sexta-feira, 2 de abril de 2010

Sobre colos, versos e algumas palavras


1º Momento:

Eu faço versos pra deitar no colo, deixar palavras quentinhas com os sufixos de aproximação. Não me envergonho disso nem de um dia ter criado palavras mudas. Tem dias que a gente simplesmente engasga com a letra, não rabisca nem saliva no céu da boca. Nesses dias o melhor a fazer é sorrir e não se preocupar com nenhuma divagação. Tornar-se criança. Brincar com as horas. Abraçar o tempo. Fechar os olhos e fabricar uma escada de pensamento, subir por ela e não se prender a nada.

Do alto de uma semana tão reflexiva, dita Santa, quero apenas deitar meus versos sobre as pernas de meu semelhante, meu igual. Não desejo muita coisa senão intimidade suficiente pra esboçar um pequeno texto. Não precisa ter vírgula, ponto, aspas, travessão, nada disso. Eu me conformo com as reticências, três pontinhos inseparáveis, e um sorriso indecifrável. O contexto eu dou conta!

- Desce daí, menino! – chama a consciência. Volta aqui e termina os teus passos aqui embaixo!

- Não posso agora, a palavra não quer descer!

- Volte com ela, mas não deixe a frase aflita...

- Fica fria! Concentre-se! Faça uma oração daquelas substantivas adjetivas!

- E se eu fizer, que me ocorrerá?

- Te darei colo, e não apenas um, e versos deitados e fáceis de carregar.

- Isto é uma promessa ou puro advérbio?

- Uma certeza indefinida!

- Tipo...

- Feche os olhos e sintaxe!

- Fechei!

- Sintaxe!

- Senti!


2º Momento:

Ah! Quem me dera todos os dias deitássemos versos no colo uns dos outros e subíssemos escadas de pensamento! E não apenas isso, mas levássemos o bom da palavra, muda ou eloqüente, a bons termos! “Amai-vos uns aos outros assim como”, inspira o momento. Amar não é o mais difícil, é apenas um caminho. Quantos egoístas não amam à sua maneira? Tudo, porém, ganha voz quando a palavra engravida do “assim como eu vos amei”. O sentido muda, mas não se torna mudo. As fronteiras gr-AMAR-ticais desaparecem e as palavras se aproximam, finalmente. Não se ouve mais dizer em condições ou meras circunstâncias. Ama-se porque se fez ouvir que a medida do amor é amar sem medida. É assim que a gente sobe e desce naquelas escadas de pensamento e não se prende a mais nada. Nem à palavra, nem ao momento. A gente forma verso é na ação do amor...


3º Momento:


Eu fui por aí lavar os pés das palavras que encontrar. Ontem, encontrei algumas reluzentes, me constrangi diante da sabedoria. "Você deve ser a própria mudança que deseja ver no mundo." "A liberdade não tem qualquer valor se não incluir a liberdade de errar." "Minha vida é minha mensagem." (Mahatma Ghandi)

A língua, indubitavelmente, é rica em gr-AMAR-tica!

Me cingi de versos, ‘passarei por cima’ (*) do final de semana em trovas pascais!


Nota de rodapé: (*) Páscoa, do hebraico “pesach”, ou seja, passar por cima [lit.]

16 comentários:

Dil Santos disse...

Oi Cardo, tudo bem?
Humm sei bem como é isso, as vezes as palavras parecem fugir de nós.
As vezes preciso de um colo, um abraço bem apertado, como um menino medroso precisando de proteção.

Bjo
:)

Cris disse...

Que lindooooooooooooooo !
Do começo ao fim. Poesia em cada palavra e de cada palavra vc leva a uma reflexão gostosa e profunda.
Olhar a si mesmo, amar e mais que isso, aprender a amar.Olhar o outro como um "abrigo", um "igual".
Isso seria sonho?
Acho que esse é o objetivo do qual tanto nos afastamos.
Lindo texto!
Culmina com Gandhi e as sábias palavras do Mestre!
Demais...
Beijo pra vc e uma linda páscoa de palavras em poesias....rs

Júlio Castellain disse...

...
O que falar...
Abraços e colos.
...

Robson Schneider disse...

Esse foi um dos textos mais belos que você já postou aqui meu amigo.
Vir aqui me faz bem... muito bem!
Feliz ressurreição!

Marcos Freitas disse...

