Uma das coisas que mais me fascinam no ser humano é quando ele sabe ser. Não importa o quê tem sido. Pra se saber é preciso conhecer-se. E tudo, sabemos, é um processo que se faz na conjugação mais gerundiana possível. Ninguém é totalmente nada, diz um princípio da psicanálise. Estamos-sendo, já se diz acerca de outro princípio. E os que estão-sendo (conscientemente) me fascinam.
Quando vejo movimentos como os da Conscientização Negra, os Feministas, os Indigenistas, grupos de articulação das Pastorais católicas e, recentemente, a galera da CUFA, ainda que germinando pelas vertentes mais ligadas ao esporte, acesso digital e cidadania, me pergunto por que a categoria dos LGBTs me parece – ainda – distanciada do exercício cidadão dos seus direitos, desconhecedora de sua própria identidade, quando não muito aterrorizada pelos sufrágios da moral inquisidora baseada nos arbítrios da religião. Falo assim pensando nos porquês que suplantam o paradoxo existente nas multidões que auferem às paradas de um suposto orgulho, mas que, invariavelmente, não sabe que corre no Congresso um PLC (o 122/2006) que assinala objetivamente algumas regulamentações constitucionais que dizem respeito ao princípio da igualdade e também confere tipificação para alguns delitos oriundos do ódio contra uma categoria de cidadãos por aquilo que são (e não porque escolheram ser). Falo assim, ainda, em razão de fatos que tomei conhecimento recentemente e que me trazem a sensação de “des-serviço” vinda justamente de quem poderia ter falado bem do que diz representar. Refiro-me a um evento supostamente acadêmico ocorrido na Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro) neste mês, mas que, pelo total despreparo de quem foi convidado, enfrentou a sabatina raivosa de outro grupo, o dos homofóbicos cristãos, e permaneceu visivelmente acuado, utilizando-se de argumentos divorciados do contexto científico e da própria razão do evento, para dar trela ao que se tornou um descarrilamento lamentável da situação.
Talvez muitas pessoas não estejam entendendo nada, mas acabo por decidir que o texto sofrerá – como quase sempre sofre – as manifestações de minha liberdade pra apenas desabafar um pouco acerca daquilo que me cansa, a saber, a falta de conhecimento e o dês-serviço que alguns causam por não saberem sequer o que são nem o porquê de aqui estarem. E tudo isso porque sou um cidadão atento à liberdade que deveria ser conscientemente exercitada por todos, o que vale dizer, com respeito a si e ao espaço do outro, seja o outro quem for. Quando isto não ocorre – e aqui não faço apologias a establishments, partido ou categoria alguma -, observo com inusitado cansaço. Sussurro a expressão mais exclamativa para o momento: é foda!
Por essas e outras tenho me sentido, cada vez mais, um E.T no meio dos humanos (rs). Assim como intimidade é uma merda, diz o título de uma comunidade orkutiana, o pensamento consciente acaba sendo outra merda! A gente vai dissecando a realidade com olhar crítico e vendo, estupefato, que não é só a escassez da água que está correndo risco neste planeta. Os cérebros também!
Nota: aproveito o texto pra pincelar o convite recebido e propagado (porque tem gente com respaldo envolvida). Quem estiver pelo Rio nesse final de semana, tá convidado. Comunidade Betel. Praia de Botafogo, 430, 2º andar, Botafogo.
5 comentários:
Gostei do texto...bem escrito e tem uma argumentação maravilhosa.
Abraços
Hugo de Oliveira
Ontem mesmo questionava com uma amiga o fato o qual você relaciona no seu texto "a escassez" de cérebro.O ser humano em si tem que voltar a esse princípi...ser um ser pensante.Saber questionar,saber ter uma opnião formada mas sempre com o devido respeito que cada assunto especifico deve ter.
Muito bom seu blog.Cada leitura me cativa mais.Quando eu crescer quero ser igual você.rs
Beijão.
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Hugo:
Anotei as palavras. São estímulos.
Isso dá mais inspira-AÇÕES nos próximos textos!
Obrigado por [me] acompanhar nos escritos! Abraço(s)!
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Uerlle:
Saber-se. Primeiro passo. Depois, outros...
Saber ver. Saber ouvir. Saber falar na oportunidade. Saber recolher o que falou. Saber esclarecer. Saber portar-se.
Por não saber (ou nem querer aprender saber, o que é muito pior), a gente vê o que vê por aí, sobretudo dentro de alguns movimentos (falo acerca das minorias das quais faço parte). Esse foi o contexto. Mas, claro, sempre lembrando que tudo é um aprendizado. Basta querer...
____________abraços, meu rapaz. Você, sendo você, já é muita coisa!
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Ricardo, eu sempre gosto de acompanhar seus escritos, admiro muito tudo que escreve, viu?
Acho que sou a leitora mais "presente" nesse blog, rsrsrs...
Parabéns, mais uma vez, pelo texto! Amei!
Beijos, mãe
Tenho estado aqui a ler os seus textos e estou encantado. Apreciei a forma simples e directa como nos conduz nos assuntos.
Um abraço desde Portugal
António
PS: vou continuar a leitura.
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