quarta-feira, 28 de março de 2012
Crônica dos sonhos que não vivi e...
quinta-feira, 22 de março de 2012
Do que se pode fazer para não ser
Posso passar uma vida inteirinha brincando de ser feliz, e, dependendo do ambiente onde esteja plantado, aprender a sobreviver com as máscaras que me fazem ser ‘aceito’ no mundo que escolhi viver...
Posso ser de todas as cores porque, no fundo no fundo, não é a cor da pele que importa, e sim a da maquiagem no grande palco chamado Vida... sobrevive e se dá bem quem aprendeu a arte de ser cínico, matando leões todos os dias sem que ninguém perceba tal carnificina que ocorre pelo lado de dentro da alma...
Posso não entender algumas coisas, posso até invejar os que não passam pelos mesmos porquês que eu, posso dar golpes desesperado por me dar bem, custe o que custar, até fazer terceiros e terceiras para sempre infelizes e traumatizados na condição de vítimas de minha covardia. Eu sei que posso! Tantos não podem... e fazem?!
Posso atravessar todas as fases da vida até atingir as cãs e colecionar nas mãos os calos de tantos golpes desferidos contra mim mesmo... quem se importa? Posso sobreviver em meio a tantas estratégias que nem me dou conta neste momento... até empedrar de vez!
Onde o ser humano que um dia existiu?
O que fiz com as chaves de felicidade que um dia me foram entregues pelo Dom da Vida?
Onde a alma que gozava saúde no ser e aninhava sonhos de criança – lembrando que da simplicidade delas é o Reino dos céus - ?
É possível que algum dia, nos limites do último fôlego, às portas de uma Grande Viagem, uma Voz desfira o golpe final: “- Insano, hoje pedirão tua vida... e tudo o que você empreendeu em ações e omissões diárias de esvaziamento de si mesmo, pra que te serviu?”
Posso tantas coisas, mas e a mais simples delas? Viver e não meramente existir? Abrir portas com as chaves que um dia recebi de um par de mãos, não lembro de Quem, acho que sei o Nome, mas fiquei confuso se ainda me reconhece ou não?
Na dúvida, se ela - a tal dúvida - ainda existe em meio a tanto esvaziamento – eis um bom sinal, nem tudo está perdido! – o que fazer para deixar de não-viver e ressuscitar do pó das cinzas?
Eu acho que sei! – Você sabe?
Como o poeta que não morre, o conselho de Drummond é apenas uma mãozinha:
“Chega mais perto e contempla as palavras, cada uma tem mil faces secretas sob a face neutra e te pergunta, sem interesse pela resposta, pobre ou terrível, que lhe deres: Trouxeste a chave?”
O poeta pergunta pra mim, coisa inexplicável mas que dá pra sentir numa simples releitura... talvez por isso eu acredite que é pra mim que pergunta, não sei se é pra mais alguém. É como se me dissesse, clamando pela poesia – que não é pedra, mas clama! -, se ainda estou com as chaves que um dia recebi daquelas mãos de Alguém cujo Nome nem mais sei após tantos descaminhos pra longe de mim, me pedindo pra abrir as portas que fechei não vivendo, não sendo, não eu até não-sei mais de mim...
Eis o ponto crucial! Alguma coisa bem firme me assegura que aquela Voz pode esperar... o Amor sempre espera porque tudo espera. Tanto o pronome quanto o advérbio esperam tal qual o Amor que espera porque tudo crê... E se crê de todas as formas é porque, no final das contas, o Amor jamais acaba.
Ainda não é tarde demais...
O que faço deste ser humano que achou que podia a vida inteira pra longe de mim mesmo?
O que qualquer ser humano ainda pode fazer se assim viveu (ou morreu) a vida inteira?
Dos outros não sei; quanto a mim, está decidido:
Onde eu coloquei o raio dessas chaves!?
domingo, 18 de março de 2012
Crônica dominical de final de verão
Cachorras, sexo e brioches – numa época de ofertas fáceis, amor é privilégio que poucos e poucas querem ter...
Estava procurando uma receita de bolo simples. Queria alguma coisa bem simples, porque de simplicidade é que a vida se torna rica (bela, quero dizer).
Daí, folheando uns artigos, encontrei uma história retratada no quadro de um psicanalista. “Por que as cachorras acabam se dando bem?”, perguntava a leitora. Aquilo me chamou a atenção. Viajei pra dentro daquele contexto e foi inevitável pensar nas letras de músicas que ouvi, aqui de casa, na noite de ontem, quando de alguma comemoração na vizinhança... Não, não enlouqueci nem soltei os meus cachorros! Souberam respeitar a lei do silêncio. Até lá, no entanto, ouvi várias vezes as letras enigmáticas sobre os seres-cachorros...
Mas o artigo me interessou neste momento de tanto protesto a que mergulhei. Protesto por perceber a ruína dos valores e da própria ética no dia a dia. E continuei lendo aqueles parágrafos até me deparar com uma letra de Gabriel, o Pensador, que na sua linguagem musical foi capaz de dizer “não inveje as cachorras...”. E por que disse isso? O articulista se adiantou em responder... “Elas ‘dão muito’... mas não levam nada... e envelhecem amarguradas.”
