domingo, 6 de abril de 2008

Lembranças de altos papos de uma quarta-feira


Sei que hoje é domingo, mas quero falar de quarta. Quarta-feira passada, reuni-me com alguns amigos. Uma conversa quase premeditada. Verdade é que nos devíamos há meses um papo como aqueles. Falamos de nós, de certas impressões, de incertezas que carregamos, de fé, de vida, de Deus, de tanta coisa. De tudo um pouco falamos. Trocamos idéias como quem troca figurinhas. Muitas delas. Idéias e figurinhas. De repente, a conversa virou entrevista. Não que tenha sido de um segundo para outro. Mas a metamorfose daquele papo foi intensa. Eles resolveram de comum acordo me entrevistar. Aceitei. Ora, dúvidas que pediam o esclarecimento de uma outra opinião; ora, questionamentos que se revestiam de roupagem ideológica. Não estava sendo testado. Via-percebia no olhar de cada um interesses necessários para o papo. Senti que houve uma troca de informações e, de quebra, uma energia muito legal.

Falei-lhes principalmente de desconstrução. Desconstrução de idéias assimiladas sem questionamentos. Chamaria de processos individuais de desconstrução. Bom que todos fizessem pra que sedimentos de nossa natureza presunçosa de auto-enganos e auto-responsabilidades dessem lugar à reflexão sadia. Bom que nestes processos muita coisa – a nossa idiossincrasia – fosse derribada. Derribar o que significa “segurança” não é fácil. Sei disso. Mas o que é seguro em nós? Nós não o somos (sempre). A turbulência faz parte de nossa epiderme. Eis como é bela a limitação humana!

No entanto, ao falar de desconstrução, queria mesmo era falar de uma só certeza: a Graça que é tudo, inclusive certeza, descanso e paz. Mas também é tudo porque nada é fora dela. Dia, noite, sol, chuva, dor, alegria, vida, morte, vitória, derrota, fartura, fome e etc. Entender o significado de Graça tem a ver com o cenário do meu interior (e, nele, todos os meus sedimentos). Mais uma vez, sei, não é fácil explicar. Por isso, “o justo viverá da fé”, diz Paulo em Romanos 1. Esta é a única certeza nossa: não sabemos nada do instante que ainda virá. Tudo proposital. E por quê? Porque nos convida naturalmente a um caminhar pela estrada-vida pisando no “nada” de um absoluto enorme: o pavimento da fé.

Assim é que, se é por fé, descanso na certeza que acolhi. “Nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus”. Não importa mais nada a não ser meu pensar e meu sentir. Os incomodados que se entendam com Ele, o Autor desse barato todo. Neste processo de desconstrução, chamo a “reconstrução” que é feita por fé nas certezas da Graça de valorização de minha individuação. Sou um ser único e que, portanto, seria inadequado para qualquer fôrma.

A partir daí, a entrevista voltou a ser papo. Mergulhamos nesse mar de idéias nascidas do que chamei de ‘processo de desconstrução’. Ficamos empolgados. Chegamos a algumas conclusões, muito rápidas, mas gentis com nosso momento. Uma delas foi a de ser incoerente com as fôrmas. Faz bem. A outra foi de que assunto como este não daria Ibope pra muita gente. Mas isso, convenhamos, já seria um outro assunto. Olhando a hora corrida, a gente se despediu em paz em meio aos bocejos da noite.


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