Silêncio rompido
Para a cultura ocidental o silêncio nem sempre é valorizado. Silenciar é se fechar. Silenciar chega a ser incomodar. Mas eu gosto do silêncio pelas muitos benefícios, sobretudo quando o que mais quero é me ouvir. Ouvir-se é um exercício e tanto. Nos barulhos pra fora de nós pouca gente reconhece os que carrega dentro de si. Mas não é sobre o silêncio propriamente que vou semear palavras nestas linhas. É apenas pra afirmar que meu silêncio não impediu de voltar aqui pra marcar uma das minhas mais prazerosas necessidades: escrever sobre meus sons e sobre minhas impressões do dia a dia.
Que falta que faz
Acreditem se quiser, mas desde domingo estava sem energia elétrica em casa. 48h. Este foi o decurso de todo o calvário. É f%#@! É absolutamente tedioso não conseguir realizar várias – milhares! – de tarefas em casa, sequer carregar o celular pra voltar a ter comunicação com seres do planeta Terra ou, ainda, me inteirar dos meus e-mails e do que rolava no mundo em que habito. Um saco! Culpa de quem? Ah, sei lá! Fujo um pouco desses clichês caça-às-bruxas. Prefiro falar em ‘responsabilidade’. Mas não agora. Não por este canal.
O que queria era apenas mostrar como a ausência é mais instigante que o silêncio. Ausentar-me do mundo, pela [ir]responsabilidade dos que detêm os direitos sobre serviços e concessão desses serviços, é mais complicado que o silêncio em meio ao mundo barulhento. Horrível é a sensação de desconexão com os apelos da existência.
Sobrevivendo como E.T.
Tudo bem, sei que pareço divagar sobre uma prancha de surf em meio ao nada. Mas é que eu tenho pensado bastante ultimamente na minha ‘extraterrestrialidade’. Foi exatamente assim que me senti ao ler um artigo de um blogueiro falando sobre aqueles que na sua opinião eram ‘otários’. Pior, os comentários ecoavam um coro gregoriano de ‘sins’ (porque um ‘sim’ apenas é para os otários), concordando com tudo o que o texto dizia. Obviamente a minha impressão é apenas reflexo do meu olhar sobre aquele texto, por isso não irei apontá-lo indo ao encontro do que abomino, a síndrome da caça-às-bruxas. Cada um tem a liberdade de pensar o que quiser, penso. Posso não concordar – e cá estou pra isso! - , mas respeito.
Meu último post falava sobre outro tema controverso e acerca do qual é duro o exercício do respeito, mesmo em meio à divergência. Homofobia. Costumo dizer sempre que o que mais desejo é o respeito, e não necessariamente a concordância. Creio assim porque me aninho no pensamento de que todos têm o mesmo direito que eu de opinar como fruto do livre pensamento. Mas a minha opinião é apenas minha, não pode servir de verdade pra mais ninguém. Ao menos, não de forma goela abaixo... Lincando o que digo com o que abordei no parágrafo lá em cima, minha ‘extraterrestrialidade’ me apontou que talvez eu seja um otário de verdade. Sei lá, não sigo o fluxo do que chamam naturalidade.
Por exemplo: poderia estar descrevendo aqui – como é comum a muitos, e isso não é crítica – fatos relacionados a fins de semana incrivelmente calientes, gozados – sem duplo sentido! – em meio à ferveção e a tudo o que qualquer corpitcho equilibrado e são gostaria: diversão, azaração e curtição (com ou sem ‘finalmentes’). Talvez um dia, quem sabe, ainda descreva. (rs) Meus últimos três finais de semana, por exemplo, não foram o que se poderia chamar ‘diversão’ ou menos ainda ‘azaração’. Ao lado de uma amiga, visitei idosos em asilo (sem que nenhum deles fosse meus parentes), brinquei, sorri e sobretudo ouvi suas histórias de épocas que não vivi. Levei biscoitinhos e fui chamado de ‘lindinho’ e ‘anjinho’ pelas minhas fãs octogenárias e nonagenárias. Sei que meu risco é ser taxado de E.T. Afinal, convenhamos, quem se proporia a largar tardes de três sábados consecutivos pra cutrir um programa desses? Tudo bem, eu assumo que sou um desses! No último final de semana, por exemplo, depois das visitinhas de praxe no asilo, corri para pegar um debate sobre esquizofrenia e exclusão social. Fui ao debate (que foi precedido pela apresentação do filme “O Solista”) não porque sofra de esquizofrenia, mas porque o tema ‘exclusão’ sempre me aguça a participação. Noutro dia foi a prefeitura de Maricá, cidade próxima a Região dos Lagos, que me contactou para participar de um debate sobre “Diversidade e inclusão". Pois bem, embora tendo chegado atrasado ao filme, só deu mesmo pra rever amigos e me espantar com a participação fervorosa das pessoas que tiveram a mesma idéia e compareceram naquele lugar. Conheci algumas para as quais fui apresentado, troquei idéias e impressões, bebi com amigos e voltei pra casa. Exausto.
