terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Prioridades modernas______________


Fiquei quarenta dias e quarenta noites {numerologia oriental hebraica pra significar toda uma existência}, andando pra lá e pra cá pelas ruas mais movimentadas com uma placa bem visível no peito, que dizia:


“Oferece-se um coração. Nota: segue envelopado por um corpo emocionalmente saudável.”


Resultado de toda essa, digamos, pesquisa de campo:


75% quiseram saber sobre como é fisicamente o corpo, quero dizer, os ditos atributos do corpo, não se importando nem um pouco com a questão emocional.


20% quiseram saber -- ou provar, é o mais coerente! -- como é o currículo em termos de experiências e habilidades com as posições que o corpo oferece, não se importando com o emocional, desde que não mostrasse de cara tratar-se de um louco ou psicótico.


3% deixaram contato, mas fizeram questão de frisar que seria apenas pra um “lance legal”, "sem compromisso". Assim fizeram, digamos, de maneira bem capitalista -- porque até as relações sociais e afetivas acabaram sendo vistas pelos tais como oferta, demanda, distribuição, lucratividade e preço -- mas estes também não se preocuparam com o emocional. Havendo acumulação de capital (prazer, por exemplo),
laissez-faire...


2% apenas olharam, esboçaram gestos tímidos ou não e até pararam, mas não conseguiram se comunicar por muito tempo, seja pelo armário do tipo “blindado” em que estavam, seja pela pressa que permeia o método convencional do fast-food-living.


0% se importou com o coração ou com qualquer coisa a ele correlata. Questão de prioridade, não necessariamente falta de interesse imediata...


Eu voltei pra casa, assim, pensativo... A propósito, o coração recusa estar em oferta. É alguma coisa quase idealista diante de tanto capitalismo e pouca importância com o que realmente pode mudar uma história... pra melhor!





só mais um conto de Dona Vida_____________



- Olha só que florzinha mais bonitinha que eu tô vendo... {risos}

- É, mas essa florzinha aqui não abre em qualquer plantinha nem pra qualquer jardim...

- Mas eu sou uma plantinha fiel.

- Duvido!

- Olha, não duvida que eu provo...

- Então, prova! {risos}


* * *

Quatro semanas depois o lance acabou. Dona Vida bateu à porta certo dia e os chamou para passear no chão da realidade, nua e crua, debaixo dos percursos naturais e do sol escaldante... Tudo era bonitinho demais, perfeitinho demais...

Dona Vida não perdoa: sem raiz, não há plantinha nem florzinha que dure muito tempo!

Que o digam o verão e seus amores passageiros... a internet e suas quimeras de pura projeção...



sábado, 4 de fevereiro de 2012

meu lado B________________



Comida pegando fogo de tão quente. Pergunto: pra quê? Como curtiria os excessos? Imagina um pão entupido de manteiga, margarina ou lá que seja maionese. Mais uma vez pergunto: pra quê? Não é melhor o equilíbrio? Outra coisa, gente sem-noção. Não curto. Acho que não preciso explicar os porquês. Sem-noção é adjetivação de inconveniência. Dispensável, todos entendem (exceto os sem-noção, esses nunca respeitam os limites do outro). Até que gosto da noite (juro!), mas a madrugada pra mim só tem sentido se for pra dormir ou mergulhar nos braços amantes. Nos últimos longos tempos, tem servido apenas para dormir... Quando quero a quietude como inspiração, busco o momento em qualquer lugar apropriado, e não ao socorro precípuo da madrugada. Não curto de jeito nenhum os lugares altos, o odor impregnado de nicotina, a louça largada dentro da pia, bem como meias furadas, chá de boldo (embora ame chás!), arroz queimado, bolo solado, remédios pra dormir, remédios de qualquer jeito, pássaros engaiolados, insetos, livros de auto-ajuda, paisagens sem árvores, fé sem atitude, atitude sem viço de coerência, música eletrônica, roda de pagode, ambientes sem janelas, quartos escuros, escada sem corrimão, chats (um saco!), unhas grandes, pêlos rapados, tintura no cabelo, andar de moto, atravessar ruas com sinal aberto, calor em excesso, frio em excesso, duvidar em excesso e o exceder no excesso. Embora tenha falado dos excessos, convenhamos, não oferece prazer ao paladar um pão sem manteiga. Conveniências à parte, que se registre que gosto de samba e dos batuques de percussão! No entanto, não é assim que me coloco ante os partidos de direita, os guetos como diminuição geográfica identitária e o Deus implacável da religião. Saiam de retro! Distância quero de toda forma de mentira, de toda forma de covardia, bem como da preguiça, do descaso, da grosseria, das verdades impostas, da meia-verdade, do egoísta, do ególatra, de gente problemática, de gente que diz mas não faz e de gente que ultrapassa o direito da existência do outro. Não gosto também de gente que se vitimiza só pra buscar uma atenção como esmola. Penso que é tão insuportável quanto o ser vaidoso (não pela estética, mas em razão do sentir-se superior aos demais). No desafio do que não curto, afirmo que não suporto projeções: o cara é, por exemplo, mentiroso e crê que todos são assim também. A mulher é infiel e crê que todas e todos são assim também. Isso pra mim é projeção. Pra mim não é questão de mau-gosto e sim de injustiça para com quem não for assim. Crianças adultas e homens infantilizados também não me soam bem. Há que se respeitar as estações da vida sem medo de ser o que se é em cada uma delas. Passaria o dia inteiro pensando em muitas outras coisas que não me atraem (às vezes, até me causam indignação) e cuja lista entesa como um arco e flecha: tudo o que é “fake”, a desesperança, a VIL-olência, a sequidão de sonhos, os estereótipos, os barulhos inchados de desrespeito, a aridez de idéias, o não-ser, etc. O que, todavia, colocaria como "top of tops", ou seja, como o que me causa maior distanciamento do meu bem-querer, seria o amor sem entrega e o amor como produto (pra não dizer "coisa") de um capitalismo internalizado como uma espécie de “modo de ser com as pessoas”. Há que se ter respeito. O outro – o qualquer outro para além de minhas fronteiras! – pode ser alguém com aspirações completamente diferentes... Pelo que já me expus, dei-me como cara à tapa a muita gente. Um aviso, porém: não me leia interpretando pra si o que é apenas meu próprio olhar de mundo, de vida, de mim mesmo... De repente, você curte pão ensopado de margarina e não tá nem aí para as taxas de colesterol LDL ou HDL, bebe em excesso, curte um bom pagode na roda de amigos, troca de namorado(a) como quem troca de camisa, enxerga o amor como mera satisfação fisiológica e até se esconde nos estereótipos pra se auto-proteger. "Cada um no seu quadrado", canta a sabedoria simples das massas. No entanto, em meio às linhas entrelaçadas do meu pensamento exposto nu e cru, eis-me numa leitura-de-mim conforme meus próprios sinais em forma de letras e na textura de palavras. Eis-me sendo assim no lado B da vida (sobre o lado A, antagônico a este, o das minhas paixões e curtições, direi mais tarde em outros tecidos de palavras costuradas)!



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