que me passa!

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