Em casa, não consegui dormir porque a Dona In-sônia teima em querer conjunção carnal comigo todas as vezes que me deito
Mas é aquela velha história, cada qual sobrevive com as manias, os desejos e as vontades que tem. Eu só fico bolado quando leio um marciano fazendo sua verdade prevalecer sobre a opinião alheia – seja a de terráqueos, como a maioria; seja a de E.Ts, como eu! -, tal como ocorreu quando li um blogueiro falando asneiras do tipo “preocupar-se com os outros, pra quê?”, “ser fiel ao parceiro é uma otarice”, “quero mais é aproveitar porque a vida é uma só, essa história de se guardar para o amor é coisa de otário”, “o que vale na vida é a felicidade do momento, dane-se o dia seguinte”. Ficarei por aqui. Tenho ainda alguns pensamentos pra concatenar, coisas pra compartilhar depois
Antes de me despedir...
Parabenizo o Grupo Arco-íris pelo brilhantismo da campanha sobre o respeito às diferenças [vídeo abaixo]. Parabenizo o pessoal da cidade norte-americana de Washington D.C., capital dos EUA, pela árdua trajetória rumo à legalização dos casamentos. Em especial, parabéns à Darlene Garner e à sua companheira, Candy Holmes [foto ao lado], teólogas e militantes dos direitos humanos, que
Ufa! Quantas impressões neste retorno!
15 comentários:
Querido:
O mundo seria bem melhor se tivesse pelo menos 1 duzia de pessoas como você, tão sentimentais, tão apaixonadas pelo outro, tão engajadas, inteligentes e apaixonantes. Que texto lindo, que sensibilidade. Em relação a figura que lhe escreveu impropérios, realmente o mundo é cheio de otários mesmo (por exemplo ELE)que ainda não aprenderam que a grande lição que Deus nos deu,dá e sempre dará é do amor,doação e fazer o bem a todos.
"Não faça com o outro, aquilo que não gostaria que fizessem com você".
Linda semana..beijão.
Eu não te acho tão ET assim, mas devo dizer que você me surpreende sim, pois é raro jovens pensarem fora do seu circulo social, ou assunto dos mesmos...
Fique com Deus, menino.
Um abraço.
Deixando sempre o caminho de volta bem marcado pra não ficar perdido no imenso pátio interno da alma...
Abraço meu querido amigo
Eu amo o silêncio...respeito muito. Mas, gostei muito dessa comparação ai com a ausência. Nas noites que falta a energia, gosto disso ai...da ausência da energia e não do silêncio.
Brilhante sua postagem amigo.
abraços
em tua alma.
Hugo
Oi Cardo, tudo bem com vc?
Menino, eu detesto silêncio, acho q por viver numa casa com poucas pessoas(15) acho estranho quando tudo fica silencioso demais.
Achei o máximo a legalização do casamento entre pessoas do mesmo sexo em Washington, q é a capital de um país hiper influente, acho q abre mais espaço para outros países, ficamos na esperança do Brasil aderir né? rsrs
Então menino, eu tbm tava com saudade, li a resposta do outro post, brigado viu? rsrs
Apareça mais, rs
Bjo
:)
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Edilson:
O que você quer que eu diga, querido? Emudeci depois de tudo isso...
O que sei é que nada sei. E o que faço, faço-o porque o amor é assim, vai na pele, escorre por dentro, pra alma da gente, nos impele a ir e a fazer. Quando se vê, já se fez. A mão esquerda nem sabe o que a direita fez...
Tem uma frase de Santo Agostinho que me inspira, falei noutro dia para meus alunos: “Ame e faça o que bem quiseres!”. Pois quem ama, só constrói, nunca destrói. Quem ama, só une e agrega, nunca divide. Quem ama, planta vida nas searas da existência!
Obrigado pelas raízes nas palavras! Beijo [agradecido].
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Daniel:
Um diferente entre os diferentes, uma vez escrevi. Um “Etezinho”, diria agora... rs. Fato é que não é de hoje que me envolvo no desejo soli-DAR-io de transformar o mundo em que vivo.
Durante quatro anos, ao lado de amigos de vários credos (ou não), distribuía roupas, alimentos e brinquedos pelas madrugadas do Centro do Rio. Sim, quatro longos anos! Mensalmente! Fotos é o que não me faltam. Em 2002 ou 2003, se não me engano, foram expostas numa exposição. Depois, foram os anos engajado nos programas de DST/AIDS com jovens e adolescentes das comunidades carentes da zona portuária do Rio de Janeiro. Valeu até um prêmio, na verdade, um reconhecimento pela ALERJ (Assembléia Legislativa do Estado). Em 2006, ao lado de uma amiga, e contando com a parceira da Pró-Reitoria da UFRJ, criamos o pré-vestibular comunitário na zona portuária do RJ. Isso entre outros projetos dos quais fui mero colaborador...
