segunda-feira, 17 de março de 2008

O sóbrio e equilibrista


Eu não precisaria beber pra saber que sóbrio funciono bem melhor. Eu me sinto melhor. Este “sentir” é fruto de meu caminhar. Nas andanças pela estrada-vida alguns frutos já colhi (mas não pensem que foi fácil porque tudo o que a vida menos oferece – e é bom que assim seja – é facilidade). Aprender com meus próprios erros é um desses frutos-aprendizado. Outro fruto, por assim dizer, seria gozar do equilíbrio no que vier a fazer. Gente equilibrada é sóbria diante das tempestades, mas também permanece eqüidistante ante sua própria cerviz. Não foge à luta, mas reconhece quando não dá pra si o enfrentá-la só. Pede ajuda. Não esmorece. Gente equilibrada equilibra tudo ao redor. A gente vê. A gente sente. É um sentir leve que não cria situações adversas nem nos torna reféns de inúmeras justificativas.

Ontem, à noite, ouvi de alguns amigos entre os quais estive várias histórias. Vi que alguns preferem ser reféns de si mesmos, de seu próprio medo de encarar os desafios. Vi que em outras histórias o que entendia era simplesmente a vontade de mostrar realidades não existentes, como força, coragem, vigor, enfim, mudanças que não aconteciam. Percebi que alguns viviam na corda bamba entre o virtual (aquilo aparentemente aconteceu) e o real (os fatos que qualquer um vê). Percebi que muitos de nós somos vítimas do próprio discurso, mas não somos equilibrados. Não buscamos o equilíbrio. Somos oito ou oitenta nas nossas relações. Viver assim é qualquer coisa menos o exercício do equilíbrio. Eis a razão porque colhemos frutos que nem sempre queremos. Tem a ver com a forma de semear a vida e cada uma de nossas relações com o próximo. Como a colheita seria diferente? Impossível!


Viver com sobriedade tem a ver com o equilíbrio que falei. Venhamos e convenhamos, nada é novo nestas palavras. Aprendi como fruto colhido em Graça que Jesus é um bom exemplo de vida equilibrada. Nas festas e nas bebedices, curtia e certamente apreciava excelentes gorós. Não se recolhia como ermitão, mas também não bebia a ponto de cair pelas vielas de Jerusalém tentando encontrar o caminho de volta. Diante daqueles rejeitados pelo preconceito social (e até moral), não dava as costas mas também não repetia em si mesmo qualquer des-significação pra sua vida. Não é porque batia altos papos com as putas que ele se prostituía. Promiscuía-se, em certo sentido, que é pela semântica pura "estar misturado, junto", mas não se prostituía. Não é porque jantava com coletores de impostos (raça filha da @#$ para a época), como aconteceu com Zaqueu, que entrava em negociatas, tentando não contribuir para o Fisco. Ele amava, mas, se não correspondido, não odiava nem muito menos agia com indiferença. Tem gente que ama e odeia com uma facilidade desumana. Tem gente que aproxima-se e afasta-se com velocidade medida na conveniência. Tem gente que pensa amar mas, na verdade, se o que sente não é algo leve e saudável. Não pode ser amor. Quando não há amor, estabelecem-se outras vertentes. O caminho fica sombrio e a alma desromancia aos poucos.

Tudo me parece ser uma questão de equilíbrio diante de nossas escolhas. Eu apenas ouvia e meditava durante aquele papo. Ri de algumas situações cômicas, confesso, mas não me afastei da meditação um só instante. Buscava sentido em alguns porquês, não em mim, mas na Graça que me instrui. Concluí que nem todos querem de fato equilíbrio em suas ações. E vão colhendo os frutos das plantinhas que não reconhecem que um dia semearam...

2 comentários:

ladyneide disse...

...Penso que além de uma questão de equilíbrio, é de maturidade também.

Um beijo!

[Farelos e Sílabas] disse...

Falou e disse, Neide. Equilíbrio e maturidade. Uma é consequência da outra. Como ter frutos se a planta sequer mostra folhagens nascidas?

Tudo tem seu tempo, mas a maturidade também exige a sabedoria de ver todas as coisas como aprendizado e todas as experiências como argamaça de algo mais sólido que se constrói em nós.

Eita que menina perspicaz, sô!

Beijão!

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