Maravilhosa reflexão, espero que sempre encontre belas palavras, carinho e aconchego para se expressar de forma tão genuína.

Eu Meus Reflexos e Afins disse...

Adoravel texto.
Me encanta e arrebata
nesse sabado
e grito :aleluia!
Bravo!
Passa la no blog, tem
um texto novo la vou gostar de ler...
Bjins entre sonhos e delírios

Catiaho Reflexod'Alma disse...

Ia amar se me visitasse nesse endereço
http://meusreflexoscontostextoseafins.blogspot.com/

Anônimo disse...

Cardo

Esses farelos estão fantásticos. Como não querer um colo, como não querer a liberdade e poder errar. Cara, muito legal mesmo, também tem horas que só quero um colo, sem virgulas, sem ponto, sem exclamação................

Um abração

[Farelos e Sílabas] disse...

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Nota do autor:

Queridos, prometo voltar aqui e responder a cada farelo, a cada sílaba deixada nestas terras!

Um bom domingo! Bj! :)

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Mãezinha, Anna Maria disse...

Meu filho, vim apenas te parabenizar, mais uma vez, pelo belíssimo texto escrito em "momentos".

Com ternura, te abraço deixando um beijo maternal.

[Farelos e Sílabas] disse...

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Dil:

Tudo bem, queridão.

Quantos de nós [já] não nos sentimos assim? Bom é saber que há certezas em nós pra serem cridas nessas horas... Tenho certeza que a Vida me revela [sempre] um abraço bem apertado, ainda que nem sempre o sinta fisicamente. O carinho dos amigos, o porto seguro da família, a fé, tanta coisa acaba inspirando a certeza que te falei... é o tal ‘abraço’... Beijo!

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Cris:

Querida, não seria sonho. É o nosso desafio do cotidiano. Pois só quem conhece o que é amar, ama. É um fluxo natural. A gente não consegue guardar apenas para nós, talvez porque o amor não seja egoísta, “não busque o seu próprio interesse”, como [me] inspira a poesia de Coríntios, capítulo 13.

Obrigado pelas muitas sementes de afeto em cada letrinha fértil!

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[Farelos e Sílabas] disse...

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Júlio:

Não precisa. Quando as letras não vêm, nos antecipa o sentir que foi-tem-sido bom. Valeu, portanto!

Valeu pela linguagem sentida (o falar pra fora das letras), pelos abraços e colos nas expressões!

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Robson:

Meu amigo...

[Responderei em sentimentos]
[ As palavras emudeceram.]

Feliz ressurreição, a sexta-feira do sofrimento já passou, bem como os sábados da estupefação. Sejam todos os dias domingos-do-recomeço, tanto da vida quanto das esperanças! A mim. A ti. A todos quantos queiram!

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[Farelos e Sílabas] disse...

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Marcos:

Há quanto tempo não via seu ‘retratinho’ por aqui!... rs

Rapaz, ultimamente a inspiração tem vindo das observações do lado de dentro do ser. É neste sentido que não me faltam colos e degraus de certezas pra subir. Tudo tem sido um ‘mar de rosas’? De forma alguma. Até mesmo a dor da partida é um sentir que observo e me inspira pra dentro das certezas.

Palavras bonitas? Palavras paridas das minhas verdades. Você certamente tem as suas também...

Já que falei em observação, eu te observo com gratidão pelo retorno, pelas sementes que deixou! Volte sempre!

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[Farelos e Sílabas] disse...

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Reflexo D’Alma:

Você cantou no sábado o grito de aleluia. No domingo, largamos sepulcros e nos esbaldamos pelo fato de a vida correr em nós. Nesta segunda, porém, a confissão de que ela – a vida – é bonita, é bonita e é bonita!

Vou passar por lá, fazer aquela visitinha. Fique certa. Beijos, querida!

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[Farelos e Sílabas] disse...

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Gilson:

A nossa construção em texto-suor-e-sangue pede, não raras vezes – porque somos humanos! –, o aconchego da presença, interpretada de todas as formas. Qualquer uma delas faz diferença.

A sua ao vir aqui, por exemplo, foi e já está sendo um colo!

Abraços daqueles gratos, sem travessão! :)

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[Farelos e Sílabas] disse...

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Mãe:

E eu te abraço na mesma SINTONIA, em notas musicais bem filiais de bem-querer eterno!...

Beijos sem orquestração alguma, apenas no silêncio da alma!

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