Hoje, além dos idosos, as crianças soropositivas da Casa Maria de Magdala são meu grande entusiasmo. Obviamente, as lutas pela igualdade e justiça junto às minorias não poderiam ficar de fora!
"...o amor JAMAIS acaba" (1 Co 13,8).
Obrigado pelo carinho, meu rapaz! Abração!
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Hugo:
Como sempre__________ amigo!
É sempre bom tê-lo_________aqui!
Abraços devolvidos_______em dobro!
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Robson:
Imagina! Sigo as sílabas, encontrando-te nas pistas dos verbos – os teus, aqueles que conheço -, fazendo visitas certas nos momentos exatos do lado de dentro do peito.
_______________tu és só abraços meus, amigão!
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Dil:
Tudo bem, queridão!
Ó paí, ó! Mas quem foi que [te] disse que silêncio é ausência de sons do lado de fora?
[rs]
Tente o exercício, o ouvir-se até silenciar. Se bem que numa casa com 15 pessoas pode ser mais complicado a meditação [se não houver sintonia nesse momento, o qual deve ser apenas teu, uma espécie de diálogo de si pra si].
Mudando de assunto...
A questão da legalização dos casamentos. Hummm, vejamos... Não é tão simples. Evidentemente lá também não o foi. Aqui, por outro lado, será preciso a mesma mobilização e engajamento da sociedade civil (a começar pelos LGBTs). Há uma resistência política que vem das alas religiosas, justamente aqueles que se dizem discípulos de quem a todos acolheu. Santa ironia ou, como gosto, puta mentira disfarçada de verdade! O desafio é exterminar a ignorância, é mostrar que democracia é ouvir os apelos legítimos de todos. O que desejamos? Como desejamos o que queremos?
Pode deixar________ mais e mais: aparecerei! Bj! ;)
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Gosto tanto da doçura e seriedade das suas palavras. Sério msmo.
Um grande beijo.
Hua, kkk, ha, ha, acabei te conheçendo um pouco mais com a tua resposta sobre o meu comentário.
Fique com Deus, menino.
Um abraço.
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Wans:
Veja a ironia: pra mim, neste momento, suas palavras me soaram exatamente assim como [me] falou...
Todos os abraços numa só gratidão! Beijo! ;)
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Daniel:
rsrs... tá vendo só!
Abraços [fé]-lizes!
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Filhote, gosto tanto de ler quando você escreve que foi visitar as velhinhas octogenárias e nonagenárias e que elas te chamam de "lindinho", "anjinho"... É, fico aqui pensando quando chegar em julho, estarei com 70 anos, será que estarei entre elas, para você me visitar e eu poder te chamar de "filhotinho", "amorzinho"?
Espero, como septagenária (?) poder receber uma visitinha sua, viu?
Tive que achar graça e estou aqui rindo ainda desta sua "Nota explicativa: eu não faço amor com Dona In-sônia, mas sim com Seu-ups-meu-sono. Com a Dona In-sônia é conjunção carnal fria e mecânica mesmo!"
Só mesmo o meu lindo filhote carioca para escrever estas coisinhas lindas.
Parabéns, meu filho, pelos textos.
Ontem o paizão (nica) faria 72 anos e hoje quando fui visitar o blogger do Paulinho me emocionei com o artigo que o pai dele escreveu em 1995 e ele fez questão de colocar para todos lerem.
Gosto muito de ler o Paulo. Estou inclusive fazendo todos os dias os
"40 dias com Giussani" (Tempo da Quaresma)e também o "Comentario ao Evangelho do dia".
Eu imprimo todos os dias e faço a minha reflexão à parte. Tenho crescido muito com isto.
Filho, um beijo.
Mãezinha
Estou ótimo menino, rsrs
Como te falei, ñ gosto muito do silêncio, dá um medo as vezes sabe, vc se sente desprotegido, sei lá, eu me sinto, mas eu ñ sou a pessoa mais normal pra falar isso né? rsrs
Mas as minhas terapias sem terapeuta, q me ajudaram a super vários problemas, são feitas com um fundo musical, é preciso, se ñ, nada acontece, a coisa não flui, rsrsrs
Então, é complicado mesmo, acredito que isso mudará quando resolvermos lutar mais, pois muito se fala, mas pouco se faz. Posso estar enganado, mas acho q se fosse feito algo mais forte, mais focado em relação a isso, poderiamos ter um maior crescimento nos direitos, nas decisões envolvendo os homossexuais. Falo isso baseado em algumas matérias q leio e tal, não sou um expert no assunto, mas acredito q estamos no caminho certo, já tivemos um grande avanço nessa luta, mas podemos ter mais. Nossa, hj eu me empolguei, é q tô meio ( tá muito) tagarela hj, kkkkkkkkkkkkkk
Bjo Cardo
:)
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