A moça abre o jornal e se impressiona com a falta de novidade. As novas estão se tornando velhas mal acabam de nascer. Detalhe: não são todas elas que nascem. Muitas já se esfacelam na sua notória contrariedade. A que se daria tamanha infertilidade? – é apenas uma divagação latente enquanto folheia as manchetes. Deputados não trabalharam no primeiro dia após o recesso de carnaval. Pouquíssimos senadores – leia-se menos de dez – se aventuraram numa sessão legislativa que iniciou às 14h e terminou antes das 16h. Nesta quinta-feira o Governo anuncia as estatísticas de mortes e acidentes no trânsito em todo o país durante o carnaval, a primeira delas na vigência da “lei seca”. O arcebispo da Paraíba pune com suspensão de suas atividades o sacerdote - Pe. Luiz Couto -, que também é deputado, pois, segundo ele, prega “diametralmente contra a posição do Vaticano”. A moça arregala os olhos e lê uma notinha no pé da página. Em tempo: o sacerdote, antenado com a realidade humana e com a essência do Evangelho – que gera vida e liberdade, e não aprisionamento e morte da própria consciência -, proclama-se a favor do uso de preservativos pelos jovens e da tolerância à diversidade, incluindo-se o direito às uniões entre pessoas do mesmo sexo. Num ímpeto de impaciência, joga aquelas páginas sobre o criado mudo. Desiste de tentar entender a ganância humana, que vai engolindo o outro – pelo engano e pela sede de poder – até tentar ser o outro, roubando-lhe a individualidade, formatando mentes e corações num só pensar e sobre este impingindo-lhe sua própria adjetivação como “certo” ou “errado”, segundo suas próprias convenções. Nada é totalmente novo debaixo dos raios do sol, exceto a experiência de ser livre. Cada qual busque fazer seu próprio caminho. Ela corre, apressa-se em se jogar no trigal que dá por trás de sua casa. É lá que sua imaginação alcança os melhores vôos. Basta ser feliz que o mundo à sua volta se povoa de pássaros. Algumas vezes, de gaivotas. Cada uma delas sendo um ser humano em paz por ser-se sem culpa, bastando-se com o que tem, deixando-se livre pra que a liberdade do outro crie seus próprios ninhos...
_______ dedicado a todos que um dia voaram [e não pararam de voar], não se importando com as vaias nem com as convenções. Viver era mais importante!