E prosseguiu: “Ora, até para ter plenitude de prazer sexual tem-se que ter mais do que um corpo de macho ou fêmea em atrito sexual sobre a pele. Gozo é privilegio do amor e da confiança; não do sexo.
A maioria das mulheres que conheço que ‘dão muito por aí...’, não sabem até hoje o que é prazer. Confundem a biologia animal do prazer com a plenitude dele. Aí é que tá: essa plenitude só vem do amor. Prazer sem amor existe, é verdade, mas não é profundo e nem realiza o ser.
Sexo sem amor enjoa como qualquer outra coisa...
O que faz do sexo algo sempre novo é o amor... Nunca desista do amor, pois um dia ele te achará! Portanto, cuide de você... investindo em você... se amando!”
Tenho que concordar: amor, esse ‘sentimento-dom-maior-que-meu-desejo’ está ficando cada vez mais raro, diz-se até que nestes dias tão egocêntricos a tendência é se esfriar de muitos corações. Até a Bíblia dos cristãos assegurou isso sem precisar conhecer a contemporaneidade. E eu creio. Por isso, pra mim, uma pergunta pertinente a se/me/nos fazer é a respeito do que sentimos fome.
A fome de quem almeja amar sem posse, sem controle, sem coisificar o ser que ama, mas deixando-a(o) livre pra ser com saúde emocional, deve ser a de construir caminhos de certeza. Quem se ama, por exemplo, não se angustia por ter sido esquecido(a). Quem se ama, sabe que o amor nunca nos deixará na mão, desnutridos. É desta certeza que falo. O amor existe. E a certeza de que ele existe é sempre um dos meus mais fortes alentos para viver neste mundo onde quase nada do que de fato é, é visto como sendo, pois, aqui, só vale o que parece ser. Porém, mesmo passando alguns dias ensimesmados (coisas minhas, reflexões, sonhos que mudam de cor, vontades não supridas, etc), não consigo deixar de crer no que está arraigado em mim como uma espécie de fome saciada: a certeza de que o amor é!
E quanto a fome das cachorras e dos cachorrões?
Tenho um amigo que responderia isso de uma maneira bem peculiar (sem deixar de ser sensata): que elas e que eles comam brioches já que não tem (porque não fazem questão de ter) pão-amor!
terça-feira, 14 de fevereiro de 2012
Prioridades modernas______________
Fiquei quarenta dias e quarenta noites {numerologia oriental hebraica pra significar toda uma existência}, andando pra lá e pra cá pelas ruas mais movimentadas com uma placa bem visível no peito, que dizia:
“Oferece-se um coração. Nota: segue envelopado por um corpo emocionalmente saudável.”
Resultado de toda essa, digamos, pesquisa de campo:
75% quiseram saber sobre como é fisicamente o corpo, quero dizer, os ditos atributos do corpo, não se importando nem um pouco com a questão emocional.
20% quiseram saber -- ou provar, é o mais coerente! -- como é o currículo em termos de experiências e habilidades com as posições que o corpo oferece, não se importando com o emocional, desde que não mostrasse de cara tratar-se de um louco ou psicótico.
3% deixaram contato, mas fizeram questão de frisar que seria apenas pra um “lance legal”, "sem compromisso". Assim fizeram, digamos, de maneira bem capitalista -- porque até as relações sociais e afetivas acabaram sendo vistas pelos tais como oferta, demanda, distribuição, lucratividade e preço -- mas estes também não se preocuparam com o emocional. Havendo acumulação de capital (prazer, por exemplo), laissez-faire...
2% apenas olharam, esboçaram gestos tímidos ou não e até pararam, mas não conseguiram se comunicar por muito tempo, seja pelo armário do tipo “blindado” em que estavam, seja pela pressa que permeia o método convencional do fast-food-living.
0% se importou com o coração ou com qualquer coisa a ele correlata. Questão de prioridade, não necessariamente falta de interesse imediata...
Eu voltei pra casa, assim, pensativo... A propósito, o coração recusa estar em oferta. É alguma coisa quase idealista diante de tanto capitalismo e pouca importância com o que realmente pode mudar uma história... pra melhor!
só mais um conto de Dona Vida_____________
- É, mas essa florzinha aqui não abre em qualquer plantinha nem pra qualquer jardim...
- Mas eu sou uma plantinha fiel.
- Duvido!
- Olha, não duvida que eu provo...
- Então, prova! {risos}
* * *
Quatro semanas depois o lance acabou. Dona Vida bateu à porta certo dia e os chamou para passear no chão da realidade, nua e crua, debaixo dos percursos naturais e do sol escaldante... Tudo era bonitinho demais, perfeitinho demais...
Dona Vida não perdoa: sem raiz, não há plantinha nem florzinha que dure muito tempo!
Que o digam o verão e seus amores passageiros... a internet e suas quimeras de pura projeção...