quarta-feira, 18 de junho de 2008

Contra o “dane-se”, germine amor!


Há quanto tempo não venho mergulhar neste rio de palavras do blog, banhar-me nelas, encontrar-me com as sílabas cabreiras porém inteiras, sejam ditongos ou consoantes. Os dias correm na mesma velocidade dos fonemas e na mesma intensidade das sílabas átonas. Eu é que o diga!

Na última vez que aqui postei, a notícia foi cruel. Gâmbia legisla em prol do terror contra seus próprios nacionais. A dita “limpeza” a que se propõe o sr. Jammeh, presidente daquela nação, é a manifestação fria e covarde de quem vê a diversidade como ameaça. Muito mais fácil, pensam, eliminar o que não suportam ver. Neste caso, que o digam os homossexuais de lá. As severas leis islâmicas já corroboram bastante do que falo aqui (lembrando que Gâmbia é um país pobre e muçulmano), aumentando ainda mais o sofrimento de muitos seres humanos. Eu disse “seres humanos” sim! Por favor, avisem ao presidente de Gâmbia!

Minhas mãos me levam hoje a escrever aquilo para dentro do qual mergulho com um pouco mais de inquietude. Os dias são maus. Há uma palavra profética dita por Jesus nos Evangelhos, lá em Mateus 24, acerca dos dias maus nos quais, “por se multiplicar a iniqüidade”, o amor de muitas pessoas seria convertido em esfriamento nos sentimentos em relação ao ser humano. Não falo em violência, ato de não comiseração. Falo de frieza mesmo. Indiferença. Estar nem aí pra nada. Não importar-se.

Falava com um amigo dia desses sobre estes temas. Percebemos que o império do dane-se é a coqueluche sobre a visão de mundo de muitos. Dane-se o mundo. Dane-se a violência, a injustiça, a falta de presença do Estado nas áreas mais críticas das cidades. Simplesmente, dane-se. É o que muita gente fala, inclusive vivendo. É o que muita gente planta nas terras de seus próprios caminhos. Dane-se nos gestos. Dane-se nas omissões. Dane-se na própria sentimentalidade. Duro ouvir de minhas palavras o que não queria encarar neste teclado, mas o mundo caminha segundo o curso de seu desamor. A semeadura tem sido na direção dos latifúndios do mundo. Quando falo em mundo, arrisco-me a dizer sobre os sistemas (políticos, econômicos, sociais e religiosos) de controle, escravidão, poder e perversão. Era desse mundo que Jesus falava. Não era de geografias, como muitos pensam. Os ambientes não são maus. Nós é que os transformamos. Nossos atos comutam as decorações de cada ambiente, seja ele visto pelo olhar mau ou pelo olhar bom. Por isso defendo que nenhum lugar é em si mesmo ruim. Depende de cada semeadura. Na época de militância social dizia para muita gente no complexo portuário do Caju que cada um tem o dever de lutar contra a miséria, de não se estigmatizar como “favelado”. A favela entra por onde se permite. Teve muita gente boa que me ouviu. Lutou. Perseverou. Colheu boas sementes.

Cada um de nós sabe a dor e a delícia de ser o que se é. Frase de Miguel de Cervantes colhida há séculos atrás. Pra mim é o impulso necessário para saber amar. Quem não “se” ama, não ama a ninguém. Quem não sabe amar, não sabe fazer diferença em meio à vida. Quem não faz diferença, manifestando-se no chão da existência como contrário ao curso do mundo, não muda a vida ao redor. O “dane-se”, neste caso, acaba prevalecendo. Meu dever (e assim deve ser o de todos que amam amar, que não apenas sonham mas querem a paz) é o de evidenciar em mim uma existência cuja semeadura impeça o estigma e a pior das misérias: a indiferença, que é o não-amor.


Muita gente boa de Deus sabe do que falo; aliás, sabe e tem me ensinado como semear boas sementes cada dia melhor!


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